segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Guiné 63/74 - P3128: Antropologia (8): Exposição Bijagós no Museu Afro Brasil, São Paulo

Mensagem do dia 22 de Julho de 2008 da Casa da Guiné em Coimbra (1), recebida no nosso Blogue:

Exposição Bijagós - A arte dos povos da Guiné-Bissau, no Museu Afro Brasil
São Paulo, início 19 de Julho de 2008








Máscara Vaca-Bruto, madeira policromada, chifre, vidro e fibra vegetal



Bijagós: mestres da escultura

A Associação Museu Afro Brasil e a Secretaria de Estado da Cultura apresentam a exposição Bijagós – a arte dos povos de Guiné-Bissau, em cartaz no Museu Afro Brasil de 19 de Julho a Novembro de 2008. São exibidas 78 peças de uso ritualístico e em festividades, todas elas recém adquiridas pela instituição. Com curadoria de Emanoel Araújo, a mostra reúne máscaras, adornos de cabeça, de costas e de braço, estatuetas, lanças e espadas confeccionadas pelos povos Bijagós, habitantes das ilhas da costa de Guiné-Bissau, na região mais ocidental do continente africano. A exibição é acompanhada de catálogo, textos de parede e acções educativas.

As obras produzidas pelos Bijagós têm o reconhecimento crítico internacional pelas qualidades e particularidades escultóricas. A equipa do Museu Afro Brasil criou vitrinas especialmente para a exposição em uma das salas no primeiro pavimento da instituição.

A exposição, segundo Emanoel Araújo, centra-se mais nos aspectos artísticos do que em questões antropológicas. As peças, adquiridas em Portugal, proporcionam ao público uma visão abrangente do que os Bijagós realizam artisticamente e para efeitos de religião e festividades.

O encanto das obras atrai o espectador pela habilidade técnica, uso de materiais diversos e as representações às quais recorrem os povos Bijagós. As referências à natureza nas peças são abundantes. Muitas obras, feitas com madeira, fibras vegetais, tecidos e metais, remetem aos tubarões, peixes-serras, vacas, hipopótamos, pelicanos, etc. Chamam a atenção ainda o domínio das cores e a liberdade expressiva.

Para o professor da Universidade Nova Lisboa, membro da Academia de História e da Academia Nacional de Belas Artes de Portugal, Mário Varela Gomes, a actividade artística dos povos Bijagós não é uma profissão, mas uma vocação que responde ao carácter sócio-religioso. Em texto produzido para a exposição no Museu Afro Brasil, afirma que:

- Podemos concluir que a florescência artística dos Bijagós, documentada ao longo de mais de um século, onde a fantasia, a exuberância e a liberdade se fundem e tanto a caracteriza, se deve à presença do mar como elemento dominante da cultura.

Obras expostas

Lanças e espadas
São esculpidas em madeira e utilizadas em cerimónias tanto por rapazes como pelas jovens. A decoração é feita com cores ou escurecidas a fogo. Medem de 1,10 a 1,60m.

Máscaras
Muito frequentes nas festividades, a mais divulgada é a designada por Vaca Bruto, que representa uma cabeça de boi. Talhada em madeira, com chifres autênticos, olhos de fundos de garrafa. Há máscaras que representam ainda tubarões, porcos, hipopótamos e outros animais.

Adornos de cabeça para dança
Os adornos revelam bem a fantasia e a liberdade de temas escolhidos pelos Bijagós. São confeccionadas com madeira policromada, fibra vegetal, tecido, chifre, couro.

Adornos de costas para dança
São utilizados em festas e alguns medem mais de um metro de comprimento. A variedade na representação é grande: tubarão, pássaro, barco, vaca, hipopótamo. São realizados com madeira policromada, tecido, fibra vegetal e espuma.

Adornos de braço para dança
Discos de madeira com orifício central utilizados pelas moças e rapazes dos povos Bijagós. O material utilizado para a confecção das peças é a madeira policromada e entalhada.

Estatuetas
As peças pertencentes ao acervo do museu representam figuras femininas. As esculturas foram feitas com madeira e têm carácter religioso.







Adorno de Braço Egborá, madeira policromada




Os Bijagós somam mais de 27 mil pessoas e integram a República da Guiné-Bissau, situada na costa ocidental africana, banhada pelo Oceano Atlântico. Os povos encontram-se milenarmente em cerca de 88 ilhas e ilhotas próximos do estuário do Rio Geba, o qual banha a capital do país, Bissau. Guiné-Bissau, ex-colónia portuguesa declarou independência unilateralmente em 1973, após conflitos violentos.

Os Bijagós têm uma língua própria, apesar de o português ser considerado de domínio nacional. A palavra a qual dá nome à cultura significa o povo perfeito.

A Unesco reconheceu a região como Reserva Biosférica em 1996.





Máscara Égomore, madeira policromada e fibra vegetal



Mesmo com o esforço secular da islamização e da cristianização, a maioria dos povos Bijagós possui uma religião em que a divindade suprema é Nindo ou Iani, o que se traduz em o céu ou a claridade solar. O papel protagonista da mulher é fundamental para a compreensão da religião.

Há estudiosos que creditam aos Bijagós o termo de escultores dos espíritos pelo domínio técnico, artístico e religioso conferido aos objectos sacros ou receptáculos, conhecidos como irãs.

Entre os Bijagós há oito classes de idades que correspondem a períodos de evolução espiritual e social. Os objectos exibidos na exposição do Museu Afro Brasil podem servir de exemplo para a compreensão de suas particularidades e utilizações por faixa etária e de sexo em rituais específicos de passagem de uma faixa etária à outra, que varia segundo o gênero. Os Bijagós acreditam que depois da morte a alma vagueia na selva até assentar-se numa escultura, que também é chamada de espaço estável.
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Notas de CV

(1) - Vd. poste da tomada de posse do Doutor Julião Soares Sousa como Presidente da Casa da Guiné-Bissau em Coimbra, de 8 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3033: Convite (6): Tomada de posse dos Orgãos Sociais da Casa da Guiné-Bissau em Coimbra

(2) - Vd. último poste da série 23 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3089: Antropologia (7): As tabuinhas das escolas corânicas: tradutor de árabe, precisa-se (A. Santos / Luís Graça)

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