(1969), "Diário de Lisboa", nº 16573, Ano 48, Sábado, 8 de Fevereiro de 1969, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_7148 (2018-5-24)
Fonte: Instituição: Fundação Mário Soares | Pasta: 06597.135.23237 | Título: Diário de Lisboa | Número: 16573 | Ano: 48 | Data: Sábado, 8 de Fevereiro de 1969 | Directores: Director: António Ruella Ramos | Edição: 2ª edição | Observações: Inclui supl. "Diário de Lisboa Magazine". | Fundo: DRR - Documentos Ruella Ramos | Tipo Documental: IMPRENSA.
1. A notícia chegou tarde às redações dos jornais. O vespertino "Diário de Lisboa" deu-a em caixa alta só na 2ª edição. E nesse sábado, dia 8 de fevereiro de 1969, fez uma 3ª edição. O jornal era "visado pela censura" e a grande maioria dos portugueses (e nomeadamente os da nossa geração, nascida no Estado Novo) não sabia o que era isso de liberdade de imprensa...
A notícia do "desastre na Guiné" (sic) causou alarme e consternação: 47 mortos (militares, em rigor 46 militares e 1 civil guineense) era o balanço do "trágico acidente". A notícia era dada pela agência oficiosa L [usitânia], com proveniência de Bissau e data de 8... Chegava com dois e meio de atraso... Sabemos hoje que o "acidente" ocorreu na manhã de 5ª feira, dia 6 de fevereiro de 1969, no final da Op Mabecos Bravios, ou na seja, na sequência da retirada do aquartelamento de Madina do Boé. (*)
A notícia do "desastre na Guiné" (sic) causou alarme e consternação: 47 mortos (militares, em rigor 46 militares e 1 civil guineense) era o balanço do "trágico acidente". A notícia era dada pela agência oficiosa L [usitânia], com proveniência de Bissau e data de 8... Chegava com dois e meio de atraso... Sabemos hoje que o "acidente" ocorreu na manhã de 5ª feira, dia 6 de fevereiro de 1969, no final da Op Mabecos Bravios, ou na seja, na sequência da retirada do aquartelamento de Madina do Boé. (*)
O balanço era, de facto, trágico: na lista das 47 vítimas, por afogamento, constavam: (i) 2 furriéis milicianos; (ii) 7 1ºs cabos; e (iii) 38 soldados (na realidade, um dos nomes era de um civil). Mas os termos da notícia eram lacónicos, como era habitual nos comunicados oficiais ou oficiosos em assuntos "melindrosos" como este:
"Na passagem do rio Corubal, na estrada para Nova Lamego, afundou-se a jangada que transportava uma força militar, havendo a lamentar, em consequência deste acidente, a morte, por afogamento, de 47 militares".
Para não dar azo a especulações, o ministro do Exércitofoi nomeou (e mandou de imediato paar o CTIG) o cor cav Fernando Cavaleiro, o "herói da ilha do Como" (1964), a fim de instruir localmente o processo de averiguações. Não sabemos quanto tempo levou a instrução do processo, mas temos um resumo das conclusões preliminares do cor cav Fernando Cavaleiro, publicado no jornal "Província de Angola", em data desconhecida, conforme recorte que nos foi enviado pelo nosso camarada José Teixeira (**).
Ainda não tivemos acesso ao relatório original, mas tudo indica que há nele erros factuais graves, permitindo ytirar conclusões enviesadas que acabam por escmotear, ignorar ou branquear a responsabilidade do 2º comandante da operação, que ultrapassou o oficial de segurança, o alf mil Diniz. Na última e trágica viagem, em vez de 2 pelotões, a jangada levou o dobro, contrariamente as regras estabelecidas pelo alf mil Diniz... Mas este era o "ejo mais fraco" da cdeia hierárquica e acabou por ser o "bode expiatório" de toda esta história que ainda continua mal contada...
Daqui a menos de 9 meses, comemora-se os 50 anos deste trágico evento... E muita água ainda há-se passar sob as pontes do rio Corubal até que se saiba a verdade ou toda a verdade sobre esta tragédia que ensombrou o primeiro ano do consulado do Spínola. (***)
Para já temos prometido um encontro com o ex-alf mil José Luís Dumas Diniz (, da CART 2338), responsável pela segurança da jangada que fazia a travessia do rio Corubal, em Cheche, aquando da retirada de Madina do Boé. Tenho os seus contactos, a data do nosso encontro ainda foi maracad mas é apenas uma questão de mútua conveniência. O ex-alf mil Diniz mostrou-se interessado em contar, ao nosso blogue, a sua versão dos acontecimentos. Bem haja!... Porque, afinal, o que nos move é a procura da verdade e só da verdade...
Vd. também 29 de março de 2010 > Guiné 63/74 - P6063: Recortes de imprensa (23): O desastre do Cheche, no Rio Corubal: excertos de artigo de Teresa Firmino, Público, 6/12/2009
"Na passagem do rio Corubal, na estrada para Nova Lamego, afundou-se a jangada que transportava uma força militar, havendo a lamentar, em consequência deste acidente, a morte, por afogamento, de 47 militares".
Para não dar azo a especulações, o ministro do Exércitofoi nomeou (e mandou de imediato paar o CTIG) o cor cav Fernando Cavaleiro, o "herói da ilha do Como" (1964), a fim de instruir localmente o processo de averiguações. Não sabemos quanto tempo levou a instrução do processo, mas temos um resumo das conclusões preliminares do cor cav Fernando Cavaleiro, publicado no jornal "Província de Angola", em data desconhecida, conforme recorte que nos foi enviado pelo nosso camarada José Teixeira (**).
Ainda não tivemos acesso ao relatório original, mas tudo indica que há nele erros factuais graves, permitindo ytirar conclusões enviesadas que acabam por escmotear, ignorar ou branquear a responsabilidade do 2º comandante da operação, que ultrapassou o oficial de segurança, o alf mil Diniz. Na última e trágica viagem, em vez de 2 pelotões, a jangada levou o dobro, contrariamente as regras estabelecidas pelo alf mil Diniz... Mas este era o "ejo mais fraco" da cdeia hierárquica e acabou por ser o "bode expiatório" de toda esta história que ainda continua mal contada...
Daqui a menos de 9 meses, comemora-se os 50 anos deste trágico evento... E muita água ainda há-se passar sob as pontes do rio Corubal até que se saiba a verdade ou toda a verdade sobre esta tragédia que ensombrou o primeiro ano do consulado do Spínola. (***)
Para já temos prometido um encontro com o ex-alf mil José Luís Dumas Diniz (, da CART 2338), responsável pela segurança da jangada que fazia a travessia do rio Corubal, em Cheche, aquando da retirada de Madina do Boé. Tenho os seus contactos, a data do nosso encontro ainda foi maracad mas é apenas uma questão de mútua conveniência. O ex-alf mil Diniz mostrou-se interessado em contar, ao nosso blogue, a sua versão dos acontecimentos. Bem haja!... Porque, afinal, o que nos move é a procura da verdade e só da verdade...
___________________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 6 de fevereiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15712: Efemérides (209): Há 47 anos, 47 baixas mortais... Em 6/2/1969, em Cheche, no Rio Corubal, no desastre da jangada, na sequência da retirada de Madina do Boé
(**) 25 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14931: Recortes de imprensa (74): Informação Oficial, publicada no jornal "A Província de Angola", sobre o desastre do Cheche aquando da travessia do Rio Corubal em 6 de Fevereiro de 1969 (José Teixeira / José Marcelino Martins)
(***) Último poste da série > 19 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18538: Recortes de imprensa (94): Herança da guerra (Sílvia Torres, "Diário de Coimbra", 23 de março de 2018)
Vd. também 29 de março de 2010 > Guiné 63/74 - P6063: Recortes de imprensa (23): O desastre do Cheche, no Rio Corubal: excertos de artigo de Teresa Firmino, Público, 6/12/2009
13 comentários:
Z Teixeira: ´
vês se descobres o dia, mês e ano do recorte de imprensa ("Província de Angola") que em tempos mandaste, sem data, com um resumo do relatório do cor cav, já falecido, Fernando Cavaleiro que, me parece, ter branqueado a responsabilidade do 2º comandante da Op Mabecos Bravios,...
O jornal reproduz um comunicado da Secretaria de Estado de informaçãop e turismo, datado de Lisboa, 7 (mês ? ano ?)... O Fernando Cavaleiro tinha regressado a Lisboa, vindo de Bissau, depois de terminado o inquérito de averiguações ao desastre do Cheche... Portanto esse comunicado só pode ser de meados de 1969...
No fundo, o cor cav Fernando Cavaleiro acaba por defender a "corporação", é o que posso concluir da leitura do resumo com as conclusõera... Foi mandado à Guiné pelo ministro do Exército...
O Diniz, miliciano, terá sido o "bode expiatório"... Segundo o Rui Felício, foi o 2º comandante da operação (que devia ser um major...) quem deu a ordem definitiva para embarcarem 4 pelotões em vez de 2... O instrutor do processo diz que era "normal" irem 4 pelotões na jangada (+/- 1 companhia), o que é absurdo... e contradiz os nossos camaradas que sobreviveram aio acidente, como o Rui Felício...
Gostava de apanhar esse relatório... e/ou de ler o resumo no "Diário de Lisboa"... Um dia destes vou almoçar com o Fernando Calado e o ex-alf mil Dumas Diniz, o responsável da segurança. Já falei com ele, vive em Cascais, e temos até afinidades profissionais (, eu, o Calado, e ele)
Abraço, Luís
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2015/07/guine-6374-p14931-recortes-de-imprensa.html
PS - É ótimo que a malta faça recortes dos jornais, mas é bom que nunca se esqueça de apontar a fonte e a data...
O pomo da discórdia parece-me ser este: a jangada, na última viagem, transportava 140 homens, "número sensivelmente igual ao de viagens anteriores"...
Recorde-se o que aqui escreveu o nosso camarada Rui Felício, há 8 anos atrás:
7 DE FEVEREIRO DE 2010
Guiné 63/74 - P5778: Efemérides (45): O desastre do Cheche, visto por quem esteve lá e perdeu 11 homens do seu grupo de combate (Rui Felício, Alf Mil, CCAÇ 2405, Galomaro, 1968/70)
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2010/02/guine-6374-p5778-efemerides-45-o.html
(...) Em resumo e concluindo:
(i) O desastre do Cheche ficou a dever-se, em minha opinião, ao excesso de peso entrado na jangada;
(ii) E ela é corroborada por todos aqueles que, como eu, viajavam na jangada e que em conversas a seguir ao desastre manifestaram a mesma opinião;
(iii) Note-se que a mesma jangada tinha já feito dezenas de travessias sob as ordens directas do Alf Diniz sem nunca se ter detectado qualquer problema;
(iv) Esse problema surgiu de forma trágica na última travessia, ou seja, naquela em que o responsável Alf Diniz não pôde efectivamente proceder segundo o que estava estabelecido, deixando entrar na jangada o dobro da sua capacidade, por ordem do 2º Comandante da Operação a que, pela natureza da hierarquia militar, não poderia opor-se;
(v) Mas fê-lo, e disso dei testemunho no âmbito do inquérito que se seguiu, advertindo previamente o seu superior hierárquico para o facto de estar a infringir as determinações que tinha sobre a forma de fazer a travessia do rio e da lotação definida para a embarcação;
(vi) E estou convencido que a rapidez do desaparecimento das vítimas nas águas calmas, escuras e profundas do Corubal, se ficou a dever ao facto de todos transportarem consigo pesado equipamento de guerra que lhes tolheu os movimentos e os conduziu para o fundo do rio, de forma tão rápida, com a agravante de que a maior parte deles não sabia nadar (...)
José Teixeira
José Teixeira
25 mai 2018 13:53
Meu caro Luís;
Gostava de ser útil, mas o que apanhei foi apenas aquele recorte sem data. Presumo que seja de 1969 pela "frescura" da linguagem do autor da notícia.
Só um pormenor: o acidente foi no dia dos meus anos e nós em Empada só tivemos conhecimento da lista dos mortos quinze dias depois.
Abraço fraterno do Zé Teixeira
Releia-se o que aqui escreveu, "post mortem", em 2008, há 10 anos (!), o comandante da Op Mabecos Bravios, na altura cor inf, depois ten general ref:
(...) No Gabu (então Nova Lamego) construiu-se uma nova jangada que depois foi levada para o Cheche onde a que lá estava foi devidamente reforçada. Estas jangadas eram constituídas por um forte estrado dotado de vedações laterais e assente em bidões vazios e em três “barcos” formados por grandes troncos de árvores escavados. Estrutura esta que, com a jangada descarregada, colocava o estrado a cerca de um metro da água.
As jangadas eram consideradas muito seguras e incapazes de se voltarem ou afundarem, desde que não fossem excessivamente carregadas. Calculava-se que aguentariam um peso de dez toneladas. Mas para maior segurança a O.Op. ; Ordem de Operações,] proibia que fossem transportados mais de 50 homens de cada vez. (...)
25 DE JUNHO DE 2008
Guiné 63/74 - P2984: Op Mabecos Bravios: a retirada de Madina do Boé e o desastre de Cheche (Maj Gen Hélio Felgas † )
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2007/09/guin-6374-p2982-depoimentos-1-retirada.html
Continuação da narrativa do cor inf Hélio Felgas, comdt da Op Mabecos Bravios:
25 DE JUNHO DE 2008
Guiné 63/74 - P2984: Op Mabecos Bravios: a retirada de Madina do Boé e o desastre de Cheche (Maj Gen Hélio Felgas † )
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2007/09/guin-6374-p2982-depoimentos-1-retirada.html
(...) Chegámos ao Corubal ao princípio da noite sem termos sofrido qualquer emboscada. A travessia do rio começou imediatamente com as jangadas trabalhando alternadamente. Havia um cabo de aço estendido de uma margem à outra, a ele ficando ligada a jangada em serviço, a qual era empurrada por um pequeno barco com motor for de bordo.
O rio tinha uma corrente muito forte e uns 100 a 150 metros de largura. O motor do barquito levantava uma pequena ondulação que formava um V.
Atravessei para o Cheche cujas instalações eram semelhantes às de Madina, isto é, quase tudo abrigos enterrados.
Durante toda a noite assisti ao vai-vem das jangadadas. Parte dos destacamentos de reforço foram os primeiros a atravessar o rio, formando logo uma coluna auto na estrada que partia de Cheche para Nova Lamego. A Companhia de Madina [, a CCAÇ 1705,] seria a última a fazer a travessia, juntamente com dois Gr Comb da [CCAÇ] 2405. (...)
Última parte do depoimento do cor inf Hélio Felgas, cmdt da Op Mabecos Bravios:
25 DE JUNHO DE 2008
Guiné 63/74 - P2984: Op Mabecos Bravios: a retirada de Madina do Boé e o desastre de Cheche (Maj Gen Hélio Felgas † )
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2007/09/guin-6374-p2982-depoimentos-1-retirada.html
(...) Cerca das 9 ou 10 horas da manhã [, do dia 6 de fevereiro de 1969,] apareceu um helicanhão que sobrevoou demoradamente toda a zona. Depois pousou e eu fui ter com ele procurando informar-me do que a tripulação tinha visto. Mal tinha chegado, apareceu um soldado correndo para mim a gritar que a jangada se estava afundando, logo após ter partido da margem sul. Pedi imediatamente ao piloto para... [ linha inteira cortada na fotocópia] depois para a margem do Cheche onde eu estava. Parecia vir normalmente carregada com homens e material.
(...) Quando chegou é que eu soube que diversos homens tinham caído ao rio, não aparecendo mais. Verifiquei tratar-se do pessoal que realizava a última travessia.
Quando se fez a chamada, viu-se que faltavam quarenta e tal homens, seis dos quais nativos.
Não consegui controlar-me e desatei a chorar, tal como aliás vi muitos valorosos militares a fazerem. Foi assim que me encontrou o General Spínola que nesse dia também quisera ir ter comigo.
Aguardámos horas, com o helicóptero sobrevoando o local na esperança de localizar alguns dos desaparecidos. Dois ou três bons nadadores também mergulharam na zona onde acorrera o acidente. Nada foi encontrado.
Interroguei diversos militares mas alguns nem podiam falar. Outros disseram-me que a jangada, logo após ter partido da margem sul, tinha-se afundado um bocado, ficando o estrado rés-vés com a água. Este afundamento era aliás natural desde que não fosse excessivo. O estrado, como dissemos atrás, ficava a cerca de um metro da água quando a jangada estava vazia. Esta distância diminuía conforme o peso do carregamento mas o estrado normalmente nunca chegava a ser coberto pela água.
Segundo parece, alguns dos homens que seguiam junto às vedações laterais assustaram-se quando alguma água começou a cobrir o estrado. Teriam então descido para o rio procurando segurar-se às travessas laterais do estrado e continuar assim a travessia. Desta forma o peso da carga diminuiria e a jangada subiria. Só que não se lembraram de que com o equipamento e as munições cada um pesava mais de cem quilos. (...)
Portanto, o cor inf Hélio Felgas estava na margem direita do Rio Corubal, já em Cheche, a falar com um piloto do helicanhão, quando se deu o acidente, ainda no início da travessia, da margem esquerda (lado de Madina do Boé) para a margem direita (lado do Cheche)... Por consequinte, ele não podia testemunhar a conversa havida entre o alf mil inf, Dumas Diniz, responsável da segurança, e o 2º cmdt da operação, cujo nome ainda não vi escrito em parte nenhum...
Excerto do depoimento do Rui Felício:
12 FEVEREIRO 2006
Guiné 63/74 - DXXVI: O desastre do Cheche: a verdade a que os mortos e os vivos têm direito (Rui Felício, CCAÇ 2405)
http://blogueforanada.blogspot.pt/2006/02/guin-6374-dxxvi-o-desastre-do-cheche.html
(...) O filme da SIC sobre o desastre do Rio Corubal
O mais curioso é que no filme, da autoria de José Saraiva, realizado por Manuel Tomás, que foi visto há uns anos atrás, por muitos milhares de portugueses através da sua transmissão pela SIC e pela distribuição de um vídeo feita na mesma altura pelo Diário de Notícias, são apresentadas aquelas mesmas razões como causas imediatas do desastre.
Já nessa altura contestei as conclusões do filme, e fi-lo por escrito e em reunião pessoal com o Director de Informação da SIC, Dr. Alcides Vieira, estando presente o realizador Manuel Tomás, que dirigiu a realização do filme.
Refiro que a carta entregue na SIC foi subscrita não só por mim mas por dezenas de ex-militares da CCAÇ 2405, que, por coincidência nessa mesma altura, no almoço de confraternização anual, a leram e assinaram.
A contestação dos factos descritos no filme foi feita nessa reunião na SIC, com a prévia concordância do Comandante da Operação, Brigadeiro Hélio Felgas, e estando presentes, além de mim próprio, o Capitão Miliciano José Miguel Novais Jerónimo e o Alferes Miliciano Paulo Enes Lage Raposo.
E ela foi por nós solicitada à SIC em virtude do impacto que a exibição do filme teve nos ex-militares que a ele assistiram e que tinham estado presentes na jangada naquele dia do desastre. Com efeito, no próprio dia da exibição do filme comecei a receber telefonemas de antigos camaradas, um tanto decepcionados e alguns até revoltados, pela inexactidão dos pormenores que ali eram descritos.
Todos nós três, presentes na dita reunião, participámos na operação de evacuação de Madina do Boé, e todos estavamos presentes no local do acidente no Cheche naquele dia 6 de Fevereiro de 1969.O Capitão Jerónimo, comandante da CCAÇ 2405, e eu próprio, estávamos na jangada no momento do acidente, onde se encontrava também o Alferes Miliciano Jorge Rijo, oficial da CCAÇ 2405, com o seu pelotão.O Alferes Miliciano Paulo Raposo, também oficial da CCAÇ 2405, já tinha feito a travessia do rio na viagem anterior, e encontrava-se na margem norte do Corubal com o seu pelotão, observando a tragédia.
Na referida reunião da SIC, o realizador Manuel Tomás argumentou que o filme fora realizado com fundamento em entrevistas e em documentos oficiais militares a que tinha tido acesso, pelo que considerava o filme suficientemente documentado.E disse que esses documentos atestavam as razões acima referidas, isto é, que a jangada se virou porque, no essencial, teria havido disparos de morteiro que, supostamente vindos do IN, teriam criado o pânico nos militares, os quais, ao agitarem-se, teriam provocado o desiquilíbrio da jangada.
Perante a irredutível posição da SIC em manter a versão veiculada pelo filme, nada mais nos restou do que desistirmos do pedido que lhe fizémos para que fosse proporcionado esclarecimento público sobre as conclusões desse filme.
Foi dito, nessa reunião, ao Dr. Alcides Vieira e ao Sr. Manuel Tomás que, por muito credíveis que pudessem parecer os documentos militares em que fundamentaram a versão filmada, nenhum deles jamais desmentiria ou apagaria da minha memória e dos meus camaradas o que realmente se passou.
Mais importante que os documentos preparados no silêncio dos gabinetes militares, sabe-se lá com que inconfessados motivos, era a indesmentível memória daqueles que tinham sido protagonistas e vítimas do desastre. (...)
Depoimmeto do nosso camarada Hilário Peixeiro, ex-Cap Mil da CCAÇ 2403/BCAÇ 2851 (Nova Lamego, Piche, Fá Mandinga, Olossato e Mansabá, 1968/70);
(...) Já prestei o meu testemunho quanto ao que assisti no desastre do Cheche-Corubal mas volto a afirmar que nem o Alf Diniz nem o Maj Lorena, 2º Cmdt de Nova Lamego se encontravam na margem esquerda do rio aquando da última travessia (a do desastre) porque, como é sabido, não cairam ao rio.
Por outro lado não tenho a mais leve dúvida de que, enquanto a jangada estava no rio houve, pelo menos 2 disparoos de granadas das armas pesadas da guarnição do Cheche [, na margem direita,] de que o Alf Diniz era o comandante.
Nem ele nem o Maj tiveram qualquer responsabilidade no acidente.
Um abraço do então Cap Peixeiro, comandante da CCaç 2403 que passou o rio na travessia anterior ao acidente
7/23/2011 6:23 da tarde
Comentário ao poste de 12 FEVEREIRO 2006
Guiné 63/74 - DXXVI: O desastre do Cheche: a verdade a que os mortos e os vivos têm direito (Rui Felício, CCAÇ 2405)
http://blogueforanada.blogspot.pt/2006/02/guin-6374-dxxvi-o-desastre-do-cheche.html
Rui Felício
25 mai 2918 16:17
Caro Luis Graça
Insisto naquilo que escrevi no teu blog.
Por muitos anos que passem jamais se apagará da minha memória aquele fatidico dia de 06/02/1969.
Recordo-me perfeitamente de o Alf. Dinis, encarregado da coordenação da travessia, ter dito ao tal major que tinha instruções para não autorizar o excesso de carga resultante do embarque de uma só vez de todo o pessoal que ainda estava na margem sul do rio.
O major então puxou dos galões e intimou o Dinis a obedecer-lhe.
Embora não tenha explicado a razão da sua imposição, é ainda hoje para mim obvio que receou ficar na margem a aguardar pelo regresso da jangada, acompanhado apenas pelo cap. Aparicio e mais dois grupos de combate da sua Companhia.
E porque é que o major não teria embarcado apenas e só ele para fugir aos seus receios ?
Simplesmente porque o Comandante Hélio Felgas, militar exigente, lhe ter ordenado que abandonasse a margem apenas e só com o ultimo dos soldados que ali permanecessem.
Eu e o meu Grupo de Combate estavamos na jangada, já cheia, e tivemos que nos apertar para arranjar espaço para entrar o pessoal em excesso.
Um furriel e 12 soldados do meu Grupo de Combate pereceram no deesastre que ocorreu poucos metros depois da jangada começar a navegar,
Um abraço
Rui Felicio
Ex-Alf. Mil. Inf.
CCAÇ 2405
Temos que admitior que há falhas de meemória, troca de nomes, pormenorres que escapam... Alguém dia saberemos a verdade, toda a verdade =...O Peixeiro que diz que o major Lorena estava no margem direita do rio (, portanto, do aldo do Cheche), pelo que não poderia ser ele a dar a ordem ao alf Dinis para quebrar as regras de segurança... LG
_______________
21 DE FEVEREIRO DE 2010
Guiné 63/74 - P5861: Ainda o desastre do Cheche, em 6 de Fevereiro de 1969 (4): Cerm anos que viva nunca esquecerei as imagens da catástrofe e o diálogo entre o Alf Diniz e o Cap Aparício (Rui Felício)
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2010/02/guine-6374-p5861-ainda-o-desastre-do.html
(,,,) Reitero tudo o que disse o Paulo Raposo. E não o faço pela grande amizade que lhe tenho. Faço-o porque o que ele diz é a verdade.
Com efeito, como já antes escrevi e como já antes disse telefonicamente ao próprio Cap Aparício, foi ele mesmo quem deu a ordem ao Alf Diniz.
E também escrevi que este Alferes alertou o Cap Aparício para o facto de a ordem que lhe estava por ele a ser dada ser contrária às instruções que tinha. Isto é, que a jangada não poderia suportar uma lotação superior a dois grupos de combate, sendo certo que a ordem do Cap Aparício significava o embarque do dobro dessa lotação.
Escrevi também então, que o Alf Diniz, contrariado, se conformou com a ordem recebida e lhe deu execução, em virtude da patente mais alta do Cap Aparício.
Quanto ao major, tanto quanto julgo lembrar-me, era um oficial com funções de 2º comandante da operação comandada pelo Cor Hélio Felgas.
Sempre estive convencido que ele estava no lado sul do rio. Pelo menos sei que o vi por lá. Talvez durante as travessias anteriores. Mas se o Raposo afirma que na altura do acidente ele estava já no lado norte, não tenho razões para duvidar do que ele diz.
Porque, sem querer que pareça que estou com ele a trocar galhardetes, o Paulo Raposo é um homem por cuja idoneidade e seriedade seria capaz de pôr as mãos no lume. E admito que neste caso do major a minha memória já me tenha atraiçoado.
Onde ela não me atraiçoa, e essas imagens ainda hoje as tenho presentes, é na própria catástrofe e no diálogo entre o Cap Aparício e o Alf Diniz. Passassem cem anos e jamais esqueceria. (...)
Do lado sul, a profundidade do rio é bastante menor, nesta altura do ano a agua dá pela cintura nos últimos metros.
Do lado Norte, é mais fundo 2 a 3 mt, sem qualquer corrente.
Fundo é rocha, do lado sul um pouco de lama mas não dá para enterrar. Visibilidade 2 a 3mt
Já lá andei a mergulhar na caça submarina, do norte para o sul e do sul para o norte.
Mas em Fevereiro é mais fundo, o rio tem mais agua e um pouco de corrente
Com falhas ou sem falhas de memória, a verdade é que a jangada levava o dobro da lotação, quatro pelotões, em vez de dois...Alguém infringiu a norma de segurança... Quem foi à água pesava 100 kg, fardado e equipado...E nem todos saberiam nadar....
Não nos interessa, cinquenta anos depois, descobrir e incriminar culpados... Não somos o tribunal da história... Não fazemos justiça, muito menos "justiça militar"... Nem nos interessa saber se a justiça militar na época apurou responsabilidades e puniu alguém...
Sei que quiseram lixar o alf mil Dumas Diniz, que era "o elo mais fraco da cadeia"...
Em suma, queremos apenas saber o que se passou e compreender "o porquê", para podermos rezar e fazer o luto por estes pobres camaradas que morreram em vão... O Rui Felício perdeu 11 homens do seu pelotão, e nunca mais vai esquecer...
Patrício, em fevereiro, estamos já em plena época seca... Janeiro, fevereiro, março, eram os meses de mais intensa atividade operacional, podíamos ir a todo o sítio, mesmo às zonas de floresta galeria, protegidas durante o resto do ano pelos labirínticos cursos de água... A Guiné está cada vez mais desflorestada... Tive um baque quando lá estive, em março de 2008, andei poir Cussilinta, depois de regressar do Cantanhez... O rio praticamente estava seco em Cussilinta...
Tenho ideia que no nosso tempo chovia muito mais e os rios tinham mais caudal, mesmo na época seca, até porque continuavam sujeitos ao efeito das marés... O Corubal é um verdadeiro rio de água doce, pelo menos no seu curso superior, como é o caso no Cheche... Mais perigoso seria o Geba Estreito por causa do lodo... No meu tempo, quem lá caía, lá ficava...
Obrigado pelas tuas explicações... e pelas fotos que me mandaste das tuas andanças pela nossa querida Guiné... Que Deus, Alá e os bons irãs te protejam sempre!... Luís
PS - Logo que possível, vamos fazer vários fotos com as tuas fotos e textos...
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