terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Guiné 63/74 - P14164: Historiografia da presença portuguesa em África (49): Revista de Turismo, jan-fev 1956, nº especial dedicado à então província portuguesa da Guiné: anúncios de casas comerciais - Parte I (Mário Vasconcelos)












Alguns das dezenas de anúncios de casas comerciais inseridos na revista Turismo, jan/fev 1956, ano XVIII, 2ª série, nº 2, nº especial dedicado à província portuguesa da Guiné. Alguns dos nomes são-nos familiares: por ex,:

(i) António Amante Rosa, de Fulacunda, que era pai do nosso camarada Manuel Amante Rosa, e que depois mais tarde será armador, com barcos que faziam o  rio Geba, mas também a ligação de Bissau com os Bijagós;  

(ii) Inácio Júlio Semedo, de Bambadinca, pai de  Inácio Semedo Júnior (ex-guerrilheiro e quadro do PAIGC, ex-embaixador aposentado, com residência em Lisboa, em 2008); 

(iii) José Gardette Correia, de Bissorã, pai do Manuel Gardete Correia (médico)...  

Por outro lado, os libaneses (ou sírio-libaneses) eram comerciantes com forte implantação no território; a empresa Aly Souleimane & Ca, de importação e exportação, com sede em Bissau, tinha nada mais nada menos do que 15 filiais no território: desde Bambadinca a Contuboel, desde Farim a Gadamael...

Estes anúncios não deixam de refletir o clima de relativa prosperidade económica da província que se vivia nos meados da década de 1950, ainda longe das ameaças da guerra... Recorde-se que faz 52 anos, no próximo dia 23 de janeiro de 2015, que se iniciou oficialmente a guerra de guerrilha com o ataque a Tite.

Fotos: © Màrio Vasconcelos (2015). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


1. Mensagem, com data de ontem, do nosso camarada Mário Vasconcelos  [, ex-alf mil trms, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, COT 9 e CCS/BCAÇ 4612/72, Mansoa, e Cumeré, 1973/74; foto atual à esquerda]:


Tenho em posse a revista TURISMO, publicada em Janeiro/Fevereiro de 1956, ano XVIII, 2ª série, nº 2, a qual refere ser um número especial dedicado à (então) Província da Guiné. [Foto da capa, a seguir].

Nas voltas que o tempo tece, fui descobri-la no espólio de meu pai- que Deus o tenha em descanso merecido - e que, quem diria, só agora se encontra como elo de ligação ao meu tempo de serviço militar por tais paragens. Paragens estas, forçadas, mas que me têm dado, fortificados e inesquecíveis laços de amizade com muitos camaradas, que de outro modo não existiriam.

Pena tenho de a não ter levado comigo, quando mobilizado, pois poderia ter-me permitido constatar, in loco, algumas das notícias publicadas e abrir-me à recolha de dados que estiveram presentes e não foram apreciados devidamente, nomeadamente os aspectos étnicos e as transformações havidas.

Farei referência, futura, a alguns escritos então publicados (se for de interesse geral), mas, por agora limito-me a aspectos de economia local (década de 1941-1950) bem como a menção (passe a publicidade) de vários anúncios de casas comerciais desse tempo, e tentar fazer luz, sobre se algumas destas existem no real ou apenas em memórias.

Mais certo será que a grande maioria, se não a sua totalidade, tenham perecido no tempo. Bem vistas as coisas, mais de um bom punhado de anos são passados.

Deixo aos editores, como não poderia ser de outro modo, o interesse de, total ou parcialmente, proceder à publicação.

Com um alfa bravo me despeço de todos os camarigos.

Mário Vasconcelos

6 comentários:

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas
Faltavam 7 anos para a "guerra" começar. Os que passaram por aquelas pequenas terras onde as "empresas" tinham filiais e vendiam e compravam produtos da província e "comércio geral" o que é que se recordam de ter encontrado? O que é que aquelas empresas compravam e vendiam e a quem? Já notaram que há uma certa repetição na publicidade apresentada?
E há um nome curioso: Gardete Correia que virá mais tarde a ser o do único médico residente no hospital civil.
Não haja dúvidas o desenvolvimento estava em marcha!
Um Ab.
António J. P. Costa

António J. P. Costa disse...

Vejam o anúncio de Inácio Júlio Semedo.
Onde seria "Barbarinca"? Nunca vi esse nome referido aqui no blogue...
Penso que será Bambadinca. Se assim for, o anúncio foi devidamente improvisado por um "gráfico" que não conseguiu ler correctamente o nome da localidade.
Atentem nas actividades comerciais indicadas e quais poderiam ser.
Penso que o nome Semedo ainda era recordado em Bambadinca.
Um Ab.
António J. P. Costa

Antº Rosinha disse...

Preparar um bom empregado de balcão para as lojas de comércio misto, nas colónias portuguesas era muito difícil.

Só digo isto, porque há uma ideia ou intencional de muitos portugueses ou por desconhecimento, que por lá passaram o seu tempo da tropa, ou outros que nunca sairam das cidades, embora vivendo lá muitos anos, que estas lojas "roubavam os pretos".

Mas como vi e conheci em Angola, centenas de "empregados do mato", muitos com sucesso e outros que nunca acertaram e desistiram, é que aproveito para dizer que pouca gente tinha pedalada para fazer comércio com os "inocentinhos" indígenas.

Aquilo era muito complicado, e curioso, que os indigenas reconheciam o esforço e paciência desses comerciantes.

António J. P. Costa disse...

Ainda conheci, em Cacine, o Toneca. Um "lançado" que tinha tido 4 lojas: Campeane (onde já não íamos), Cacine, Cacoca e Sangonhá. Curiosamente não está na publicidade da revista. Tinha uma vida de cão. Comprava e vendia os "produtos da colónia" e mais alguns como livros e outras utilidades que mandava vir de Bissau e chegavam quando chegavam. Enfim, um "lançado" a viver sózinho, porque a família tinha regressado a Lisboa e ele "gostava daquilo" ou não conseguiria refazer a sua vida se para cá viesse.
Um certa forma de comércio que só ali se concretizava e que diz do grau de desenvolvimento da colónia.
Um Ab.
António Costa

Luís Graça disse...

Tó Zé: È óbvio que se trata de "gralha" tipográfica, é Bambadinca e não "Bambarinca"... Na época não havia computadores com processadores de texto e corretores de ortografia e gramática... E muitas vezes o material para compor e imprimir, chegava à tipografia ainda no "tosco", manuscrito ou datilografado...

Quanto à família Semedo, de Bambadinca... Sabemos que o velho Inácio Semedo era um "histórico" do PAIGC, amigo pessoal e compadre do Amílcar Cabral...

era filho de Inácio Semedo, um histórico do PAIGC;

O Inácio Semedo tinha propriedades na região, e nomeadamente uma destilaria de aguardente de cana. Segundo informação do filho (Inácio Semedo Júnior com quem falei em Lisboa, em, 2008), era costume comprarem arroz aos Brandão, de Catió, para alimentar os seus trabalhadores balantas de Bambadinca (possivelmente de Nhabijões, Mero, Santa Helena, Samba Silate...).

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Ponderadas as limitações tecnológicas do tempo há um aspecto a considerar. Se a composição foi feita na Guiné podemos falar de "gralhas" tipográficas. Se, o que era o mais provável, a composição fosse feita em Lisboa (por exemplo) estamos numa situação que ilustra o desconhecimento do modo como se vivia e do que era o "Império" o que é imperdoável de acordo com a teoria do Estado Novo...
Um Ab.
António J. P. Costa