sábado, 28 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P22494: Tabanca da Diáspora Lusófona (17): A(s) nossa(s) Academia(s) do Bacalhau: Long Island, Nova Iorque: "Gavião do penacho, de bico p'ra cima, de bico p'ra baixo, vai acima, vai abaixo"... (João Crisóstomo)


Estados Unidos da América >  Long Island, Nova Iorque > 25 de julho de 2021 > O João e a Vilma na festa de aniversário da Academia do Bacalhau de L.I., criada em 2008. 

Foto: cortesia da página do Facebook da Academia do Bacalhau de L.I., comunidade.



1. Mensagem do João Crisóstomo, membro da nossa Tabanca Grande, com cerca de 160 referências no blogue, a viver em Queens, Nova Iorque, régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona, ex-alf mil inf, CCAÇ CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67):

Data - terça, 27/07, 05:20

Assunto - Academias de Bacalhau no Mundo




Meus caros Luís Graca e demais camaradas,

Com a melhoria da situação pandémica, a vida pouco a pouco está a voltar ao normal .

Ontem, dia 25 de Julho, fomos a uma “festa de aniversario " da Academia de bacalhau de Long Island onde eu e a Vilma nos fizemos membros há três anos.

As reuniões mensais desse "clube" deixaram de ser possíveis desde que começou a pandemia de Covid -19, mas agora foi uma satisfação grande rever os nossos amigos que não víamos há mais de um ano. E a Vilma, embora não seja portuguesa, é também membro de pleno direito. Aliás, até me surpreendeu pelos seus "conhecimentos de português" …

Estávamos nós a fazer uma saudação "Gavião do Penacho”... a que associamos em uníssono o apropriado refrão, "Gavião do Penacho, de bico p'ra cima, de bico pr’a baixo, vai acima, vai abaixo…(isto enquanto com os copos fazemos os respectivos movimentos)... E eu, entusiasmado, esqueci-me da frase e, "passando em vão” a frase seguinte, adiantava-me já para beber o meu copo, cantando "bota pr’a dentro", quando a Vilma me agarrou o meu copo e me parou : "Não, João, before "bota pr’a dentro" you have to say ”vai ao centro” … and then "bota p’ra dentro"…

Ora eu… que pensava que ela nunca mais ia falar português…

Por descuido meu ( até há duas horas não tencionava falar sobre isto), não fiz fotos, mas fica para a próxima vez! O repasto é sempre generoso: desta vez foi: bacalhau cozido com batatas; carme de porco à alentejana; arroz/paelha de mariscos; bacalhau no forno; galinha assada…salada de grão de bico, etc etc … para não falar já da variada sobremesa que é de fazer um santo franciscano pecar de gula…

E depois há dança. Ora como a minha “ciática" ainda me inibe para tanto, a Vilma não teve outro remédio e foi dançar com a fotógrafa… e pela foto podem ver que não estava a chorar…

Isto tudo vem a propósito das Academias de Bacalhau. Estive a falar com o Valdemar Queiroz e fiquei surpreendido que ele nunca tivesse ouvido falar dessa associação. E como não temos aqui ( por enquanto!) nenhuma “Tabanca", como vocês têm em Portugal, resolvi aproveitar o que tenho para vos dizer que não perdemos o nosso tempo. "Quem não tem cão, caça com gato", certo?

Mas, para os que não conhecem, aproveito para dar uma ideia do que são as Academias de Bacalhau. O nome não foi escolhido pelo seu relacionamento com o nosso popular pescado. Ou aliás foi, mas não directamente: O bacalhau foi desde sempre , e continua a ser, um “elo” comum a todos os portugueses espalhados pelo mundo; o nosso "fiel amigo", onde quer que estejamos.

Em 1968 na África do Sul no meio da comunidade portuguesa surgiu a ideia de se juntarem para celebrarem Portugal (o dia 10 de Junho) e a amizade que a todos os unia. 

Essa associação tinha também como finalidade ajudar alguém que precisasse de ajuda, uma associação de amigo para amigo. O símbolo e nome de bacalhau foi o escolhido por representar o amigo comum de todos os portugueses sempre e onde quer que estes se encontrem.

"A ideia pegou” e a essa primeira associação que é chamada desde então a "Academia Mãe" seguiram-se outras, primeiro na África do Sul, hoje com onze "academias" e depois pouco a pouco pelo mundo fora.

Neste momento há Academias de Bacalhau por toda a parte. Vim a saber que existem em Portugal dezoito academias, duas destas na Madeira e Porto Santo e três nos Açores. 

Na última lista que me foi dado ver encontrei duas no Canadá , cinco nos Estados Unidos, oito no Brasil, três na Venezuela, cinco na França; Moçambique e Suazilândia com duas cada. Bélgica, Luxemburgo, Inglaterra; Angola, Namíbia e Austrália cada um com a sua Academia.

A pandemia veio alterar os planos mais recentes, mas sei que no 48º congresso que teve lugar em Portugal, no Porto, em 2019, foram aprovadas três novas academias, uma em Macedo de cavaleiros, uma em Sydney, Austrália e outra em Quito, no Equador.

Se bem que o propósito ou fim desta associação seja, como na maioria dos outros clubes , além de de proporcionar tempos e meios de recreação, promover os nossos valores e assim conservar e manter unidas as comunidades onde existem,  é de salientar no caso especial das Academias de Bacalhau o espírito primordial de generosidade que caracteriza e anima estas Academias. Em todas as reuniões esse fim de altruísmo e de cuidado pelos que precisam é sempre relembrado; e sempre se é dado a conhecer o que se fez ou o que vai acontecer nesse sentido.

Lembro que, l
ogo que entrei para o clube, sem saber ainda desta sua notável característica especial de ajudar os outros, eu fui informado que aquela Academia do Bacalhau tinha decidido ajudar a escola S. Francisco de Assis em Timor Leste. Eu não tinha pedido nada, mas eles souberam, nem sei como, que eu, o Rui Chamusco, o casal Sobral e mais mais dúzia de pessoas estávamos a construir essa escola para as crianças esquecidas nas montanhas.

Foi pois uma surpresa grande quando me apresentaram um cheque de mil dólares para essa escola ; e logo essa quantia foi mais que dobrada pois houve um membro dessa Associação que decidiu de sua lavra aumentar essa quantia com uma ajuda pessoal no mesmo valor. E como os bons exemplos, quando conhecidos por vezes também se multiplicam, passados umas semanas depois esse gesto de solidariedade foi repetido pelas escolas portuguesas Antero de Figueiredo, de Farmingville e pela escola S. Teotónio,  de Brentwood.

Bom, meus caros, vamos gozando as nossas tertúlias e academias enquanto ciáticas e outras coisas da idade não nos chateiam e nos obrigam a "ter mais juízo” e a ficarmos de observadores, sentados nas mesas.

João Crisóstomo, Nova Iorque


Fotos: © João Crisóstomo (2021). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

11 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

João, deves conhecer este sítio, da Academia do Bacalhau de Paris:

https://bacalhau.fr/pt/historial/

Ver, além da história do nascimento e desenvolvimento das Academias do Bacalhau no espaço da lusófono, a resposta para a pergunta:

QUAL A ORIGEM E O SIGNIFICADO DO "GAVIÃO DE PENACHO"?

(...) Verdadeiro hino académico, o Gavião de Penacho foi entoado pela primeira vez numa tertúlia da Academia do Bacalhau de Joanesburgo, em 1969, ano da primeira digressão por terras sul-africanas do Orfeão Universitário do Porto, do qual fez parte o fundador e Presidente-Honorário Durval Marques.

A convite da Academia do Bacalhau de Joanesburgo, o coro académico portuense teve a oportunidade de visitar a África do Sul, sentindo-se imediatamente em casa no meio dos compadres com quem logo cantaram o seu Gavião de Penacho, exteriorizando a sua exuberante alegria, boa disposição e até uma boa dose de salutar e académica irreverência, que quadrava na perfeição com as praxes e rituais adoptados e que lembravam os deles.

O Gavião de Penacho acabou, assim, por ser “importado” do Orfeão Universitário do Porto, fazendo hoje parte do cerimonial que acompanha os Almoços e Jantares- -Tertúlia das Academias do Bacalhau em todo o mundo. É com este cantar académico que obrigatoriamente se iniciam e encerram estes eventos, servindo ainda para brindar ou homenagear alguma personalidade convidada.

Ao som do badalo, o Presidente dá o mote. Todos os compadres, comadres e convidados se levantam, erguendo as mãos com o seu copo de vinho tinto e entoam em coro animado o Gavião de Penacho, findo o qual e depois de bebido o conteúdo até à última gota se segue um corrupio de copos que se tocam e logo depois uma calorosa salva de palmas. (...)

Fonte: Excerto, com a devida vénia, da página da Academia do Bacalhau de Paris



Tabanca Grande Luís Graça disse...

João:

Não me venhas dizer que não tens jeito para a escrita, tu que já tens 160 referências no nosso blogue!

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/Jo%C3%A3o%20Cris%C3%B3stomo

Para quem vive na América há tantos anos, e perdeu o treino do português (escrito), os teus textos já são muito bons...Claro que às vezes é preciso uns "desbastes", ou melhor, uns "rearranjos": contrariamente ao Hemingway (tens que reler "o Velho e o Mar"...), usas e abusas dos parágrafos muito longos, à moda do Saramago...(mas esse fosse Novel e está desculpado!).

Aliás, ísso é pecha da gente da nossa geração... Parágrafos demasiados extensos tornam a leitura menos compreensível e mais chata... Mas também não tens que usar o estilo telegráfico das mensagens de telemóvel... Sei que és sobretudo um grande conversador, e à distância, não dispensas o telefone...De resto, a tua oralidade é fantástica, calorosa, fraterna... Mas a escrita, e nomeadamente nos blogues, tem de ser mais concisa, sob pena de a gente "perder leitores"...

Como teu editor, tenho-te ajudado a melhorar o teu português que vai, de resto, cada vez melhor, desde que começaste a "blogar", desge meados de 2010... (Queres que te mande a listagem dos teus 160 postes ? Já davam um livro com centenas de páginas!J

E fizestes grandes progressos no domínio das ferramentas da Net... É com alegria (e orgulho) que eu partilho isto, pro email, com os nossos amigos e camaradas, alguns dos que te seguem no nosso blogue...

Acabo de publicar-te um texto que já tem um mês (!) (,I'm sorry!), e que fica muito bem na tua série, "Tabanca da Diáspora Lusófona"... Não te esqueças que és o régulo, e tens que "alimentar" a série, embora ela esteja aberta a outros autores!....

E olha, confess,o-te a minha santa ignorância: não fazia a mínima ideia da existência, já com mais de meio século, das Academias do Bacalhau, tertúlias de convívio e formas de solidariedade dos nossos compatriotas (e lusodescendentes) por esse mundo fora!...

Estou encantado com os progressos da Vilma!... Mas quem fala francês, também chega ao...português!...

Um grande beijinho para ela. E para ti, mano, aquele chicoração transatlântico. Luis

Valdemar Silva disse...

João Crisóstomo peço desculpa, de num poste atrasado, ter chamado "Encontros do Bacalhau" à ilustre e internacionalmente famosa "Academia do Bacalhau".
Não há dúvida, o bacalhau faz parte do adn dos portugueses.
Teria sido o meu conterrâneo navegador-armador João Álvares Fagundes (c.1460-1522), a quem se deve o reconhecimento de parte das costas do nordeste americano, quem começou a comercializar o bacalhau, que depois de salgado e seco servia de alimento nas grandes viagens dos descobrimentos e nos períodos de abstinência/jejum de comer carne.
Depois, foi o nunca mais parar confecionado de 1001 maneiras e que toda a gente gosta.
Nas minhas várias idas aos Países Baixos, à casa do meu filho, habituei os brabantinos da família (Brabante, Província Neerlandesa fronteira com a Bélgica) o comer bacalhau, que eles chamam kabeljauw (cabaliau), na ceia de Natal e agora atiram-se ao bacalhau para assar na brasa que também gostam.
Só para dar apetite, vai uma receita que a minha avó Maria fazia, às vezes, em dias de fornada de pão:
Depois do bacalhau demolhado, passar folhas de couve por água fria, descascar e cozer as batatas. As postas de bacalhau são envolvidas na couve e seguradas com linha grossa para ir ao forno. Enquanto estão no forno, estando as batatas cozidas cortam-se às rodelas e alouram-se em azeite na sertã. As postas são retiradas do forno quando as folhas de couve secarem completamente. Retira-se a linha, colocam-se as postas numa travessa juntamente com as rodelas das batatas fritas e para finalizar põe-se por cima cebola às rodelas finas e rega-se com bastante azeite. Acompanha-se com broa de milho e tinto ou branco do melhor.
E depois vai um 'VAI ACIMA, VAI ABAIXO, VAI A CIMA E BOTA ABAIXO' que deste já não há mais.
(Não gosto do "ipe, ipe hurra!" por fazer lembrar trejeitos de braço estendido).

Um abraço e cumprimentos à D. Vilma
Valdemar Queiroz

Abílio Duarte disse...

Oh Valdemar gostei...

Até para a culinária ,aí estás disponível.

Ainda bem que estás com bom moral. As tuas melhoras.

Abraço

Abílio Duarte

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Bravo, Valdemar, só preciso de arranjar uma foto à maneira, depois publico a receita da avó Maria na nossa série do "Comes & Bebes"... Este saber gastronómico lusófono (mais do que lusitano), que passa de geração em geração, não pode pererder-se!...

Bolas, e ainda falta tanto tempo para o Natal!... Luis

Valdemar Silva disse...

Duarte
Cá me vou entretendo com estes escritos, para passar o tempo. Cada vez com mais dificuldade em andar para me deslocar a qualquer lado.
Agora duas/três vezes por semana, como tenho o carro quase no 1º. andar, vou ao supermercado e ando por lá a ver as "montras" do bioxeno, frutas e legumes, carnes e peixaria e sempre vou andando agarrado ao carrinho das compras cerca de um hora.
Depois entretenho-me a fazer o jantar, ler, ver algum jogo do Glorioso e na RTP2 alguns programas com interesse, de resto estou agarrado ao pc que faz de jornal, cinema, pesquisas interessantes, telefone/imagens com amigos e família e confraternização com a rapaziada do nosso blogue.
Parece que ainda não é desta vez que vamos tomar de assalto a sardinhada.
E tu como tens passado?
Continuas a atirar com o teu habitual e inseparável Old Parr 18 yars? Já lá vão 50 anos daqueles bioxenes especiais nas noites porreiras na varanda na nossa messe em Nova Lamego.
Com vinte e poucos aninhos!!!!

Abraço e boa saúde.
Valdemar Queiroz

Valdemar Silva disse...

Luis
A receita do bacalhau não era propriamente da minha avó Maria, em várias casas também era assim feito em dias de cosedura da broa. A minha mãe, em Lisboa, fazia no forno a gás.
Mas, como andas de braço dado com uma afamada cozinheira de estrelas michelin podes chamar, será a 1002, "Bacalhau da Queiroza à moda da Alice".

Abraço e cuidado como o ministro
Valdemar Queiroz

Valdemar Silva disse...

Rectifico
cozedura da broa...cosedura das couves.
..em dias de cozedura da broa. ....no forno a lenha, sobrava calor para as couves com cosedura em volta do bacalhau a assar.

Valdemar Queiroz

Anónimo disse...

Valdemar.
Não te conheço, não sei de onde vens, nem para onde vais (assunto teu), mas sei que estou perante uma personalidade estimulante que poderá ir ao céu ou ao inferno (ele há gente capaz de tudo), e regressar, algo que só está reservado a quem vê o mundo para além das copas das árvores. A tua sabedoria acumulada; para além dos livros (mas também), feita de vivências e experiências que transparecem, de forma avassaladora, nos teus comentários, sempre fundamentados e assertivos; são uma enciclopédia viva,

Tal como disse, com toda a propriedade o João Crisóstomo (que infelizmente também não conheço), é delicioso o teu bate papo com o Luís, algumas vezes em locais (WC) e horas (5 horas da manhã) incomuns. Aqui me coloco junto à corda do Luís fazendo força (que infelizmente já não é muita) para vencer essa tua “casmurrice” partilhando com o mundo essas experiências e grande sabedoria… que até no bacalhau faz a diferença!
Joaquim Costa

Valdemar Silva disse...

Caro Joaquim Costa.
Hoje comecei cedo, não tão cedo como o Luís Graça no seu "escritório w(iston) c(hurcill)" mas no pc racal de transmissões 'diga de se me escuta, oubo'.
Obrigado pela tua adjectivação sobre a minha pessoa, mas continuando com a tua curiosidade digo-te...sei que não vou por ai, ou seja sou indivíduo absolutamente normal, apenas tendo começado a trabalhar aos 12 anos e a virar os frangos da vida muito cedo.
O ter começado a trabalhar, ainda criança, numa grande empresa na Baixa lisboeta e ter estudado à noite na zona do Chiado deu azo a conhecer pessoas que de alguma maneira foram criando curiosidade, visto ter vindo da santa terrinha e vivido sozinho com a minha mãe.
O resto foi ter começado com o gosto de ler o jornal da tarde, ver cinema, falar com os amigos não só de futebol.
Agora, como vivo sozinho, dá-me para estas escritas de quem não tem mais nada pra fazer.
Um abraço e atira-nos com mais um dos teus muito interessantes escritos.
Valdemar Queiroz

Fernando Ribeiro disse...

Mas que raio! Até do Orfeão Universitário do Porto se fala neste blog! Pois eu também fui membro do OUP durante um ano, nos meus tempos de estudante, antes de trocar a Invicta pela Lusa Atenas. À data da digressão do Orfeão a Moçambique e à África do Sul, já eu me encontrava em Coimbra.

O que poderei dizer do Orfeão Universitário do Porto? Poderei dizer que foi um dos lugares em que eu fui mais feliz em toda a minha vida. Eu era jovem e cheio de vitalidade, a camaradagem no Orfeão era insuperável, assim como a alegria, a despreocupação (apesar da perspetiva iminente da guerra em África) e uma grande dose de inconsciência, até. Quem quer que tenha passado pelo Orfeão Universitário do Porto, guarda-o no seu coração com uma infinita saudade.

https://www.youtube.com/watch?v=_j-0l8vwsrc