Nhala, Junho de 1974 - Guerrilheiros do PAIGC
©: Com a devida vénia a António Murta
A propósito do poste Guiné 61/74 – P16905: Fotos à procura de… uma legenda (80): Inimigos de ontem, amigos de hoje… (José Teixeira), dei comigo a pensar em quantos de nós, os que passámos pela guerra do ultramar, tinham na altura alguma actividade política e consequentemente consciência formada sobre a justeza daquela guerra. Sabíamos que estávamos num sítio praticamente desconhecido e hostil, mas que era Portugal segundo os ensinamentos da geografia e da história.
Era inegável que não éramos o único país que ainda possuía colónias em África ou noutros pontos do planeta, embora houvesse já uns quantos países africanos independentes, e Portugal queria manter intacto, tanto tempo quanto pudesse, o seu império. Tivemos sérios problemas na ONU, fomentados principalmente pelas grandes potências, que estando em plena guerra fria, tinham todo o interesse em ter amigos em África. Naturalmente os países emergentes eram seus naturais aliados.
Lembremo-nos do assédio às nossas antigas colónias de Angola e Moçambique pelos alemães durante a I Grande Guerra, originando já na altura uma mobilização em força para esses territórios. Entre 1914 e 1918 perdemos ali cerca de 4800 homens, além dos mais de 5000 desaparecidos.
Um dos meus tios foi expedicionário em Moçambique nos anos 40 do séc XX, julgo que numa altura coincidente com a II Grande Guerra. Havia que manter a ocupação dos territórios africanos.
O nosso esforço em África entre 1961 e 1974 mais não foi que, à luz da política vigente, a continuação da defesa dos territórios que tanto sangue já tinham custado.
E agora chegamos ao que aqui me traz, o inimigo de ontem, amigo de hoje.
Os movimentos de libertação foram criados e dirigidos por africanos portugueses que adquiriram formação académica universitária na capital do império, onde nas barbas do poder se organizaram. Apoiados por potências com ambições estratégicas em África, e acompanhando os ventos e marés que se faziam sentir, não foi difícil começarem a guerra que iria desgastar uns e outros quase até à exaustão. Portugal mobilizou metropolitanos e locais, e os grupos de libertação tentaram localmente arranjar simpatizantes para a sua causa. Os seus quadros tiveram formação de luta de guerrilha principalmente nos países do leste da Europa, acabando por terem no terreno a colaboração activa de especialistas cubanos e o apoio material desses mesmos países e outros.
Dizia Cabral que não lutava contra os portugueses mas contra o colonialismo, logo os quase 9000 mortos do nosso lado foram vítimas dos chamados efeitos colaterais. Alguns dos guineenses, amigos de portugueses e de Portugal, ao passarem-se legitimamente para o lado do PAIGC, movimento pelo qual lutaram, tornaram-se naturalmente nossos inimigos. Pergunto eu: e agora, acabada a guerra, voltaram a ser nossos amigos? Maneira muito romântica de ver a coisa.
Aquele guerrilheiro, que no calor da luta não me matou por caso, é agora meu amigo, também por acaso, digo eu. Se me tivesse acertado, lá se tinha ido a nossa amizade do pós-guerra.
Carlos Vinhal
Ex-Fur Mil Art MA
CART 2732
Mansabá
1970/72
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Nota do editor
Último poste da série de 17 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16729: (In)citações (103): Um texto elucidativo... Onde se fala do Restaurante Bar Pelicano, de Momo Turé, do Tarrafal, da PIDE/DGS, do PAIGC... (Mário Serra de Oliveira)
16 comentários:
Meu caro amigo Vinhal,parabéns pelo texto apresentado no qual levantas, e muito bem, a questão sobre o desertor, personagem que se dizia nosso amigo e camarada, que convivia connosco, a minha opinião em relação a essa gente, é de repúdio total, e como tal nunca foram, nem serão meus amigos. Um abraço.
Carlos:
Os editores do blogue também têm opinião e o direito de a manifestar... A questão que levantas não é meramente académica: alguém pode ser amigo hoje de um inimigo de ontem ? Não há resposta para a pergunta, é um problema do foro individual. Consta que Cristo perdoou aos seus inimigos, mas não sei se se tornou amigo dos seus inimigos... Perdão é uma coisa, compaixão é outra, humanidade, solidariedade e amizade são também algo distinto. Não poderei ser amigo de quem me quer matar, isso é universal em todas as culturas humanas...
O subtítulo "inimigos de ontem, amigos de hoje" é uma figura de retórica...Quer apenas dizer que nós, combatentes, "tugas, não tivemos pejo de "abraçar", num gesto de reconciliação e de paz, aqueles que até ao 25 de abril de 1974 (e até mesmo depois) nos combatiam, de armas na mão...
Aqueles de nós que regressaram à Guiné (como é o caso do José Teixeira e do Francisco Silva...) t`^em enciontrado antigos "inimigos"... É "normal" a curiosidade em se querer saber quem era quem, e onde é que se estava, no dia tal, na operação tal, e que é poderia acontecer se... "tivessemos os dois frente a frente de armas na mão"...
Claro que para qualquer combatente é difícil separar o indivíduo do sistema... O português Amílcar Cabral dizia que não combatia contra o "povo português" mas contra o "colonialismo" (que era defendido, "objetivamente", pelos "filhos" do povo português e por muitos guineenses que integravam as nossas fileiras)...
Eu não estava lá nessa altura, no 25 de abril, não posso imaginar como me comportaria... Mas muito provavelmente faria o que muitos dos nossos camaradas fizeram nessa altura: estenderam a mão ao "inimigo de ontem", ofereceram uma cigarro, beberam em conjunto uma cerveja... Isso é amizade ? Não, são cenas que "temos visto" em todas as guerras, incluindo as guerras civis (aqui mais complicado, porque há pais contra filhos, irmãos contra irmãos, vizinhos contra vizinhos...).
Em 7 de março de 2008, tive a oportunidade (única) de conhecer pessoalmente (e ser recebido por) 'Nino' Veira, então presidente da República da Guiné-Bissau. Não o cumprimentei, evitei fazê-lo por razõe de princípio... mas assisti (e gravei em vídeo) a "audiência" que ele concedeu a um grupo de 20 estrangeiros, participantes do Simpósio internacional de Guiledje, a maior parte portugueses, mas também gente de outras nacionalidades (Cuba, França, Brasil...). Um ano depois, a 2 de março de 2009, morria sem honra nem glória, assassinado, no mesmo "palácio presidencial" um dos grandes "combatentes da liberdade da Pátria"...
No mesmo simpósio, em 2008, tive ocasião de "conviver" e de "conversar" com antigos guerrilheiros (guineenses e cubanos)... Isso é amizade ? Não...
Em Bafatá, encontrei, em convívio de grupo, gente da PIDE/DGS, a quem não estendi intencionalmente a mão... E era um português como eu... Questões de princípio e de coerência... No mato, andei muitas vezes sozinho com soldados guineenses da CCAÇ 12: branco, caixa de óculos, era um alvo fácil em caso de emboscada... Nunca pintei a cara de preto...
Um alfabravo, Luís
Exactamente, Luís, vens ao encontro do que penso. Apertar cordialmente a mão ao antigo inimigo não é selar uma amizade. Amizade e camaradagem geram-se entre quem luta do mesmo lado. O nosso camarada expõe a sua vida na tentativa de nos ajudar.
Como tu, também não sei como reagiria perante o In, terminada que foi a refrega. Naturalmente o receberia com o respeito que lhe era devido, nada mais.
Ab
Carlos
Eu tive a oportunidade de apertar a mão do inimigo no seu próprio ambiente.Já documentei num poste deste blogue incluindo fotos.Senti nessa altura grande alegria pelo momento. No entanto o principal sentimento era o da confirmação que a guerra estava no fim e que de certeza iria voltar para a minha terra na Metrópole.
Quanto a amizade ,seria completamente impossível.Até porque a amizade se constrói e não se adquire no momento.
Depois há ainda o facto de não esquecer o que os nossos inimigos fizeram posteriormente com os combatentes que lutavam do nosso lado e que por necessidade,obrigação ou devoção acreditavam que estavam a combater do lado certo.
Carlos Vinhal ainda bem que levantaste a questão,poderá assim acontecer que caiam aqui alguns falsos "amiguinhos" do Inimigo e que ás vezes se dedicam ás caridadezinhas,enquanto os responsáveis do governo Guineense vivem como uns nababos ricos e gordos pior que colonialistas de outrora.
Eu tenho o maior desejo que o povo da Guiné consiga ser feliz,no mínimo como me sinto no meu país livre e democrático. Mas jamais seria amigo de antigos combatentes que lutaram contra mim mesmo reconhecendo que era essa a sua obrigação pelos ideais e interesses que nutriam pela sua(?) Guiné,a interrogação é que ainda hoje a Guiné é sua(dos Guineenses)
Henrique Cerqueira
Vi o "inquérito" e respondi : - Talvez...
Hoje certamente penso de outro modo. Se estivesse em 74 lá cumprimentava os militares, exclusivamente com o cumprimento militar. Estaria sempre armado e ,como fazia quando havia guerra com a bala na câmara. Tal qual como o fazia, eu e os militares do meu Grupo.
O Presidente do Paigc, snr Amilcar Cabral, mente quando diz (?) que não lutava contra o Povo do meu País. Não é preciso relembrar o caso dos Majores, Alferes e outros Militares naturais da Guiné...e o assacinato...
ou, no pós "independência, quando cobardemente fuzilaram Camaradas nossos no seu País.
Por isso o - talvez... - hoje sou um idoso que passou um dia por uma situação de guerra com a qual tinha muitas dúvidas...só que aquilo não sai da cabeça e penso nela (na guerra e populações) tempo demais...eu bem quero esquecer mas não sai...
Abraços, T.
O inimigo de ontem não pode ser o amigo de hoje, mas hoje ele pode deixar de ser meu inimigo, por se terem alterado as circunstâncias. Nós somos nós e as circunstâncias.
Um abraço
Carvalho de Mampatá
Este é o primeiro inquérito de opinião do ano de 2017... Vá lá, faça, o favor de responder... no canto superior esquerdo do blogue... Precisamos de 100 respostas, que é um número redondo...
INQUÉRITO DE OPINIÃO: "O MEU INIMIGO DE ONTEM NUNCA PODERÁ VIR A SER MEU AMIGO"
1. Não, nunca poderá vir a ser meu amigo
2. Sim, poderá vir a ser meu amigo
3. Talvez, depende das circunstâncias
4. Não sei responder
Caro amigo Carlos Vinhal,
Bem vistas as coisas, nada impede que antigos adversarios "inimigos" sejam depois amigos se as condições reais que tinham motivado a Guerra mudarem.
Devo dizer que ainda criança, assisti, atónito, a recepção que os metropolitanos reservaram aos guerrilheiros do PAIGC em 1974, na minha aldeia. Notem bem, eu disse "os metropolitanos", porque o caso dos soldados nativos era diferente, porque estes sabiam, de certeza, que aqueles (lobos com pele de ovelhas) nao poderiam ser, em caso algum, seus amigos apos uma Guerra de mais de 12 anos em condicoes de odio e de violencia extrema. E ao contrario dos metropolitanos, este era o seu pais que, tudo indicava, nao pretendiam deixar, ignorando as consequencias que dai poderiam advir.
Um soldado é um soldado, um pequeno pião num complexo jogo de interesses e, na minha opinião, não é a este nivel que interessa analisar a questão da Guerra na Guiné e as suas consequências, pois as falhas na resolução final aconteceram ao nivel superior das forças armadas portuguesas ou do que restava delas, militares de carreira que tinham frequentado academias e colegios militares para saber interpretar em todos os momentos a situacao real do conflito, as possiblidades e impossibilidades a ter em conta e preparar o terreno para o avanco ou o recuo, con forme os casos.
Hoje so temos que constatar que houve um falhanco de repercussoes negativas de extrema gravidade, com consequencias no presente e futuro dos nossos paises. Para mim é isto que é importante e quem nao o percebeu, então ainda nao percebeu nada.
Na semana passada a França reconheceu, finalmente, aos antigos combatentes africanos da primeira Guerra, chamados “Tiralleurs Sénégalais” o direito a cidadania francesa. É tarde ?!! Sim, mas como se costuma dizer, sempre vale mais tarde que nunca. E Portugal, para quando o reconhecimento dos seus antigos combatentes da Guerra colonial no seu ex-imperio em Africa, muitos dos quais se encontram em territorio portugues ???
Um abraço amigo,
Cherno Balde
PS: Ha...tinha-me esquecido de fazer o 'copy-paste' desta bonita cantilena dos bravos metropolitanos na Guine, facam a ligacao e tirem as vossas conclusoes. Com a devida venia ao Luis Graca:
"Oh! Xenhôr dos Matosinhos,
Oh! Xenhôra da Boa-Hora,
Ensinai-nos os caminhos
P'ra desandarmos daqui p'ra fora!" (**)
Cherno AB
Muito interessante este tema que o Carlos Vinhal levanta e merece ser aprofundado.
Na realidade tenho convivido e conversado com inimigos de ontem que hoje me recebem de braços abertos. Nunca serão meus camaradas no sentido lato da palavra, até porque foram a causa indirecta que me deu muitos camaradas, mas também provocaram em mim sofrimento e morte de camaradas que muito estimava. Mas temos de reconhecer, penso eu, que tal como nós, muitos deles não queriam andar na guerra. Tal como nós, mas a tal eram forçados pela mentalização (envenenamento) ideológica, forma de ganhar dinheiro que de outro modo nunca ganhariam,tal como muitos dos nossos milícias, não tenho dúvidas.A deserção de um português dava prisão, mas a deserção de um "combatente da pátria" dava fuzilamento.Como se dava a mobilização deles? alguém sabe?
Recordo o drama do Camará, que conheci no Simpósio em Guilege."Cruzamo-nos" pelo menos umas cinco vezes durante a guerra.Fez parte do grupo que tentou entrar em Mampatá Forreá em Novembro de 1968, pelas duas da tarde. Era um dos sapadores que colocava as minas no corredor da morte. Acabada a guerra voltou à sua tabanca e dedicou-se à agricultura de sobrevivência, tal como cada um de nós se dedicou ao seu trabalho e reorganizou a sua vida.A meio da conversa, abraçou-se a mim e disse "desculpa, guerra é guerra, eu quero ser teu "ermon" e concluiu, "eu fui levado da minha tabanca tinha 15 anos.
Olhando para o nosso lado, quantos de nós estivemos na guerra numa atitude voluntária e consciente? Eu não, e ao fim de algum tempo no terreno, senti que afinal estava ali a mais, mas tive de aguentar os dois anos. Vivi cenas e vi camaradas que fora do ambiente de guerra eram pessoas pacificas e na frente de combate levariam a morte à sua frente, porque "ou matas ou morres" e acabada a guerra procuraram encontrar-se de novo consigo próprias e - somos todos nós - pessoas amantes da paz.Creio que devemos dar aos ex-inimigos o benefício da dúvida e aceitá-los tal como são hoje e não o que foram ontem. Conversar com eles, porque não? eventualmente, conviver porque não? A amizade cria-se e solidifica-se no convívio, o que não acontece, logo, não será fácil ser amigo. Mas dar abraços de paz, tem-me feito muito bem.
Zé Teixeira
Olá Chero Bom Dia
Como chove e a temperatura exterior deve rondar 2 ou 3ª - (talvez 0º )- vim ao Blogue.
Abri e apanhei mais um "comentário" teu. É sempre com gosto que os leio e aprendo com o que
escreves. África, principalmente a Guiné, provoca-me uma nostágia própria...talvez.
Quanto ao que a França agora decretou tem mais, muito mais a dizer...
Abraço, Torcato ---- erro meu no comentário anterior .- assassinato e não assacinato.----
Amigo, Inimigo, Opositor, são tudo termos para uma definição, não passam disso.
Depois temos as questões políticas, as sensibilidades, as idades em que ocorreram os acontecimentos.
Parece-me pouco clarificador este inquérito, pelo menos na forma tão linear de colocar a questão.
Achei extramente interessante a questão levantada pelo Carlos Vinhal. Depois li todos os comentários acerca do assunto e, se algumas vezes tenho estado em desacordo com o Henrique Cerqueira, esta não é certamente uma delas, como também concordo com o ponto de vista do Torcato Mendonça, a idade faz-nos ver as coisas de forma diferente e não podemos, por mais que nos esforcemos, ver as coisas hoje, com os olhos de vinte e poucos anos embrenhados no problema.
E a sensibilidade do momento?
E ver acabada a guerra e o regresso a casa?
Como encarar quem possivelmente matou os nossos camaradas e/ou amigos?
Receber com dignidade os opositores e dar-lhes as condições que militarmente se impõem tudo bem, mas daí a chamar-lhes amigos parece-me um termo demasiado forte.
Quanto tempo demora para dizermos que A ou B é nosso amigo? De um momento para o outro deixam de ser inimigos e passam a amigos?
Tal como alguns comentários que vi, desejo as melhores e maiores felicidades a toda a gente, onde incluo os antigos guerrilheiros do PAIGC, não beneficio nada com o mal dos outros, mas daí a chamar-lhes amigos existe uma grande diferença. Desejo a todo o povo da Guiné o melhor para o seu futuro, mas não confundo povo com os guerrilheiros que depois da independência assassinaram barbaramente muitos dos guineenses que lutaram ao nosso lado.
Este é um dos temas que merece, em meu entender, muita reflexão antes de uma tomada de decisão por uma ou outra opção.
É o meu ponto de vista.
Não participarei com nenhuma resposta ao inquérito.
Um abraço.
BS
Luís Cabral apertou-me a mão e popularmente em Bissau dizia-se que aquela mão era de um criminoso do próprio povo e de companheiros do PAIGC.
Nino Vieira apertou-me a mão, (mais que uma vez) e em Bissau sabia-se comprovadamente, que aquela mão era de um criminoso.
Manuel Saturnino apertou-me a mão e dizia-se que era um abusador de bajudas e que fazia desaparecer os namorados destas.
Muitos portugueses, com o 25 de Abril, e já neste blog, idolatramos esta gente horrível que o próprio povo apenas suporta porque não tem alternativa, e menosprezámos aqueles africanos, régulos e tropas que estiveram ao nosso lado, em Angola, Guiné e Moçambique, porque tinham consciência absoluta do que os esperava.
Mas o cinismo de muitos de nós e de toda a Europa, está a ser desmascarado, em pleno mediterrâneo e no arame farpado de Melila.
Mas, impotentes como nós, tivemos que seguir os "ventos da história", para mal daqueles povos, e da própria Europa.
(Apertaram-me a mão, eu não ia retirá-la, estava na terra deles e precisava de apreciar, para contar)
Blogger J. Gabriel Sacôto M. Fernandes (Ex ALF. MIL. Guiné 64/66) disse...
Camaradas: Não esqueçam nunca os nossos heróicos camaradas guineenses que ao nosso lado bravamente combateram, muitos caíram em combate, para defender a sua terra das influencias estrangeiras (Chinesas, Cubanas e Soviéticas), como foram o meu amigo João Bakar Jaló, o Domingos Demba Djassi, Queba Sambu, Marcelino (felizmente vivo e na nossa companhia) e tantos outros.
O PAICG prometeu tratá-los com humanidade. Portugal acreditou, pagou-lhes seis meses de ordenado e pediu-lhes que entregassem as armas. Ainda que renitentes, os 27 mil militares guineenses do Exército português aceitaram. Mal as autoridades portuguesas abandonaram o país, logo o novo poder executou os primeiros.. Mortes reconhecidas na sinceridade das certidões de óbito: “faleceu por fuzilamento”, diziam. As autoridades guineenses pós-Luís Cabral falam em 500 mortos. O jornal “Nô Pintcha” chegou a publicar uma lista de nomes. Mas os sobreviventes calculam que pelo menos um milhar terá comparecido diante do pelotão de fuzilamento - alguns em aeroportos e campos de futebol, diante das populações.
(isto, a nossa geração, não pode perdoar)
4 de janeiro de 2017 às 09:54
Se há tema que me toca no mais íntimo do meu ser, é este, e não qualquer outro. Estamos a falar e a recordar aspectos da história de Portugal, da maior importância, porque, pela Pátria Portuguesa morreram muitos jovens e muitos outros sofreram e ainda sofrem sequelas mais ou menos graves. Concordo com o que foi afirmado na maioria dos casos e não vi vozes discordantes. Gostei especialmente da intervenção do nosso amigo e "camarada" Cherno Baldé, do José Teixeira e do João Gabriel Sacôto Martins Fernandes. São nossos inimigos os que, de forma consciente, nos querem mal. O que aconteceu é que, naquela estúpida guerra, não queríamos mal uns aos outros, verdadeiramente, não queriamos mal a ninguém. Apenas tinhamos pontos de vista diferentes e acreditávamos que a realidade era uma outra. Ou os conhecimentos eram poucos, ou a ignorância era grande. Até mesmo Amílcar Cabral, homem de grande inteligência e muitos conhecimentos, andou profundamente enganado, quiçá, porque merecia um melhor tratamento e aproveitamento do governo português. Aliás, se tivesse conseguido um entendimento, aceite pelo poder político, com o Gen. Spínola, a evolução dos conflitos armados teria sido outra, bem mais favorável aos verdadeiros interesses das populações. Só que, não era esse o interesse das grandes potências imperialistas e daí, o seu assassinato. Nunca considerei ninguém meu inimigo e sempre me opus a qualquer mau tratamento de opositores o que terá sido compreendido pelas nossas milícias, em geral, aguerridas e usando "tratamentos" exagerados. "Tratamentos" que, pelo facto de termos abandonado os territórios, as populações, os nossos soldados e as nossas milícias que nem uns porcos traidores, porque não houve qualquer consulta popular, nem o necessário esforço nesse sentido, degeneraram num autentico holocausto, que tem responsáveis e que devem ser julgados, mesmo que, a título póstumo. Também lamento que ainda não se tenha percebido que esses interesses internacionais continuam fazendo mais vítimas, no Iraque, na Líbia e na Síria, com a simultânea invasão muçulmana da Europa com a capa de apoio aos refugiados... e as mentiras e os grandes interesses continuam...
Há ex-combatentes que se orgulham pela forma como a epopeia portuguesa em África de 5 séculos terminou.
E há, como eu, ex-combatentes que tendo participado no conflito com o espírito nobre do cumprimento de um dever patriótico se envergonham da forma como o conflito terminou.
Os primeiros regozijam-se por terem salvo a pele.
Os segundos lamentam profundamente as dramáticas situações em que foram abandonadas populações e seus bens, que era nossa missão defender.
Um abraço,
JS
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