quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Guiné 61/74 - P22960: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (31): "Iscas com elas..."


Lourinhã > Atalaia >  Restaurante Adega do Careca > 23 de janeiro de 2022 >  As icas com elas, da dona Fátima.

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1.  Há dias deu-nos para a saudade, lá na Tabanca do Atira-te ao Mar, a ver o pôr do sol e a beber um Confraria Branco Leve Moscatel,  da Adega do Cadaval ((passe a publicidade)... 

"Há quanto anos é que vocês não comem iscas com elas ?", perguntou a Maria do Céu Pintéus aos habituais tabanqueiros. "O meu pai, no Cadaval, adorava o petisco!... E eu aprendi com ele a gostar das iscas com elas ou sem elas"... Ou sejas, as iscas de fígado (de bovino ou de porco), cortadas fininhas, marinhas e depois fritas, podiam ser servidas com "elas" (batatas no prato) ou  "sem elas" (no pão, como "sandocha").

Olhando para trás, descobrimos que não comíamos essas "miudezas" deste a crise das vacas loucas nos primeiros anos de 1990, no século passado. Muita tinta correu então sobre a doença de Creutzfeldt-Jakob, e milhares de vacas foram abatidas  em Portugal. Houve até um ministro da agricultura que comeu mioleiro para transmitir confiança aos consumidores e salvar a pecuária nacional...

A doença tinha um raio de nome de que já ninguém se lembra: encefalopatia espongiforme bovina   ou BSE (do acrônimo inglês,  bovine spongiform encephalopathy)

A verdade é que, na nossa casa, eu e a Alice deixámos de comer estes "petiscos", a começar pelas "iscas com elas" que, de resto, são apreciadas também no Norte e na nossa Tabanca de Candoz.  As criancinhas também deixaram de comer "mioleira", que era receita pelos pediatras... Mas continuamos a  apreciar as "tripas" (à moda do Porto) ou a "dobrada" (à moda "chef" Alice)...  Há, porém outras "miudezas", de que tenho saudades como, por exemplo, os "tomates" (túbaro) de carneiro com ovos mexidos; ou a "língua de vitela", estufada, com puré, que a minha mãe fazia, a par das "iscas com elas"...

A Maria do Céu pegou nas suas tamanquinhas e deu um pulo à vizinha, a dona Fátima, a "chef" do Restaurante Adega do Careca, fundado em 1977 por ela e seu marido, já falecido, que foi sargento da Força Aérea em Angola (, creio que passou pelo BCAÇ 21, em 1970/72, ao tempo do nosso amigo e camarada, também lourinhanense, o ex-alf mil paraquedista Jaime Bonifácio Marques da Silva. 

Somos clientes do restaurante (passe a publicidade), mas nunca tínhamos lá ido comer as "iscas com elas", que de resto não fazem parte do cardápio, mais especilaizado em peixe e marisco. Mas a dona Fátima preparou-as só para nós, os quatro, eu, a Alice e os "duques do Cadaval", régulos da Tabanca do Atira.te ao Mar (que não precisa de publicidade)... O Jaime, andarilho, em romagem pelo Norte,  não estava, não sabe o que perdeu...E foi um sucesso. Só vos digo: foi de comer e chorar por mais. na esplanada do Careca, com vista de mar...

Apenas um reparo: podiam ter uma corzinha de salsa, fica sempre bonito no prato. E tanto quanto me lembro, a minha mãe adicionava, à marinada, um pouco de baço raspado, para engrossar o molho. Vou pergntar ao "chef" Tony (Levezinho) qual é a sua receita secreta... Aposto que ele também adora iscas (ou, como dizia, o alfacinha do tempo do seu avô, os "bifes de cabeça chata")...

Na Guiné, não tenho ideia de as comer... Nem sei se as magricelas das vacas guineenses tinham fígado... As iscas de fígado deviam ser um petisco só para o vagomestre e o pessoal "menor" da cozinha, no tempo em que o cozinheiro da tropa ainda não era "chef"... Se fosse agora, outro galo cantaria, com os cozinheiros a atingirem o estrelato... No nosso tempo,  mandavam-se os soldados básicos para a cozinha...  Hoje cozinheiro da tropa tem que ser "general" de uma ou mais estrelas...


2. Este prato, muito popular, mas tascas de Lisboa, desde o séc. XIX, era comidinha das classes populares que não podiam chegar ao bife de vaca ou de novilho... E até já deu, em 2012,  origem a uma dissertação de mestrado em antropologia. Para um antropólogi não temas menores ou maiores...

O autor é  o Pedro Manuel Pereira da Silva. E o trabalho está aqui disponíbel, em formato pdf, no repositório deo ISCTE - IUL.

Silva, P. M. P. (2012). As iscas com elas ou Iscas à portuguesa: património, gastronomia e turismo em Lisboa [Dissertação de mestrado, Iscte - Instituto Universitário de Lisboa]. Repositório do Iscte. http://hdl.handle.net/10071/4983 .

Aqui o resumo do trabalho:

(...) "Nesta dissertação, apresentamos um estudo de caso sobre o prato tradicional Iscas de Fígado com/sem Elas. A partir de uma abordagem antropológica, analisamos o modo como este prato se tornou num símbolo e o seu papel como oferta gastronómica da cidade de Lisboa, num âmbito temporal que vem desde o século XIX até à actualidade, bem como a sua relação com o turismo. O ponto de vista dos anfitriões, em particular no que respeita aos restaurantes do centro da cidade, foi um dos aspectos analisados neste trabalho. 

Os resultados da pesquisa documental, dos levantamentos e das entrevistas efectuadas permitiu-nos identificar as características deste prato no âmbito da gastronomia portuguesa. Consequentemente, possibilitou-nos estabelecer uma perspectiva histórica e social da sua forma de consumo no espaço da cidade, reconhecer o seu papel no âmbito dos processos de patrimonialização que subsequentemente enformam as estratégicas de divulgação turística; e, finalmente, examinar a presença deste prato na oferta gastronómica da cidade de Lisboa. 

A legitimação antropológica da patrimonialização deste prato, em virtude da sua relevância gastronómica no contexto dos hábitos e vivências alimentares específicos da cidade de Lisboa, convive com a inexistência de divulgação institucional deste património no âmbito do turismo, o que tem fomentado o desconhecimento desta realidade gastronómica por parte de muitos anfitriões e profissionais de restauração. Simultaneamente, e de forma paradoxal, verifica-se a presença das Iscas de Fígado com/sem Elas numa vasta percentagem de restaurantes e casas de comida no centro histórico de Lisboa. (...)

___________

Nota do editor:

Último poste da série > 29 de agosto de 2021 >
Guiné 61/74 - P22495: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (30): Bacalhau com couves no forno, à moda da minha avó Maria, que era do Minho (Valdemar Queiroz)

21 comentários:

Valdemar Silva disse...

Coitadas das iscas, levaram com '...a legitimação antropológica da patrimonialização..', que
até o Ary se atirou com esta tradução:

Ai, iscas, iscas com elas
Temperadinhas com vinagre
Com batatas às rodelas
Parecem mesmo um milagre

Ai, salsa, salsa, salsinha
Tão verde e apetitosa
Quando estou bem cortadinha
Sou uma isca gostosa

Eu quero a cabeça de alho
Mas que não seja alho chocho
No tempero do trabalho
Azedo mas não amocho

Ai, iscas, iscas com ela
Iscas Simone à vontade
Não de porco ou de vitela
Mas de mulher de verdade

Iscas que a gente petisca
Apuradas a rigor
Sabe-se lá quantas iscas
São feitas só com amor

Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Valdemar, tens de dar o desconto: antropólogos, sociólogos, psicólogos, historiadores... e outros cientistas sociais (e "humanos") não falam para o povo, falam entre eles, cada disciplina formando uma tribo, com muitos clãs... É como os médicos, os epidemiologistas, os virologistas, os intensivistas, os da saúde pública... Viu-se, ao longo desta pandemia, o espetáculo, algo indecoroso, de gente a pôr-se, infelizmente, em bicos de pés, para ter, no telejornal, o seu éfemero minuto de glória...

Mas contra a "legitimação antropológica da patrimonialização das iscas com ou sem elas" não tenho qualquer objeção, desde que as iscas sejam "nossas" e nos ajudem a arrecadar mais uns euritos dos "toiristas", que bem fazem falta ao erário da cidade de Lisboa... Mas, calma, fora de Lisboa, também se comem boas iscas "portuguesas", do Alentejo a Candoz... (que fica mais a Norte).

Bom apetite..., que é sinal de "saúde da boa". Luís

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Grande poeta, o Ary, mesmo quando excessivo e panfletário!...

Fado dos cheirinhos


Ai que cheirinho tem o lindo caldo verde que tu trazes nos teus olhos
Ai que cheirinho tem o alecrim da esperança que tu me atira aos molhos
Ai que cheirinho têm as roupas de linho que tu estendes nas janelas
Ai que cheirinho gosto mais de amor contigo do que das iscas com elas.
Tua boca cheira a cravo
E teu corpo a segurelha
Quando cheiro o cabelo
Cheiro uma rosa vermelha
Tens um cheirinho a hortelã
Na pimenta das palavras
Quando acordas de manhã
Tens tempero de ervas bravas.
Ai que cheirinho tem o lindo caldo verde que tu trazes nos teus olhos
Ai que cheirinho tem o alecrim da esperança que tu me atira aos molhos
Ai que cheirinho têm as roupas de linho que tu estendes nas janelas
Ai que cheirinho gosto mais de amor contigo do que das iscas com elas.
Tens um cheiro a erva doce
Mesmo na ponta dos dedos
E és já como se eu fosse
Um cravinho de segredos
Há um cheiro a madrugada
Nas colinas dos teus seios
E uma amora perfumada
Nos teus belos lábios cheios
Ai que cheirinho tem o lindo caldo verde que tu trazes nos teus olhos
Ai que cheirinho tem o alecrim da esperança que tu me atira aos molhos
Ai que cheirinho têm as roupas de linho que tu estendes nas janelas
Ai que cheirinho gosto mais de amor contigo do que das iscas com elas.
Teu corpo cheira a maçã
E até o nosso filho
Quando nascer amanhã
Há-de cheirar a tomilho
Porque me cheiras tão bem
Desde o dia em que te vi?
No fundo, sabes meu bem
É porque cheiras a ti!
Ai que... cheirinho tem o lindo caldo verde que tu trazes nos teus olhos
Ai que cheirinho tem o alecrim da esperança que tu me atira aos molhos
Ai que cheirinho têm as roupas de linho que tu estendes nas janelas
Ai que cheirinho gosto mais de amor contigo do que das iscas com elas.

José Carlos Ary dos Santos (letra) / Fernando Tordo (música)

Cortesia de:

"O Castendo - Terras de Penalva onde "a Liberdade é a compreensão da Necessidade"

https://ocastendo.blogs.sapo.pt/565039.html

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

As iscas (com ou sem elas) são o prato tradicional de Lisboa, como se pode ver no poema abaixo.
Prova-o uma ligeira análise sociológica e não só do respectivo texto:

Fado das iscas
No tempo das patuscadas,
Das guitarras e touradas,
Das hortas, do carrascão,
Eram as iscas o prato
De mais consumo e barato
Na vida dum cidadão.
E ninguém se envergonhava,
Toda a gente que passava
Entrava nessas vielas.
A gente sentia-se bem,
Sendo simples era um vintém,
Trinta réis se eram com elas.

Se ao longe vinha um parceiro,
E o cheirinho lhes sentia,
Até mesmo apetecia
Comê-las só pelo cheiro
E sua fama foi tal.
O povo então era vê-lo:
Travessa do Cotovelo
E Rua do Arsenal.

Hoje tudo isso mudou,
A taberninha acabou,
Mas apareceram os bifes.
Os cocheiros são choferes,
Vigaristas, souteneres,
E os casqueiros, papo-secos.
Se os meninos odaliscas,
Comessem um prato d'iscas,
Daquelas bem temperadas,
Morriam de indigestão,
Não bebendo um garrafão
D'água das Pedras Salgadas.

José de Oliveira Cosme e Jaime Mendes.

Pela voz de Hermínia Silva foi acrescentado o seguinte:

Com a marcha do progresso
Chego a ter medo, confesso
Do que me reserva a sorte
Almoça-se no Japão
Vai-se jantar a Milão
E cear ao Pólo Norte

Eu estou a ver os vizinhos
Do “Manel dos Passarinhos”
Aparvalhados, imóveis
Ao ver os mortos, coitados
Ao passarem despachados
Em “carretas-automóveis”

Um Ab.
António J. P. Costa

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Magnifico, Tó Zé, fico-te grato pela partilha. Eu que estudei o "fado vadio" nas tascas do Bairro Alto em 1978, já não me lembrava dessas letras deliciosas...

Aprendi com o meu mestre da cadeira de antropologia, o Pais de Brito, que o fado não era a Canção Nacional (como a transformou o António Ferro no Estado Novo) mas tão apenas a Canção Popular de Lisboa... E casa de fado era casa de meninas ou da Mariquinhas onde a rapaziada, até a geração dos nossos pais (e mesmo a nossa...) tinha as aulas de educação sexual...

Afinal, o fado é que induca, o vinho é que instrói e o bagaço é que imbueda...

Anónimo disse...


António José Pereira da Costa (by email)
3 fev 2022 09:29

As iscas, "com ou sem elas" são o prato tradicional de Lisboa.
Em comentário no blog eu explico porquê.
Um Ab.
António Costa

PS: O molho preto era engrossado com o baço desfeito

Valdemar Silva disse...

Pereira da Costa, uma verdadeira pérola 'Eram as iscas o prato/De mais consumo e barato/Na vida dum cidadão/ ......'
Depois, apareceram uns de calão finório 'vivências alimentares específicos da cidade de Lisboa'.
Afinal, pelas ruas mais afastadas da Baixa da cidade, a venda ambulante da "olha a fava rica" também variava com a época e apareciam as iscas "olha os bifes de cabeça chata".
Em muitos restaurantes da Baixa, aqueles que tinham ementa semanal certa, lá apareciam as iscas mas com batatas fritas, como p.ex. nas "Old Ladys" (restaurante "As Velhas") era à 4ª.feira.
Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz

Hélder Valério disse...


Caros camaradas, em Bissau comi iscas muitas vezes. Não como prato de refeição mas como petisco. Às tirinhas, cortadinhas, bem temperadas. No Zé D'Amura.
Era um dos meus locais favoritos. Espaçoso, na esplanada exterior, com um largo em frente que permitia vista desafogada. Acompanhadas com vinho tinto ou cerveja, naturalmente. Mas recordo um dia em que por causa de uma infeção qualquer estava a tomar um antibiótico qualquer e como se dizia não se poder tomar álcool, as isquinhas foram acompanhadas com uma garrafa de água (sacrilégio!) "El Mondariz" da qual passei a ser apreciador.

Hélder Sousa

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Valdemar, és uma memória viva de Lisboa... Quem se lembraria das "Old Ladies" ?!... Tenho pena de não ter conhecido a Lisboa dos teus tempos de menino e moço...

Se levares a bem (, ou melhor, se não levares a mal..), temos de proceder,um dia destes, à "legitimização bloguística do Valdemar como património memorialístico... da capital do império"...

Valdemar Silva disse...

Luís
O Restaurante "As Velhas", na Rua Conceição da Glória, próximo da Av. da Liberdade, assim chamado por as cozinheiras, ou as donas não sei ao certo, serem senhoras de idade.
Chamava-mos "Old Ladys" para não aleijar.

Essa do património memorialístico é muita areia pra minha camioneta.

Então quando vais tratar do ministro, é este mês?

Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Comi boas "iscas com elas" (batatas cosidas) na Casa do Tronco, junto ao local onde existiu a prisão com o mesmo nome e, segundo se diz esteve preso o Camões, o Poeta (não o gato do Tavares). Eram baratas e boas.
O túnel, com saída para Rua das Portas de Santo Antão (talvez da Cerca Fernandina), está decorado com azulejos com efígie de Camões. Os nomes são muito antigos. Era natural que uma prisão existisse junto a uma das portas da cidade, que estaria sempre guardada.

Um Ab.
António J. P. Costa

António J. P. Costa disse...

PS: A tal Casa do Tronco tem (teve) porta (n.º 137) para a Ruas das Portas de Santo Antão, mas está encerrada, o que é pena, mas como dizia o outro "É a vida!".
Um Ab.
António Costa

Valdemar Silva disse...

Pereira da Costa, isso não se faz a quem tem falta d'ar.
Andei por esses lados dos 12 aos 47 anos, trabalhei numa empresa nos Restauradores/Avenida.
Também fui algumas vezes a esse restaurante (não me lembro do nome) ao lado da túnel do Pátio do Tronco e outro metros abaixo na curva por baixo do Odéon. Andávamos sempre a cata da melhor comidinha/preço.
Julgo que o túnel do Pátio nada tem ver com a muralha Fernandina. A muralha Fernandina descia de Santana pelas escadinhas do Beco de S. Luís da Pena até à Casa do Alentejo, nesse local seriam as Portas de St. Antão, atravessava pela Rua Jardim do Regedor e subia a São Roque ao lado da Estação do Rossio pelas escadinhas do Duque.
Essas escadinhas ou rampas acompanhava a muralha, sendo que as de S. Luís da Pena eram extra muralha.
Uff!, fiquei com uma fome que as iscas com ou sem elas marchavam que era uma beleza.

Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz

p.s. do "Good Garden", também por aqueles lados, falaremos noutra ocasião.

Hélder Valério disse...

Caro Valdemar

Estou a "palpitar" que, depois do "good garden" (que ainda lá está e o frango à dito também), no teu afã de procura de novos locais de "paparoca" ainda vais também falar do "Comibebe", calculo!

Hélder Sousa

Tabanca Grande Luís Graça disse...

... Podemos falar de tudo neste blogue, exceto de futepolerrel (Futebol, Política e Religião)...

Há tempos um amigo meu, não camarada de armas, indignou-se: que isto era amputar 99% das conversas dos portugueses!...

Obviamente, um exagero do meu amigo, que de resto nunca nos leu nem le(i)ria... E a prova é que o nosso blogue, modéstia à parte, chegou até aqui, ao quilómetro 18 da "picada", só com "conversa da treta" (como por exemplo esta das "iscas" do Zé da Amura ou das "Velhas")... E quantos governos, minorias e maiorias, golpes de estado e tentativas de golpe de Estado, crises económicas, financeiras, políticas e existenciais, já passaram por nós!... Até apanhámos a maior pandemia das nossas vidas (, depois da guerra da Guiné,claro!).

Obrigado, camaradas, pelos vossos (con)tributos!... Luís

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Ao "Good Garden" também fui e comi o tal o frango à dito.
Quanto ao "Comibebe",lembro-me que há 60 anos tinha um 1/2 bife a 6$00.
Imaginem: 3 cents.
Como o tempo passa e o dinheiro se vai...

Um Ab.
António J. P. Costa

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Pordata: conversor para conhecer o valor de um montante (em euros ou em escudos) dos últimos 62 anos, a preços de hoje.

6,00 Escudos em 1960

equivalem a 2,67 €, a preços de hoje...

https://www.pordata.pt/Portugal

Anónimo disse...

miguel jose ribeiro rocha (by email)
4 fev 2022 15:03

CARO LUÍS
ISCAS !?!?! ��
NESTE MOMENTO ANDO À PROCURA DE UMA BOA LAMPREIA !!!��
ABRAÇO

Tabanca Grande Luís Graça disse...


Luís Graça (by email)
4 fev 2022 17:43

Também,eu, Miguel!... Mas antes da lampreia, quero o sável frito e as enguias (fritas ou de ensopado)...Talvez vá um dia destes a V.F. Xira...

A lampreia, em Lisboa, costumo ir à Tasca do João, no Lumiar... A cozinheira é minhota,o vinho tinto verde é lá de cima, a lampreia é do rio Minho (dizem)... É a catedral da lampreia em Lisboa...

Mas a "chef" Alice também a faz bem...

Um abraço grande, depois diz onde foste comer a lampreia... Infelizmente as barragens deram cabo delas... Luís

Anónimo disse...

Eduardo Estrela
4 fev 2022 21:06

Caro amigo camarada e companheiro!

Imagina, fins da década de 50, início da de 60. Imagina um puto de 10 ou poucos mais anos, cujo pai, seu herói como são todos os pais, tinha ficado chateado com a puta da vida e decidiu partir.

Na tropa tal como hoje, calçava n° 40, mas à época e com a idade atrás referida, esse puto tinha o " privilégio" de calçar sapatos n° 41 ou 42, com jornais na frente interior para não caírem dos pés.

Uma sopa confeccionada com o requinte de dez tostões de ossos comprados no talho e algumas, poucas vezes, iscas normalmente acompanhadas com elas, de modo a melhor lastrar a vasilha digestiva, eram um verdadeiro requinte e um manjar a que infelizmente muitos jovens Portugueses, àquela época, não tinham sequer acesso.

Esse era o País onde ambos nascemos!
Esse puto era eu!

Espero que tudo esteja a correr bem com a tua saúde.
Abraço fraterno.

Eduardo

P.S. podes publicar no blog com as notas pessoais que achares por bem incluir.

Valdemar Silva disse...

Bom, já que estamos nas comidinhas vamos ao bife do "Come e Bebe" que ficava quase à entrada da Rua das Portas de St. Antão, uns metros à frente das arcadas do Palácio da Independência, a seguir a uma casa de venda artigos para criança. Isto podia bem ser em 1962.
O bife do "Come e Bebe", mais concretamente o bitoque com ovo estrelado e batatas fritas lembro-me de ser a 3$00 e o bife não se via escondido que estava debaixo do ovo, e não era nada barato para o bolso de um adolescente.
Em 1962 um Praticante de Escritório numa boa empresa deveria ganhar 600$00, o que dava 20 paus por dia e se gastava 3 paus no almoço eram 15% de uma dia de trabalho.
Evidentemente, nos tempos que correm, e não sei ao certo, o mesmo bitoque no "Come e Bebe" deve ficar por 7/8 euros o que dá mais de 30% de um dia do ordenado mínimo actual.
Como no céu não há disto para a próxima vamos ao Gambrinos que também por lá já andava.
E o Good Garden pode esperar.

Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz