quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26254: Desejando Boas Festas, Feliz Ano Novo de 2025, e aproveitando para fazer... prova de vida (1): João Crisóstomo (e Vilma) (Nova Iorque)




T/T Niassa, CNN,  [5 de agosto de ] 1965 - Programa do "jantar de despedida servido em honra das Forças Militares que se destinam a nossa Porvíncia da Guiné, com desejos das maiores felicidades e venturas"... Era capião de bandeira António Bénard da Costa Pereira, c.f.[ capitão-de-fragata], comandante João Figueiredo Fragoso, imediato Manuel Ribeiro Pires, chefe de máquinas Júlio Monteiro Emílio Carreira, médico Agostinho Maria Ribeiro, radiotelegrafista Fernando Aragão Freire de Andrade, capelão José Maria da Fonseca Guimarães [1923-2023] e comissário José Horácio Mantas...

Assinaturas: 

João Crisóstomo (alf mil, e cmdt interino, CCAÇ 1439)

José Maria da Fonseca  [ Guimarães ] 

[...] Silva, alf para  [?] 

Do programa musical, destaque-se a última peça, um tango de 1927,  "Adios Muchachos", de Júlio César Sanders, depois de uma valsa de Strauss (para dançar... com a G3).

Os últimos versos da canção não podiam ser mais sinistros aos ouvidos de quem ia ara a guerra:

(...) Adiós muchachos, compañeros de mi vida
Barra querida de aquellos tiempos.
Me toca a mi hoy emprender la retirada
Debo alejarme de mi buena muchachada.

Adiós, muchachos, ya me voy y me resigno,
Contra el destino nadie la calla.
Se terminaron para mí todas las farras.
Mi cuerpo enfermo no resiste más.



T/T Niassa, CNN > Quarta feira, 5 de agosto de 1965 > Ementa:  Creme Cardeal | Linguado à Monte Carlo | Espargos au Vinagrette |Peru à 'Niassa' | Doce: Vulcão | Fruta cristalizada | FRuta fresca: Pêssego. maçãs, Chá, Café

Fotos (e legendas): © João Crisóstomo  (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




João & Vilma 
1. Mensagem do João Crisóstomo, régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona, com sede em Nova Iorque:


Data - quarta, 4/12/2024, 10:06
Assunto - Capelães... e viagem no "Niassa" até à Guiné


Caro Luís Graça,

Ao vasculhar no meu baú de recordações encontrei este menú do jantar de despedida no “Niassa” na véspera de chegar à Guiné.

Como sabes, a minha companhia era “madeirense" 
e o Niassa depois de zarpar de Lisboa passou pelo Funchal onde “apanhou" a CCAÇ 1439. A nossa Companhia era “individual" e o nosso capitão Amândio Pires, tinha partido de avião dias antes para preparar a nossa chegada.

Na sua ausência quem devia ir a comandar a companhia era o o alferes Freitas, madeirense, pro sinal, mas este tinha um assunto qualquer pendente e, por razões burocráticas, fui eu que fui a comandar a CCAÇ 1439 até chegarmos à Guiné.

Isto está explicado na nossa troca de comentários ao post 22051, de 30 de março 2021, onde aparecem algumas fotos e numa delas sou eu que estou a receber as despedidas do governador militar da Madeira.

Ao ver agora este "menu” senti uma "piada negra" (na altura nem reparei nisso) que no Programa Musical a última peça musical tenha sido “Adios, muchachos”… Não sei se era o mesmo programa em todas as viagens ao chegar à Guiné, mas agora olhando para trás fez-me arrepios! Não havia com certeza qualquer"segunda intenção", mas …lembrando agora o que vim a experimentar depois... foi o que senti.

Bom, lembrei-me de te enviar isto, para se um dia o assunto de capelães tornar a ser falado, talvez queiras juntar os capelães que serviram no Niassa e outros navios que nos transportaram para lá e para cá…

Não creio que muitos se tenham sequer apercebido que havia um padre capelão a bordo … mas havia.

Mas sobre capelães, pois é este o assunto que me levou a escrever este: Eu sabia que o Horácio Fernandes,  além de ter estado  na Guiné como capelão militar, esteve também como capelão num submarino. Não tenho a certeza mas creio que foi depois do serviço na Guiné.

O que me lembro bem,  foi de que nesta viagem no Niassa encontrei um padre franciscano, o padre Fonseca ( José Maria da Fonseca Guimarães,) que tinha sido meu professor de Geografia em Montariol: era o capelão do navio Niassa nessa viagem. 

Fiquei tão contente por o ver que acabei por lhe deixar um presente para que comprasse um par de patins para os alunos em Montariol, onde o meu primo, padre António Sabino,  que era na altura o guardião/superior,  tinha adaptado uma sala grande no rés do chão para jogos de hóquei em patins. Recordo-me que fiz sso porque eu queria contribuir para que os estudantes tivessem mais possibilidades de praticar desportos.

É que durante os cinco anos que estive neste colégio, por razões que a razão não conhece, nos era proibido jogar futebol. Recordando esses tempos parece-me tão absurdo que é com raiva que lembro tudo isso: os “castigos” mais ou menos sérios que incluíam ficar de joelhos ou mesmo apanhar com a “tabuada" de madeira nas mãos, quando alguém tinha tido a coragem de dar um pontapé nalguma bola de andebol ou basquetebol. 

Mas sobretudo a frustração que eu sentia (estive lá dos meus dez aos quinze anos) que me dissessem para jogar andebol mas que não podia jogar futebol. Nao sei se havia mais algum colégio com a mesma postura quanto a futebol. Não creio que houvesse , mas se houver alguém que esteve em algum colégio com a mesma mentalidade,  gostava de saber. Em Montariol, quanto a eles, era um jogo violento…

Bom, imagina que um simples menu me deu ensejo a desabafar as minhas frustrações da minha juventude! Junto a foto do menu, devidamente “assinado” pelo comandante do Niassa na página da “Ementa” . A assinatura do capelão, José Maria da Fonseca, está na primeira entre a minha e a de um outro alferes,  que não me recordo quem seja.

A quem ler isto um grande abraço. E,  se for antes do Natal, Boas Festas e um Ano Novo tão bom quanto possível para todos.

João Crisóstomo (e Vilma),  Nova Iorque

PS - Luís, tinha aqui uma lista de quase meia centena de endereços de email, para mandar aos meus (e, alguns, da Vilma) amigos e conhecidos da Tabanca Grande, com votos de Merry Christmas and Happy New Year... Aproveuto este ensejo, para de uma só penada desejar festas felizes a todos vocês, os amigos e camaradas da Tabanca Grande... E, de acordo com a tua habitual solicitação, aproveito também para fazer  a minha "prova de vida"!

5 comentários:

Eduardo Estrela disse...

Obrigado João!
Para ti e para a tua Mulher Grande bem como para toda a malta desmobilizada mas activa e suas famílias, vão também os meus votos dum santo Natal um 2025 repleto de coisas boas .
Abraço fraterno
Eduardo Estrela

Tabanca Grande Luís Graça disse...

João, o frei José Maria Fonseca Guimarães, teu professor de geografia e capelão no T/T "Niassa" em agosto de 1965, morreu com a bonita idade de 100 anos!

Montariol > 31 de dezembro de 2023 ·

Mestre é o que deixa marcas de cidadania
e muitíssimo mais!
Foste muito mais!
Obrigado por tudo, Mestre!
José Maria Fonseca Guimarães
1923 - 2023

José Martins disse...

Caro João e Vilma.
Agradeço e retribuo votos de Festas Felizes.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

João, éramos todos iguais... mas uns mais do que outros...

Lembro-me do meu regresso no T/T Uíge, em 17 março de 1971....

Dia da partida de Bissau para Lisboa. Regressávamos da guerra, cansados da guerra, uns mais apanhados do clima do que outros, alguns com chumbo no corpo (o Pina, o Fernandes, por exemplo, enquanto o Marques, o António Fernando Marques, iria fazer outra comissão no Hospital Militar Principal, na sequência da mina A/C em que ele caiu com mais o 4º pelotão, e eu)...

Regressávamos num navio da marinha mercante da Companhia Colonial de Navegação (uma empresa, fundada em Angola em 1922, para assegurar os transportes marítimos das colónias portuguesas com a Metrópole, sendo o paquete Vera Cruz o seu navio mais emblemático)... Uíge, de seu nome. Niassa, para lá. Uíge, para cá.

Como se tudo continuasse como dantes e a vida corresse normalmente, nessa viagem de regresso à Pátria (e à impossível normalidade, já que as nossas vidas nunca mais seriam como dantes), servia-se a bordo, na classe turística, reservada aos sargentos, uma sopa de creme de marisco, seguida de um prato de peixe (Pescada à baiana) e um de carne (Lombo Estufado à Boulanger)... Sem esquecer o luxo de uma sobremesa: a bela fruta da época, o bom café colonial, o inevitável cigarro a acompanhar um uísque velho, antes de mais uma noitada de lerpa ou de king... ou de mais uns uísques... Enfim, as pequenas delícias do sistema...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Museu Marítimo de Ílhavo > Nº de registo no Grémio 13671 > Agostinho Maria Ribeiro

João, era o médico de bordo, quando foste para a Guiné no T/T Niassa, em agosto de 1965...

Andou na campanha do bacalhau, entre 1961 e 1964...Como médico da frota, tal como o escritor e médico Bernardo Santareno. ( Este, em 1957 e 1958, a bordo dos navios David Melgueiro, Senhora do Mar e do navio-hospital Gil Eanes, acompanhou as campanhas de pesca do bacalhau como médico; a sua experiência no mar serviria de inspiração a muitas das suas obras, como O Lugre, A Promessa e o volume de narrativas Nos Mares do Fim do Mundo. )...

O dr. Agostinho Maria Ribeiro era natural da Amarante, vizinho da Alice (que é do Marco de Canaveses)... Nascido em 1921...Nessa época não havia hospitais (públicos e privados), e muito menos o SNS, para dar trabalho aos médicos... A marinha mercante, a marinha de guerra, a frota bacalhoeira... eram "alternativas". Para os médicos e para os capelães...

Mais um museu, o de Ílhavo, que eu aconselho a visitar...A pesca do bacalhau foi outra das nossas epopeias. A "frota branca" concentava-se em Belém, por volta de Abril, para ser abençoada pelos representantes de Deus na terra, e na presença dos poderosos patrões da indústria da pesca bacalhoeira, antes de partir para a Gronelândia e a Terra Nova, para seis ou sete longos e árduos meses de luta e labuta )...

Epopeia que eu gosto aqui de recordar... Tenho amigos (alguns já falecidos, dois nossos grão-tabanqueiros, os manos Paradela, filhos de Ílhavo, filhos do mar...) que andaram lá, na sua juventude...Era uma alternativa à "guerra do ultramar"...

Tempos do caraças!