Ilustração do mestre Augusto Trigo (págs. 66 e 67)
O autor, Carlos Fortunato, ex-fur mil arm pes inf, MA,
CCAÇ 13, Bissorã, 1969/71, é o presidente da direcção da ONGD Ajuda Amiga
1. Transcrição das págs. 65-68 do livro "Lendas e contos da Guiné-Bissau", com a devida autorização do autor (*)
J. Carlos M. Fortunato >
Lendas e contos da Guiné-Bissau
Capa do livro "Lendas e contos da Guiné-Bissau / J. Carlos M. Fortunato ; il. Augusto Trigo... [et al.]. - 1ª ed. - [S.l.] : Ajuda Amiga : MIL Movimento Internacional Lusófono : DG Edições, 2017. - 102 p. : il. ; 24 cm. - ISBN 978-989-8661-68-5
Conto - O casamento do lebrão
(pp. 65-68)
O Rei leão tinha uma linda filha, que se queria casar, mas não tinha namorado. Um dia o lobo (hiena) passou pelo portão do palácio do Rei, e viu a princesa que estava a apanhar flores e a cantar, e ficou logo apaixonado por ela. O lebrão (macho da lebre) também passou por lá e ao ver a princesa também ficou apaixonado por ela.
– É mesmo com esta princesa que eu me vou casar - pensou alto o lebrão, quando a viu.
Como o palácio tinha guardas, que não os deixavam entrar, o lobo e o lebrão passaram a andar à volta do palácio, para ver se conseguiam falar com a princesa.
Um dia o lobo e o lebrão encontraram-se os dois, junto ao muro do palácio.
– O que fazes aqui? – perguntou o lebrão.
– Queria ver a princesa, ela é mesmo bonita e tem uma voz tão doce! – disse o lobo suspirando.
– Eu também a vi no jardim, gostei muito dela, e quero casar com ela – disse o lebrão.
– Tu também? Quem vai casar com a princesa, sou eu! – exclamou o lobo.
– Não sei como vamos conseguir falar com ela. Os guardas não deixam passar ninguém… – comentou o lebrão.
A girafa, que estava de sentinela junto ao muro, ouviu a conversa, e com o seu pescoço comprido espreitou, viu o lobo e o lebrão, e disse:
– O que querem daqui? Vão-se embora.
– Cala-te, garganta comprida – respondeu o lobo.
– Ambos gostamos da princesa e queremos casar com ela – disse o lebrão.
A girafa foi contar ao Rei, e este mandou chamar o lobo e o lebrão, e disse:
– A minha filha aceita casar com um de vocês, mas têm que fazer uma luta sem armas. Só poderão usar a força do corpo e ela casará com o que vencer. Ao vencedor, eu darei a minha filha para casar, dois bois e um lugar no palácio para ele viver. A luta será amanhã às dez horas.
O lobo todo contente disse logo:
– Hé! Hé! Eu é que vou casar com a princesa, pois sou o mais forte.
No dia seguinte, às sete horas da manhã, o lobo já lá estava com o seu grupo, à porta do palácio, a tocarem tambor e a dançarem de contentes, pois tinham a certeza de que o lobo ia ganhar a luta, mas o lebrão era muito esperto e não desistiu.
– Huuum..., tenho que arranjar uma maneira de vencer o lobo – pensava alto o lebrão. – Já sei! Vou meter-lhe tanto medo, que ele vai fugir! – disse o lebrão para o seu grupo.
O lebrão arranjou umas braceletes para os braços e para o corpo, para parecer mais forte, pôs-se em cima dos ombros do macaco e vestiu uma camisa comprida, para esconder o macaco, e assim ficou a parecer um gigante.
O grupo do lobo ouviu tambores e viu poeira ao longe, e um deles disse:
– Vem ai o lebrão mais o seu grupo.
O lobo levantou-se, olhou, e viu um grupo de animais que se aproximava, trazendo à sua frente um animal enorme, e disse:
– Não pode ser. O lebrão não é assim tão grande, o lebrão é pequeno. Vai lá ver quem é.
O amigo do lobo foi ver e voltou a correr gritando:
– É mesmo o lebrão, cresceu muito, agora é um gigante, fujam, fujam.
Cheios de medo, o lobo e o seu grupo, largaram a fugir.
E foi assim que o lebrão conseguiu casar com a princesa e ficar a viver no palácio do Rei.
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Nota do editor:
(*) Último poste da série > 17 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22914: "Lendas e contos da Guiné-Bissau": Um projeto literário, lusófono e solidário (Carlos Fortunato, presidente da ONGD Ajuda Amiga) - Parte X: Conto - O camaleão ganha a corrida ao lobo (hiena)
(*) Último poste da série > 17 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22914: "Lendas e contos da Guiné-Bissau": Um projeto literário, lusófono e solidário (Carlos Fortunato, presidente da ONGD Ajuda Amiga) - Parte X: Conto - O camaleão ganha a corrida ao lobo (hiena)
2 comentários:
Em rigor, trata-se de uma "fábula", um conto, em geral curto, em que os protagonistas são animais, dotados de qualidades humanas: são inteligentes, falam, lutam pelo poder, fazem alianças, amam, odeiam, choram, riem... A narrativa tem sempre, à laia de conclusão, uma lição moral, filosófica ou pedagógica... Em grande parte, as fábulas destinar-se-iam à educação infanto-juvenil.
Atribuiu-se a Esopo, um escritor nascido escravo na Grécia Antiga (c. 620 a.C. – 564 a.C.) a autoria de muitas fábulas que fazem parte ds literatura oral de muitos povos. As Fábulas de Esopo serviram de para outros escritores ao longo dos séculos, como, no séc-XVII, o francês Fontaine (1621-1695).
A hipótese de Esopo ser originário de África não está descaratda de todocreditada: o seu nome "Esopo" (...) "poderia ser uma contração da palavra grega para 'etíope', um termo usado pelos gregos para se referir a todos os africanos subsaarianos. Além disso, alguns dos animais que aparecem nas fábulas de Esopo eram comuns na África, mas não na Europa (devemos ter em mente a diferente distribuição na época de animais como o leão berbere, hoje extinto). Também deve ser notado que a tradição oral de muitos povos africanos (mas também dos povos do Oriente Próximo e dos Persas) inclui contos de fadas com animais personificados, cujo estilo muitas vezes se assemelha ao de Esopo."
https://pt.wikipedia.org/wiki/Esopo
No caso da Guiné-Bissau, por exemplo, a hiena faz as vezes do "lobo mau", animal que não existe em África, apenas na América do Norte e na Euroásia...
Ainda sobre a(s) fábula(s) (do latim "fabula", narrativa, conto, do verbo "fabulare", falar)
(...) "Mesmo que tenham sido desenvolvidas por Esopo, a origem das fábulas antecede os gregos: provérbios sumérios, escritos cerca de 1500 a.C., já compartilhavam semelhanças com as fábulas gregas. Esses provérbios já incluíam em suas narrativas animais antropomórficos e uma lição moral; as narrativas também eram curtas e diretas, e embebiam a moral no final da história. Só muito tempo depois habituou-se a separar a moral no início ou no fim da fábula (a fim de deixar claro para o leitor que mensagem a história quer passar).(...)
"No século I a.C, o escravo romano Fedro foi responsável por aperfeiçoar e dar um toque estilístico à fábula. E mais tarde, no século XVI, Leonardo da Vinci descobriu e reinventou as fábulas, o que não teve grande repercussão fora da Itália. A partir do modelo latino e do oriental, La Fontaine, no século XVII, recriou a fábula. (...)
(...) "Foi na Antiga Grécia que Esopo propagou oralmente suas fábulas. Apesar de terem sido passadas pela oratória e isto ter desintegrado de alguma forma as fábulas, algumas características prevaleceram até os dias de hoje: as histórias sempre se utilizaram de animais que reproduzem comportamentos humanos, principalmente a fala. A mímica que os animais, nesses contos, fazem em relação aos humanos é proposital e tem, na maioria das vezes, o objetivo de ressaltar os bons e maus comportamentos humanos. Entretanto, algumas vezes, os personagens ainda preservam algum comportamento intrínseco a sua origem animal.(...)
"Além de serem usados para propósitos educativos, na Grécia as fábulas de Esopo surgiram numa época em que a liberdade de expressão era limitada. Era então comum usar as histórias para criticar as formas de governo sem represálias. As fábulas serviam como código para que os mais fracos pudessem se contrapor aos mais fortes de forma subjetiva. As histórias de Esopo são cheias de mensagens nas quais os mais fortes podem ser enganados e os mais fracos podem, com alguma astúcia, prevalecer. As histórias foram registradas pela escrita durante os séculos X e XVI a.C." (...)
https://pt.wikipedia.org/wiki/F%C3%A1bula
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