sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P16926: Inquérito 'on line' (97): Nas primeiras 80 respostas, 55% dos respondentes considera, sem reservas, que poderia ser hoje amigo do inimigo de ontem... O prazo termina na 2ª feira, dia 9, às 18h36...Falta pouco para chegarmos às 100 respostas...


Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250 (1972/74) > Em quase todos os aquartelamentos do CTIG, houve a seguir ao 25 de Abril de 1974, entre Maio e Junho, tentativas mais ou menos bem sucedidas de aproximação do PAIGC com vista ao cessar-fogo, ao fim da guerra e à reconciliação (e vice-versa). Nesta foto, vemos o camarada, amigo, ex-fur mil José Manuel Lopes (o poeta Josema) com um guerrilheiro do PAIGC. Mais difícil foi, de facto,  a aproximação entre o PAIGC e os militares guineenses que estavam do lado das NT, como foi o caso dos Comandos Africanos.

Foto: © José Manuel Lopes (2008). Todo os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



I. INQUÉRITO DE OPINIÃO:

"O MEU INIMIGO DE ONTEM

NUNCA PODERÁ VIR A SER MEU AMIGO" (**)




Nº de respostas (provisórias), às 15h de hoje = 80



1. Não, nunca poderá vir a ser meu amigo  > 11 (13%)

2. Sim, poderá vir a ser meu amigo  > 44 (55%)



3. Talvez, depende das circunstâncias  > 21 (26%)


4. Não sei responder  > 4 (5%)



Total de respostas > 80 (100%)


Prazo de resposta termina dia 9, 2ª feira, às 18h36

II. Comentários:
 

(i) José Marcelino Martins (*)

Esta pode ser uma "oportunidade" para redimir alguns excessos praticados, quer de um lado quer do outro, apesar de ser só por colocação de um "x". Porém, para muitos chegará.



(ii) António José Pereira da Costa (**)

(...) Não estive na descolonização, mas aquela de "andemos à porrada, mas agora semos todos uns gajos do baril" não me seduz. Claro que o fenómeno é complexo. Eles começaram por ser portugueses dissidentes a quem outros portugueses tinham de subjugar. Por razões exógenas acabou não com uma vitória/rendição, mas isso não quer dizer que caiamos nos braços uns dos outros. Tenho para mim, sem hipótese de prova, que eles simularam uma "amizade" que não sentiam e nós tomámos a atitude do "nacional-porreirismo" habitual dos portugueses. Claro que o denominador comum disto era o fascismo e o colonialismo de segunda categoria do regime político que dominava o país aquém e além mar. 

Mas acho que o PAIGC conseguiu o que queria e, caído o fascismo, nós todos metropolitanos queríamos regressar são e salvos. Há ainda os guineenses que eram portugueses e deixaram de o ser e esses não creio que alguma vez tenham sido abraçados pelos guerrilheiros. Isto diz de um certo ódio larvar que felizmente não se cevou em nós. Poderia ter acontecido e sabemos bem as "confusões" que se sucederam no momento em que os colonialistas saíram e as gloriosas hostes dos guerrilheiros tomaram o poder. Na Guiné, talvez nem tanto, mas em Angola houve problemas sérios...

Creio que a receita para o relacionamento das NT com o PAIGC é aquela que o Torcato Mendonça e o Vinhal defendem. De outra forma há um desrespeito por quem "ficou" no terreno. (...)

(iii) Henrique Cerqueira (***)

(...) Eu tive a oportunidade de apertar a mão do inimigo no seu próprio ambiente.Já documentei num poste deste blogue incluindo fotos.Senti nessa altura grande alegria pelo momento. No entanto o principal sentimento era o da confirmação que a guerra estava no fim e que de certeza iria voltar para a minha terra na Metrópole.

Quanto a amizade ,seria completamente impossível.Até porque a amizade se constrói e não se adquire no momento. Depois há ainda o facto de não esquecer o que os nossos inimigos fizeram posteriormente com os combatentes que lutavam do nosso lado e que por necessidade,obrigação ou devoção acreditavam que estavam a combater do lado certo.

Carlos Vinhal ainda bem que levantaste a questão,poderá assim acontecer que caiam aqui alguns falsos "amiguinhos" do Inimigo e que ás vezes se dedicam ás caridadezinhas,enquanto os responsáveis do governo Guineense vivem como uns nababos ricos e gordos pior que colonialistas de outrora.
Eu tenho o maior desejo que o povo da Guiné consiga ser feliz,no mínimo como me sinto no meu país livre e democrático. Mas jamais seria amigo de antigos combatentes que lutaram contra mim mesmo reconhecendo que era essa a sua obrigação pelos ideais e interesses que nutriam pela sua(?) Guiné,a interrogação é que ainda hoje a Guiné é sua(dos Guineenses) (...)


(iv) João Sacôto (***)

Camaradas:

Não esqueçam nunca os nossos heróicos camaradas guineenses que ao nosso lado bravamente combateram, muitos caíram em combate, para defender a sua terra das influencias estrangeiras (Chinesas, Cubanas e Soviéticas), como foram o meu amigo João Bakar Jaló, o Domingos Demba Djassi, Queba Sambu, Marcelino (felizmente vivo e na nossa companhia) e tantos outros.

O PAICG prometeu tratá-los com humanidade. Portugal acreditou, pagou-lhes seis meses de ordenado e pediu-lhes que entregassem as armas. Ainda que renitentes, os 27 mil militares guineenses do Exército português aceitaram. Mal as autoridades portuguesas abandonaram o país, logo o novo poder executou os primeiros.. Mortes reconhecidas na sinceridade das certidões de óbito: “faleceu por fuzilamento”, diziam. As autoridades guineenses pós-Luís Cabral falam em 500 mortos. O jornal “Nô Pintcha” chegou a publicar uma lista de nomes. Mas os sobreviventes calculam que pelo menos um milhar terá comparecido diante do pelotão de fuzilamento - alguns em aeroportos e campos de futebol, diante das populações.  (Isto, a nossa geração, não pode perdoar.) (...)


(***) Vd. poste de 2 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16908: (In)citações (104): Inimigos de ontem, amigos de hoje? (Carlos Vinhal, ex-Fur Mil da CART 2732)

3 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Como em todas as guerras, os "dois" lados nunca estão preparados para fazer a paz... Na Guiné, se a guerra tivésse acabado, mais cedo, em 1969/71, quando eu lá estive, confesso que também não saberia como agir... Nem eu nem os restanhtes graduados da muinha CCAÇ 12... Isso era tanto verdade para nós como para o PAIGC... Fomos preeparados (mal) para fazer a guerra, não estávamos "programados" para fazer a paz...

O Tó Pereira que era oficial do quadro nunca deve ter tido "aulas" sobre como proceder em caso de cessar fogo e conversações de paz... Nenhum dos lados previa, em teoria, essa hipótese. A guerra acaba com a vitória sobre o inimigo...

No fundo, o nosso "nacional-porreirismo!" mais não foi do que uma manifestação do nosso proverbial sentido de desenrascanço e vontade para pôr um ponto final num conflito que já lavrava há 13 anos, sem um fim (razoável) à vista...

A paz está no ADN dos seres humanos, faz parte do património genético dos portugueses... E na realidade é bem maia difícil fazer a paz do que a guerra... Exige muito mais sabedoria, inteligência emocional, capacidade de negociação, empatia, comunicação, "pôr-se na pele do outro", saber ouvir, etc.

António J. P. Costa disse...

Olá Camarada

Há quem diga que a guerra é o bastão da cólera de Deus. Por isso a guerra cairia em cima dos povos que se "portaram" mal. Era uma teoria. Creio que já está em desuso.
As FA são, portanto, uma espécie de pau que bate no cão e, muitas vezes, a guerra torna-se tão impopular que as FA - de ambos os beligerantes - ficam responsáveis pela guerra, perante o povo a que pertencem. É uma leitura deficiente por partir da ideia de que há guerra porque há FA e não o contrário. É como se dissesses que as pessoas são mortas porque há navalhas e facas... Ou seja o cão tem tendência a morder no pau em vez de se atirar ao homem que lhe bate. É assim com quase todos os povos e exemplos não faltam...
Do mesmo modo que a guerra é determinada por quem manda ou a quem os povos concedem autoridade para os conduzir, a paz é feita pelos mesmos que a determinaram.
Não há muitos exemplos de pazes feitas, no terreno, entre forças combatentes, nem sequer tréguas.
Por isso é natural que os combatentes não estejam preparados para fazer a paz. De outro modo poderiam fazê-la sem ordens e era uma "desgraça". Além disso, a guerra é feita para impor a nossa vontade ou objectivos ao inimigo e, por isso quem faz a guerra aprendeu (normalmente) a fazê-la e mais nada. Por consequência não está preparado para fazer a paz.
O afastamento do ex-inimigo é o último assomo de valentia que resta ao derrotado. Como, neste caso, foi o PAIGC que atingiu os objectivos e a guerra é um fenómeno total que colide com todas as áreas de actividade de um país, é por isso que eu digo que o PAIGC venceu a guerra.
Claro que a sobranceria do vencedor é um factor a ter em conta e em África, naquele tempo (e talvez hoje ainda) muito mais.
Não sei, mas já tenho admitido que, na sua maioria, os guerrilheiros, em pouco dias, descobriram a pobreza que se adivinhava e reconheceram que o partido não iria conseguir dominar correctamente a situação, por nada ter para dar.
Em resumo, vivia-se melhor junto das NT do que junto da guerrilha e, a partir daí era sempre em perda. Mas, no fundo, eles também queriam deixar de sofrer e de morrer.

Um Ab.
António J. P. Costa

Unknown disse...

Eu teria muito gosto em apertar a mão a qualquer guineense e de ser seu amigo, aliás tenho im amigo negro cá na terra que é de Bafatá,fomos combatentes de um regime ditatorial contra um povo que apenas lutava pela sua independencia Liberdade e autodeterminação. com um abraço camarada Artur Capela Gomes Soldado Condutor da Compamhia 1802 de 1967/1969 artur.a.gomes@gmail.com conhecido como o Capela