[à esquerda: a localização da Ilha das Galinhas, no arquipélago dos Bijagós. Infografia: Wikipédia / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, 2015]
Caros amigos:
Muito obrigada!... A única dúvida que me resta é entender o paradoxo de o cantor [, José Carlos Schwarz,] ter estado preso na Ilha das Galinhas e ter saudades desse tempo. Não faz sentido, quer conhecendo o percurso político dele quer as letras de outras canções que ele escreveu, com um cariz fortemente político, dando voz ao sofrimento da guerra. Será que não esteve preso mas 'simplesmente' desterrado?
Não poderei, portanto, usar esta canção como exemplo de uma produção artística produzida por um preso político na Ilha das Galinhas (até porque, pelos vistos, ele terá composto a canção já na prisão de Bissau), que era o meu objectivo inicial.
Tenho estado a recolher dados sobre prisões e campos prisionais destinadas a presos políticos em vários pontos do império, em especial durante o período da guerra colonial, e os dados sobre a Ilha das Galinhas são muito vagos.
De momento estou a avançar com outros campos, nomeadamente em Angola, para os quais encontrei dados mais concretos, mas mantenho em projecto responder a estas dúvidas sobre a Ilha das Galinhas, nomeadamente:
(i) se era uma prisão-edifício ou um campo prisional (e se era um campo, com que características);
(ii) onde era localizada exactamente dentro da ilha;
(iiii) durante quanto tempo funcionou, quem a administrava, pessoas que lá estiveram presas.
Naturalmente, os dados mais institucionais irei encontrar (eventualmente) noutros locais mais institucionais mas os testemunhos de quem lá esteve ou quem por lá passou são preciosos, não havendo arquivo algum que os substitua.
Obrigada,
Helena Pinto Janeiro
Temos, na nossa Tabanca Grande, um único camarada que fez serviço na Ilha das Galinhas, o José António Viegas: foi fur mil do Pel Caç Nat 54, Guiné, 1966/68, e integrou a guarnição militar da "colónia penal e agrícola da Ilha das Galinhas" [, foto da época à direita]...
Recorde-se que ele chegou à Guiné em 4 de Agosto de 1966, seguindo para Bolama onde foi receber o Pel Caç Nat 54, treinado pelo o nosso Jorge Rosales, o "régulo" da Tabanca da Linha...
"Ao fim de 20 meses de mato", foi destacado para Bolama e daí para a Ilha das Galinhas. Ele próprio nos diz que "desconhecia por completo o que aquilo era, quando cheguei em meados de Junho de 1968"... Mas deu-nos mais informações sobre o que se passava naquela ilha do arquipélago dos Bijagós no tempo do Schulz:
(i) o destacamento era composto por um furriel, um cabo e 3 soldados (!);
(ii) na "parte civil", havia um comandante do campo [, colónia penal e agrícola da Ilha das Galinhas, cruada em 1934]: era "o Chefe Joaquim, um homem de poucas conversas";
(iii) de vez enquanto "encostava uma lancha LDP com um carregamento de prisioneiros, sempre em mau estado, que vinham das prisões de Bissau, escoltado sempre por dois Pides, que entregavam os presos ao chefe e desandavam para Bissau";
(iv) os prisioneiros andavam à solta pela ilha, mas sabia-se "alguns passavam por ali em trânsito para o Tarrafal [, Ilha de Santiago, Cabo Verde]";
(v) na altura não o Zé Viegas não tinha grandes conversas com os prisioneiros, a maioria dos quais "trabalhava na bolanha e nas sementeiras de ananás e mancarra que havia pelo campo";
(vi) era um povo afável, o bijagó, segundo a opinião do nosso camarada que passoi lá "quatro meses", na Ilha das Galinhas, acabando a sua comissão "em Setembro de 68 com 25 meses de Guiné". (**)
Sobre o José Carlos Schwarz ver também um depoimento do nosso grã-tabanqueiro Leopoldo Amado, que o conheceu em vida, em Bissau, ainda antes do 25 de abril de 1974. Não faz qualquer referência ´`
a sua passagem pela Ilha das Galinhas. Mais detalhada e contextualizada é a extensa nota biográfica que, no blogue Lamparam, publica o Leopoldo Amado, da autoria do Norberto Tavares Carvalho, o "Cote", que foi companheiro de prisão do cantor.
Sob o título "José Carlos Schwarz - A Voz do Povo", passou há uns anos, na RTP, um documentário, da autoria de Adulai Djamanca (Produção: Lx Filmes/MC / ICAM / RTP, 2006, 52 minutos).
Recorde-se que ele chegou à Guiné em 4 de Agosto de 1966, seguindo para Bolama onde foi receber o Pel Caç Nat 54, treinado pelo o nosso Jorge Rosales, o "régulo" da Tabanca da Linha...
"Ao fim de 20 meses de mato", foi destacado para Bolama e daí para a Ilha das Galinhas. Ele próprio nos diz que "desconhecia por completo o que aquilo era, quando cheguei em meados de Junho de 1968"... Mas deu-nos mais informações sobre o que se passava naquela ilha do arquipélago dos Bijagós no tempo do Schulz:
(i) o destacamento era composto por um furriel, um cabo e 3 soldados (!);
(ii) na "parte civil", havia um comandante do campo [, colónia penal e agrícola da Ilha das Galinhas, cruada em 1934]: era "o Chefe Joaquim, um homem de poucas conversas";
(iii) de vez enquanto "encostava uma lancha LDP com um carregamento de prisioneiros, sempre em mau estado, que vinham das prisões de Bissau, escoltado sempre por dois Pides, que entregavam os presos ao chefe e desandavam para Bissau";
(iv) os prisioneiros andavam à solta pela ilha, mas sabia-se "alguns passavam por ali em trânsito para o Tarrafal [, Ilha de Santiago, Cabo Verde]";
(v) na altura não o Zé Viegas não tinha grandes conversas com os prisioneiros, a maioria dos quais "trabalhava na bolanha e nas sementeiras de ananás e mancarra que havia pelo campo";
(vi) era um povo afável, o bijagó, segundo a opinião do nosso camarada que passoi lá "quatro meses", na Ilha das Galinhas, acabando a sua comissão "em Setembro de 68 com 25 meses de Guiné". (**)
Sobre o José Carlos Schwarz ver também um depoimento do nosso grã-tabanqueiro Leopoldo Amado, que o conheceu em vida, em Bissau, ainda antes do 25 de abril de 1974. Não faz qualquer referência ´`
a sua passagem pela Ilha das Galinhas. Mais detalhada e contextualizada é a extensa nota biográfica que, no blogue Lamparam, publica o Leopoldo Amado, da autoria do Norberto Tavares Carvalho, o "Cote", que foi companheiro de prisão do cantor.
Sob o título "José Carlos Schwarz - A Voz do Povo", passou há uns anos, na RTP, um documentário, da autoria de Adulai Djamanca (Produção: Lx Filmes/MC / ICAM / RTP, 2006, 52 minutos).
Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Ilha das Galinhas > Junho/setembro de 1968. Foto de José António Viegas, sem legenda. (**)
Foto: © José António Viegas (2013). Todos os direitos reservados
_______________
(*) Vd. poste de 16 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14370: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (26): Letra (em crioulo e português) e vídeo da canção "Djiu di Galinha", de José Carlos Schwarz (Helena Pinto Janeiro / António Estácio)
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 16 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14370: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (26): Letra (em crioulo e português) e vídeo da canção "Djiu di Galinha", de José Carlos Schwarz (Helena Pinto Janeiro / António Estácio)
3 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12383: Memória dos lugares (257): Ilha das Galinhas em 1968 (José António Viegas)
11 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12429: Memória dos lugares (259): Ainda a Ilha das Galinhas e a sua "colónia penal e agrícola", criada em 1934 (José António Viegas, ex-Fur Mil do Pel Caç Nat 54, 1966/68)
O chefe Joaquim que está comigo na foto com o tubarão, esteve na GNR com o Spínola e depois foi chefiar o campo. Penso que estivesse ligado à Pide.
Os presos circulavam à vontade. Alguns mais antigos viviam em palhotas junto ao campo, faziam trabalho agricola, não havia problema com a população e poucas hipóteses tinham de fugir.
A vida da guarnição era fazer umas rondas pela ilha no Uunimog pequeno (Pincha) [, o 411] e pesca. Nada mais.
A comida dos prisioneiros era na base do arroz, algum peixe e carne.
Naquele tempo eu não estava bem dentro dos assuntos, não fazia muitas perguntas ao chefe que ele, sempre de má cara com a sua úrsula [,úlcera], pouco respondia.
Só falei com um preso politico, que eu saiba, quando fui mordido por uma cobra verde, não sei se era médico ou enfermeiro , sei que tinha estado na Repúbklica Checa [, na altura Checoslováqui,] e que veio tratar de mim. (...)
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