quinta-feira, 15 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24400: (De) Caras (198): "Da minha varanda também vejo o mundo... Ou uma nesga, o da da minha rua" (Valdemar Queiroz, DPOC, Rua de Colaride, Agualva-Cacém, Sintra) - II (e última) Parte


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Sintra > Agualva-Cacém > Rua de Colaride > Maio de 2023>    "Da mimha varanda também vejo. o mundo... Ou uma nesga, o da da minha rua"

Fotos (e legenda): © Valdemar Queiroz (2023). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Segunda (e última)  parte da "fotogaleria da minha rua, vista da minha janela", enviada pelo nosso querido amigo e camarada Valdemar Queiroz, no passado dia 28 de maio...

Portador de uma doença crónica, incapacitante, a DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica), o Valdemar "não pode sair de casa", mas já se atreve agora a ir à para a varanda, sempre que o tempo e a qualidade do ar o permitem... Com um "telemóvel fatela" (sic), tirou duas dezenas de fotos... Depois de selecionadas e editadas por nós, foram publicadas neste e no poste anterior (P24399) (*)

Mora há meio século, em Agualva, Cacém, concelho de Sintra, na Rua Coloride... 

(...) "Vi nascer toda a urbanização da zona do prédio da minha casa. Passaram 50 anos, os casadinhos de fresco inauguraram os prédios da urbanização e com o andar dos anos os filhos foram crescendo e arranjaram outros locais para morar.

Os mais velhos, como eu, alguns ficaram, mas a maioria também saiu para outros lados. Agora, há cerca de 6-7 anos, os prédios começaram a ser habitados por outra gente, na maioria famílias de cabo-verdianos, mas também guineenses e angolanos.

E, agora, na rua só se vê gente de origem africana, talvez os de cá, já poucos, prefiram sair só de carro.

Eu, com o tempo mais quente,  vou para a varanda e vejo passar gente que me faz lembrar a Guiné e sempre vou tirando umas chapas  apanhando pessoas descontraídas." (...)

(...( Anexo umas fotografias tiradas da minha varanda, que são um filme do que vejo todos os dias, desde a chinchada à velhinha nespereira às flores do jacarandá. (*).~

Em comentário ao poste P24399 (*), acrescentou:

(...) As fotografias são tiradas por um telemovel fatela. Tivesse uma máquina como deve ser, dava para mostrar a envolvência dos fotografados.

Os arruamentos, zonas verdes e prédios têm um bom aspecto devido tratar-se de propriedade horizontal a grande maioria e como tal havido uma boa conservação.

Os prédios nasceram em 1972/73, no caminho de uma vacaria e moinhos de vento, ainda quase todos para alugar, a receber casados de fresco vindos de Lisboa, com a estação dos comboios a 10 minutos, e a meia hora do Rossio.

Levou alguns anos a ficar tudo arranjadinho como agora se vê, e os novos habitantes, principalmente as mulheres, fazem grande motivo de vaidade por viver no 2.º andar, que até dá para estender a roupa a secar. E até me dizem 'o vizinho está melhor?' (...)



Agualva-Cacém > 14 de setembro de 2021 > O João Crisóstomo veio, propositadamente, dar conhecer pessoalmente (e dar um abraço solidário a) o Valdemar Queiroz... Ei-los, os dois,  à entrada no prédio, na rua de Colaride (**)

O Valdemar Queiroz, minhoto por criação, lisboeta por eleição, foi fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70. Vive hoje, sozinho, em casa, em Agualva-Cacém. Tem um filho e netos nos Países Baixos.

Fotos (e legendas): © Valdemar Queiroz / João Crisóstomo (2021). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

14 comentários:

Cherno Baldé disse...

Caro amigo Valdemar Embaló,

Conheci o teu Bairro da Agualva/Cacém onde viviam alguns conterrâneos em meados de 2001/02.

Nos subúrbios de Lisboa, por norma, quando a "africanização" dos Bairros começa a ganhar proporções, os "indígenas" tendem a fugir, é por isso que a integração é tão difícil na Europa e, concretamente, em Portugal que conheci melhor. Não pode haver integração sem convivência.

Ao Valdemar, sobrevivente de Canquelifa, Paunca e Guiro-Iero-Bocari (que poucos guineenses saberão localizar num mapa), eu sei que não faz muita diferença, pois a África e os africanos fazem parte das suas lembranças, boas e más.

Um abraço amigo,

Cherno Baldé

Valdemar Silva disse...

Caro amigo Cherno Baldé
Tenho muitas fotografias destas, agora os meus vizinhos são cabo-verdianos, guineenses, angolanos. Os alentejanos, beirões e lisboetas que inauguraram esta zona do Colaride (Agualva) já partiram, os filhos e os da minha idade. Como subiu bastante o preço dos andares venderam por bom dinheiro o que lhes tinha custado 200 contos. Nos primeiros tempos pouca gente comprava os andares, eram quase todos alugados.
Então o Cherno Baldé cá pela minha rua ?
Lembro-me haver um fula a habitar num prédio próximo, que eu encontrava num café e havia sempre aquela do 'ta la finani?'. Coitado andava sempre a pedir para lhe pagar um café.
Mas em 2001-2002 ainda eu fumava, bebia do tintol e alinhava em boas almoçaradas.
A grande alteração do modo de habitação dos africanos foi devido aos seus filhos terem estudado e arranjarem empregos sem ser nas obras.
A D. Alice, cabo-verdiana, que me trata da casa é dona do um andar no prédio em que mora a filha, e ela mora noutro andar próximo.
Há tempos, quando eu lhe disse que agora há muitos africanos morar para cá, ela respondeu-me
'pois, agora a gente já não mora nas barracas'.
Vou arranjar mais selfies quando estiver na varanda a ver passar as modas.

Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz Embaló

Eduardo Estrela disse...

Bom dia Valdemar e malta da nossa colheita!!
A envolvência dos fotografados é feita através das imagens que recolheste.
As pessoas interagem com as máquinas. Reparem nos cidadãos que aguardam o autocarro e o que está sentado nas escadas. Como diz o Cherno e bem, não pode haver integração sem convivência. Perdeu-se o bom hábito de falar com as pessoas olhos nos olhos..
Europeus, africanos, asiáticos, americanos e demais, praticam cada vez menos essa ancestral forma de comunicar.
Abraço fraterno e......
"Saúde da boa "
Eduardo Estrela

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Valdemar, tens dois jacarandás em frente da tua varanda, na paragem do autocarro... Em maio/junho são lindos.

Valdemar Silva disse...

Estrela, obrigado pelo comentário que como outros sempre com grande poder critico.
Tenho muitas fotos tiradas com a ideia de 'sempre ao telemóvel'.
A mulher que está nas escadas à entrada do meu prédio mora na cave vem apanhar sol e falar ao telemóvel. As raparigas da paragem do autocarro são empregadas de supermercado e também apanharam o vício do 'vou já a caminho' sem necessidade dessa informação.
A necessidade dos africanos comunicar entre eles já não se pratica, vivem todos muito próximos e, tal como nós em vez de alentejanos ou beirões, são de várias ilhas ou regiões de África, talvez sem se conhecerem não ter hábito de conversa.
Noto em toda esta gente que agora vive por aqui um grande sentido de 'boa educação', com uma segunda geração a falar português em vez de crioulo e uma certa vaidade de morar ao nosso lado.
Há dias estava sentado próximo da porta de entrada e ouvi um estrondo na varanda, de seguida tocaram à campainha. Ouvi bola bola e abri a porta da escada com um 'venham cá acima'. Aparecerem dois miúdos 10-11 anos cabo-verdianos muito assustados, vão à varanda buscar a bola e tenham mais cuidado podiam ter partido um vidro, disse-lhes. Silenciosamente atravessaram um quarto regressando com a bola e voltaram-se para mim com um 'o senhor está doente, precisa de alguma coisa?'. Não os conhecia de lado nenhum, vinham da escola a caminho de casa.

Estrela, como deve estar a Carrapateira, Bordeira e a praia do Amado que durante vários anos visitava de férias no mês de Agosto e nunca mais lá irei.

Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz

Eduardo Estrela disse...

Vais!!!!
Vais pelas tuas memórias e recordações. Viajamos quando queremos porque a mente nos permite que o façamos mesmo sem nos deslocarmos fisicamente.
Recorda a beleza que conhecesse, é muito mais enternecedor a do que a que resulta de aplicações financeiras e fraudulentas do denominado mercado.
Fiquei extremamente sensibilizado com a história dos putos de 10/11 anos.
Ainda há gente boa no mundo, com sensatez suficiente para serem solidários.
Temos obrigação de continuar a luta e participar de todas as maneiras possíveis na construção duma sociedade cada vez mais harmoniosa e racional.
Abraço fraterno e......
" SAUDE DA BOA "
Eduardo Estrela

Tabanca Grande Luís Graça disse...

A verdade é que os prédios da rua de Colaride, em Agualva-Cacém, agora famosa porque foi posta no mapa e na blogosfera, não mostram sinais de terem grades e arame farpado, como infelizmente se vê nas cidades africanas que a gente conhece, como Bissau ou Luanda (onde a "nomenclatura" vive em condomínios de luxo)...

O prédio do nosso querido Valdemar "Embaló" pelo menos não tem, o que é bom sinal... E espero bem que nunca venha a ter...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Valdemar, no Minho e em Entre-Douro-e-Minho, e portanto na Tabanca de Candoz, a nespereira e o seu fruto, a nêspera, também são conhecidas por "magnórios"... Ali também as cerejeiras são "cerdeiras"... Variantes da língua portuguesa que espero não se percam com o "rolo compressor" da globalização, da "nornmalização", do Web, etc.

Anónimo disse...



Valdemar, amigo e camarada, vives na tua ilha e com as limitações que isso te traz, procuras superar as tuas limitações, fraternalmente com os vizinhos da tua rua e com os vizinhos que vais encontrando neste Blogue, és um resistente, um lutador, admiro-te muito.
Da tua varanda ou da tua janela podes contruir outras histórias. Vai dando notícias.
As tuas melhoras.
Um grande abraço.
Francisco Baptista

Valdemar Silva disse...

Luís, nêsperas ou magnórios/magnólios.

Sim, no norte são magnórios.
Mas os magnórios crescem numa nespereira e não numa magnólia que tem uns frutos bem diferentes das nêspera.
Quem tem uma magnólia no quintal tem uma bela árvore florida e quem têm uma nespereira tem uma bela árvore de frutos.
Eu conheço duas grandes magnólias que das suas folhas perenes dava para fazer coroas de rei e penas à índio. A magnólia do Jardim Constantino, Arroios-Lisboa, e a magnólia do Convento de Cabanas, Afife (antiga casa de Pedro Homem de Melo).

Obrigado Francisco Baptista tenho andado muito aflito

Saúde da boa
Valdemar Queiroz

Fernando Ribeiro disse...

Prezado Valdemar,

Não deve ter sido fácil convencer os donos dos automóveis que estacionavam aí à frente a deixá-los noutro lado, mas o ajardinamento desse espaço resultou em pleno. Ficou um recanto aparentemente muito aprazível, acrescido pela beleza dos jacarandás, sobretudo quando estão em flor. Só foi pena terem posto a nespereira tão afastada da varanda...

O J. Pimenta, o António Xavier de Lima e os outros construtores dos dormitórios da Grande Lisboa, como é a Agualva-Cacém, não se preocupavam com semelhantes "pormenores" tais como fazer espaços verdes e garagens para os moradores. Mesmo a urbanização de S. Marcos, do outro lado do IC 19, é uma selva de betão (pelo menos era no meu tempo), apesar de ser muito mais recente. Nada lhes escapa.

Um abraço e... saúde da boa (também posso dizer, não posso?)

Fernando de Sousa Ribeiro

Tabanca Grande Luís Graça disse...

"Saúde da boa"... já é "marca registada", paga "direitos de autor"...

O nosso Valdemar tem estas expressões castiças... E geniais como alguns dos nossos provérbios populares: "Muita saúde e pouca vida, que Deus não dá tudo!"...

De facto, que nos interessa a saúde se não for da "boa" ?!...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Valdemar, não vais ao Facebook (nem perdes nada), mas pus-te lá, com os teus jancardás, a nespereira e os teus fregueses...

(...) Uma rua, a rua de Colaride, Agualva-Cacém, que se tornou agora famosa: está no mapa e na blogosfera, por nela viver (e só poder assomar à janela...) um dos nossos amigos e camaradas, o Valdemar Queiroz... Vive sozinho em casa, e é portador de um doença crónica incapacitantte, mas não perdeu o gosto de viver e conviver, e muito menos o "humor de caserna"... Da sua janela vê o mundo... da sua rua. É um dos mais antigos moradores da rua Colaride, que está agora mais bonita do que em 1972/73, quando um andar custac 200 contos (52 m8il / 46 mil euros, a preços de hoje...). Minhoto por nascimenmtp, alfacinha por criação, avô de netos holandeses... Uma história de grande humanidade, um exemplo (tocante) para todos nós antigos combatentes, que somos representantes de uma "espécie" em vias de extinção,,, sem apelo nem agravo. (...)

https://www.facebook.com/people/Tabanca-Grande-Lu%C3%ADs-Gra%C3%A7a/100001808348667

Valdemar Silva disse...

Que chatice, agora, e eu sem poder dar vencimento a tanto quererem saber de mim.
Já enviei a todas as TVs, outros orgãos de informação e revistas da especialidade, e até a gouchadas e cristinices, um comunicado de não querer ser conhecido mais do que já sou.
Já não tenho idade e saúde, para altos voos de mirone da varanda e guarda-nêsperas, e ganhar bom dinheiro. Chega-me o que faço, confessei, enquanto mirava um casal de pombinhos na intimidade, no beiral de um telhado.
Cá estou eu como habitualmente, a levar as coisas com boa disposição e não, por enquanto, a pensar na chatice que me havia de aparecer na parte final da corria da maratona da vida. E tenho estado bastante aflito, mas farto-me de rir com aquela do Paco Bandeira ser da família dos Bandeira e não da dos Niña ou dos Nassa.
Fernando Ribeiro, a seguir ao parque automóvel em frente dos prédios apareceu outra "praga" da época, o cultivo de couves e batatas em hortinhas por "agricultores" de outros prédios.

Obrigado a todos e saúde da boa
Valdemar Queiroz