IN MEMORIAM
Carlos Miguel Bugalho Artur
11 de Junho de 1943 - 19 de Junho de 2021
A notícia chegou, lacónica, ao meu conhecimento através das Redes Sociais:
"O ator Carlos Miguel, conhecido como o “Fininho”, morreu este sábado, em Santarém, aos 78 anos. Tinha participado no antigo concurso “1, 2, 3”."
Algumas notícias e publicações, nos media e nas redes sociais se referiram a este acontecimento, mas sempre em tom de quem regista um facto que não pode deixar de ser levado ao conhecimento do público. Nas revistas, que vivem das artes cénicas, nada vi referido.
Dá a sensação que, ao afastar-se do palco há 23 anos, devido à doença que viria a vitimá-lo, tinha sido remetido para o esquecimento.
Não. O Carlos Miguel não foi esquecido. Nem por quem o acompanhou nos palcos, nem por quem, com ele, cumpriu o serviço militar, não só na Metrópole, mas também em África, mais concretamente na antiga Guiné Portuguesa.
Como pouco se escreveu sobre o Carlos Miguel, não foi notado que existe uma “branca” entre o ano de 1966 e 1970, no que respeita ao contributo que deu ao teatro.
Conheci-o em 1968, quase no final do ano, em Nova Lamego (Gabu).
Recordo-me que, em determinada altura em que passeávamos, fomos abordados por um soldado que, desdobrando uma revista, lhe perguntou se, na fotografia, era ele. A revista em questão era de “fotonovelas”, ou seja, descrevia uma história semelhante a uma “banda desenhada”, com os “balões de falas” a indicar quem falava.
Desconhecia esse seu trabalho. Pediu ao soldado para não mostrar a outros camaradas esse seu trabalho. O Carlos Miguel mostrava, desta forma, ser muito discreto.
O Furriel Miliciano Amanuense Artur, integrou o quadro orgânico do CMD AGR 1980 (Bafatá, 1967/68), mobilizado no Regimento de Artilharia n.º 1 (Lisboa), que embarcou para o Comando Territorial Independente da Guiné em 1 de Fevereiro de 1967, chegando a Bissau no dia 6 seguinte.
O CMD AGR 1980 assumiu a responsabilidade da Zona Leste, com sede em Bafatá que compreendia os sectores de Bambadinca, Bafatá e Nova Lamego.
Na História da Unidade (cota 2/4/84/5), que consultei no Arquivo Histórico-Militar, regista que em 31 de Outubro de 1967 é evacuado para o Hospital Militar nº 241 (Bissau). Comentários nas redes sociais indicam que foi devido a uma fractura do braço. Nada mais consta do Carlos Miguel no documento consultado.
Nos elementos de que disponho no meu arquivo, sobre a Companhia de Caçadores nº 5 - Gatos Pretos - Canjadude, uma companhia formada por africanos e enquadrada por europeus, consta que foi colocado nesta companhia, onde eu prestava serviço desde Junho de 1968, em 22 de Setembro de 1968, não constando o motivo da transferência, assumindo as funções de Chefe da Secção de Matrícula. Não consta a data em que foi substituído nem o seu destino, mas o seu substituto foi aumentado ao efectivo da companhia em 8 de Setembro de 1968.
Provavelmente foi destinado a alguma Repartição do Quartel-General ou outro serviço em Bissau, até ao final da sua comissão de serviço.
Voltamos a encontrar-nos no bar da Liga dos Combatentes no Porto, por acaso, quando ali estávamos a almoçar. Ele estava no Porto em trabalho e eu residia na zona. Encontrámo-nos algumas vezes mais, especialmente quando fui trabalhar para o bairro de Campo de Ourique em Lisboa, onde ele residia.
Soube que foi residir para a freguesia de Granho, Salvaterra de Magos, quando o contactei para o informar de um encontro dos militares que pertenceram à Companhia, mas não sabia o motivo do seu afastamento de Lisboa.
Tudo voltou à memória, com este infausto acontecimento.
Aqui fica o nosso preito de homenagem a um Gato Preto, a um Camarada e, sobretudo a um AMIGO, onde quer que esteja …
José Martins
O ex-Fur Mil Carlos Miguel (Fininho), de pé, ao lado do 1.º Cabo Amaro Oliveira António - CMD AGR 1980 (Bafatá, 1967/68)...
Foto Luís Graça e Camaradas da Guiné
CCAÇ 5, em Canjadude > A partir da esquerda, sentados: Borges, Carlos Miguel e Cabrita. De pé: Gil.
Foto José Corceiro
Sargentos e Furrieis da CCaç 5, em Nova Lamego, da esquerda para a direita: Carlos Miguel, Magalhães, Carvalho, Azevedo e Cascalheira.Foto José Azevedo.
Nota do editor
Último poste da série de 31 DE MAIO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22243: In Memoriam (396): Alcídio José Gonçalves Marinho (1940-2021), ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 412 - "Capacetes Verdes" (Bafatá, 1963/65)n Memoriam: Cadetes da Escola do Exército e da Escola de Guerra (actual Academia Militar), mortos em combate na 1ª Guerra Mundial (França, Angola e Moçambique, 1914-1918) (cor art ref António Carlos Morais Silva) - Parte III: alf cav Álvaro Damião Dias (Lisboa, 1887 - Angola, 1915)
Correio da Manhã 27/06/2021
____________Nota do editor
Último poste da série de 31 DE MAIO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22243: In Memoriam (396): Alcídio José Gonçalves Marinho (1940-2021), ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 412 - "Capacetes Verdes" (Bafatá, 1963/65)n Memoriam: Cadetes da Escola do Exército e da Escola de Guerra (actual Academia Militar), mortos em combate na 1ª Guerra Mundial (França, Angola e Moçambique, 1914-1918) (cor art ref António Carlos Morais Silva) - Parte III: alf cav Álvaro Damião Dias (Lisboa, 1887 - Angola, 1915)
2 comentários:
Obrigado, Zé Martins, fizeste muito mais, e melhor, do que aquilo que te tinha pedido: um simples "In Memoriam".
(...) Zè, uma pequena nota, ele merece. O Luís Zagallo, ator, da CCAÇ 1439, do João Crisóstomo, também mereceu uma pequena nota. (...) Só não queremos é que os nossos camaradas sejam inumados na "vala comum do esquecimento" (...)
O "Fininho", mesmo nunca se tendo aproximado do nosso blogue, não foi esquecido pelos seus camaradas da Guiné. LG
Tive a sorte e o prazer de conviver com o Carlos Miguel no Agrupamento de Bafata. Costumávamos jogar URI (ou ORI) e uma vez estando a jogar, depois de almoço, ambos sentados debaixo do alpendre de um dos pavilhões em frente aos quartos dos oficiais, quando eis que, vindo de almoçar do Comando do Batalhão surge o Ten. Cor. Ferreira Coelho. Não nos disse nada mas mais tarde chama-me ao seu gabinete para me dar um "piço". Foi-me dizendo que eu não devia estar ali a conviver com um inferior. Passamos a ter mais cuidado e mal imaginava ele que era meu hábito almoçar regularmente com um grupo de praças e furrieis nas traseiras do pavilhão da arrecadação, sempre que eu ia à caça ou algum deles recebia da Metrópole um petisco, como polvo seco, etc.
Abraço a todos
Fernando Gouveia
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