sábado, 27 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25114: Os nossos seres, saberes e lazeres (611): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (139): Férias em região duriense, uma rota de aldeias vinhateiras (8) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Outubro de 2023:

Queridos amigos,
Insisto no pedido de desculpas por ter andado a revoltear imagens, depois de fotografar os belos conjuntos azulejares do Pinhão é que dei que tinha deixado para trás as imagens captadas em Santa Maria de Salzedas, cuja visita recomendo a quem quer que seja sem qualquer hesitação. Este edifício religioso é frisante, demonstrativo, de que quando entramos num espaço marcado pelo barroco ou pelo maneirismo a ninguém ocorre que já houve ali um outro edificado. Não sei por que carga de água o mosteiro cisterciense sofreu tais tratos de polé, a ponto de praticamente nada subsistir, a não ser vestígios. Depois foi vendido em hasta pública, dispersaram-se riquezas, felizmente que chegou a hora da recuperação e do restauro, permaneceram vestígios da igreja medieval, que era de planta em cruz latina, a atual fachada data dos finais do século XVIII, está marcada por duas torres laterais adiantadas, a nossa visita guiada começou pelo claustro do capítulo que leva obras de restauro vai para 13 anos, o resultado é imponente, por isso aqui se pretendeu dar uma imagem do espaço museológico, ele é bem merecedor do nosso desfrute tal a riqueza do seu património, basta pensar nos painéis atribuídos a Grão Vasco e o conjunto de obras legadas por Bento Coelho da Silveira, referência maior da pintura portuguesa do século XVII.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (139):
Férias em região duriense, uma rota de aldeias vinhateiras (8)


Mário Beja Santos

A tarde está reservada a Ucanha e ao Mosteiro de Santa Maria de Salzedas, na região de Távora-Varosa, região vitivinícola por excelência. Inicia-se a visita à casa do Paço de Dálvares, é um museu agrícola dentro de um edifício belamente reabilitado e onde se irá ouvir falar do espumante Murganheira. Fugi à lição, preferi deambular por este belo espaço e espiolhar o museu, mas não fugi à libação, muitos excursionistas não resistiram a fazer aquisições na loja de vendas.

Casa do Paço de Dálvares – Tarouca, Museu do Espumante
Um pormenor do pátio interior das instalações, este maciço de pedra é impressionante
Imagem do museu

Da Ucanha, da sua torre e ponte, já aqui se fez menção e se pediu muita desculpa por andar de trás para a frente por pura negligência de quem não sabe de manejar a câmara, e compulsar as imagens arquivadas, asseguro que a seguir à visita e este belo mosteiro vamos em definitivo navegar no rio Douro, sequência que se interrompeu quando se fez referência ao Pinhão e aos belos azulejos da sua estação ferroviária.
Bom, estamos diante deste mosteiro de Santa Maria de Salzedas Olhando a fachada, opulentíssima, ninguém acredita que tudo começou pela construção de um mosteiro cisterciense masculino, iniciado em 1168 graças ao patrocínio da segunda mulher de Egas Moniz; os monges receberam diretamente de D. Afonso Henriques o couto de Algeriz. Este domínio, mais tarde designado por Salzeda, e depois por Salzedas, abrangia as atuais freguesias de Ucanha, Granja Nova, Vila Chã da Beira e Salzedas, no concelho de Tarouca, e Cimbres, no concelho de Armamar.
A implantação do mosteiro obedeceu aos princípios da regra cisterciense, localiza-se num vale, há acesso direto a um curso de água, a ribeira de Salzedas, afluente do rio Varosa.
O passeio terminará com a visita à igreja, que já foi medieval de planta em cruz latina, tem três naves e transepto saliente, foi sagrada em 1225. Veremos pelas imagens que apesar das muitas alterações introduzidas nos séculos XVI, XVII e XVIII, ainda é possível observar da construção original alguns elementos. A fachada, evidentemente, nada guarda desses tempos da Reconquista Cristã.

Ao longo dos últimos anos, este monumento absurdamente votado ao abandono, tem vindo a ser objeto de intervenções de conservação e salvaguarda, com destaque para a consolidação do claustro de capítulo. O mosteiro está agora integrado na rede de monumentos do projeto turístico-cultural Vale do Varosa. Entre 2010 e 2011 foi levada a cabo uma profunda intervenção de recuperação e valorização que incluiu restauro do património integrado e criação de um espaço museológico que veio a ser aberto ao público, é bem merecedor de visita pelo seu destacado valor histórico e patrimonial.
Uma parte da recuperação, mas é bem visível que ainda há muito a restaurar
Uma simples imagem da bela azulejaria que se conserva, mas há para ali danos irreversíveis. Os azulejos que cobrem a sala do capítulo são azulejos de maçaroca a azul e amarelo. Este espaço monárquico, riquíssimo em arte, sofreu muitíssimo com a extinção das ordens religiosas em 1834, foi tudo vendido em hasta pública (espaço monástico e recheio) ficando para uso da paróquia a igreja, a ala Este e parte da ala Sul.
Entrámos agora na área museológica, mais propriamente na sacristia, este Cristo na cruz é de uma beleza impressionante
Imponentes painéis que tudo ganharam com o restauro
Há dois quadros no espaço museológico atribuídos a Vasco Fernandes, Grão Vasco é dado como responsável por um dos mais excecionais retábulos deste mosteiro, constituído por quatro painéis com as figuras de S. Sebastião, Santo Antão, Santa Catarina e Santa Luzia, produzidos entre 1511 e 1515. Estão aqui restaurados S. Sebastião e Sto. Antão, são uma das principais atrações deste núcleo museológico.
Nesta galeria há obras que merecem uma contemplação atenta. É o caso destes das obras de Bento Coelho da Silveira, uma delas, Imposição do hábito a S. Bernardo, possui um equilíbrio nos volumes e na segurança com que trata o grupo humano que certifica o indiscutível talento desta referência maior da pintura portuguesa do século XVII. Bento Coelho da Silveira é autor de um conjunto de pinturas realizado para este mosteiro constituído por diversas cenas da vida de S. Bento e S. Bernardo, que ele realizou entre 1667 e 1675. Faziam provavelmente parte do conjunto das oito telas do espaldar do arcaz da sacristia.
Capitel em granito talhado, séculos XII-XIII
Capitel geminado pertencente ao claustro original, também em granito talhado, séculos XII-XIII
Interior da igreja, nave principal
Quatro imagens que permitem ver elementos do templo primitivo, como foi referido, tudo foi refeito a uma escala que vai do maneirismo ao barroco, mas não se apagaram estes elucidativos vestígios da Cister no Vale de Varosa, séculos XII e XIII.

Aqui findou o passeio e regressámos a Tabuaço. O dia seguinte foi reservado ao Pinhão, de que já se falou, segue-se o esplendoroso passeio pelo Douro, à tarde houve quem quis ir visitar S. João da Pesqueira, precisei de ler e repousar. Na manhã seguinte despedimo-nos de Tabuaço, e a excursão de 5 dias deixou-nos em Sete Rios, o local dá sempre jeito, apanha-se o comboio para Roma-Areeiro, um quarto de hora depois está-se em casa.

(continua)

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Nota do editor

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