domingo, 20 de agosto de 2017

Guiné 61/74 - P17685: Blogpoesia (525): "Quando era pequeno..."; "Aquela mulher grave..." e "Diante do mar...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Diante do mar
Foto: Carlos Vinhal

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Quando era pequeno...

Quando era pequeno, via o mundo imenso e infinito.
As árvores gigantes. Pacíficas.
Os grandes amigos. Atentos.
A vida era festa, constante.
Se fazia com pouco.
Eram eternos os dias.
Chegavam p'ra tudo.
Os anos sem fim.
Pouca roupa chegava.
Calções e camisa.
Descalço era bom.
Havia pais e padrinhos,
sempre por perto.
Roscas, rosquilhos,
no Natal e na Páscoa.
As portas abertas.
Não havia ladrões.
O sino das horas cantava à hora.
Havia verdade.
De inverno, chovia.
Calor, no verão.
Agora, tudo parece.
É falso e não é.
Quem me dera voltar ao mundo pequeno,
imenso para mim.
Feliz que eu fui...

Café Castelão, 14 de Agosto de 2017
10h45m
Jlmg

************

Aquela mulher grave…

Aquela mulher grave,
De meia idade,
Não admite brincadeiras.
Vai sozinha fitando o chão.
Na mão um saco
Todo em panos, de várias cores.
Seu cão morreu.
Deixou-a triste,
Amargurada.
Não foi capaz de o substituir.
Perdera o homem
Quando era nova.
A vida nunca mais sorriu.
Tem um vizinho interessado nela.
Já é viúvo.
Muito amigos,
Mas nada mais.
Talvez um dia,
Sabe-o Deus.
Pois ele a espera
Para bem dos dois,
Que a solidão dói
E a vida é breve …

Mafra, 16 de Agosto de 2017
7h48m
Dia de sol
Jlmg

************

Diante do mar...

Diante do mar, esquecem-se as horas, as agruras da vida,
batem saudades, tempos vividos
não voltam.
Há que viver.
É incerto o futuro. O presente sofrente.
Aquela harmonia que havia,
Parecia eterna,
O voo acabou. Para trás o sonho.
Chegou o inverno.
Quem me dera partir.
Por este mar além.
O céu é azul.
O sol ainda brilha do lado de lá.
Passadas perdidas não se voltam a passar.
Eram quimeras meus sonhos.
Foi-se o dia.
Pôs-se o sol.
Não será para sempre.
A esperança não morre...

ouvindo "Claro de Lua" de Beethoven
Café Castelão em Mafra, 17 de Agosto de 2017
9h13m
Jlmg
____________

Nota do editor

Último poste da série de 13 de agosto de 2017 > Guiné 61/74 - P17668: Blogpoesia (524): "O mínimo vital..."; "Sussurros da madrugada..." e "Nas asas dum violino...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Sem comentários: