domingo, 31 de agosto de 2008

Guiné 63/74 - P3157: História da CCAÇ 2679 (1): Apresentação (José Manuel Dinis)


1. Mensagem de José Manuel Dinis, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71, com data de 26 de Agosto de 2008:

Olá Pessoal da Tabanca!

Não fiz a apresentação da CCAÇ 2679, pelo que refiro, teve origem no BII19, no Funchal. Os atiradores eram todos oriundos da Ilha, autênticas pérolas, sendo os graduados e os especialistas originários do Continente. Ali fizemos, recruta, especialidade e IAO, a par de actividades civis de grande nível gozatório. Que pena a paródia da despedida não estar no âmbito do blogue.

Embarcados no Uíge, nas condições por demais descritas por outros camaradas, aportámos em Bissau no dia 2 de Fevereiro de 1970.

Navio Uíge > Foto retirada do Site Navios no Sapo, com a devida vénia

Experimentávamos o calor pegajoso. Aos primeiros alvores, já havia muita gete desperta a olhar para a margem de vegetação densa. As cores eram diferentes. O verde não era bem verde. A torrente de água não era translucida. O Geba parecia café com leite, efeito da erosão e dos movimentos das marés. E, subitamente, parecíamos chegar ao inferno, com o estrondo de sucessivos rebentamentos. Era a guerra no seu esplandor.

Ia nas nossas cabeças que na Guiné a guerra era ao metro quadrado. Os aspectos contidos e graves. No íntimo, cada um pensaria na sua capacidade para sobreviver.

Até que aparece o Pidgiguiti, a ponte cais para o desembarque. Começa a circular o aviso para não nos deixarmos olhar pelos estivadores, com certeza com ligações aos turras, que nos identificariam como alvos preferenciais. Houve quem ficasse apreensivo. Tudo correu com normalidade inquietante. A curiosidade em redor era parcimoniosa, muito diferente de um grupo excursionista. A terra sufocava. E o nosso destino foi o Quartel de Adidos em Brá.

Terá havido alguma indecisão sobre o destino a dar à Companhia, pelo que, com excepção dos serviços, tivémos dezoito dias de férias antecipadas, tempo suficiente para os procedimentos de iniciação à vida africana.

Em Bissau, sê bissalense. Fiquei desconfiado com as heroicidades e perigos profusamente explanados na 5.ª Rep, o Bento. E experimentei as ostras no Zé da Amura. Fui jantar ao Solar dos Doze, completamente rendido ao fado e ao tinto. Fui à Meta atraído pela pista de automóveis, mas não experimentei as aceleradelas naquela confusão constante, bebi Monks e, provavelmente, deixei o ADN no meio dos apalpões à grande bunda da camareira.

Recusei o Pilão que imaginava um Vietnam. Nos Adidos reencontrei um contemporâneo de colégio, mais velho, em regime de prisão, que chorava e cantava o fado com fervor, após petisqueira e beberricagem, generosamente providenciada pelo senhor Peniche, com vário anos de Guiné, em virtude dos sucessivos processos disciplinares.

Soldado, sargento, capitão, era conforme, na modalidade de prisão aberta, era figura pública que providenciava os géneros para as festas celulares, espaço aberto à minha responsabilidade.

Nos entretantos, aprendi a evitar as árvores em caso de ser atacado, nada como o baga-baga, a não me sentar à frente no unimog, nem do lado do depósito de combustível, a cortar as orelhas aos turras abatidos e a deixar um cartão de cumprimentos nos corpos abandonados... coisas interessantes que a instrução ignorou.

Um dia fui tomar conta de um Posto de Transmissões, a primeira missão, e ali contactei com as térmitas e um imponente baga-baga, coisa nunca vista.

Outro companheiro de colégio, que acompanhava as senhoras do Movimento Nacional Feminino, ofereceu-me um camuflado parecido com os dos Páras e, por força disso, causei grande espanto, quando em 20 de Fevereiro de 1970, a Companhia, na totalidade, embarcou em LDG, de Bissau para o Xime, e fui respeitado como um veterano duro e circunspecto, disfarçando a condição piriquitante.

Após o desembarque organizou-se a coluna motorizada para Nova-Lamego, onde chegámos ao anoitecer. Lembro-me da impressão que me causou uma árvore fracturada e queimada, em consequência de uma roquetada, onde se destacava o corpo da granada meio enterrado num tronco, conforme explicação abalizada do condutor, velhinho manhoso.

E lembro-me do ensinamento de que todos os cuidados são poucos, concerteza a martelar o alferes mais atrevido, pela sua imagem, deitado e barricado com as bagagens, entre as pernas dos soldados sentados no banco da viatura, com a arma apontada para o mato.

À humidade dos corpos, juntava-se a poeira até Bafatá. Tanta coisa nova, como ração de combate para todo o dia. Por acaso porreira, com chouriço e patê, a que juntei cervejinha para molhar o bico. Passámos a noite numa Repartição Pública, em colchões espalhados no chão, juntinhos, que o espaço não era a perder de vista.

Cumprimentos ao pessoal
José Dinis

P.S. - Desculpem a falta de revisão ao texto, mas as diabruras do computador associadas às traições da minha vista, deixam-me sem paciência, e com mau feitio. J.D.
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Nota de CV:

Vd. poste de 24 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3147: Tabanca Grande (83): José Manuel Dinis, Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda (1970/71)

sábado, 30 de agosto de 2008

Guiné 63/74 - P3156: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (13): Actividade da CCAÇ 2402 em Mansabá

1. Mensagem do nosso camarada Raul Albino, ex-Alf Mil da CCAÇ 2402/BCAÇ 2851, (, Mansabá e Olossato, 1968/70) com data de 29 de Agosto de 2008.

Junto envio o último texto seleccionado sobre a estadia da CCAÇ 2402 em Mansabá.
Já dá para ver o ambiente que se vivia na época.

Um abraço e um bom fim de semana,
Raul Albino



2. A actividade da CCAÇ 2402 em Mansabá

Por Raúl Albino

A actividade principal da CCAÇ 2402 junto ao BCAÇ 2851 em Mansabá consistia na protecção à capinagem e desmatação, efectuada por trabalhadores nativos, para preparar o terreno para a construção de estradas alcatroadas. Essa actividade, que já vinha de Có, viria a prolongar-se durante a estadia da companhia no Olossato, última etapa da nossa comissão na Guiné.

Mas falemos agora neste período em Mansabá. Além do enorme ataque que sofremos logo no início da minha permanência nesta localidade, sede do Batalhão, a nossa principal senão única actividade na zona, foi precisamente a de protecção aos trabalhos de desmatação efectuados por trabalhadores nativos, como fase primeira antes do avanço das máquinas da Engenharia para romperem os caminhos e procederem ao alcatroar das vias, composto por várias fases, que em si também precisavam de protecção.

Máquina do Batalhão de Engenharia para romper estradas

Foto e legenda © Raúl Albino (2008). Direitos reservados.


A partir desta necessidade, todos os dias pela manhã, vários Grupos de Combate se deslocavam para o ponto em que no dia anterior tinham terminado os trabalhos, para dar seguimento à obra em curso. Ao anoitecer, maquinaria e tropas faziam o caminho inverso em direcção ao quartel para o merecido descanso. Esta descrição parece uma rotina de actividades sem nada de interessante a acontecer, não fosse a particularidade de o nosso inimigo também ter uma rotina conjugada com a nossa e que consistia em esperar que as nossas tropas regressassem ao quartel para, senhores do terreno, aí implantarem um autêntico jardim de minas e armadilhas, especialmente anti-pessoais, com a intenção de desmoralizar as tropas e trabalhadores nativos e assim atrasar a obra. No dia seguinte, perdia-se um tempo enorme a picar a estrada e as áreas periféricas, para levantar ou neutralizar as minas e tudo o que pusesse em risco a integridade dos trabalhadores, militares ou nativos. Todos os dias esta rotina se mantinha, de noite eles semeavam, de manhã nós colhíamos. Isto seria interessante se, volta não volta, não houvesse uma mina ou outra que rebentava, causando mortos ou feridos, tornando grande parte deles incapacitados por amputação de pernas.

O terceiro Grupo de Combate da CCAÇ 2402, que eu comandava, tinha a rara característica de reunir no seu conjunto três especialistas em Minas e Armadilhas, eu próprio, o Furriel Maia e o Furriel Godinho. Em toda a restante companhia só haviam mais dois elementos com esta especialidade, o Alferes Silva e outro furriel do qual não me recordo o nome, um em cada grupo ficando ainda um grupo sem qualquer especialista. Cada mina levantada ou arma apreendida ao inimigo tinha um prémio atribuído pelo Comando. Neste momento só me recordo que uma mina anti-pessoal valia quinhentos escudos e uma anti-carro, salvo erro, dois mil escudos. Devido a esta concentração de recursos e do grande número de contactos com o inimigo que o meu grupo teve, estimei no fim da comissão, que cerca de 80 a 90% dos prémios da Companhia por este tipo de materiais, foram atribuídos ao meu grupo e por todos distribuído. Há que esclarecer uma coisa, os prémios eram atribuídos a pessoas individualmente, mas desde o início que ficou estabelecido entre nós que estes prémios seriam para distribuir pelo pessoal do grupo. A razão que eu tive para estabelecer esta regra é muito simples: Alguém acha que há algum prémio, tenha ele o valor que tiver, que pague o risco de vida de quem tinha, por imposição da sua especialidade militar, de levantar minas para protecção da vida dos seus colegas de armas? Nem pensar! Se ficasse com algum dinheiro para mim, não ia ficar bem com a minha consciência, daí que esta foi a melhor solução que encontrei para o dinheiro não ficar no bolso de alguém que não tinha o mínimo direito a ele e esse seria decerto o seu destino, se eu pura e simplesmente o rejeitasse.

Quem me esteja a ler, pensará que o pecúlio monetário do meu grupo cresceu exponencialmente neste paraíso de minas onde nos encontrávamos nesta altura. Completamente errado, julgo mesmo que este local pouco ou nada contribuiu para esse mealheiro, por uma razão muito simples que se alguém se pusesse a adivinhar, dificilmente o conseguiria. É que todas as manhãs, acompanhando a picagem feita pelos militares, um grupo enorme dos trabalhadores nativos iam, na frente dos militares, imitando os seus gestos, e detectando a grande maioria das minas, levantando-as rapidamente sem qualquer tipo de cuidado e vindo a gritar com elas nas mãos:

- Meu alfero, apanhei uma! - para que ficasse registada em seu nome e poder mais tarde levantar o prémio. É que, infelizmente para eles, quinhentos escudos valia bem o risco de vida. Além destes especialistas de pé descalço, havia também pelotões de sapadores, estes sim, especializados na detecção e levantamento de minas.

Era óbvio que este ritmo tremendo de stress não podia continuar, as tropas existentes não podiam dar mais, estavam arrasadas, no entanto, a única solução era vigiar o local vinte e quatro horas por dia para tentar quebrar este ciclo diabólico. Como as tropas que possuíamos eram insuficientes, recebeu-se o reforço de uma Companhia de Pára-quedistas, tropas especialmente vocacionadas para operações especiais. As operações especiais na Guiné, tinham normalmente a característica de serem intensas, perigosas e curtas. Ora a actividade que se passou a pedir a estas tropas foi a de reforçar os nossos grupos de combate, de forma a permitir a presença permanente de vigilância no local dos trabalhos, de dia e de noite. No entanto as máquinas da engenharia e os nativos tinham de regressar ao anoitecer e voltar de madrugada, obrigando a executar muitos dos procedimentos de picagem que já se faziam anteriormente.

A história que lhes vou contar a seguir, narro-a na forma como eu a registei e analisei através dos relatos que consegui captar de várias fontes. No entanto verifiquei recentemente que alguns militares meus ex-colegas de armas, têm algumas versões ligeiramente diferentes da minha, não no essencial mas de pormenor, daí a minha ressalva prévia.

Houve ainda alguns ataques do inimigo às tropas de protecção da zona, pelo menos dois ou três enquanto lá estive, usando essencialmente tiro de morteiro, lança-granadas foguete e armas automáticas. Mas o que verdadeiramente perturbou estas tropas especiais foi a constante insegurança de todos os dias terem de percorrer trilhos que por regra se encontravam minados. É curioso como o desconhecimento do terreno que se pisa pode causar um estado de espírito de pânico. Foi isso precisamente o que aconteceu. Um belo dia, o Alferes Sapador do Batalhão regressou ao quartel, alarmado, dizendo que um determinado local estava completamente minado e não se podia lá andar. Este desabafo foi feito ao comando do batalhão e o major/2.º Comandante que o ouviu, teve, no meu ponto de vista, a única reacção aconselhada militarmente para esta situação. Depois de o ouvir atentamente, tentou acalmá-lo e ofereceu-se pessoalmente para se deslocar ao local para confirmar as afirmações que o seu sub-alterno alferes lhe estava a fazer. Pensando na lei das probabilidades, o major iria ao local normalmente, acalmaria o alferes e dir-lhe-ia algo como:

- Estás a ver, a coisa não é assim tão dramática como a viste, vamos tentar limpar a área de algumas minas que eventualmente estejam por aí e o local ficará seguro novamente!

Só que desta vez não foi assim, a sorte estava lançada e não era para o lado do major. Contou quem lá esteve que ele acabou mesmo por pisar uma mina anti-pessoal, ficando sem um pé, acabando por ser evacuado para o Hospital Militar. O acidente veio a dar razão ao sentimento de pânico que o alferes sentiu. O rebentamento desta mina fez também dois feridos ligeiros, um deles era Oficial. No relatório oficial do Batalhão indicava que tinham sido levantadas nesse dia 18 minas anti-pessoal. Este acontecimento ocorreu em 8 de Abril de 1969, tendo-se apresentado três dias antes em Mansabá o Pelotão de Sapadores do BCAÇ 1911 com o fim de reforçar as nossas tropas empenhadas na detecção e levantamento de minas, na zona de trabalhos da estrada Mansabá/Farim.

No dia seguinte, 9 de Abril de 1969, nova flagelação do IN à zona de obras causando 8 feridos ligeiros (2 civis). Consequência: chegada de reforço nesse dia do PEL SAP/BCAÇ 1912 e PEL SAP/BCAÇ 2861 que passaram a ter missão idêntica ao PEL SAP/BCAÇ1911, chegado poucos dias atrás.

A 10 de Abril de 1969, a Companhia de Caçadores 2402 a três Grupos de Combate parte para o Olossato, deixando o 3.º Grupo de Combate em Mansabá de reforço ao COP-6 (recém criado), cujo comando foi assumido em 13 de Abril de 69 pelo Ten Cor Pára-quedista Fausto Marques. Na véspera tinha chegado o reforço de uma Companhia de Caçadores Pára-quedista, a 122. Foi no meio disto tudo que eu fiquei, triste e abandonado, deitando contas à vida e sentindo-me cada vez mais insignificante, numa guerra que não tinha encomendado.

Raul Albino

Foto 1 > Troço da estrada Mansabá/K3/Farim que tanto suor e sangue custou a militares e civis que participaram na sua construção.

Foto 2 > Destacamento provisório do Bironque para parque das máquinas da Engenharia utilizadas na construção da estrada

Foto 3 > Instantâneo, real, de uma intervenção de um especialista em Minas e Armadilhas, manuseando uma mina AP AUPS.

Foto 4 > Estrada Mansabá/K3/Farim > Mina AC de origem soviética, levantada no Bironque em 3 de Dezembro de 1971

Fotos e legendas © Carlos Vinhal (2008). Direitos reservados.


3. Comentário de CV

Peço desculpa aos demais camaradas e leitores do nosso Blogue, mas não posso deixar de aproveitar o previlégio de ser co-editor para fazer este comentário visível.

É que ao transcrever este trabalho do nosso camarada, fiquei convencido que a estória era minha. Parece que o Raúl Albino não está a escrever o que se passou com ele e com a CCAÇ 2402, mas sim o que se passou comigo e com a CART 2732.

No tempo do Raúl a estrada alcatroada ficou no Bironque e nós continuámo-la até ao K3, sendo as situação descritas por ele as mesmas. Pessoalmente tive a sorte de nunca ter de intervir no levantamento das inúmeras minas que eram semeadas diariamente nos locais de trabalho, porque tínhamos permanente equipas de Sapadores para o efeito.

A mesma rotina diária da saída pelas 5 horas da madrugada com uma bucha de pão no bolso e regresso às 17 horas para almoçar (?), seguido do jantar às 19.

Emboscadas frequentes, tanto nas deslocações de e para a zona dos trabalhos, como nos próprios locais e, à noite para complemento, ataques não raros ao quartel de Mansabá.

Obrigado Raul por contares por mim a nossa estória comum.
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Nota de CV

Vd. último poste da série de 24 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3146: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (12): Ataque a Mansabá

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Guiné 63/74 - P3155: Bibliografia (29): Ainda o "Rumo a Fulacunda" e o ex-Alf Mil Luís Rainha (Carlos Vinhal/Luís Rainha/Rui Ferreira)

1. Pretende o nosso Blogue ser um dos veículos para que seja reposta a verdade e o bom nome do ex-Alf Mil Luís Rainha, Comandante do Grupo de Comandos Centuriões, tratado indevidamente no livro Rumo a Fulacunda de autoria do nosso Tertuliano Rui A. Ferreira.

Assumimos esta responsabilidade porque:

i - No nosso Blogue foi dada certa notoriedade a este livro, embora tardiamente, já que o lançamento do mesmo se verificou no ano 2000.

ii - Parte dos nossos tertulianos, e leitores ex-combatentes da Guiné, o terão comprado para ler.

Felizmente, e porque temos algum cuidado em proteger as pessoas quando visadas com o nome próprio, não foi publicado no nosso Blogue qualquer parte do livro que ofendesse o bom nome do nosso camarada Luís Rainha ou outro qualquer ex-combatente.

Pensamos, com este poste dar por encerrada a nossa colaboração na compensação moral que o ex-Alf Mil Luís Rainha exigia e tinha direito, desejando que nunca mais se venham a verificar no nosso Blogue ou em algum livro bibliográfico da nossa Guerra Colonial, caso semelhante.

Carlos Vinhal
Co-editor


2. Mensagem do Luís Rainha (1), ex-Alf Mil, dirigida a Luís Graça em 25 de Agosto de 2008

Ex.mo Senhor Dr. Luis Graça

Dig.mo Criador, Editor e Administrador do Blogueforanadaevaotres

Assunto: Livro RUMO A FULACUNDA da autoria do T.Coronel Rui A. Ferreira

Chamo-me Luís Rainha, estive na Guiné, primeiro como Alf Mil do BCAV 705 e, mais tarde, nos Comandos do CTIG como Comandante do Gr Cmds Centuriões.

O que me leva a escrever-lhe é o recente conhecimento que tive da publicação do livro Rumo a Fulacunda escrito pelo Ten-Coronel Rui Alexandrino Ferreira, ao qual tem sido feita publicidade no Blogue.

Tinha, em tempos, ouvido algo sobre esse livro através do meu Camarada e Companheiro de Armas, Virgínio Briote e agora, de uma forma mais precisa através do Júlio Abreu, meu antigo Camarada dos Centuriões, que referiu ser o meu nome citado através de umas peripécias que, segundo o T.Coronel Rui A. Ferreira, teriam ocorrido comigo.

Naturalmente curioso entrei em contacto com a Editora Palimage, procurando saber onde o poderia adquirir. Dois ou três dias depois fui contactado pelo T.Coronel Rui A. Ferreira, que logo se prontificou a enviar-me a publicação.

Acabo de o ler e estou estupefacto ao ver o meu nome aparecer associado a eventuais factos que, segundo Rui Alexandrino Ferreira, teriam ocorrido comigo em determinada zona da Guiné.

Se tal facto ocorreu, quero afirmar aqui que não fui eu o protagonista nem me lembro de ter ouvido qualquer referência a tal acontecimento. Nem das minhas andanças pela Guiné me lembro de alguma vez me ter cruzado com o então Alferes Rui Ferreira.

Aliás, ao continuar a ler voltei a ficar surpreendido com uma passagem que o T.Coronel Rui A. Ferreira escreveu a respeito de um Camarada que muito bem conheci, o então Tenente Maurício Saraiva, que foi meu Instrutor e Camarada de Armas e que muito apreciei.

O senhor T.Coronel Rui A. Ferreira, ao telefone, referiu-me ter ouvido dizer que o Maurício Saraiva teria algures na Guiné um armazém ou arrecadação onde terá guardado armas apreendidas ao PAIGC e do qual se foi socorrendo ao longo da comissão nos Comandos, o que lhe terá servido para as numerosas condecorações que lhe foram atribuídas ao longo das comissões na Guiné e em Moçambique.

Como é que o senhor T. Coronel Rui Alexandrino Ferreira publica um livro com base em histórias que, segundo diz, terá ouvido?

O Maurício Saraiva (3) já cá não está para pedir as provas. Não me foi passada procuração pela mulher e filho para o defender, nem preciso, basta-me ter participado com ele em várias operações e ter apreciado as suas excepcionais qualidades de liderança em situações de combate, que aliás levaram as autoridades militares de então a condecorá-lo com Cruzes de Guerra, Valor Militar e a Torre e Espada.

Cabe aqui acrescentar um facto de que tive conhecimento muitos anos mais tarde. Após os acontecimentos do 11 de Março, o Maurício Saraiva pediu a demissão alegando não se reconhecer no Exército de então. Abandonou o País com um filho ainda pequeno, sem emprego e deficiente após meia dúzia de cirurgias de reconstituição de uma perna, resultante de uma mina A/P. E foi muito depois da situação político-militar estar estabilizada que, a pedido de vários Camaradas o Ministério do Exército procedeu à sua reintegração.

O livro Rumo a Fulacunda, para referir apenas as passagens que me dizem directamente respeito, não me pode assim merecer grande crédito. Custa-me a aceitar que um antigo Camarada escreva um livro com base no que se dizia na esplanada do Bento e, mais me custa ver os nomes de antigos Camaradas ligados a possíveis factos com os quais nada tiveram a ver. É pena, porque foi perdida uma oportunidade de abordar com seriedade e isenção aqueles anos dos inícios da Guerra na Guiné.

Dirijo-me ao blogue na convicção e na esperança de que uma parte dos leitores do Rumo a Fulacunda fazem parte da admirável Tertúlia de Camaradas da Guiné e, pelo menos nestes eu possa de alguma forma minorar os estragos que o livro me está a trazer.

Espero a compreensão dos editores e agradeço que publiquem esta pequena mensagem.

Recebam um abraço deste Camarada de armas que ainda hoje sofre por tudo aquilo que passámos.

Luís Manuel Nobreza D’Almeida Rainha
regisreginae@hotmail.com


3. Mensagem do nosso tertuliano Rui A. Ferreira, autor de Rumo a Fulacunda, com data de 21 de Agosto de 2008, enviada ao Luís Graça e já publicada no poste 3144 do dia 22 de Agosto passado, que publicamos novamente para esclarecimento total e definitivo deste lamentável incidente.

Assunto: Rumo a Fulacunda

Meu caro Luís

Todos os esclarecimentos para a verdade são importantes. Os que implicam com o bom-nome a que todos temos direito, ainda o são mais.

E tudo isto, porquê?

Sucedeu-me, e se assumo quanto a isso a responsabilidade do que escrevi, mantendo como verdadeiro e absolutamente coincidente com a realidade, sobre a actuação do grupo de comandos da Companhia de Comandos da Guiné, que em Dezembro de 1965, em reforço da CCAÇ 1420, deu de si fraca mostra do seu valor, mas lamentavelmente confundindo o grupo de Centuriões com o dos Vampiros, atribuí o seu comando ao então Alferes Rainha e não ao outro cujo nome não refiro, porque já não pertence a este mundo. (Quem pertenceu àquela Unidade sabe bem de quem se trata ou tratava).

Pela manifesta falta de rigor nessa troca de nomes de que efectivamente aquele se sente lesado, publicamente lhe peço as mais sentidas desculpas bem como lhe garanto que no próximo livro, que tenho em laboração referente à segunda comissão que cumpri na Guiné, as primeiras palavras serão para repor a verdade.

Agradeço que publiques esta mensagem o mais rápido que te for possível.

Um grande abraço,
Rui Ferreira

OBS:-Sublinhados da responsabilidade do editor CV
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Notas dos editores:

(1) - O Alf Mil Luís Rainha depois do C.O.M. em Mafra, fez um estágio de Educação Física Militar e frequentou com aproveitamento o Curso de Op Especiais.
Colocado no Regimento de Cavalaria 7, em Lisboa, foi incorporado no BCAV 705/CCAV 704 e mobilizado para a Guiné. Os primeiros meses passou-os na CCAV 704 e os restantes nos Comandos do CTIG.
Foi formado pelos então Major Monteiro Dinis, Cap Nuno Rubim, Alfs Mil Justino Godinho, Pombo dos Santos e Maurício Saraiva, Sargento Mário Dias e Furriel Miranda (participantes na Op. Tridente, com excepção dos dois primeiros) e foi contemporâneo dos Alfs António Vilaça, Neves da Silva, Vítor Caldeira, V. Briote e do então Cap Garcia Leandro.
Foram-lhe atribuídos dois louvores, um ao serviço do BCAV 705 e outro ao serviço dos Comandos do CTIG atribuído pelo Comandante Militar da Guiné e mais tarde foi condecorado com a Cruz de Guerra de 2.ª Classe.

(2) - Ver poste de 22 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3144: Dando a mão à palmatória (15): Alf Mil Rainha era comandante do Gr Cmds Centuriões (Rui A. Ferreira)

(3) - O editor Virgínio Briote tem em preparação um trabalho sobre o Cor Maurício Saraiva para a série do nosso Blogue, Tugas - Quem é quem.

Guiné 63/74 - P3154: Antropologia (9): O Crioulo da Guiné. Mário Beja Santos.

O Crioulo da Guiné-Bissau (I)


"A Guiné do século XVII ao século XIX : O testemunho dos manuscritos", por Fernando Amaro Monteiro e Teresa Vasquez Rocha, Prefácio, 2004.

Trata-se de uma importante colectânea de ensaios sobre a História da Guiné, com a consulta de importantes manuscritos. Torna-se mais fácil perceber onde e porquê falhou a nossa aculturação/ colonização, depois desta leitura.

Mário Beja Santos

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A Guiné dos Grumetes, dos Escravos e dos Presídios

Beja Santos

Ninguém ignora que se publica muito pouco sobre a História da Guiné, quer em Portugal quer em Bissau. Pela pouco importância que teve no período colonial, sobretudo até à pacificação de 1936, os relatos existentes, sempre invocados da a exiguidade de testemunhos, tem a ver com clássicos do tipo "Tratado Breve dos Rios de Guiné do Cabo Verde", de André Álvares de Almada, "Subsídios para a História de Cabo Verde e Guiné", de Senna Barcellos, mas também relatórios de governadores, relatórios de comandantes de campanha, notas oficiais, etc.
Em 1938, um facultativo, João Barreto, publica a "História da Guiné, 1418-1918", que até à "A Guiné Portuguesa" de Avelino Teixeira da Mota, de 1954, foi a única obra de conjunto disponível para o público não iniciado. Deve-se igualmente a Teixeira da Mota, nos anos 40, o grande impulso para os estudos históricos com base científica, com a criação do Centro de Estudos da Guiné Portuguesa, era aqui que se publicava o Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, obra incontornável para o conhecimento da Guiné nas suas múltiplas vertentes.

Nos anos 80, René Pélissier escreve "História da Guiné – Portugueses e Africanos na Senegâmbia, 1841-1936", a única obra que podemos agora adquirir (Editorial Estampa, 1989).
Felizmente que as melhores bibliotecas proporcionam acesso a alguns dos títulos indispensáveis, afortunadamente que a investigação contínua, lá e cá, e por isso se saúda "A Guiné, do século XVII ao século XIX, O testemunho dos manuscritos", por Fernando Amaro Monteiro e Teresa Vázquez Rocha (Prefácio, 2004).
Os autores optaram por analisar as seguintes áreas de investigação: os grandes impérios subsaharianos que precederam a chegada dos portugueses no século XV; a Guiné vista por escritores no período em apreço e também à luz de muitos manuscritos compulsados no Arquivo Histórico Ultramarino; a problemática da crença religiosa e a tensão entre o Islão, as crenças tradicionais e o cristianismo; por último, os problemas da missionação na Guiné, antes e depois do liberalismo.

Qual o significado para estudar o período anterior à nossa chegada à Guiné?
A presença portuguesa na região foi sempre muito diluída, sujeita à pressão de outras potências coloniais, por isso optou-se por uma fixação em duas feitorias-praças (Cacheu e Bissau) e depois presídios (caso de Fá), ao sabor dos meios financeiros e militares.
A aculturação fez-se graças ao “grumete”, o negro periférico das praças e presídios, em muitos casos de apelido português. Fazia-se comércio na ampla Senegâmbia, mas no território que virá a ser hoje a Guiné-Bissau o colonizador encontrou resistências quer dos mandingas quer de outras etnias que se revelaram hostis à progressão do colonizador no território, isto sem falar no clima devastador.
O quadro e o papel desempenhado por estes impérios subsaharianos é de grande utilidade para compreender como é que eles actuaram como contra-poder e qual foi a interlocução possível com o colonizador e como este aproveitou as frestas possíveis para aprofundar mais as cisões interétnicas.
De igual modo, é incompreensível a história da Guiné sem conhecer o mosaico humano que os portugueses encontraram, ouvir os testemunhos do viajante ou do cronista, perceber como é que se estabeleceram zonas de influência, como é que as lideranças nativas reconheciam, duradoira ou episodicamente o poder político dos portugueses, fazendo ouvir ao mesmo tempo os interesses económicos e a ligação de interesses entre o arquipélago de Cabo Verde e esta região. Convém observar que a fixação dos portugueses só passou a ser uma realidade nos finais do século XVII, sobretudo numa tentativa de salvaguardar os interesses nacionais face às intenções dos franceses. Os autores habilitam o leitor com a evolução do poder político e económico, citando documentos de incontestável importância como cartas de capitães-mores que dão conta da debilidade militar para suster a hostilidade das populações locais ou o importante significado das incursões de franceses, ingleses e espanhóis.

A questão religiosa é de análise indispensável para se perceber o grau de islamização estruturante e a incapacidade de aprofundar a cristianização, que teve sempre uma acção pouco ou nada eficaz, o que é surpreendente se se pensar no sucesso de Cabo Verde. Os autores descrevem as queixas sobre a presença missionária, os litígios nas praças da Guiné à volta da cristianização dos escravos, facto que não agradava aos contratadores. O acervo de manuscritos citados é de primordial importância para se perceber a natureza dos obstáculos postos é missionação, mesmos nos períodos áureos da acção missionária e o relativo sucesso da islamização que soube acolher e aculturar as sociedades negras tradicionais.
A Igreja no século XIX é também uma Igreja que falhou neste ponto de África e por diferentes razões: o período posterior à Guerra da Restauração (1640-1668) foi desgastante pelos conflitos dentro da própria Igreja e a partir de 1834, com a extinção das ordens religiosas, assiste-se ao culminar da decadência já perceptível ao longo de todo o século XVIII; o despotismo esclarecido introduz um novo enfraquecimento com tensões permanentes dentro do poder político e a perseguição ao Clero, sendo a Companhia de Jesus o seu principal alvo. De novo os autores citam inúmera documentação que dão conta desta realidade, seja na Guiné de Cabo Verde seja no Distrito Autónomo da Guiné.

Também aqui é incontornável a figura de Honório Pereira Barreto, procurando contrariar as sistemáticas tentativas de usurpação dos nossos territórios por estrangeiros, em particular pelos franceses, num tempo em que se desfez a autoridade e a presença cristã é praticamente nula. Como escrevem os autores nas conclusões: “A implantação do liberalismo, para além da grande instabilidade interna, provocou na relação Metrópole/Ultramar e, logo, na Guiné, todo um processo de vaivém de medidas, sobretudo quanto ao Clero e á própria Igreja, com as lógicas consequências da catolicidade no território”.
A seguir, África irá ser sujeita a uma grande pressão internacional, acelera-se a ocupação, terminará o confinamento do colonizador às feitorias e presídios. Irá começar a época imperial até 1936, as lutas sangrentas pela ocupação do território, obrigando todos à obediência à bandeira portuguesa.
É neste sentido que esta obra se revela esclarecedora sobre as diferentes debilidades da colonização portuguesa na Guiné.
__________

Nota : fixação de texto e sublinhados de vb

(1) Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70)

(2) artigo realacionado em 11 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3128: Antropologia (8): Exposição Bijagós no Museu Afro Brasil, São Paulo

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Guiné 63/74 - P3153: Estórias avulsas (21): Espectáculo do Zéquinha em Bafatá (Vasco Joaquim)

1. No dia 26 de Agosto de 2008, recebemos a seguinte mensagem do nosso camarada Vasco Joaquim, ex-1.º Cabo Escriturário da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro 1970/72 (*).

Caros amigos Juvenal, Luís, Carlos, Virgínio, camaradas da Guiné, em especial o B CAÇ 2912.

Esta minha estória, parecida a tantas outras daqueles que pisaram o solo da Guiné, e não foram poucos, entre eles vocês, refere-se a um dia em que decidimos apresentar um espetáculo no Cine-teatro de Bafatá, (lá ao fundo, quase junto ao mercado, e perto da Transmontana - recordam-se? - quem passou por Bafatá), intitulado O Zequinha.

Meus amigos, decorria o ano de 1971, e a CCS do BCAÇ 2912 decidiu apresentar uma comédia em Bafatá, já ensaiada em Galomaro, onde o artista principal era o José, Zequinha, profissional de circo antes do ingresso no serviço militar. (Meu amigo por onde andas? Nunca mais soube nada de ti).

O Zequinha era (foi) Maqueiro na CCS do BCAÇ 2912, como todos se recordam (aqueles que tiveram o privilégio de conviver com ele) era o elemento da CCS que nos proporcionava boa disposição, face às suas brincadeira de comediante, pois suponho que exercia esta profissão no circo como profissional, segundo me disse e se a memória não me falha. O tempo não perdoa e já lá vão cerca de 40 anos.

Bem - apresentámos a comédia em Bafatá, da qual fiz parte, e foi um êxito - culminando com a entrada em palco do Zequinha vestido com os trajes compridos de chefe de tabanca, pronunciando vários dialectos dos naturais da Guiné, (parece que estou a vê-lo, com o barrete na cabeça, óculos escuros, indumentária branca dos ombros aos pés, sandálias, rádio na mão, e jame tú... corpo di bó... camisa di bó? - fantástico!

Terminamos a actuação com a lotação esgotada no Teatro a aplaudir-nos de pé. Lá estava o Regala, conhecido também do Juvenal.

Recordo o camarada Alfredo Tomás Laranjinha, um dos mortos da CCS na emboscada nas Duas Fontes em 1/10/1971 (**), e que também fez parte do elenco.

Esta é uma das estórias ou memórias que nos ajudaram a passar o tempo, lá longe onde o sol castiga mais, longe dos que nos eram mais queridos.

Um abraço a todos.
Vasco Joaquim
__________________

Notas de CV

(*) - Vd. poste de 9 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3124: O Nosso Livro de Visitas (23): Vasco Joaquim, 1.º Cabo Escriturário da CCS/BCAÇ 2912 (Juvenal Amado/Carlos Vinhal)

(**) - Vd. poste de 12 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2529: PAIGC: Emboscada a forças do BCAÇ 2912, na estrada Galomaro-Bangacia (Duas Fontes), em 1 de Outubro de 1970 (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P3152: Exposição na Casa da Guiné de Coimbra (Julião Soares Sousa)

1. No dia 25 de Agosto de 2008, o nosso Blogue recebeu da Casa da Guiné em Coimbra, na pessoa do Presidente desta Associação, senhor Doutor Julião Soares Sousa, a seguinte mensagem:

Exmo Senhor
Dr. Alfredo Caldeira
Fundação Mário Soares
Lisboa

Prezado
Prof. Doutor Luís Graça

A Casa da Guiné-Bissau em Coimbra (CGBC) é uma associação recentemente criada, sem fins lucrativos, religiosos ou partidários e é constituída por todos os naturais da Guiné-Bissau e pessoas de outras nacionalidades que comungam dos objectivos definidos nos seus Estatutos.

São alguns dos seus objectivos:

A realização de eventos sócio-culturais, tais como cursos de formação, conferências, palestras, seminários, simpósios, criação de áreas de pesquisas, de biblioteca e centro de documentação, intercâmbios culturais com outros países (Art. 2º, b);

A realização de actividades recreativas e desportivas, apresentação de espectáculos e comemorações (Art. 2º, c);

Defender e promover os direitos e interesses dos naturais da Guiné-Bissau e seus descendentes em tudo quanto respeite à sua valorização, de modo a permitir a sua plena integração e inserção (Art. 2º, g);

Promover e estimular as capacidades próprias, culturais e sociais das comunidades dos naturais da Guiné-Bissau e seus descendentes (Art. 2º, i);

Promover, divulgar, conservar e preservar a cultura guineense em Portugal (Art. 2º, l);.

No âmbito das suas competências e enquadrado no artigo supra citado dos seus estatutos, a CGBC pretende organizar por ocasião das comemorações da semana da Guiné, alusivo a data de 24 de Setembro, dia da Independência Nacional da Guiné-Bissau, um conjunto de actividades lúdico-culturais.

É neste sentido que vem solicitar a colaboração de V. Exª não só na divulgação desta iniciativa que terá lugar, de 18 a 24 de Setembro, em Coimbra.

Deste modo vinha solicitar-lhe que nos pusesse em contacto com amigos que possam ter fotografias, slides e videos sobre a Guiné ou sobre a guerra colonial e que estejam dispostos a disponibilizar temporáriamente este material para a montagem de uma exposição que, em princípio, seria inaugurada no dia 18 de Setembro, devendo prolongar-se até ao dia 18 de Outubro, de acordo com um programa que está a ser revisto e que contamos enviar a V. Exª dentro de pouquissimo tempo.

Sem outro assunto
Com os melhores cumprimentos

O Presidente da Direcção da Casa da Guiné-Bissau em Coimbra
Julião Soares Sousa

2. Apelo

Quem tiver material (fotografias, slides e videos) que julgue ser útil para estar patente na Exposição da Casa da Guiné-Bissau em Coimbra e queira disponibilizá-lo para o efeito, deverá contactar esta Associação para o endereço casadaguinecoimbra@gmail.com
CV
_____________

Vd. Poste de 8 de Julho de 2008, referente à tomada de posse dos novos orgãos sociais da CGBC > Guiné 63/74 - P3033: Convite (6): Tomada de posse dos Orgãos Sociais da Casa da Guiné-Bissau em Coimbra

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Guiné 63/74 - P3151: Unidades sediadas em Bambadinca entre 1962 e 1974 (Benjamim Durães)

1. Mensagem do dia 1 de Abril de 2007 do nosso camarada Benjamim Durães, (ex-furriel miliciano do Pel Rec, CCS do BART 2917, Bambadinca, 1970/72): (*)

Olá Luís,

Aqui estou mais uma vez para dar uma listagem de todas as Unidades que estiveram em Bambadinca sediadas.

A primeira foi o Pelotão de Caçadores 870,  em Dezembro de 1062, que teve o BCAÇ 5 como Unidade Mobilizadora e a última a chegar a Bambadinca foi o BCAÇ 4616/73, em Janeiro de 1974 e que saíu de Bambadinca em Abril de 1974.

Um abraço
Durães
01/04/2007




Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca, 1971: Capa da brochura com a história da CCAÇ 12. Desenho: Furriel miliciano António Levezinho. O pessoal metropolitano da CCAÇ 12 (Maio de 1969/Março de 1971) conheceu (e esteve às ordens de) dois batalhões em Bambadinca: BCAÇ 2852 (1968/70) e BART 2917 (1970/72).

Foto: ©
Luís Graça (2005). Direitos reservados


2. Unidades sediadas em Bambadinca
Por Benjamim Durães

UNIDADE DESIGNAÇÃO INÍCIO COLOCAÇÃO TRANSF EM PARA FINDA

(1) Pelotão de Caçadores 870 / Dez-62 Bedanda / Abr-63 Bambadinca Out-66 / Ago-63 Canhamina

(2) CCAÇ 526 / Mai-63 Bambadinca Mai-65 Jul-64 Bissau / Out-64 Fá Mandinga / Abr-66
Jan-65 Ponta do Inglês / Abr-65 Bambadinca / Set-65 Xime

(3) CCAV 1482 > Nov-65 Bambadinca Abr-66 Xime Jul-67 / Jan-67 Ingoré

(4) CCAÇ 1551 / BCAC 1888 > Mai-66 Bambadinca Nov-66 Fá Mandinga Jan-68
Fev-67 Xitole

(6) Pel Mort 1028 > Set-65 Fá Mandinga Nov-66 Bambadinca Mai-67

(7) BCAÇ 1888 > Mai-66 Fá Mandinga Nov-66 Bambadinca Jan-68

(8)  Pelotão de Reconhecimento, Pel Rec 1133 > Ago-66 Fá Mandinga Nov-66 Bambadinca Mai-68

(9) Pelotão de Morteiros, Pel Mort 1192  > Mai-67 Bambadinca Mar-69

(10) BART 1904 > Jan-67 Bissau Fev-68 Bambadinca Out-68

(11) Pel Rec 2046 > Mai-68 Bambadinca Mar-70

(12) Pelotão de Caçadores Nativos, Pel Caç Nat 63 > Mai-68 Bambadinca Jan-69 Saltinho 1974

Mar-69 Bambadinca
Ago-69 Fá Mandinga
Nov-70 Missirá
Jul-71 Bambadinca
Nov-71 Mato Cão
Abr-72 Missirá
Nov-72 Fá Mandinga
Manteve-se em ABR-1974

(13) BCAÇ 2852 > Ago-68 Bissau Out-68 Bambadinca Jun-70

(14) Pel Mort 2106 > Mar-69 Bambadinca Dez-70

(15) CCAÇ 2590 > Jun-69 Bambadinca Jan-70
Em Jan-1970 passou a CCaç 12

(16) Pel Caç Nat 53 > Set-66 Xime Jan-69 Bambadinca 1974
Abr-69 Canjambari
Jul-69 Bambadinca
Set-69 Saltinho
Manteve-se em ABR-1974

(17) Pelotão de Intendência, Pel Int 2189  > Nov-69 Bambadinca Set-71

(18) Pel Caç Nat 52 > Set-66 Porto Gole Mar-67 Enxalé 1974
Jun-67 Missirá
Dez-69 Bambadinca
Set-70 Fá Mandinga
Jul-71 Missirá
Abr-72 Fá Mandinga
Jul-72 Pte Rudunduma
Out-72 Mato Cão
Manteve-se em ABR-1974

(18) CCAÇ 12 > Jan-70 Bambadinca Abr-73 Xime 1974
Proveio da CCAÇ 2590 em Jan-1970 Manteve-se em ABR-1974

(19) Pel Rec 2206 > Fev-70 Bambadinca Dez-71

(20) BART 2917 > Mai-70 Bambadinca Mar-72

(21) Pel Caç Nat 54 > Set-66 Mansabá Nov-66 Enxalé 1974
Mar-67 Porto Gole
Dez-69 Missirá
Out-70 Bambadinca
Ago-71 Bafatá
Mai-72 Mato Cão
Out-72 Missirá
Manteve-se em ABR-1974

(22) Pel Mort 2268 > Dez-70 Bambadinca Set-72

(23) Pel Int 3050 > Set-71 Bambadinca Jul-73

(24) Pel Rec 3085 > Dez-71 Bambadinca Out-73

(25) BART 3873 > Dez-71 Bambadinca Abr-74

(26) Pel Mort 4575/72 >  Jul-72 Bambadinca Abr-74

(27) Pel Int 9285/72> Abr-73 Bambadinca Abr-74

(28) Pel Rec 8681/73 >  Jul-73 Bambadinca Abr-74

(29) CCAÇ 21 > Jun-73 Nova Lamego Ago-73 Bambadinca Abr-74

(30) BCAÇ 4616/73  > Jan-74 Bambadinca Abr-74 (**)


3. Mensagem de José Pina, ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 4616, com data 6 de Agosto de 2008.

Assunto: Correcção - Unidades sediadas em Bambadinca (1962/74)

A propósito do BCAÇ 4616, gostaria de corrigir a informação dada (**).

Ele não esteve em Bambadinca de Janeiro a Abril mas sim de Janeiro a Agosto de 1974.

Eu era Furriel e desempenhava funções na Secretaria de Comando. Portanto, posso garantir que foi mesmo assim. Em Abril ou já em Maio, não posso precisar bem nesta altura, quem saiu foi o nosso Comandante Luís Ataíde Banazol ficando as nossas tropas entregues ao segundo comandante, Major (agora Coronel) Fernando Luís Azevedo Alves Moreira.

Já agora, relativamente ao BCAÇ 4616, será bom dizer que chegou à Guiné a conta gotas, porque viu o seu embarque adiado duas ou três vezes devido à acção do nosso Comandante (Luís Ataíde Banazol) no seio no movimento dos capitães. A PIDE/DGS andava atenta e com receio que alguma coisa pudesse acontecer não permitiu que o Batalhão viajasse todo em conjunto de barco como estava previsto mas sim uma Companhia de cada vez e de avião.

Eu, que fazia parte da CCS, por exemplo, embarquei no dia 2 de Janeiro de 1974 e assim que chegámos a Bissau fomos logo para o Cumeré onde tirámos o IAO. Depois, fomos então pelo Geba acima de LDG para Bambadinca onde permacemos até Agosto, como já referi.

Os tempos por ali passados não foram maus e não se registaram grandes problemas; tanto assim, que mandei ir para lá a minha mulher. Chegou em Março, vivíamos numa casa alugada, fora do quartel, mesmo junto ao posto de sentinela virado para sul (Geba).

Curiosamente, o momento mais tenso que por lá se viveu, foi em finais de Julho ou principios de Agosto, quando as milicias africanas cercaram o quartel exigindo uma determinada quantia para deixarem de pertencer às nossas tropas. Mas, a pronta intervenção no local de Carlos Fabião (que na altura era o Comandante da Região Militar da Guiné) acabou por resolver tudo...

Para mais pormenores sobre o BCAÇ 4616 sugiro que leiam o livro Guiné Bissau: Três Vezes Vinte e Cinco (**), de Luís Ataíde Banazol.

José Pina


4. Comentário de CV

Caro José Pina:

Muito obrigado pela correcção que fazes quanto à estadia em Bambadinca, do teu Batalhão. Há sempre oportunidade de intervenção para corrigir dados menos exactos, como foi o caso detectado por ti.

Aproveito a ocasião para te propor que adiras à nossa Tabanca Grande, onde poderás contar as tuas estórias e mostrar as tuas fotografias.

Quando aparecem no nosso Blogue camaradas que estiveram na Guiné no pós 25 de Abril, convido-os sempre a contar-nos as peripécias passadas pelas NT, naqueles tempos de incertezas, quando as armas se silenciaram, mas as relações com o ex-IN ainda não estavam devidamente esclarecidas. Algumas fricções aconteceram e ainda tivemos a lamentar alguns mortos de parte a parte.

Envia-nos uma foto do teu tempo de tropa e outra de agora e começa a escrever.

Recebe um abraço em nome da tertúlia.

Carlos Vinhal
Co-editor
_____________

Notas de CV:

(*) - Reedição do poste editado no dia 20 de Abril de 2007, com revisão do texto e publicação de uma correcção enviada pelo nosso camarada José Pina, ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 4616, entretanto recebida na nosso Blogue.

(**) - Vd. poste de 22 Julho 2005 > Guiné 63/74 - CXVI: Bibliografia de uma guerra (8): A Guerra Colonial, o MFA e o 25 de Abril

(Fixação do texto de CV)

Guiné 63/74 - P3150: In Memoriam (7): Bacari Soncó, ex-Comandante do Pel Caç Nat 52, Régulo do Cuor (Beja Santos)

Guiné-Bissau > Janeiro de 2008 > Fotografia de estúdio de Bacari Soncó, antigo comandante de milícias de Finete, na altura em que o Beja Santos era o comandante do Pel Caç Nat 52, e estava em Missirá (Agosto de 1968/Outubro de 1969), e actual régulo do Cuor.

Foto: ©
Beja Santos (2008). Direitos reservados.

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos, (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) (1), de hoje:

Bacari , Meu Querido Irmão,
Acabo de saber que te perdemos para sempre, em 23 de Agosto.

Com o teu desaparecimento, perco o último Soncó guerreiro da minha geração.

Recordo-te intrépido, resoluto, sempre pronto para seguires a meu lado nas operações e patrulhamentos de mais elevado risco.
Recordo o que aprendi contigo acerca do nome de árvores, culturas, a história do nosso Cuor tão amado.
Recordo a reconstrução de Missirá, as nossas viagens diárias a Mato de Cão, o desvelo que tiveste quando uma mina anti-carro me ia destruindo, em Outubro de 1969.
Recordo o nosso último abraço, em Dezembro de 1991, a partir daí só escrevemos um ao outro, fugíamos do telefone, até porque um régulo não pode chorar ou emocionar-se ao telefone, a autoridade não se compadece com lágrimas.

Acontece que te enviei pelo teu sobrinho uma semana antes do teu desaparecimento a derradeira carta que terminava com a saudação de sempre:

- Recebe um abraço e beijos do teu mano, Mário.

Seguiu igualmente o livro que escrevi sobre a nossa vida no Cuor, onde tive a dita de combater a teu lado. Agora, só posso esperar que tenhas o eterno descanso ao lado dos Soncó, os mais ardorosos guerreiros da Guiné.

Recebe sem mais explicações a minha saudade e gratidão pelo que fizeste por eu ser quem sou,

Teu mano,
Mário
_________________

Nota de CV

(1) - Vd. Poste de 19 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2778: Álbum das Glórias (45): Bacari Soncó, ex-comandante do Pel Mil Finete e actual régulo do Cuor, Janeiro de 2008 (Beja Santos)

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Guiné 63/74 - P3149: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (5): Com o Pepito na Lourinhã, capital dos dinossauros (Luís Graça)




Lourinhã > 16 de Agosto de 2008 > O Pepito, à entrada do Museu da Lourinhã, junto a uma réplica de um membro posterior de um grande dinossauro que viveu na região na época do Jurássico Superior (c. 150 milhões de anos). (Para saber nais sobre os dinossauros e a ciência que os estuda os seus fósseis - a paleontologia - consultar a página e o blogue do paleontologista lourinhanense, já de renome internacional, o Doutor Octávo Mateus. Este especialista português tem feito pesquisa de fósseis de dinossauros e outros animais do Jurássico e do Cretácico um pouco por toda a parte, desde Portugal à Mongólia, dos Estados Unidos à Angola e inclusive na Guiné-Bissau).

A região do Oeste estremenho, e em particular o concelho da Lourinhã, é uma das zonas mais ricas da Europa em fósseis de dinossauro do Jurássico Superior. O Museu da Lourinhã, fundado há duas décadas e meia pelo GEAL - Grupo de Etnologia e Arqueologia ds Lourinhã, vale bem uma visita, com tenpo e vagar. Fica aqui o convite a todos os amigos e camaradas da Guiné que se interessem por esta área (apaixonante) do conhecimento científico. O museu encerra à segunda-feira e feriados. Está portanto aberto ao fim de semana.






Lourinhã > 16 de Agosto de 2008 > Museu da Lourinhã > O Pepito, divertidíssimo, à entrada do museu, perante o olhar cúmplice (e talvez irónico) da Alice e da Isabel. O nosso amigo guineense parece querer dizer algo como: "Ó Luís, na Guiné não há disto!"; "Este fémur é mais avantajado do que o meu"; "Vou pôr uma pata destas à entrada da minha casa no Bairro do Quelelé para assustar alguns bandidos que, às vezes, furtiva e cobardemente, armados de kalash, tentam dar-nos cabo do sossego" (*)...

Lourinhã > 16 de Agosto de 2008 > Museu da Lourinhã > O Pepito fotografado numa das salas dedicadas à paleontologia. Agradeço publicamente ao funcionário do museu, e meu amigo, Simão Mateus, a gentileza e a paciência que teve comigo e com os meus amigos, guiando-nos na visita que fizemos ao riquíssimo espólio paleontológico.




Lourinhã > 16 de Agosto de 2008 > Museu da Lourinhã > A Isabel, a Alice e o Pepito. O museu tem outra parte dedicada à etnologia, e em especial às velhas profissões e ocupações do oeste, desde o segeiro ao moleiro, do petrolino ao pescador...



Lourinhã > 16 de Agosto de 2008 > A Alice, a Isabel Levy Ribeiro e a mãe desta (que voltou à Lourinhã, muitos anos depois, já que o pai foi aqui médico, no final da década de 1920, antes de ir para África, onde nasceu a Isabel).

A foto é tirada na Rua da Misericórdia, onde eu e a Alice temos a nossa casa de fim de semana. As nossas meninas posam junto à fachada manuelina, seiscentista, da antiga Igreja do Espírito Santo, padroeiro dos pescadores, hoje incrustada no corpo do edifício da Misericórdia da Lourinhã (que foi fundada no princípio da década de 1580). No tempo da Reconquista, no reinado de D. Afonso Henriques, havia um braço de mar que banhava a Lourinhã.

Fotos e legenda: © Luís Graça (2008). Todos os ireitos reservados.


1. O Pepito e a Isabel tiveram a gentileza de retribuir-nos a visita que fizémos, no passado 7 de Agosto, a São Martinho do Porto onde estão a passar férias, juntamente com as respectivas mamãs que, felizmente, ainda estão vivas e de boa saúde.

Com muita pena minha não pude voltar lá no dia 19 de Agosto, dia em em que o Pepito recebeu uma delegação dos Gringos de Guileje, com o Zé Carioca e o Abílio Delgado à cabeça. Nesse dia, o meu velho, que está numa lar, juntamente com a minha mãe, fazia anos (88).

Aproveito para desejar ao Pepito e à Isabel um feliz e seguro regresso à Guiné, país-irmão que nos é muito querido e que, infelizmente, é de vez em quando assombrado por más notícias que nos deixam preocupados.  Peço-lhe, ao Pepito, que transmita aos nossos amigos que lá estão a força da nossa amizade e solidariedade.

Foi um privilégio poder conviver, com ele e com a sua família, nestes dias de férias que estão a terminar... Para mim, foi também Aquele querido mês de Agosto (A propósito, não percam o filme de Miguel Gomes, que está por aí, em exibição, nas salas de cinema de Lisboa e Porto).
______

Nota de L.G. (em férias...):

(*) Vd. poste de:

31 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3101: Histórias de vida (13): Desistir é perder, recomeçar é vencer (Carlos Schwarz, 'Pepito', para os amigos)

Vd. último poste da série de 7 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3119: Os nossos Seres, Saberes e Lazeres (4): Ornitologia (Mário Fitas)

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Guiné 63/74 - P3148: O Nosso Livro de Visitas (24): José Pedro Neves, ex-Fur Mil da CCAÇ 4745 (Guiné 1973/74)

1. Mensagem com data de 23 de Agosto de 2008 do nosso novo camarada José Pedro Ferreira das Neves, ex-Fur Mil da CCAÇ 4745/73, que esteve na Guiné entre 1973 e 1974:

Caro Luis Graça:
Quero agradecer a todos os antigos combatentes, principalmente aos que estiveram na Guiné, todos os contributos relatados neste site. Graças a si e a esses contributos tornei-me um doente saudável na consulta constante do blogue, na ânsia de encontrar relatos de antigos camaradas que comigo percorreram as matas e bolanhas da Guiné, mas nunca encontrei nenhum relato que identificasse a minha Companhia de Caçadores, independente, com origem dos Açores, da Ilha Terceira, CCAÇ 4745/73.

Agora, apresento-me, se me permitem:
Chamo-me José Pedro Ferreira das Neves, fiz o Curso de Operações Especiais em Lamego, 1.º curso de 1973 e dei instrução ao 2.º curso, também de 1973.
Fui mobilizado para a Guiné em Julho de 1973 e ingressei na CCAÇ 4745/73, (Companhia de Intervenção), em Agosto de 1973.
Regressei em Setembro de 1974 e passei à disponibilidade no dia 20 do mesmo mês.

Posto: Furriel Miliciano de Operações Especiais (nome de guerra PEDRO)

Locais na Guiné por onde andei: Binta, Nema, Farim, Mansoa, Jugudul, Polibaque (Protecção aos trabalhos de abertura da estrada, Jugudul-Bambadinca), Bula, Binar, Nhamate, Capunga, Bissau e outros arredores, que agora não me ocorrem.

O que procuro: Antigos camaradas da CCAÇ 4745/73 e outros que conheci, quando andei por terras da Guiné e alguns camaradas que fizeram o curso comigo e outros, a quem dei o curso, em Lamego.

O que já encontrei: Alguns antigos camaradas de Lamego, porque vou aos encontros, que se realizam anualmente, na nossa Faculdade Ranger.

Comentários: Penso que as dificuldades de encontrar antigos camaradas se deve ao facto, de só os graduados serem do Continente, apesar do Borges (Furriel)e de um Alferes, do qual não me lembro do nome, serem dos Açores, assim como os restantes camaradas da CCAÇ 4745/73, também conhecida, por Águias de Binta.

Vou frequentemente à Guiné-Bissau, desde 1989 (51 vezes), uma das vezes, com o tertuliano Humberto Reis, do qual me orgulho de ter como amigo e sofro, ao ver as condições de vida do povo da Guiné-Bissau, mas, isso são outras histórias.

Brevemente vou começar a contribuir, com relatos, da minha passagem pela Guiné, em parte, instigado pelo também grande amigo e tertuliano Magalhães Ribeiro, mas também, para contribuir um pouco com as minhas memórias do passado.

Antecipadamente, agradeço toda a vossa paciência para nos aturarem!

2. Caro Pedro

Primeiro que tudo, quero agradecer as tuas palavras que são para nós um incentivo.

És um tertuliano com dupla qualidade. Por um lado és um ex-combatente, e por outro, um amigo da Guiné-Bissau, atendendo ao número de vezes que já visitaste aquele país.

Não temos na tertúlia pessoas que se disponham a contar-nos estórias dos tempos, conturbados, depois de terem terminado as hostilidades com o PAIGC. A maioria de nós é um pouco mais velha que tu e regressou uns anitos antes de a guerra terminar. Sabemos por alto que nem tudo correu bem. Esperamos que sejas tu a colmatar essa falta de informação no nosso Blogue.

Esperamos de ti estas e outras estórias, assim como as tuas fotografias de então, e porque não de agora, para quem nunca mais à voltou à Guiné, possa ver como está o país actualmente.

Já reparaste que te estou a tratar por tu?

Na nossa Tabanca Grande, tratamo-nos todos por tu, como verdadeiros camaradas que somos, independentemente do nosso antigo posto militar, que hoje serve apenas como referência e não para marcar alguma hierarquia, e da nossa posição social.

As convicções políticas, religiosas e outras, não interferem nas nossas relações, nem são discutidas no nosso Blogue. As diferenças de ideias discutem-se com cortesia e aceitação das diferenças.

Na nossa página, do lado esquerdo, poderás ler as nossas 10 normas de conduta e aquilo que nós (não) somos.

Caro camarada, esperamos que envies em breve as fotos da ordem para seres apresentado formalmente à Tertúlia.

Recebe um abraço de todos os camaradas e amigos da Guiné-Bissau, tertulianos do nosso Blogue.
CV
Co-editor

domingo, 24 de agosto de 2008

Guiné 63/74 - P3147: Tabanca Grande (83): José Manuel Dinis, Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda (1970/71)

1. Mensagem do dia 21 de Agosto de 2008, do nosso novo camarada José Manuel Matos Dinis. ex-Fur Mil CCAÇ 2679 Bajocunda 1970/71:


 Caro Luis Graça e amigos:

 Chamo-me José Dinis, integrei a CCAÇ 2679 no CTIG, durante os anos de 1970/71, como Fur Mil, Companhia que, inicialmente, desempenhou funções de intervenção no Sector Leste, baseada em Piche, onde estava o BART 2857, tendo passado ao regime de quadricula em Bajocunda, em Agosto de 1970, substituindo a CART 2438, sendo dependente do COT1. 

Integrei o 2.º Pelotão, que comandei durante cerca de 18 meses, após a transferência compulsiva do meu grande amigo, o Alf Mil Eduardo Guerra. O Grupo ficou conhecido por Foxtrot, e ganhou nomeada pela sua grande disponibilidade, entrega e arrojo. Ao nível da Companhia, regista o maior número de louvores e o menor número de porradas

 Em Piche fui dinamizador da estação de rádio ali criada, embora com a antena horizontal próxima do telhado de zinco para abafar as emissões. em virtude da falta de autorização para o efeito. 

 Em Bajocunda criei a jornal Jagudi, que expandia textos de diversos camaradas, bem como, por vezes, transcrevia artigos de orgãos da comunicação social. O Jagudi ganhou alguma notoriedade porque era lido pelo João Paulo Dinis no Pifas

 A Zona de Acção do Sector L-4 - Piche, onde fizemos intervenção, apresenta uma superfície plana de cerca de dois mil quilómetros quadrados, com a altitude média de sessenta metros, e uma cobertura vegetal dispersa, por vezes de savana, adensando-se nas proximidades dos rios. Tinha como limites a fronteira com o Senegal, entre os marcos 50 e 58, a norte, o Rio Corubal, até à Confluência do Rio Seli, o Rio Beli, até à confluência com o Rio Juba, o Rio Camidina,o Rio Cambajã, Cambajã (excl.), Canjamo (excl.), Sinchã Bebe (excl.), o Rio Délebel, o Rio Bidigr, o Rio Nhangurem, o Rio Chimanar, o Rio Rapael, o Nácia, o Bial, o Rio Corri, o Rio Nungajá, e o marco 63, regiões fronteiras à Guiné-Conakri. 

 A Zona de Acção de Bajocunda apresenta características idênticas às do Sector L-4 e estendia-se de Tabassi a Copã. Nestas regiões não havia instalações IN quer de carácter permanente, como provisório. A actividade do IN consubstanciou-se em acções contra a população(para roubar e intimidar), à implantação de engenhos explosivos em estradas e outras vias de acesso a povoações e a flagelações contra aquartelamentos das NT e aldeias em autodefesa. A única emboscada concretizada, não vitimizou o pessoal da Companhia. 

 A densidade populacional era elevada, tendo em conta a fertilidade do terreno e o clima relativamente favorável a fixação. Havia representantes de diversas raças: Fulas, em maioria absoluta, Futa-Fulas, Fulas-Forros, Fulas-Pretos, Mandingas, Panjandincas e Bambarancas. O Fula não aceita outra religião para além do islamismo. Também era notória a sua preferência pela língua árabe, mesmo deturpada. O português, como língua falada, não era da sua preferência. 

 Os fulas, ardentes propagandistas do islão, propagavam a escolaridade em árabe. A população manifestava-se algo colaborante, mas assumia uma posição neutra em relação ao IN, de maneira a, agradando a uns, não desagradar aos outros. A nossa missão era a de garantir a segurança nas regiões, através de patrulhamentos de prevenção às infiltrações do IN, assegurar a liberdade de movimentos nos itinerários, montagem de emboscadas, diurnas e nocturnas, em supostos lugares de passagem ou penetração do IN, apoios e contactos com as populações, relativamente a acções de indole psicológica ou sanitária. 

A actividade do IN surpreendeu-me por alguma passividade e, para isso, tenho a minha interpretação; Em 1969, após o nosso abandono da região do Boé, e como estruturação do IN para o objectivo da independência, alguns dos seus quadros terão rumado aos países que lhes davam formação, pelo que essa mobilização - que não posso garantir, mas parece ter acontecido - reflectiu-se na abrandamento da guerra, que se acentuou a partir dos finais de 1972. 

 Para esta caracterização apouei-me na História da Companhia. Afinal, uma boa parte das Companhias dispersas pelo território do CTIG tiveram funções semelhantes, mas nomeá-las tem a intenção de recordar ou reportar algumas das tarefas do quotidiano, alguma caracterização antropológica, alguma sensibilidade sobre o relacionamento das partes envolvidas. 

 Lanço o repto a outros mais capazes, de divulgarem os conhecimentos que tenham relativamente a estas matérias, com o óbvio fim de ajudar à melhor compreensão de factores endógenos, que influenciaram o desenrolar dos acontecimentos. 

 Pronto, fiz a minha apresentação, e peço que me considerem como membro da Tabanca Grande. Quero despedir-me com um abraço aos amigos. Cascais, 2008.08.21 

  2. Comentário de CV:

  Caro José Manuel Dinis, Estás formalmente apresentado à nossa Tabanca Grande. Não tinhas que pedir para ser membro do nosso Blogue. A nossa porta está sempre aberta para qualquer ex-combatente da Guiné e amigo da actual Guiné-Bissau. 

 Começaste da melhor maneira, apresentando-te a ti e à tua Companhia, e caracterizando a vossa Zona de Acção. Esperamos agora as tuas estórias e as tuas fotos para assim aumentar o espólio do nosso Blogue. 

 Deixo-te, em nome dos editores da restante tertúlia, um abraço de boas vindas.

Guiné 63/74 - P3146: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (12): Ataque a Mansabá

1. No dia 22 de Agosto de 2008, recebemos uma mensagem do nosso camarada Raul Albino, ex-Alf Mil da CCAÇ 2402/BCAÇ 2851, (, Mansabá e Olossato, 1968/70), com mais uma história da sua CCAÇ 2402 (*).

Caro Vinhal,
Julgo que ainda estás de serviço enquando os outros editores gozam merecidas férias.
Aqui vai mais um artigo em tempo de férias, este relacionado com a nossa Mansabá.

Um abraço,
Raul Albino


Ataque a Mansabá

Por Raúl Albino

Em 3 de Abril de 1969, um grupo inimigo estimado em cerca de 100 elementos, atacaram Mansabá de diversas direcções com Canhão sem recuo, Morteiro 82, Lança Granadas Foguete, Metralhadoras Pesadas, Metralhadoras Ligeiras e outras armas automáticas.

O ataque começou cerca das 23,15 horas e durou 45 minutos. As nossas tropas (ao nível do Batalhão) sofreram 1 morto, 10 feridos graves e 23 feridos ligeiros. Segundo o relatório da nossa Companhia, pertencer-nos-ia 3 feridos graves evacuados para o Hospital Militar 241, tendo posteriormente um dos feridos sido evacuado definitivamente para o HMP de Lisboa, além de 16 feridos ligeiros. A população sofreu 7 mortos, 12 feridos graves e 19 feridos ligeiros.

Foto 1 > Mansabá > Alguns dos feridos esperando evacuação para Bissau

Foram atingidos pelo impacto de granadas, 3 casernas, o edifício do Comando, o Posto de Rádio, a padaria, a cozinha, os balneários das Praças, a Messe de Sargentos, a residência dos Oficiais, o edifício da Administração, o depósito de água, um posto abrigo e a pista de aviões, tendo sido ainda atingidas 4 viaturas.

Foto 2 > Mansabá > Pode ver-se as marcas do impacto das munições na parede

Foto 3 > Mansabá > Um dos edifícios atingidos

Pelo fogo e manobra das tropas, o inimigo furtou-se ao contacto. Pela batida e informações posteriores constou-se que o inimigo empregou no ataque cerca de 6 Canhões sem recúo, 6 Morteiros 82 e vários Lança granadas foguete, Metralhadoras Pesadas e Ligeiras.

O BCAÇ 2851 era a Unidade responsável pelo Sub-Sector. A CCAÇ 2402 colaborou na defesa e reacção ao ataque com algumas limitações. É que o 3.º grupo de combate – que eu comandava – e o 2.º grupo de combate, tinham chegado a Mansabá dois dias atrás. Pelo meu lado e falando por mim, o sentimento que tive neste dia foi de frustração, pois não conhecia o sistema de defesa do quartel, não sabia para onde me dirigir quando o ataque estalou, restando-me procurar abrigo atrás de um pequeno muro que se estendia frente aos dormitórios.

A sensação principal que perdura na minha memória foi a da perfeita inutilidade da minha presença. Nunca tinha sentido isto antes nem voltei a sentir depois, porque em todos os inúmeros contactos que tivemos ao longo da comissão, sempre estiveram bem definidos os nossos objectivos e missões a cumprir, não dando lugar a situações de indefinição. Esta foi a excepção e, por essa razão, a minha narrativa deste evento é tão limitada. Resta-me referenciar as narrativas daqueles que assistiram a alguns acontecimentos, por se encontrarem nos próprios locais.

Foto 4 > Mansabá > Final da pista de aviação


Foto 5 > Mansabá > Um DO na zona de estacionamento das aeronaves


Fotos © Raul Albino (2008). Direitos reservados.
Legendas da responsabilidade do editor.


O número de feridos deste combate foi elevado, movimentando um grande número de helicópteros e aviões na pista de aterragem, para procederem à evacuação para Bissau dos elementos em estado mais grave, tanto das nossas tropas como da população. As fotografias acima dão uma imagem dessa situação de emergência.

O que acima foi descrito não passa de um relato sintético pelas razões que expus. Neste momento já possuo a narrativa do nosso comandante de então, o Cap Vargas Cardoso, que por coincidência desempenhava nesse dia a função de Oficial de Dia ao aquartelamento. Segundo as suas palavras ele sempre se mostrou muito crítico quanto à forma como o comando conduzia a sua actividade na sua área de jurisdição. Assemelhava-se a uma guerra programada que abria ao nascer do sol e encerrava a meio da tarde, coincidindo com o horário dos trabalhos de construção da estrada Mansabá/Farim, principal objectivo do BCAÇ 2851 naquela zona. O patrulhamento dos arredores do quartel estaria reduzido ao mínimo, só assim sendo possível que o inimigo tivesse conseguido instalar tamanho poder de fogo nas redondezas. Não estando autorizado para transcrever os seus textos, resta-me informar que ele participou activamente na defesa e resposta ao fogo do inimigo, contribuindo para a sua retirada.

No dia seguinte o General Spínola com alguns oficiais do Q.G. apresentaram-se em Mansabá para indagar dos factos ocorridos na véspera. Terá ouvido as exposições do Oficial de Dia e do Comandante de Batalhão, decidindo retirar-lhe o comando e enviá-lo para o Q.G. em Bissau. Que belo castigo, pensei eu na altura.

Recordo-me que nesse dia algo me pareceu estranho e não me agradou e que consistiu no seguinte: as instalações onde os oficiais dormiam e possivelmente também os sargentos, eram constituídas por uma fileira de pequenas moradias geminadas tipo bairro económico, tendo na sua frente um muro a todo o comprimento com cerca de 80 centímetros de altura (se a memória não me falha) onde me abriguei no momento do ataque. Na ponta dessa correnteza de casas ficava a que estava distribuída ao Comandante do Batalhão e possivelmente a mais algum Oficial Superior. Reparei nisso porque era ostensiva a muralha protectora dessas instalações, composta de bidões cheios de terra e chapas abertas de reforço, entre outros materiais, demonstrando ao inimigo que alguém importante ali se recolhia em pleno contraste com todas as outras moradias a ela ligadas. Já tendo conhecimento da opinião do Gen Spínola, pelas suas visitas a Có, sobre tudo o que se parecesse com bunkers, neste caso discriminatórios, previ que ele não iria gostar do que estava à vista, como eu também não gostei. Segundo me constou ele era um entusiasta das valas a céu aberto, coisa que a mim não me entusiasmava minimamente, apesar de compreender perfeitamente o seu ponto de vista.

No meu caso pessoal é interessante compreender qual foi o meu estado de espírito neste período de permanência em Mansabá. Vinha de Có, localidade sob a responsabilidade da CCAÇ 2402, onde toda a logística nos pertencia. O meu grupo chegou duas semanas depois da Companhia a Mansabá, precisamente dois dias antes do ataque. Lembro-me de estar fardado com a farda de saída e de ter regressado da messe após o jantar, único local que eu tinha referenciado até ao momento, pudera, com a fome não se brinca e ali é que estava a manduca fosse ela boa ou má.

Sentia-me perdido no quartel com tanta actividade produzida pelas várias unidades lá estacionadas, das mais variadas armas. Sentia-me pequenino, deslocado e super-protegido por tanta tropa e armamento, onde se incluíam blindados ligeiros e especialistas para tudo. Antes os especialistas éramos nós, mesmo que de muitas especialidades não percebêssemos patavina. Esta ilusão foi desfeita com este ataque, demonstrando que este potencial estava mal gerido, ou que, apesar de tudo, era insuficiente para cumprir os objectivos do Sector e garantir alguma segurança no quartel.

Uma semana depois do ataque, a C.CAÇ 2402 a três Grupos de Combate, foi destacada para o Olossato, deixando o meu grupo de Combate em Mansabá ainda por cerca de um mês, para reforço à protecção aos trabalhos da estrada (capinagem, rompimento, alfaltagem, etc.). Por curiosidade, nunca cheguei verdadeiramente a conhecer o aquartelamento, porque a minha missão coincidia com o horário da guerra, ou seja, arrancar ao nascer do sol, levar alguma porrada do inimigo (flagelações à distância) no local da obra, e regressar ao fim da tarde arrasado e esfomeado. Era comer qualquer coisa e deitar, para voltar a arrancar no outro dia ao nascer do sol. Acabei por fixar bem por onde saía e por onde entrava, que por sinal era o mesmo sítio. No próximo texto contarei melhor em que é que consistia a nossa actividade.

3. Para reavivar a pouca memória que o camarada Raúl Albino tem de Mansabá, tão pouco foi o tempo que lá permaneceu, junto duas fotos, legendadas de memória, que não estarão erradas, salvaguardando os quase 40 anos que nos separam daquele tempo.

Foto 1 > Vista aérea de parte do aquartelamento de Mansabá. Esta foto não contempla a zona dos quartos dos Oficiais, da Enfermaria, Bar e dormitórios dos Praças e as diversas arrecadações.

Foto 2 > Nesta foto vêem-se os quartos dos Oficiais, com o tal murinho que o Raúl refere, falta a fortificação dos últimos quartos que seriam dos Oficiais Superiores.
Fotos e legendas: © Carlos Vinhal (2008). Direitos reservados.

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Notas de CV

(*) - Vd. útltimo poste da série de 16 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3135: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (11): Partida de Có para Mansabá

(1) - Vd. poste sobre outro grande ataque a Mansabá de 11 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2526: Estórias avulsas (14): Ataque ao Quartel de Mansabá (Inácio Silva)