Carlos e Luís
Vivo num país que não me faz chorar, faz-me enraivecer.
Na verdade esta frase do Pacifico dos Reis(*) na mensagem do José Marcelino Martins encerra um grito surdo. 26% dos portugueses não mexeriam uma palha para defender o nosso país.
Situação que espelha o desgosto, a falta de perspectivas em nos vemos mergulhados e o mau trabalho que a nível de educação se tem feito quanto ao verdadeiro valor da Pátria .
Depois nos jornais lemos que os jovens têm que emigrar para terem futuro, que reformados estão a ser despejados das suas casas, que se comem não podem comprar os remédios, famílias carenciadas com com filhos deficientes que lhes são retirados os subsídios, porque um dos conjugues arranjou um emprego e pasme-se com o ordenado mínimo etc, etc., etc..
Depois temos classe politica em que deixamos de acreditar. Agora pergunto eu, valerá a pena lutar por este país?
Eu, acredito acabaríamos por voltar a lutar, porque o sentimento de nacionalidade, e a defesa do que é a terra dos nossos antepassados, nos levaria novamente a isso.
Juvenal Amado
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PARANÓIA OU LAMENTOS DE VETERANO
Ah! se eu tivesse uma G3!
Porque sou ignorado?
Mal tratado pelo o meu país
Dizem que sou parvo
E que sou maluco
Ninguém me leva a sério
Vozes de burro não chegam ao Céu
Eu lhes dava a maluqueira se tivesse uma G3!
Dizem que bebo demais
Que mal posso com as botas
Que falo sempre do mesmo
Que sabem da dor que tenho no peito?
Esta dor é como a injustiça, nunca passa
Eu é que sei onde o sapato me aperta
Mas eu lhes mostraria se tivesse uma G3!
Sem préstimo dizem
Que não mereço o chão que piso
A sombra que me protege
O pão que como
Que vontade tenho de partir
Não sabem o peso que carrego
Estou farto de palmilhar estrada
Também não sei para onde ir
Tenho as costas contra a parede
Não vejo horizontes
Ninguém ouve o meu lamento
Ninguém me leva a sério
Mas se eu tivesse uma G3 outro galo cantaria
Ah! mas se eu tivesse uma G3 iam ver
Se eu tivesse uma G3...
Juvenal Amado
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Notas do editor
(*) Vd. poste de 13 de março de 2015 > Guiné 63/74 – P14357: Divagações de reformado (Pacífico dos Reis) (7): Vivo num país que não me faz chorar, faz-me enraivecer
Último poste da série de 19 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14386: Blogpoesia (404): No dia do pai, um poema escolhido pelo camarada Armando Faria, "Ter um Pai", de Florbela Espanca (1894-1930)
8 comentários:
Caro Juvenal
Pelo que pude perceber, o senhor Coronel Pacífico dos Reis lamentava-se pelo facto de 26% dos portugueses terem dito que não mexeriam uma palha para defender o nosso pais, subentende-se de uma agressão exterior.
E pergunta, de quem é a culpa? Responde, deles, não. Justifica com os pseudo políticos de agora, com o facilitismo das famílias e com os progenitores. Estamos a falar de jovens, suponho.
Que fazes?
Pegas no assunto e começas por dizer que os veteranos são ignorados e mal tratados pelo país.
Aqui cabe a minha primeira observação. Por que carga de água hão-de os veteranos serem perseguidos ou ignorados? Tu justificas. Por serem considerados parvos, malucos, bêbedos, sem préstimo e ninguém os levar a sério.
Caro Juvenal, considero que a minha qualidade de veterano não me diferencia de um outro cidadão qualquer. Parvos, malucos, bêbedos e sem préstimo, há-os em toda a sociedade civil: nos homens e nas mulheres; nos ricos, remediados e pobres; muito letrados ou analfabetos, etc.
Temos de uma vez por todas de desmistificar o estatuto de veterano que não nos dá nem retira direitos aos demais cidadãos. A esmagadora maioria de nós está bem, regressou e reintegrou-se.
Depois vens com as G3 viradas para “dentro”, subvertendo a ideia do senhor Coronel Pacífico dos Reis que queria as G3 viradas para “fora”. Desculpa, mas aqui está subjacente uma ideologia desajustada à sociedade portuguesa actual, que vive em democracia e onde os problemas, por muito graves que sejam, se resolvem conversando e não aos tiros.
Abraço
Carlos
Meu caro Juvenal
Primeira questão
Imagina que os castelhanos entravam por Portugal dentro, para impôr a sua lei e finalmente governar bem este país "da treta" desgovernado pelos cavacos,durôes,sócrates, coelhos, costas e o que virá a seguir. La gran Iberia, por la gracia de Dios, com Madrid, a capital, a mandar.
Acreditas que apenas 26% dos portugueses pegavam na velha G 3 para darem um tiro nos cabrões dos espanhóis?
Eu acredito que mais de 80% dos portugas disparariam a preceito.
Até tu e eu, com as nossas barriguinhas, íríamos colocar umas minas na picada de asfalto, ou montar uma embosccada na auto-estrada por onde os espanhóis, ou outros, por exemplo, os fanátícos do el-andalus, IS, avançariam para a conquista da nossa ditosa Pátria.
Pensa, meu caro.
Segunda questão.
Tenho um filho, 26 anos, engenheiro, trabalhava bem na Delloite, uma empresa de consultadoria, em Lisboa.
Ganhava 1200 euros por mês.
Ofereceram-lhe emprego na Comunidade Europeia, está agora em Bruxelas, há meia dúzia de meses. Ganha 3800 euros por mês.
Pensa.
Quanto ganha um empregado de mesa em Portugal? Com boa vontade, uns 700 euros. Quanto ganha um empregado de mesa na Suíça? Cerca de 3000 euros.
Porque emigrou o meu filho, ou o empregado de mesa que foi para a Suíça?
Porque seguiram os conselhos do Passos Coelho? Ou os conselhos tortos, não confessados do António Costa, ou os conselhos (quais?) do Jerónimo de Sousa e da Catarina Martins?
Simples, o meu filho limita-se a lutar na labuta diária, por uma vida melhor, para si, para os seus.
Eu sei que o dinheiro não é tudo
mas ajuda muito para todos termos uma vida digna e estável.
Tu sabes que Portugal é um país magnífico, esplendoroso para vivermos.
Pena tantos portugueese passarem os dias a envenenar mil quotidianos.
Eu, que sei tão pouco, levo oito anos de vida fora de Portugal, em três continentes.
Creio que começo a poder comparar e entender o que é viver nesta abençoada pátria de que tão mal dizemos.
Abraço,
António Graça de Abreu
Carlos
O que eu escrevo é uma alegoria sobre a nossa situação e o que os outros pensam , não o que eu penso de nós.
Parece que a minha mensagem está a ser entendida de forma que eu não pretendo.
Nunca foi minha ideia provocar nenhuma sublevação muito menos um apelo às armas.
Volto a repetir que é dirigido aos que hoje não têm os nossos valores e nos subestimam como uma espécie em extinção de velhos combatentes e que até nos acham pródigos nalguma fanfarronice.
Não fiz entender nas minhas metáforas, peço desculpa.
António
Temos país maravilhoso é verdade mas que não cumpriu para com os novos nem para com os mais velhos.
Emigrou o teu filho e fez bem, mas que dizer da forma que temos os nossos reformados que não ganham para comer e têm que muitas vezes escolher entre os remédios e alimentação?
E dos pais desempregados que ainda têm filhos ao seu encargo e não podem emigrar porque não têm condições?
Na educação onde estão a ser incutidos os valores de cidadania que torna um povo orgulhoso da sua Pátria?
Quando pergunto se valerá a pena lutar por este país, eu respondo que voltaríamos sempre a lutar porque defender o nosso chão é acima de qualquer consideração, porque sai cá de dentro do mais intimo do nosso ser que tem muitos séculos.
O que eu escrevo é uma metáfora mas quando cheguei a esta idade, por muito que ame o meu país, lamento não me ter ido embora para ter o tal futuro que o teu filho e milhares de outros estão a construir para si e para os seus.
Não os estou a criticar antes pelo o contrário.
Mas sou eu que tenho a culpa e talvez no meu ADN, uma vez que emigrados na minha família só tinha um primo que há 47 anos viva USA e tenho agora um sobrinho que emigrou para a Austrália depois de ter feitos duas comissões em Timor, logo após os desacatos pós-independência e duas no Iraque.
Um abraço
Caros amigos
Não tenho qualquer procuração do Juvenal para falar por ele, nem é essa a minha intenção.
Apenas acho que há aqui uma reacção exagerada ao que o Juvenal escreveu.
Talvez isso seja a aplicação prática do que se aprende nas aulas de comunicação em que se exemplifica sempre com as diferenças entre o "emissor" e o "receptor", pois o primeiro tem a intenção de transmitir uma mensagem, que para ele é clara, e os segundos, os receptores, interpretam sempre segundo os seus próprios padrões e/ou os conceitos (às vezes, preconceitos) do momento.
Num primeiro comentário, o Carlos Vinhal parece criticar o Juvenal por, aparentemente (não percebi porquê), distorcer o sentido da frase de Pacífico dos Reis para lamentar que os veteranos são ignorados e maltratados pelo País.
Ora bem, isto é verdade, são ignorados e maltratados, não sei se pelo País, mas pelos poderes instituídos, ao longo de longos anos... mas isso não é específico dos "veteranos", dum modo geral quase todas as franjas populacionais o são, de uma maneira ou de outra, e aí, sim, faz sentido o que o Carlos escreve: "Temos de uma vez por todas de desmistificar o estatuto de veterano que não nos dá nem retira direitos aos demais cidadãos."
Até aqui, tudo bem.
Mas depois há aquela parte em que "cola" a ideia da G3 'virada para dentro' vendo-a ..."subjacente a uma ideologia desajustada à sociedade portuguesa actual, que vive em democracia e onde os problemas, por muito graves que sejam, se resolvem conversando e não aos tiros." Também, claro que sim, que temos uma alegada democracia e também, claro que sim, que os problemas não se devem resolver aos tiros.
Mas aquela da "subjacente ideologia desajustada" é que me pareceu francamente desajustada.
Não parece ser segredo para ninguém que o Juvenal é um homem de convicções, que 'bebeu' a cultura das fábricas por onde passou, que comeu o pão que o diabo amassou que, como ele escreve metaforicamente, "tem as costas contra a parede", pois o mostrengo do desemprego frustrou-lhe (como a tantos...) a ilusão de uma reforma ou velhice sem aflições e com alguma dignidade. Daí que 'colar-lhe' rótulos 'ideológicos' não me pareça ser de louvar, porque não resolve nada e atiça animosidades de 'trogloditas'.
Há também um outro aspecto que se deve considerar.
É que essa ideia de 'utlização das G3s' para resolver 'problemas' (na maioria dos casos, é para afirmação, leia-se imposição, de pontos de vista) é muito mais apanágio dos prosélitos das 'outras ideologias' do que da dos "Juvenais"... basta ver o que tresanda de tantos 'heróis' nas várias páginas do "Face" e onde pontificam os "veteranos" e os neófitos sedentos de sangue...
Por outro lado, ainda, devo dizer que apesar do poema referir o desejo de "ter uma G3" entendi isso como uma metáfora e não 'à letra' pois sei que a tal cultura onde o Juvenal 'bebeu' lhe diz que "um homem só, não vale nada", como se mostrou no livro "Seara de Vento". Logo, o 'desejo do Juvenal' é quando muito, um eco do que se houve por aí, tantas vezes com saudade dos tempos da juventude perdida, outras vezes como afirmação de vitalidade já em deficit, outras ainda por fanfarronice. Ele próprio dá o título de "paranóia ou lamentos", o que para mim evidencia a dúvida em decidir.
Para concluir este aspecto refiro que o poema tem como suporte o texto e lá ele escreve claramente que, relativamente às G3s 'voltadas para fora' que "Eu, acredito acabaríamos por voltar a lutar, porque o sentimento de nacionalidade, e a defesa do que é a terra dos nossos antepassados, nos levaria novamente a isso." Portanto, fechando a parábola, está aqui a resposta do Juvenal às dúvidas de Pacífico dos Reis, em relação à defesa do 'inimigo externo'.
..... continua....
.... continuação....
Há depois um outro comentário do António Graça de Abreu que, de forma surpreendente para mim, tem um tom um tanto ou quanto 'paternalista' com os conselhos que lhe são dados para 'pensar'...
Na primeira questão, a do 'pegar em armas para defesa do inimigo externo' caricaturado de 'castelhanos' parece-me não fazer sentido na medida em que o Juvenal tinha escrito isso mesmo, na frase que acima transcrevi.
A segunda questão tem a ver com a emigração, a busca de melhores 'condições de vida'. Seria de mau gosto e até a roçar a chalaça com a desgraça dos outros que todo o conjunto de observações que o Graça de Abreu faz pudesse configurar um convite, um incentivo, quase uma ordem, para o Juvenal "abandonar a sua zona de conforto" e procurar o remédio para os seus problemas seguindo os passos de sucesso dos exemplos que dá.
A terceira questão tem a ver com a teorização política sobre o que leva à nova vaga de emigração. Conselhos? Claro que não! Necessidade! E possibilidade!
Mas é necessário também pensar porque e como se chega, de novo, a esta situação. E não me parece que seja com a simplicidade simplista, passe o pleonasmo, ser por causa de "... tantos portugueses passarem os dias a envenenar mil quotidianos".
O quotidiano não precisa que o envenenem, está envenenado nas dificuldades que foram criadas no acesso à saúde, à educação, ao esbulho das reformas, às injustiças da Justiça, no desemprego, etc. Não estou a apontar culpados (em última instância os culpados somos nós), estou apenas a dizer que não são os "Juvenais" que criam o 'mau ambiente', o tal 'envenenamento do quotidiano', ele existe por si mesmo.
Abraços
Hélder S.
"A paz vem de dentro de ti, não a procures à tua volta."
Quem disse?
Um senhor chamado Sidharta, ou Sakyamuni, simplesmente Buda. Viveu entre os anos 580 e 500 antes de Cristo.
Em termos de felicidade, somos o segundo país mais infeliz da União Europeia. Porquê?
Repito:
Eu, que sei tão pouco, levo oito anos de vida fora de Portugal, em três continentes, Europa, Ásia e África. Mais uns tantos meses de viagens pelos EUA (de Nova Iorque a S. Francisco, da Florida ao Colorado), mais Brasil, mais três idas ao México e Caraíbas.
Creio que começo a poder comparar e entender o que é viver nesta abençoada pátria de que tão mal dizemos e de que tão pouco gostamos.
Eu não digo mal de Portugal, nem passo a vida e a velhice angustiado, envenenado por todos os dislates de Portugal e do mundo.
Viver, envelhecer é uma arte.
Já levámos com uma guerra a sério pela cabeça abaixo, foi no tempo em que éramos quase meninos.
Hoje,se pudermos, com saúde, será bom fruir ainda o que de bom a vida, Portugal e o mundo têm para nos dar.
A vida é muito curta, que pena não a sabermos viver! Que pena este fado lusitano de passarmos os dias a apontar as culpas para os outros, para o que fazem e sobretudo para o que os outros não fazem!
E nós?
Eu valho pouco, mas tenho 21 (vinte e um livros escritos e publicados), aos 68 anos ainda dou aulas na Universidade de Aveiro, trabalho todos os dias, tenho quatro filhos e quatro netos,ainda sei amar uma mulher.
Enfim!
Abraço,
António Graça de Abreu
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