Excertos de: José Álvaro Almeida de Carvalho, "Livro de C", Lisboa Chiado Books, 2019, pp. 174/75 |
(...) Naquele dia deu-lhe para aquilo. Pensou na família e principalmente no pai, que tinha pago à mais variada casta de traficantes, amiguistas, supostos influentes do regime, etc. , para que ele não viesse a África.
Pedia-lhe frequentemente para acompanhar um ou outro, a falar aqui e ali, supostos de moverem influências nesse sentido mas o que queriam era apanhar-lhe dinheiro.Nunca se sentira muito bem neste papel e duvidou sempre da capacidade desses indivíduos para realizar o que se propunham. Por outro lado, toda a sua geração estava a caminhar para África e não lhe parecia muito correto evitar fazê-lo.
Até que um dia no seguimento de mais uma dessas diligências disse:
- Ó pai, deixemo-nos disto. Já devia estar em África há muito tempo! - o que deixou toda a gente boquiaberta.
Mas o pai nunca desistiu. Já próximo do final da comissão recebera uma carta dele a dizer :
Mas o pai nunca desistiu. Já próximo do final da comissão recebera uma carta dele a dizer :
- Agora é que conheci um sujeito que te vai tirar daí.
Continuava nestas diligências não só por si mas também pressionado pela mãe.
Quando mais tarde regressou, o pai, embora não fosse crente foi a Fátima a pé, para cumprir uma promessa que fizera de assim fazer se o filho regressasse inteiro. (...)
Continuava nestas diligências não só por si mas também pressionado pela mãe.
Quando mais tarde regressou, o pai, embora não fosse crente foi a Fátima a pé, para cumprir uma promessa que fizera de assim fazer se o filho regressasse inteiro. (...)
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Nota do editor:
8 comentários:
Sobre a promessa de ir a Fátima a pé se o filho regressasse inteiro da guerra em África, sempre me fez confusão, por nunca ouvir dizer que alguém fosse a pé a Fátima pedir para que o filho não fosse pra guerra em África.
Até parece que era proibido a Nossa Senhora aceitar esses pedidos e até ser preso quem fosse apanhado a rezar para isso.
Valdemar Queiroz
Em muitas casas rezava-se o terço para que os seus "meninos" regressassem sãos e salvos... Há séculos, a religiosidade é uma segunda pele deste povo...
Luís, parece que varia em conformidade com quem governa o povo.
Em 1917 aconteceu o que devia ser, com a Senhora a dizer aos pastorinhos para rezar pra acabar com a guerra.
Valdemar Queiroz
Há os que acreditam nisto, há os que acreditam naquilo e os que acreditam em coisa nenhuma.
Todos acreditam!
O mistério, o desconhecido e o coisa nenhuma, são formas de acreditar.
Abraço
Eduardo Estrela
Pois é Estrela, há uns que acreditam e pedem à Senhora pra acabar com a guerra e outros até dizem que isso não se deve pedir antes produzir mais armamento pra guerra continuar.
Saúde da boa, que aí por baixo até dá gosto estar.
Valdemar Queiroz
Naquele tempo, o tempo da nossa meninice, em que as mães tinham vários filhos, em que havia uma mortalidade infantil acentuada, e mesmo assim ainda sobravam uns 4 e mais filhos, talvez se se estudasse a fundo o que pensavam e aguentavam aquelas mães quando viam os filhos irem para a guerra, lágrimas existiriam evidentemente em todas, e velas também.
Mas muitas lágrimas eram de orgulho também, do "filho que foi para a guerra".
Testemunhei casos, de gente conhecida e que pensava que eu era herói porque eu vivia lá.
"O meu também lá esteve"!
Podemos chamar ignorância? Mas se até o herdeiro da coroa lá cumpriu o seu tempo?
Falta muito para se escrever a história,
Já o povo dizia, no séc. XVI, "Quando Deus não quer, santos não rogam"... Ou os santos náo podem ("pôr a cunha", entenda-se)...
7 DE MARÇO DE 2023
Guiné 61/74 - P24148: Manuscrito(s) (Luís Graça) (216): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles ? - Parte I: "Muita saúde, pouca vida, porque Deus não dá tudo"
Antº. Rosinha, podes ter razão do que realmente pode ter acontecido nos primeiros embarques por causa do "Angola é nossa" e das primeiras imagens das atrocidades da FNLA.
Quando fui mobilizado, a minha mãe até me disse 'e depois, os filhos dos ricos também vão'.
Mas com o passar do tempo e sabendo-se dos mortos e feridos, a despedidas no Cais da Rocha ou de Alcântara já eram com choros e gritos de 'ai o meu filhinho'.
Valdemar Queiroz
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