domingo, 17 de agosto de 2014

Guiné 63/74 - P13508: "Francisco Caboz", um padre franciscano, natural de Ribamar, Lourinhã, na guerra colonial (Horácio Fernandes, ex-alf mil capelão, BART 1913, Catió, 1967/69): Parte IV: Nem bem com Deus nem com César, ou a dupla dificuldade de ser-se sacerdoite vestido de camuflado numa terra a ferro e fogo...



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"Cerimónia militar em fevereiro de 1968, por ocasião da imposição à CART 1689 da Flâmula de Honra (ouro) do CTIG, atribuída em julho de 1967. Edifício do comando. Presença de militares, civis da administração, correios e comerciantes locais.


"Da esquerda para a direita, (A) um militar, de camuflado que não consigo identificar;  (B) de costas, o cap médico Morais;  (C) o comandante, ten cor Abílio Santiago Cardoso;  (D) quatro funcionários dos Correios e Administração; (E) o comerciantes Sr. José Saad [, libanês,]  e filha; (F) o comerciante, Sr. Mota: (G) o comerciante Sr. Dantas e filha; (H) o comerciante Sr. Barros; (I) o electricista civil Jerónimo: (J) e, por fim, o alf mil capelão Horácio [Neto Fernandes]".

Fotos (e legendas) de Catió: Victor Condeço (1943/2010) / © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Todos os direitos reservados



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Foto  de Victor Condeço (1943/2010) / © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Todos os direitos reservados


1. Continuação da publicação do testemunho do nosso camarada, o grã-tabanqueiro Horácio Fernandes.que foi alf mil capelão no BART 1913 (Catió, 1967/69) (*)

[ Horácio Fernandes: foto à direita tirada pelo nosso saudoso Victor Condeço, 1943-2010, que foi fur mil mec armam, CCS/BART 1913].

Esse tstemunho é um excerto do seu livro autobiográfico, "Francisco Caboz; a construção e a desconstrução de um padre" (Porto: Papiro Editora, 2009, pp. 127-162). O livro já aqui foi objeto de recensão crítica por parte do nosso camarada Beja Santos (*). (LG)

O Horácio Fernandes vive há 4 décadas no Porto. Vestiu o hábito franciscano, tendo sido ordenado padre em 1959. Deixou o sacerdócio no início dos anos 70. É casado, tem 3 filhos. Está reformado da Inspeção Geral de Educação onde trabalhou 25 anos na zona norte. Em 2006 doutorou-se em ciências da educação pela Universidadfe de Salamanca, Espanha.

Francisco Caboz é o "alter ego" do Horácio Fermandes (n. 1935, Ribamar, Lourinhã). O livro começou por ser uma tese de dissertação de mestrado em ciências da educação, pela Univeridade do Porto, Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação,  (1995): Francisco Caboz: de angfélico ao trânsfuga, uma autobiografia (147 pp.) (A tese de dissertação, orientada pelo Prof Doutor Stephen R. Stoer, já falecido, está aqui disponível  em formato pdf).

Nesta IV  parte (pp. 143-148), o autor  realta-nos a dupla dificuldade que era ser capelâo militar, aos olhos dos militares (e em especial dos furriéis e alferes milicianos, já mais afastados da prática religiosa), e ao mesmo tempo  ser sacerdote católico, aos olhos dos civis, e em especial dos balantas cristianizados... A outra etnia predominahte em Catió eram os fulas, ilsmazizados. Os missionários italianos que estavam em Catió tinham sido explusos pelas autoridades portugueses no início da guerra.

Foi o nosso camarada e amigo Alberto Branquinho quem descobriu o paradeiro do seu antigo capelão (*). Tenho a autorização verbal do autor, dada por altura do nosso reencontro, 50 anos depois da sua missa nova (em 15 de agosto de 1959, em Ribamar, sua terra natal), para reproduzir esta parte do livro, relativa à sua experiênciade como capelão militar na Guiné, muito marcante e decisiva para o seu futuro como homem e como padre. Ele irá abandonar o sacerdócio ainda nop início dos anos 70, depois de regressar da Guiné e fazer uma curta experiência como capelão da marinha mercante aos serviço do Stella Maris.

Eu e o Horácio somos parentes, pertencemos ao clã Maçarico, de Ribamar, Lourinhã:  a minha bisavó paterna e do seu bisavô paterno, nascidos por volta de 1860,  eram irmãos. (LG)


Nem bem com Deus nem César...














(Contnua) 
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Nota do editor:

4 comentários:

José Marcelino Martins disse...

Provavelmente foi uma das últimas cerimónias de atribuição da FLÂMULA DE HONRA.

«Junho de 1968
Directiva 12/68
Flâmula de honra do CTIG
Considerando que em campanha o espírito de missão se deve sobrepor a todos os aspectos secundários que estão na base do regulamento da flâmula de honra do CTIG;
Considerando que é manifestamente inconveniente, do ponto de vista psicológico, materializar o rendimento operacional das unidades em dados estatísticos sem significado prático;
Considerando que a atribuição de pontuação negativa (100 pontos) a cada elemento morto em combate é a negação do espírito ofensivo que deve caracterizar as acções de contraguerrilha;
Considerando que a finalidade da flâmula de honra do CTIG não foi atingida, e que, antes pelo contrário, a sua permanência se revela manifestamente inconveniente determino que:
1. Termine desde já a flâmula de honra do CTIG.
2. No final do corrente mês seja recolhida a flâmula de honra atribuída no mês findo.
3. A presente directiva seja levada ao conhecimento de todos os comandos até ao escalão companhia.
Bissau,
O comandante-chefe, António Sebastião Ribeiro de Spínola, brigadeiro »

Joaquim Luís Fernandes disse...

Amigos e camaradas

Um texto que é um retrato muito claro da realidade que vivemos, com as pequenas adaptações às realidades locais.

A esta distância de tempo, melhor se ajuíza sobre o que andamos para ali a fazer. Tanta energia desperdiçada, tanta vida destroçada!

E como tudo poderia ser diferente se tivesse havido capacidade para perceber o essencial e fazer o que tinha que ser feito em vez do amontoado de erros, que só deu desgraça.

A classe dirigente tão esperta que é e só faz esterco! No passado como no presente!
Valha-nos a possibilidade de humildemente reconhecer os erros e procurar ser melhores. mas não é fácil e pelo andar da carruagem não chegamos lá.

Mas haja esperança!

Abraços
JLFernandes

Anónimo disse...

José Martins

Não sabia dessa Directiva de 1968.

Notaste que a Flâmula foi ATRIBUÍDA à minha CART1689 em 1967, como escreveu o Vítor Condeço, (devido às intervenções no Oio, quando estávamos baseados em Bambadinca) embora só tenha sido RECEBIDA e aposta no estandarte em 1968 em Catió, quando regressámos ao nosso Batalhão? (donde saímos, de novo, para Buba, a caminho da construção de Gandembel).

Abraço
Alberto Branquinho

António Bernardo disse...

Caro Cherno Baldé
Não foi minha intenção,denegrir a homenagem póstuma,que por bem entendeu fazer ao meu camarada,mas apenas aos bois pelos nomes.
As acções altruístas que lhe aponta,nada mais eram,do que parte integrante dos diversos planos de acção psicológica,de que o mesmo era mero executante.
Um exemplo da falta de carácter do homenageado,foi o de colocar à venda,o refrigerante "coca-cola", "oferta graciosa" da Rep.da África do Sul,aos militares portugueses,e ainda não comercializado em Portugal e suas Províncias Ultramarinas,por imposição de Salazar.
Honro a memória dos restantes camaradas envolvidos no trágico episódio,pois que a dois meses do fim da comissão militar na Guiné,morreram antes do tempo.
Acredite caso entenda,de que o sol.Almeida,lamentará não ter também levado na "viagem",o 1ºSarg.
Termino dizendo-lhe,que não precisava de estar em cena,para saber o que acontecia no palco.