1. Mensagem do dia 21 de Agosto de 2008, do nosso novo camarada José Manuel Matos Dinis. ex-Fur Mil CCAÇ 2679 Bajocunda 1970/71:
Caro Luis Graça e amigos:
Chamo-me José Dinis, integrei a CCAÇ 2679 no CTIG, durante os anos de 1970/71, como Fur Mil, Companhia que, inicialmente, desempenhou funções de intervenção no Sector Leste, baseada em Piche, onde estava o BART 2857, tendo passado ao regime de quadricula em Bajocunda, em Agosto de 1970, substituindo a CART 2438, sendo dependente do COT1.
Integrei o 2.º Pelotão, que comandei durante cerca de 18 meses, após a transferência compulsiva do meu grande amigo, o Alf Mil Eduardo Guerra.
O Grupo ficou conhecido por Foxtrot, e ganhou nomeada pela sua grande disponibilidade, entrega e arrojo. Ao nível da Companhia, regista o maior número de louvores e o menor número de porradas.
Em Piche fui dinamizador da estação de rádio ali criada, embora com a antena horizontal próxima do telhado de zinco para abafar as emissões. em virtude da falta de autorização para o efeito.
Em Bajocunda criei a jornal Jagudi, que expandia textos de diversos camaradas, bem como, por vezes, transcrevia artigos de orgãos da comunicação social. O Jagudi ganhou alguma notoriedade porque era lido pelo João Paulo Dinis no Pifas.
A Zona de Acção do Sector L-4 - Piche, onde fizemos intervenção, apresenta uma superfície plana de cerca de dois mil quilómetros quadrados, com a altitude média de sessenta metros, e uma cobertura vegetal dispersa, por vezes de savana, adensando-se nas proximidades dos rios. Tinha como limites a fronteira com o Senegal, entre os marcos 50 e 58, a norte, o Rio Corubal, até à Confluência do Rio Seli, o Rio Beli, até à confluência com o Rio Juba, o Rio Camidina,o Rio Cambajã, Cambajã (excl.), Canjamo (excl.), Sinchã Bebe (excl.), o Rio Délebel, o Rio Bidigr, o Rio Nhangurem, o Rio Chimanar, o Rio Rapael, o Nácia, o Bial, o Rio Corri, o Rio Nungajá, e o marco 63, regiões fronteiras à Guiné-Conakri.
A Zona de Acção de Bajocunda apresenta características idênticas às do Sector L-4 e estendia-se de Tabassi a Copã. Nestas regiões não havia instalações IN quer de carácter permanente, como provisório. A actividade do IN consubstanciou-se em acções contra a população(para roubar e intimidar), à implantação de engenhos explosivos em estradas e outras vias de acesso a povoações e a flagelações contra aquartelamentos das NT e aldeias em autodefesa. A única emboscada concretizada, não vitimizou o pessoal da Companhia.
A densidade populacional era elevada, tendo em conta a fertilidade do terreno e o clima relativamente favorável a fixação. Havia representantes de diversas raças: Fulas, em maioria absoluta, Futa-Fulas, Fulas-Forros, Fulas-Pretos, Mandingas, Panjandincas e Bambarancas.
O Fula não aceita outra religião para além do islamismo. Também era notória a sua preferência pela língua árabe, mesmo deturpada. O português, como língua falada, não era da sua preferência.
Os fulas, ardentes propagandistas do islão, propagavam a escolaridade em árabe. A população manifestava-se algo colaborante, mas assumia uma posição neutra em relação ao IN, de maneira a, agradando a uns, não desagradar aos outros.
A nossa missão era a de garantir a segurança nas regiões, através de patrulhamentos de prevenção às infiltrações do IN, assegurar a liberdade de movimentos nos itinerários, montagem de emboscadas, diurnas e nocturnas, em supostos lugares de passagem ou penetração do IN, apoios e contactos com as populações, relativamente a acções de indole psicológica ou sanitária.
A actividade do IN surpreendeu-me por alguma passividade e, para isso, tenho a minha interpretação;
Em 1969, após o nosso abandono da região do Boé, e como estruturação do IN para o objectivo da independência, alguns dos seus quadros terão rumado aos países que lhes davam formação, pelo que essa mobilização - que não posso garantir, mas parece ter acontecido - reflectiu-se na abrandamento da guerra, que se acentuou a partir dos finais de 1972.
Para esta caracterização apouei-me na História da Companhia. Afinal, uma boa parte das Companhias dispersas pelo território do CTIG tiveram funções semelhantes, mas nomeá-las tem a intenção de recordar ou reportar algumas das tarefas do quotidiano, alguma caracterização antropológica, alguma sensibilidade sobre o relacionamento das partes envolvidas.
Lanço o repto a outros mais capazes, de divulgarem os conhecimentos que tenham relativamente a estas matérias, com o óbvio fim de ajudar à melhor compreensão de factores endógenos, que influenciaram o desenrolar dos acontecimentos.
Pronto, fiz a minha apresentação, e peço que me considerem como membro da Tabanca Grande. Quero despedir-me com um abraço aos amigos.
Cascais, 2008.08.21
2. Comentário de CV:
Caro José Manuel Dinis,
Estás formalmente apresentado à nossa Tabanca Grande. Não tinhas que pedir para ser membro do nosso Blogue. A nossa porta está sempre aberta para qualquer ex-combatente da Guiné e amigo da actual Guiné-Bissau.
Começaste da melhor maneira, apresentando-te a ti e à tua Companhia, e caracterizando a vossa Zona de Acção.
Esperamos agora as tuas estórias e as tuas fotos para assim aumentar o espólio do nosso Blogue.
Deixo-te, em nome dos editores da restante tertúlia, um abraço de boas vindas.
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