quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5219: Agenda Cultural (41): Os nossos camaradas Gidelda Pessoa, V. Barata e M. Rebocho na RTP1 (António Dâmaso)

1. Mensagem do nosso tertuliano e camarada António Dâmaso*, Sargento-Mor da FAP na situação de Reforma Extraordinária, com data de 5 de Novembro de 2009:

Caro Carlos Vinhal,
Saudações muito especiais para todos os responsáveis pelo Blogue.
Também quero saudar todos os ex-combatentes, independentemente da Arma e do posto, que prestaram serviço no Ultramar.

Carlos,
Fiquei comovido pela forma como saudaste o Victor Barata pela sua intervenção no Programa Portugal no Coração, na RTP 1 no dia 4 de Novembro de 2009, pelas 16 horas.

O Victor comoveu-se, mas disse aquilo que sentiu e presenciou na altura em que, apenas com 19 anos, foi obrigado a viver.
Sabia que o Victor Barata ia ao programa e fui dar o meu passeio antes para poder assistir. Estive do principio ao fim, apesar de tudo e do Rebocho, por último, ter estado no Exército, pelo facto dos Pára-quedistas terem passado da FA para o Exército. Acho que deveriam ter estado elementos da Marinha e do Exército.
Também reconheço que eles não se esqueceram destes militares.

Fui contactado por televisões, mais que uma vez, para me pronunciar sobre a minha vivência no Ultramar, nomeadamente no caso Guidage, por eu ser na altura o Comandante do Pelotão dos 3 Páras que ficaram sepultados lá em Guidage.
Declinei sempre por não ser capaz de falar sobre o assunto frente a câmaras de televisão, sofro de stress pós traumático de guerra e isso diz tudo.

Graças a Deus que os restos mortais destes jovens já se encontram junto das famílias. Sempre que passo em Castro Verde vou fazer continência ao Vitoriano, não esquecendo os outros que naquele dia se despediram desta vida, em honra da Pátria. Quis o destino que eu não tivesse lá ficado com eles, pois corri os mesmos riscos.

Porque estive em Galomaro e Dulombi em 1969; em Guileje; na operação Nó Górdio em Moçambique em 1970; novamente na Guiné em Caboxanque e Cadique em 1972 e 1973; em Bigene, Binta, Guidage e Gadamael Porto em 1973, vivi em valas e abrigos que muitas vezes tive de cavar.

Não só por ter sofrido na pele tudo isto, embora por períodos que não ultrapassavam três meses, sei dar o valor ao que sofreram todos os que foram obrigados a longas permanências nestas condições, e por isso vou aqui citar o que em tempos escrevi.

"O meu pensamento hoje vai para aquele soldado desconhecido, digo eu, refiro-me aquele militar com ou sem patente, que estava lá, contribuía com o seu esforço para o conjunto, tal como formiga obreira, mas que por não ter cunhas, não ser engraçado nem engraxador, via as benesses passar-lhe ao lado, sem prémio Governador da Província, promoções, férias, etc, no entanto lá ia procurando manter-se vivo, com a agravante de ser obrigado a viver em buracos sem as condições mínimas".

Um Alfa Bravo do camarada António Dâmaso,
Sargento Mor Pára.


2. Comentário de CV:

Caro camarada e amigo Dâmaso
Por pudor não vou reproduzir aqui a mensagem que enviei ao Victor, a quente e na mais simples condição de ex-combatente anónimo. O tal anónimo que tão bem descreves.

Mandei uma mensagem semelhante à nossa querida amiga Giselda, dizendo-lhe que quem esteve no Primeiro Canal da RTP, representou cabalmente todos os militares que combateram na Guiné.

Pena que aquele programa, tendo um carácter tão aligeirado, não esteja vocacionado para tratar assuntos tão sérios. Prova disso, foi a reacção espontânea da Tânia, que não tendo preparação jornalística, não conseguiu esconder umas lagrimazinhas que por simpatia soltaram as minhas.

Fiquei também com a ideia de que conseguimos comover as pessoas, mas não nos conseguimos fazer entender. Como alguém lá disse, só um ex-combatente consegue compreender outro ex-combatente. E claro, as nossas famílias. A minha mulher ainda hoje diz que começou a namorar com um homem, e casou com outro totalmente diferente.

Realidades que cada um para si mesmo ou com o seu agregado, vai vivendo até ao fim do percurso terrestre. Aí voltará definitivamente a paz de espírito ou lá o que se queira chamar.

Para ti, um abraço fraterno.
CV
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 2 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4766: Notas de leitura (13): "Os Anos da Guerra Colonial" e as suas incorrecções (António Dâmaso)

Vd. último poste da série de 4 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5207: Agenda Cultural (40): Os nossos camaradas Giselda Pessoa, V. Barata e M. Rebocho, hoje, 16h, RTP1, Portugal no Coração

Guiné 63/74 - P5218: Historiografia da presença portuguesa em África (29): Bolamense: Um mensário para tirar a ex-capital da Guiné do abatimento (Beja Santos)


1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Novembro de 2009:



Camaradas,

Este Bolamense foi para mim uma revelação, sobretudo pela qualidade das fotografias, muitas delas de elevada qualidade. Findo por aqui esta incursão pelos jornais guineenses, era bom que os outros tertulianos escrevessem sobre o Arauto de Bissau, não consegui encontrar nada de jeito, desapareceu ainda nos anos 60. Tendo o Bolamense findado em 1972, questiono que outras publicações regulares houve na Guiné, até 1974, para além do Boletim Oficial e do Boletim Cultural.


Foto 1 - Guiné-Bissau > Bolama > s/d > Cais > Uma canoa Inhominca, para transporte de passageiros

Bolamense: Um mensário para tirar a ex-capital da Guiné do abatimento


O mensário que começou por se publicar regularmente no primeiro dia de cada mês, em Bolama, em 1956, foi, a diferentes títulos, uma publicação periódica de grande significado no panorama editorial guineense, no último período colonial. Muitos dos tertulianos conheceram-no, sobretudo em Bolama e arredores. Apresentava-se como órgão de propaganda regional, de cultura e de turismo.

Tal como o “Arauto” de Bissau, não enganava quanto aos intuitos nacionalistas: reproduzia as idas e vindas do Governador, transcrevia na íntegra os discursos de Salazar, noticiava os grandes eventos civis e militares da província. Leopoldo Amado no seu indispensável ensaio “A Literatura Colonial Guineense” chama a atenção para alguns dos seus aspectos mais originais.

Se é verdade que o Arauto era um misto de divulgação missionária e de conúbio com o regime de Salazar e acolheu a opinião de figuras culturais da colónia como Fausto Duarte, Juvenal Cabral ou Caetano Filomeno Sá, o “Bolamense” teve o mais sério impacto cultural e literário, acolhendo poetas que aqui cantaram as delícias da velha cidade.

Quem viveu em Bolama lembra-se da sua bela arquitectura, com destaque para o Hotel do Turismo, o Palácio do Governador e os edifícios da Administração, isto para já não falar na praia de Nova Ofir e outros pontos de inegável beleza paisagística que interessava divulgar para captar potenciais turistas.

O Bolamense vendia-se a 2$50. Certamente que a redacção tinha bom entendimento com o Centro de Estudos da Guiné Portuguesa pois reproduziu muitas imagens e algum texto do seu Boletim Cultural caso da imagem que agora se publica “Tatuagem de rapariga manjaca”.

À semelhança do “Notícias da Guiné”, tinha noticiário regional, com destaque para os principais eventos (que até incluíam a chegada de navios, palestras, inauguração de infra-estruturas e as formaturas e desfiles da Mocidade Portuguesa), noticiário desportivo, necrologia e publicidade.

Quando Raul Ventura foi Ministro das Colónias, fez uma grande cobertura à possibilidade de haver petróleo na Guiné. Publicava muitas vezes poesia de intelectuais locais, mas seguramente que o director gostava muito de Fernando Pessoa, numa altura em que este gigante da literatura era escassamente conhecido entre nós, teve muitos poemas seus publicados no Bolamense.

Extinguiu-se em 1972, Bolama ficou sem jornal. A Bolama que procurou resistir até ao fim para não ser um apêndice de Bissau, usara este mensário para saber que estava bem viva com os seus monumentos históricos e as suas atracções turísticas.

Folheando este mensário, descobre-se uma cidade hoje reduzida a um escombro, que viveu a nostalgia de ter acolhido os escritórios da Pan American e os seus hidroaviões, o mais rico património da região e que levantara o nosso orgulho pátrio quando um presidente dos Estados Unidos (Ulysses Grant) dirimiu a nosso favor a “Questão de Bolama”.



Foto 2 - Tatuagem de rapariga manjaca

Um abraço,
Mário B. Santos,
Alf Mil, Cmdt do Pel Caç Nat 52


Foto 1: © Mário Beja Santos (2009). Direitos reservados.
Foto 2: © Patrício Ribeiro (2009). Direitos reservados.
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Notas de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

Guiné 63/74 - P5217: Blogues da Nossa Blogosfera (24): Do Tejo ao Rovuma (Cabo Delgado, 1971/73), de Carlos Vardasca



1. O nosso Camarada-de-armas Carlos Vardasca, que foi Soldado Condutor Auto na Companhia de Caçadores 3309 em Moçambique - 1971-1973 -, enviou-nos uma mensagem, convidando-nos a visitar o seu blogue, com o seguinte teor:


Do Tejo ao Rovuma


Caros amigos ex-Combatentes,

Gostaria de vos dar a conhecer o blogue http://dotejoaorovuma-cabel.blogspot.com, que retrata a vivência da Companhia de Caçadores 3309, durante a Guerra Colonial, mais concretamente no norte de Moçambique (Cabo Delgado), junto à fronteira com a Tanzânia e nos Aquartelamentos de Nangade, Nova Torres, Tartibo e, mais para sul, em Balama.

O presente blogue surgiu em 30 de Abril de 2007, tendo mantido uma actividade relativamente regular, descrevendo pequenas histórias e experiências, algumas delas dramáticas, da permanência da C.CAÇ. 3309 numa das zonas mais conflituosas de Moçambique, o Planalto dos Macondes.

A C.CAÇ. 3309 pertencia ao Batalhão de Caçadores 3834, que foi formado em Chaves, tendo embarcado no navio Niassa (Cais de Alcântara) no dia 24 de Janeiro de 1971 e regressado de Moçambique, por via aérea, em 06 de Março de 1973.

Sofreu 19 baixas (4 da C.CAÇ. 3309, 14 da C.CAÇ. 3310 e 1 da C.CAÇ. 3311) e 90 feridos (3da CCS, 23 da C.CAÇ. 3309, 44 da C.CAÇ. 3310 e 10 da C.CAÇ. 3311).

Na eventualidade de o consultarem e reconhecerem nele algum texto, que vos mereça algum interesse editar nas vossas páginas, tereis toda a liberdade de o fazer, pois a troca de vivências que nos foram comuns, nos diversos teatros de guerra, contribuirá decerto, para que não se apague da memória um conflito que “adiou o futuro de muitos jovens que nele participaram” e “interrompeu a de tantos outros que dele não regressaram”.

Um abraço a todos vós,

Carlos Vardasca
Ex-Soldado Condutor Auto
Da Companhia de Caçadores 3309
Moçambique 1971-1973
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:


Guiné 63/74 - P5216: Tabanca Grande (185): Arménio Santos, ex-Fur Mil de Rec Inf, Aldeia Formosa, 1968/70

1. Mensagem de Arménio Santos, ex-Fur Mil de Rec Inf, Aldeia Formosa, 1968/70, com data de 3 de Novembro de 2009:

Senhor Luís Graça
Permito-me enviar-lhe duas fotos e alguns dados relativos à minha condição de ex-combatente da Guiné, esperando que correspondam à V/praxe, e candidato a entrar no V/blogue.
A recomendação é do Prof. Jorge Cabral, da Universidade Lusófona.

Um abraço
Arménio Santos


Arménio Santos - Apresentação

Foi Furriel Miliciano, especializado em Informações e Acção Psicológica, destacado em Aldeia Formosa – Quebo, entre Outubro de 1968 e Novembro de 1970.

Esteve em rendição individual e, como responsável pelo SIM - Serviço de Informações Militares, trabalhou com os, então, Major Carlos Azeredo, Tenente Coronel Carlos Hipólito e os Majores Pezarat Correia e Mexia Leitão.

Fez a recruta na EPC – Santarém, em Julho de 1967 e a Especialidade em Reconhecimento e Informações no CISMI, em Tavira, Setembro de 1968.

Bancário, do BPA e do Millennium BCP, foi presidente do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas.

Hoje é Deputado na Assembleia da República, pelo PSD, e Secretário-Geral dos TSD – Trabalhadores Social Democratas.

Reside em Oeiras.
Email: armeniosantosnaguine@gmail.com


Uma história

Aldeia Formosa era um aquartelamento onde se concentravam muitos efectivos militares. Primeiro era o COSAF – Comando Operacional do Sector de Aldeia Formosa e depois passou a sede de Batalhão, tinha várias unidades de milícias nativas e era placa giratória de tropas especiais envolvidas em operações na zona de GuilegeGadamaelSalancaur Sul.

Havia, portanto, muitos militares.

O rancho nem sempre era famoso. Pelo contrário. E quando havia oportunidade para fazer um churrasco, especialmente furtivo, para além de se variar do prato habitual, era uma oportunidade fantástica para confraternizar, esquecer os riscos e o isolamento em que se vivia e partilhar pedaços da vida pessoal e familiar de cada um.

Só que, o churrasco nem sempre era conseguido pelas melhores vias. Algumas vezes lá ia uma vitela, um porco ou um cabrito à “revelia” do dono. O que era furtado tinha outro gosto.

Num desses casos, o Cherno Rachid, o chefe religioso dos Fulas, cuja influência ultrapassava as fronteiras da Guiné-Bissau e era reconhecida desde a Gâmbia à Costa do Marfim, com quem eu trabalhava estreitamente mercê da minha função, e com o qual as tropas portuguesas tinham as melhores relações, mandou o Bubacar Jaló chamar-me que desejava falar comigo.

Pensei que se tratava de mais um dos muitos contactos que tínhamos sobre as actividades do IN ou sobre os problemas na Tabanca.

Quando cheguei percebi logo que o assunto teria de ser outro. O Cherno Rachid não estava sozinho, como era normal naqueles casos de trabalho, estava rodeado por um grupo de “Homens Grandes” e uma bajuda. Bastante bonita, por acaso.

Que assunto pretendia tratar o Cherno Rachid? Simplesmente que eu resolvesse o problema de um dos “Homens Grandes” presentes, que tinha ficado sem uma vitela no dia anterior e que tinha sido comida no quartel.

Que provas tinha o “Homem Grande”?

A bajuda foi a fonte da informação, ingenuamente. Era lavadeira do Delfim, que era dos lados de Matosinhos, a quem ele dera um enorme pedaço de vitela, para ela e para a família, e a quem se vangloriara da sua façanha.

A bajuda tentou dizer alguma coisa, mas os olhos do Cherno e dos outros mantiveram-na no silêncio, tal como eu também não a questionei. Ela estava ali porque o marido, um dos “Homens Grandes” presentes, também tinha comido do naco de carne que o Delfim deu à bajuda. Só que - e aqui é que está o problema - a vitela que o Delfim tinha desviado era, nem mais nem menos, do “Homem Grande” da sua lavadeira.

Postas as coisas neste pé, falei com o Delfim.

Não havia outra coisa a fazer senão remediar o que ele e os seus amigos fizeram. O Delfim não negou e pagaram o triplo do valor normal da vitela, para exemplo.
O Cherno Rachid esteve presente quando acompanhei o Delfim a sua casa, para ele entregar o dinheiro ao dono da vitela.

Esse sentido de justiça foi registado pelo chefe religioso, o Delfim não gostou de pagar aquilo que já considerava uma “conquista”, mas, por mais estranho que pareça, ficou amigo do “Homem Grande” a quem desviara a vitela e ainda mais amigo ficou da sua bajuda lavadeira.

Só a mim o Delfim passou a chamar-me o “turra branco”. Mas também por pouco tempo. Umas cervejas e a camaradagem trouxeram ao de cima os traços de amizade que só num ambiente daqueles são cimentados.


2. Comentário de CV:

Caro camarada Arménio Santos
Em nome da tertúlia e em particular dos editores do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, estou a receber-te na nossa caserna virtual.

Cumpriste as rigorosas formalidades para ingresso, as fotos da praxe e a jóia, uma pequena história para apresentação.

Dizes que és amigo do nosso camarada Jorge Cabral. Por si só essa qualidade acarreta uma grande responsabilidade. Se não conheces, aconselho-te a ler todas as (mais de cinquenta) Estórias Cabralianas de sua autoria, publicadas no nosso blogue, para teres a percepção do que foi o outro lado da guerra, coisa que poucos de nós ou ninguém conhecia, porque Jorge Cabral só há um. Quem tem um amigo assim, não precisa de muitos mais.

Deves ter reparado que por aqui, pela Tabanca Grande, andamos perfeitamente à vontade. Nada de senhores, você para aqui, doutor para acolá. Porquê? Porque somos verdadeiros camaradas, daqueles que pisaram o mesmo chão barrento, alagado e minado; que beberam a mesma água salobra; que comeram o mesmo peixe da bolanha; que transpiraram aquele suor pegajoso e foram mordidos por aquela imensidão de mosquitos. Que mais poderemos ter em comum? Aquela amizade que nos torna naquilo que define esta palavra só nossa, camarigos. O nosso camarada e amigo Mexia Alves inventou esta palavra para definir o laço que nos une em volta de um passado comum e inesquecível.

Suponho que saberás que o fim último do nosso Blogue é criar um espólio de histórias e fotografias da nossa experiência enquanto combatentes da Guiné. Trocamos ideias, concordantes ou não, respeitando as diferenças, sejam elas de opinião, religião, política e outras.

Respeitamos a soberania da Guiné-Bissau não interferindo de modo nenhum na sua política interna, desejando sempre o melhor para aquele povo irmão, tão sofredor.
Porque somos bem recebidos quando lá vamos, por gente comum e autoridades, desejamos a todos, que o país saia o mais rapidamente possível daquela situação.

Caro Arménio, a tua actividade não permitirá muito tempo disponível para colaborares connosco, mas faz um esforço e não deixes que outros contem as tuas histórias. É uma variante de serviço público, este blogue. Repara no número de visitas. Somos muitos e... bons.

Em nome da tertúlia e dos editores, envio-te um abraço de boas-vindas.

O teu camarada
Carlos Vinhal
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Notas de CV:

Vd. último poste da série de 1 de Novembro de 2009 > Guné 63/74 - P5188: Tabanca Grande (184): Belmiro Tavares, ex-Alf Mil, CCAÇ 675 (Binta, 1964/65)

Guiné 63/74 - P5215: Notas de leitura (33): Em Nome da Pátria, de João José Brandão Ferreira (Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Novembro de 2009:

Carlos e Luís,
Já fiz o meu dever cívico de ler esta chumbada, um libelo indescritível, supunha que já não havia gente capaz de manipular a história contemporânea.
Ando a ler livros curiosos, mas peço-vos compreensão para o meu silenciamento nas próximas semanas.
Se, por acaso, houver algum tertuliano que tenha lido estas 500 páginas e me queira interpelar, esclareço que estarei disponível dentro de poucas semanas.

Um abraço de estima para todos,
Mário


Em Nome da Pátria:
A nostalgia e o nacionalismo patético dos órfãos do Império

Por Beja Santos

As teses de “traição” e “abandono criminoso” do Império Colonial são muito caras aos nacionalistas (civis e militares) de diferentes matizes. Não se pense que se trata de uma coqueluche da extrema-direita. Frequentemente, os defensores dessas teses dão clamorosos tiros nos pés, a pretexto de uma data ou até do desaparecimento de uma figura insigne, ligada à Guerra Colonial. Quando faleceu o brigadeiro Hélio Felgas vi escrito em blogues louvores ao seu portuguesismo indefectível, à sua crença inabalável pela integridade ultramarina. Seguramente que os autores de tais laudes não leram tudo quando escreveu o oficial general. Pegaram em livros antigos ou em lições que ele deu na Academia Militar, colaram-no à Pátria heróica atacada por inimigos de Portugal (os oposicionistas ao regime, pois claro). Em 1995, surgiu o livro “Os últimos guerreiros do Império”, da Editora Erasmos, com a coordenação de Rui Rodrigues. Afinal, a tal sustentabilidade da guerra não era aceite por Hélio Felgas, como ele depõe: “No final de 1968, enviei um relatório ao general Spínola onde defendia que a concessão da independência à Guiné Portuguesa, não iria agravar, antes pelo contrário, a situação em qualquer das outras Províncias Ultramarinas”. Ele fazia o seguinte diagnóstico: “O inimigo está demasiado bem armado, bem apoiado pela população, bem organizado e bem enraizado num terreno que lhe é favorável... Há que abandonar radicalmente largos pedaços do território e concentrar os meios em áreas reduzidas que deverão ficar totalmente passadas a ferro... Há que empregar largamente os desfolhantes e outros agentes químicos que destruam as culturas”. E profetizava: “Estamos à espera que o IN adquira suficiente estatura e capacidade militar para correr connosco”.

É longa a bibliografia de todos aqueles, mais ou menos estrénuos defensores do regime de Salazar e Caetano, que escreveram sobre a traição inerente ao processo de descolonização. De um modo geral, como a historiografia recente tem posto a nu, as teses de sustentabilidade da guerra ou de “vitória traída” estão desmascaradas. Ter a desfaçatez de pegar em literatura antiquada, retorcer a argumentação e falar em rendição incondicional, é um puro “chapéu velho” à procura de saudosistas e náufragos do nacionalismo sem mestre nem bússola.

Um tenente-coronel piloto aviador pega em literatura paroquial gasta e põe-na ao serviço da tese do abandono das nossas províncias ultramarinas, dá como demonstrado que Portugal fez uma guerra justa e de que não soubemos merecer os nossos antepassados, abandonando da forma mais iníqua alguns pedaços da Pátria (“Em Nome da Pátria”, por José João Brandão Ferreira, Publicações Dom Quixote, 2009).

Para o autor, a compreensão de uma guerra justa, como aquela que travou Portugal entre 1961 e 1974, exige enquadramento geopolítico e geoestratégico a partir do fim da Segunda Guerra Mundial. O argumento científico toma-se como sério, à partida. Nada se pode entender na contemporaneidade sem perceber como emergiu uma atmosfera anticolonial dominada pelas superpotências. No entanto, o autor escreve calmamente falando de 1974 e a nossa Guerra Colonial: “A situação militar em Angola estava resolvida; em Moçambique havia alguma actividade guerrilheira, sobretudo nos distritos de Cabo Delgado e Tete; e na Guiné tinham surgido algumas dificuldades”. Como estou a escrever para gente crescida, que até combateu na Guiné, não adianto mais nada. O que o autor descreve sobre a situação interna portuguesa, nessa altura, podia ter sido editado pelo SNI. O regime de Salazar descrito por este oficial da Força Aérea vivia no melhor dos mundos possíveis, tinha ordem e um Presidente de Conselho com músculo. Foi Marcelo Caetano quem veio desaustinar a coesão ideológica, trouxe a perturbação de conceitos, dividiu os bons portugueses, deu argumentos aos inimigos da Pátria (a oposição, obviamente). Como se estivesse a fazer um relatório para a tropa, fala de um Ultramar risonho e de movimentos subversivos acantonados nos países limítrofes. Não havia nacionalistas nesses movimentos de libertação, só agentes da subversão espicaçados por Moscovo. Tudo isto é dito e escrito com estrofes de Os Lusíadas. Toda esta guerra foi de baixa intensidade, de custo muito barato, progressivamente africanizada, isto sem minimizar que havia cansaço, cepticismo e a descrença que gradualmente se instalou na metrópole. O autor não diz, foi pena não se ter debruçado sobre esse ponto, mas as altas figuras do regime tudo fizeram para obstar que os seus familiares dessem com o corpinho no teatro de operações. Com honrosas excepções, adiante-se.

O capítulo “Da justiça e do direito da guerra” não se desenvolverá aqui, por se tratar de matéria cultural de incontestável valor mas que não abona nem desabona para o desfecho da Guerra Colonial. Era a mesma coisa que escrever a história exaustiva dos diferentes movimentos anticolonialistas para demonstrar que todos eles tinham legítimos direitos a obter a independência dos territórios reivindicados. Não basta dizer que o Ultramar veio sempre consagrado nas constituições portuguesas. Interessava explicar, por exemplo, porque é que as constituições do século XIX não falavam da Guiné, falavam de Bissau e Cacheu; goste o autor ou não, mesmo que o facto ofenda o seu acrisolado nacionalismo, a presença portuguesa na Guiné foi sempre mínima, houve rebeliões até 1936, a colónia teve as últimas fronteiras definidas em 1886, e em 1950, quando a população já era superior a meio milhão, pelo menos 97 % não falava português.
O autor devia recusar-se a falar do que não sabe ou, pelo menos, nunca falar na verdade histórica. Marcello Caetano tinha uma governação que, no campo económico e financeiro, atingiu no final de Março de 1974, o inviável, com a inflação em dois dígitos gordos, o mais trágico desequilíbrio da balança de pagamentos de sempre, o patronato à bulha, os sindicatos em greves, etc. Não se está a falar nas tensões em que se envolveram as Forças Armadas, a Academia Militar sem cadetes, a descolagem definitiva de Nixon e Kissinger, os aliados ocidentais que nos deixaram ao abandono. A economia caminhava para a ruptura, e quem o escreveu foi Dias Rosas, Ministro da Economia e das Finanças de Caetano.

Mas também a diplomacia portuguesa já não podia estar à altura do seu melhor porque a conjuntura internacional era totalmente desfavorável a Portugal, até a Espanha e o Brasil tinham desertado. É patético pôr em cima da mesa as relações amigáveis de Portugal com a Etiópia, a Tailândia, as Filipinas e o Paquistão. É inacreditável escrever-se que mantínhamos os apoios indispensáveis, que os nossos inimigos eram constituídos pelos comunistas e pelo bloco afro-asiático: basta ver quem reconheceu, até 25 de Abril de 1974, a República da Guiné-Bissau. Uma guerra é militarmente insustentável quando não se tem equipamento/armamento, contingentes, tecnologia, comparáveis aos do inimigo, nem a perspectiva de ter. Não tínhamos perdido só a supremacia aérea na Guiné, estava em marcha um plano de abandono ou retirada de um elevado número de quartéis e povoações que não podiam corresponder ao fogo mortífero dos morteiros de 120 mm. Está escrito, mas o autor não é capaz de tirar conclusões. A guerra deixara de ser sustentável, económica e militarmente. Um Presidente de Conselho que dá luz verde a conversações secretas com o PAIGC para chegar rapidamente a um cessar-fogo e ao reconhecimento da independência da Guiné não está propriamente a viver nesse melhor mundo que o autor desenha para gáudio da sua volátil teoria de traição e abandono. Não desistimos da guerra, como toda a historiografia recente tem evidenciado, por causa do PCP, dos dois mortos por dia, das despesas militares ou pela subversão do pensamento de Salazar. Desistimos porque a causa da libertação dos povos africanos foi muito mais poderosa que os erros políticos praticados. Quanto mais erros, quando mais cegueira política, menor é o campo de manobra para negociar de forma a acautelar interesses legítimos, e houve muitos interesses legítimos que foram mal tratados no turbilhão dos acontecimentos posteriores ao 25 de Abril.

Brandão Ferreira escreveu mais de 500 páginas de uma obra parada no tempo, manipuladora, desajustada à compreensão dos factos conducentes tanto ao 25 de Abril como à descolonização. Ninguém invoca a verdade histórica e condiciona os testemunhos; ninguém substitui a verdade histórica para escrever um manual de catequese, recorrendo ao testemunho do inspector da PIDE que até insinua a importância de Os Protocolos dos Sábios de Sião na política internacional (como se sabe, é uma das mais execráveis do racismo). Se veio à procura do escândalo, desiluda-se, o mercado livreiro está cheio de chapéus velhos e ele não será o último autor inconformado com a “perda das colónias”. Não combateu, não ouviu nem consultou as diferentes fontes. Pode dar-se por contente por ter andado a escrever um livro ressabiado para um auditório de ressabiados que lhe vão bater as palmas, sem pedir contas pela verdade histórica.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 3 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5198: Notas de leitura (32): A Marinha em África, Angola, Guiné e Moçambique, de John P. Cann (Beja Santos)

Guiné 63/74 - P5214: O nosso blogue em números (1): Os cinco postes mais comentados do mês de Outubro de 2009





1. Texto do editor L.G.:

No mês transacto, publicaram-se 150 postes (do P5038 a P5187), o que dá uma média de 5 postes por dia (4,8).

No ano em curso já se publicaram até hoje 1520 postes, mais 233 do que em todo o ano transacto (n=1287), e quando ainda faltam 53 dias para terminar o 2009.

A média diária de postes publicados em 2009 é de 5 (4,9), superior à ano passado (3,5) e muito superior à de 2007 (2,7).

No período de 27/9 a 1/11/2009, a semana mais produtiva foi a de 4 a 10 de Outubro, com um total de 45 postes (6,4 por dia) (Gráfico 1).

Tome-se como termo de comparação as duas semanas do ano em curso, em que atingimos o máximo e o mínimo:

29/3 a 4/4/2009 - 50 postes
30/8 a 4/9/2009 - 20 postes


Relativamente aos postes publicados, de 1 a 31 de Outubro (n=150), fizeram-se 565 comentários, ou seja, menos de 4 por poste (3,8) e 18 por dia (18,2)... Os cinco postes mais comentados (*) constam do Gráfico 2.

Claro que estes dados estatísticos, relativos à nossa produção bloguística, são uma mera curiosidade. Dão, em todo o caso, uma ideia do nível de participação dos amigos e camaradas da Guiné, sem contudo poderem revelar a qualidade dos nossos escritos e o elevado civismo, tolerância e camaradagem de que todos os dias damos aqui provas. É uma lição para a blogosfera lusófona e até para muitos sectores da vida política e social portuguesa... Um ou outro comentário mais destemperado é apenas a excepção que confirma a regra. E a verdade é que é raro os editores usaram a perrogativa que têm, de eliminar os comentários que não obedecem às nossas regras de convívio.

À nossa Tabanca Grande, aos membros do nosso blogue, aos nossos leitores, a todos os que nos visitam, lêem e escrevem, aos nossos editores: um especial OSCAR BRAVO (obrigado). Aos autores mais comentados, os meus parabéns. LG

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Nota de L.G.:

(*) Vd. postes:

6 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5058: In Memoriam (33): Alferes Henrique Ferreira de Almeida, morto em combate em 14JUL68 em Cabedu (J.A. Pereira da Costa)

19 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5132: Humor de caserna (13): Rambo uma vez, rambo para sempre (Joaquim Mexia Alves)

30 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5183: Notas de leitura (31): Notícias da Pátria e dos que a invocam, em vão ou não (António Matos)

12 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 – P5098: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (25): As armas proibidas que nós utilizámos

3 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5046: Parabéns a você (31): Hélder Sousa, ex-Fur Mil TRMS TSF, Piche e Bissau (1970/72) (Editores)

Guiné 63/74 - P5213: Recortes de Imprensa (22): Atlântico Expresso-Arsénio Puim foi convidado de honra... (José Câmara/Carlos Cordeiro)

1. Mensagem de José da Câmara*, ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Guiné, 1971/73, com data de 24 de Outubro de 2009:

Caro amigo,
Não sei até que ponto esta notícia tem interesse para o blogue. De qualquer forma passo a informação.
Infelizmente não soube que o nosso camarada tinha estado cá. Embora longe tinha dado um saltinho a Hudson, MA.

Um bom fim de semana com muita saúde para ti e para os teus familiares,
José Câmara


Comunidade

Naturais de Santo Espírito reuniram em Hudson

Arsénio Chaves Puim foi convidado de honra e lançou o livro “As Ribeiras de Santa Maria”


Os naturais da freguesia de Santo Espírito da ilha de Santa Maria reuniram no Clube Português de Hudson, que dispões das mais modernas e funcionais instalações em organizações lusas em terras americanas.
Os lucros destes encontros revertem em favor do clube e aqui se pode ver o entusiasmo e orgulho que os marienses têm daquela digna presença de Portugal na América.
Depois do jantar, entrega de bolsas de estudo, lançamento de um livro, seguiu-se folclore, cantares regionais, e música para dançar.
Um convívio que entrou no programa de actividades comunitárias de onde se avizinha grande sucesso tendo em conta a adesão das gentes de Santa Maria, amigos e familiares.
José Figueiredo foi uma vez mais o grande impulsionador do encontro que se revestiu de grande sucesso.
“Temos uma adesão de 450 pessoas neste 5º convívio dos naturais de Santo Espírito, ilha de Santa Maria que anualmente tem por palco o sumptuoso Clube Português de Hudson.
Este ano temos como convidado de honra Arsénio Chaves Puím, natural de Santa Maria, freguesia de Santo Espírito e qu já escreveu três livros sobre a sua ilha: Um sobre o tema da pesca à baleia, outro que tem a ver com o falar e vivência dos marienses e um terceiro lançado no verão passado em Vila do Porto sob o tema “As Ribeiras de Santa Maria, sua história e seus percursos” livro interessantíssimo porque com cada ribeira vem uma lenda, vem uma história tudo muito acarinhado pelo autor”.

“Isto é um convívio de portas abertas a todos quantos se queiram juntar a nós”

“Se bem que a maioria dos presentes seja da freguesia de Santo Espírito da ilha de Santa Maria, que curiosamente tem aqui mais radicados em Hudson, dos que os existentes na terra de origem, já contamos com a adesão de gente de outras ilhas, mesmo do continente, vindos dos mais diversos estados.
Isto é um convívio de portas abertas a todos quantos se queiram juntar a nós. A finalidade é o apoio ao clube e bolsas de estudo. Hoje vão ser entregues quatro no valor de 2 mil dólares.
Estes convívios já canalizaram um apoio superior a 40 mil dólares para o clube”.

“Se mais lugares tivessemos mais gente estaria presente”

“A adesão foi de tal forma este ano que tivemos de deixar gente sem poder estar presente. O salão divide-se em três. Com receio de não encher reservamos dois e o terceiro ficou alugado para um casamento. Se tivéssemos reservado os três teriamos enchido tudo”, diz J. Figueiredo, para acrescentar: “Vamos ter bailados do grupo do professor Dinis Frias, alunos do liceu de Hudson, música para dançar e o grupo de Nossa Senhora das Candeias.
As presenças no salão são gente proveniente de Taunton, East Providence de outras comunidades da Nova Inglaterra e Canadá”, concluiu José Figueiredo.
Falar das origens. Escrever sobre as origens. Recordar as origens é trabalho de pesquisadores, que se sentem atraídos pelos promenores da vivência das gentes, da história a até das ribeiras, tal como Arsénio Chaves Puím, que lançou mais um livro durante o convívio.
“Aqui estou em Hudson no meio dos meus conterrâneos marienses para lhes apresentar mais um livro sobre Santa Maria, integrado neste convívio das gentes de Santo Espírito”, começou por dizer Arsénio Chaves Puim, adiantando:
“Já tenho três livros escritos. Um sobre a Pesca à Baleia na ilha de Santa Maria em 2001, escrevi outro sobre “Falares e Vivências do Povo de Santa Maria” em 2007 e escrevi um terceiro em 2009 “As Ribeiras de Santa Maria seus percursos e história”. Relacionado com as ribeiras há todo uma história das gentes das nossas gentes, dado que estas desempenharam um papel importantíssimo no seu dia a dia. Recolhi factos, histórias, acontecimentos que se vêm enquadrando na vida daqueles cursos de água”.


“Os padres de Santa Maria poderá ser tema para um próximo livro”

“Dado que estamos no ano sacerdotal determinado pelo Papa,e como se tem falado muitos do párocos que passaram por Santa Maria. Deste modo sou capaz de iniciar a recolha de dados sobre os padres naturais de Santa Maria.
Formei-me no seminário de Angra do Heroísmo. Fui padre vários anos. A formação que tinhamos no seminário era muito mais orientada para as letras do que para as ciências.
Naturalmente recebi a formação de um seminário. Depois vim para as paróquias onde junto do povo comecei a encontrar muito curioso a cultura os costumes as tradições.
Inicialmente sem qualquer intenção de escrever livros. Em princípio comecei publicar os meus escritos no jornal de Santa Maria. As pessoas começaram a entusiasmar-me para colocar todo o trabalho recolhido em livro. Sendo assuntos da nossa ilha os meus livros têm tido a maior aceitação.
Este último livro é uma edição do Baluarte de Santa Maria e teve grande aceitação no lançamento nas origens. Aqui no seio da comunidade dos EUA vamos ver o que vai acontecer”, concluiu Arsénio Chaves Puím.

Freguesia de Santo Espírito

A freguesia de Santo Espírito fica situado na parte sudeste da ilha de Santa Maria. Em 1960, esta freguesia tinha uma população de três mil habitantes.
Hoje, tem menos de oitocentos habitantes dado que muitos procurarem novas terras entre as quais os que se radicaram em Hudson.
Reza a tradição que a primeira missa nos Açores em honra do Espírito Santo foi celebrada na freguesia de Santo Espírito
.


Este artigo "Comunidades" está inserido na página "Comunidades" do prestigiado "Portuguese Times" que se publica, semanalmente, em New Bedford, MA.
O seu director é Adelino Ferreiro, natural da Ilha de São Miguel, que foi Furriel Miliciano em Angola.
JC

__________


2. Mensagem do nosso tertuliano Carlos Cordeiro**, (ex-Fur Mil At Inf - Centro de Instrução de Comandos - Angola, 1969/71), professor de História em Ponta Delgada, com data de 2 de Novembro de 2009:

Caros Carlos e Luís,
O semanário "Atlântico Expresso", de Ponta Delgada, publicou hoje uma notícia sobre o camarada Arsénio Puim. Como tenho notado o carinho e admiração com que diversos camaradas a ele se referem ao relembrar os seus tempos de Alferes Capelão na Guiné, envio um resumo da notícia, para vosso conhecimento.

Um abraço amigo do
Carlos



Na reunião de naturais da freguesia de Santo Espírito residentes em Hudson (EUA), foi convidado de honra Arsénio Puim, natural daquela freguesia e a viver na paradisíaca freguesia das Furnas (S. Miguel). Na ocasião, Arsénio Puim lançou o seu terceiro livro: "As Ribeiras de Santa Maria": seus percursos e história. Os anteriores têm por título "Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria" (2001) e "Falares e Vivências do Povo de Santa Maria" (2007).
Cheio de vigor e entusiasmo pela história e cultura das suas gentes, conta publicar em breve o quarto livro, sobre os padres naturais de Santa Maria. O número de convivas que quiseram abraçar o nosso camarada e prestar-lhe a devida homenagem ultrapassou todas as expectativas.


Arsénio Puim, ex-Alf Mil Capelão do BART 2917 (Bambadinca)
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 24 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5153: Controvérsias (31): Afinal quem saiu derrotado na guerra da Guiné? (José da Câmara)

(**) Vd. poste 5 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5055: Tabanca Grande (177): Carlos Cordeiro, ex-Fur Mil At Inf (Centro de Instrução de Comandos - Angola, 1969/71)

Sobre o Arsénio Puim, hoje enfermeiro reformado, a viver na Ilha de S. Miguel, Açores, vd. postes de:

21 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4989: Memórias de um alferes capelão (Arsénio Puim, BART 2917, Dez 69/Mai 71)(3): De Bissau a Bambadinca, a cova do lagarto

14 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4521: Memórias de um alferes capelão (Arsénio Puim, BART 2917, Dez 69/ Mai 71) (1): No RAP 2, V.N. Gaia, onde fez mais de 60 funerais

10 de Julho de 2009 >Guiné 63/74 - P4666: Memorias de um alferes capelão (Arsénio Puim, BART 2917, Dez 69/Mai 71) (2): De Viana do Castelo a Bissau

3 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 – P4455: Estórias cabralianas (50): Alfero, de Lisboa p'ra mim um Fato de Abade (Jorge Cabral)

26 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4416: Memória dos lugares (26): Bambadinca, CCS/BART 2917, 1970/72 (Arsénio Puim, ex-capelão)

25 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4412: Dando a mão à palmatória (20): O Arsénio Puim, capelão do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), só foi expulso em Maio de 1971

25 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4410: Cancioneiro de Bambadinca (4): Romance do Padre Puim (Carlos Rebelo † )

23 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4404: CCS do BART 2917: a emoção do reencontro, 38 anos depois (Arsénio Puim)

19 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4378: Arsénio Puim, o regresso do 'Nosso Capelão' (Benjamim Durães, CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72)

18 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4372: Convívios (131): CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), com o Arsénio Puim e os filhos do Carlos Rebelo (Benjamim Durães)

17 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1763: Quando a PIDE/DGS levou o Padre Puim, por causa da homília da paz (Bambadinca, 1 de Janeiro de 1971) (Abílio Machado)

Vd. último poste da série de 14 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5107: Recortes de Imprensa (21): Revista da Liga dos Combatentes - Homenagens aos Combatentes (Ribeiro Agostinho)

Guiné 63/74 - P5212: Ser solidário (42): Em Marcha a Expedição Humanitária Portugal/Guiné-Bissau 2010 (José Moreira, Memórias e Gentes, Coimbra)

Viajardemoto.com > O portal de quem viaja de moto.... A malta das motas (popular e carinhosamente conhecida por motoqueiros) está crescentemente a aderir à Expedição Humanitária Portugal/Guiné-Bissau, por terra... Segundo o José Moreira, haverá já 9 motociclistas que irão integrados na caravana automóvel habitual (6 a 8 viaturas todo o terreno). Na edição de 2010, a partida já marcada: Coimbra, 25 de Fevereiro de 2010. O nosso blogue vai a maior força possível aos todos amigos e camaradas da Guiné que já estão, no terreno, a trabalho para o sucesso desta causa humanitária e lusófona.


“O sorriso enriquece os recebedores sem empobrecer os doadores" (Paulo Quintana)

Instituição de Utilidade Pública / Reconhecimento e registo como ONGD
pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros
Natureza jurídica: Pessoa colectiva de direito privado, sem fins lucrativos, inserida no regime do mecenato social previsto no Estatuto Benefícios Fiscais,
matriculada na C.R.C.de Coimbra / NIPC 508 343 461
Sede: R Prof Guilherme Tomé (instalações J.F.Taveiro)
Apartado 45
3046-801 TAVEIRO (COIMBRA)
Contacto: E-mail:
j.moreira@sapo.pt
ou mailto:guine@coimbraeventos.com~
Telem.: 964 028 040
Parceiro especializado da LIGA DOS COMBATENTES para acções humanitárias



1. Mensagem do José Moreira, presidente da direcção da Associação Humanitária Memórias e Gentes:

Coimbra, 22 de Outubro de 2009

Camarada e amigo Luis Graça,

Em tempos formulastes o pedido, para descrevermos o percurso das nossas expedições à Guiné-Bissau.

Finalmente ele aqui vai numa espécie de Diário, com os dias de viagem, horas, quilómetros parcelares e totais até à Guiné-Bissau. Presumo ser uma informação útil para todos os camaradas do Blogue que, eventualmente, queiram um ano destes participar connosco nesta viagem que, ininterruptamente se faz há 5 anos a esta parte.


Uma curiosidade: Analisando os quilómetros já percorridos e adicionando os da próxima expedição, esta Associação vai atingir os 100.000 Kms. (ida e volta), ao volante pela lusofonia.


Com dedicação, empenhamento, sacrifício e espírito solidário de TODOS, tivemos o merecimento, por parte do Ministério dos Negócios Estrangeiros, através do IPAD – Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento, do reconhecimento e registo como ONGD, nos termos da Lei nº 66/98, de 14 de Outubro, tendo adquirido automaticamente a natureza de pessoa colectiva de Utilidade Pública.

Muito embora o reconhecimento oficial agora conferido nos traga outras valências, vamos continuar como até agora, isto é, a sustentabilidade da expedição ser a expensas de cada um, porque os eventuais apoios (?) serão aplicados num projecto que esta Associação tanto deseja implementar na Guiné.

Em anexo, segue um pedido a todos os camaradas para que nos apoiem nesta missão, tentando-se, assim, restabelecer a esperança e resgatar a dignidade daqueles que as perderam na injustiça social..

Na próxima expedição, para além do número de carros habituais (6/8), temos para já 9 motociclistas, de entre os quais levam as mulheres, portanto, estamos a conseguir em cada ano que passa mais gente jovem e dinâmica. Se fores ao link http://www.viajardemoto.com/forums/showthread.php?t=4939 , verificarás que esta “malta das motas” não brinca em serviço!

Cumprimentos,

Presidente da Direcção



2. Apelo aos membros do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné:

Coimbra, 22 de Outubro de 2009

CAMARADAS DA TABANCA GRANDE

Começamos a trabalhar para a Expedição Humanitária Portugal - Guiné-Bissau/2010. (*)

Esta Associação (de todos nós) precisa da colaboração de toda a gente, fundamentalmente de vós, que tão bem conhecem a realidade daquelas gentes, sobretudo as crianças, deficientes e doentes. Vamos, uma vez mais, alegrar aquelas Instituições (que têm rosto e que são credíveis) minimizando as suas carências.

Tenho a certeza que vão empenhar-se para que esta missão seja mais um marco das nossas vidas “fazendo o bem”.

Temos local de armazenamento, temos pessoas para encaixotar, temos transporte, temos grua e temos contentor… por isso, a ordem é: VAMOS ENCHER UM CONTENTOR!!!

Não interessa quem vai ou quem não pode ir, pretende-se, isso sim, da colaboração de todos vós, para mais esta nobre missão.

É desejo de todos, que o contentor esteja já no mar ou em Bissau, quando sairmos de Portugal (25-2-2010), para isso, é urgente começar a angariar bens de todo o tipo, inclusivamente, bens alimentares “duradouros”, até 15 de Dezembro próximo.


Apelo aos meus amigos que não fiquem expectantes… peçam aos vizinhos, aos amigos, às empresas, às instituições (inclusivamente hospitalares), enfim, vamos pedir a toda a gente (pois não estamos a pedir para nós).

A nível de secretariado (cartas, e-mail`s, etc) cá estarei para tratarmos em conjunto.

Conto convosco, pois sei que são sensíveis a estas causas!
Cumprimentos,

Presidente da Direcção
José Moreira
(Ex-Furriel Miliciano da CCaç 1565,
1966/68)

3. Comentário de L.G.:

As expedições humanitárias organizadas pela Memórias e Gentes, sob a liderança do José Moreira, têm sido um êxito, em toda a linha, desde a logística ao impacto social. Os nossos camaradas de Coimbra vêem agora reconhecido o estatuto da sua associação, como ONGD.(*)

Sabemos que a ajuda humanitária que chega à Guiné-Bissau é uma gota no oceano, para as necessidades de um país que está no fundo da escala do desenvolvimento humano. Mas também sabemos que as doações que são feitas pelos portugueses, através da Memória e Gentes, são-no com muito carinho, e são entregues no local, ao beneficiário final. Não correm, por isso, o risco de irem parar às mãos dos urubus, os intermediários, os especuladores, os burocratas, os comerciantes de Bandim...

O Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné associa-se, mais uma vez, a esta iniciativa, antes de demais divulgando-a e apoiando-a em termos mediáticos. Não tendo uma estrutura logística, gostaríamos de poder ter 3 (três) voluntários, para a regiões de Lisboa, Porto e resto do país, que pudessem trabalhar com articulação com o José Moreira e a sua equipa, na angariação de ajudas. Esse trabalho tem que ser feito impreterivelmente até 15 de Dezembro. Julgo que o problema maior, fora de Coimbra, é o transporte e a armazenagem dos bens doados, e o seu posterior encaminhamento para o armazem central em Coimbra. Mas estas são questões logísticas a resolver com o José Moreira.

Por sua vez, a Ajuda Amiga - Associação de Solidariedade e Apoio ao Desenvolvimento, outra ONG fundada e dirigida por antigos combatentes (como é o caso dos nossos camaradas e amigos Carlos Fortunato, e Carlos Silva), também tem em marcha a campanha humanitária de ajuda à Guiné-Bissau, de 2010. A Ajuda Amiga dispõe já de alguns centros logísticos aqui no sul (Amadora, Caldas da Raínha...).

Gostariamos de poder publicitar no nosso blogue o nome das pessoas, individuais e colectivas, que este ano vão ajudar a encher o(s) contentor(es) da próxima expedição humanitária à Guiné-Bissau. Tanto o José Moreira como o Carlos Fortunato podem dispor das páginas do nosso blogue.

Um Alfa Bravo. Luís Graça

PS -Obrigado, José Moreira, pela cópia do teu diário de bordo. Será oportunamente publicado.

___________

Nota de L.G.:

(*) Vd. postes de:

28 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4873: Ser solidário (36): Assoc. Humanitária Memórias e Gentes reconhecida como ONG desde 26 de Junho de 2009 (José Moreira)

2 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4130: Ser solidário (34): O contentor da Ajuda Amiga (Carlos Silva)

22 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3924: Expedição Humanitária 2009 (5): Ei-los que partem, do Largo da Portagem, Coimbra... a caminho de Bissau (José Moreira)

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5211: Efemérides (32): 1 de Novembro de 1965 – Relatório Oficial da Carnificina em Farim (António Paulo Bastos)


1. O nosso Camarada António Paulo Bastos, que foi 1º Cabo do PEL CAÇ 953 (Teixeira Pinto e Farim, 1964/66), recebemos a seguinte mensagem, em 29 de Outubro de 2009:

Camaradas,

Como prometi e respondendo às solicitações, que me foram enviadas, envio então o relatório referente à “Carnificina de Farim”, de que resumidamente vos havia falado, no poste P5203.

Recordo que tudo aconteceu no dia 1 de Novembro de 1965, no decorrer de uma festa na tabanca do Bairro da Morocunda, tendo provocado 27 mortos e 70 feridos graves.

Creio que deve ter sido um dos graves incidentes do género, que se registaram em tempo de guerra, entre 1961 e 1974.

Este envio é a rogo, à minha sobrinha, pois eu sou um analfabeto em coisas de computadores e, por isso, completamente dependente nesta matéria.

No relatório falam de um agente da PIDE. O seu nome era Prodízio (nunca mais me esqueci) e, em conversa com a Cáti (ou Cádi não me lembro exactamente), ela confirmou-me que, depois de recuperada dos graves ferimentos que sofreu, regressou a Farim, tendo sido empregada na casa dele.

No mês de Março de 2008, ao passear com a Cáti em Farim, ela disse-me onde tinha morado o tal PIDE e onde trabalhava.

Sobre relatórios, tenho em meu poder, ainda, os do BART 733 e do BCAV 490, pois foram os batalhões onde estive adido.



Clicar nos documentos para permitir a sua leitura

Sempre ao dispor, com um abraço,
António P. Bastos,
1º. Cabo Pel Caç 953

Documentos: António Paulo Bastos (2009). Direitos reservados.

___________


Notas de M.R.:

Vd. último poste desta série em:


Vd. também poste, que contém extractos sobre esta matéria do livro “Memórias do Colonialismo e da Guerra da autoria de Dalila C. Mateus, em:


(...) Que assistira ao fabrico de uma bomba. Quando eles (PIDE) é que tinham deitado uma bomba em Farim, onde mataram muita gente (**).

(...) (quem lançou a bomba?) Foi a PIDE que mandou, tenho a ceteza disso. Lançou a bomba para depois dizer que nós até matávamos africanos. Ali não havia quartéis, só havia casas comerciais, onde era fácil lançar bombas e fugir. Porque é que não lançavam as bombas nos quiosques, frequentados pelos militares portugueses? E iam deitar onde só estava a população?Queriam arranjar pretexto para fazer prisões. Havia, então, uma festa numa tabanca e morreram mais de cem pessoas. Isto passou-se no dia 1 de Novembro de 1965.

(**) Confirmado o incidente, a PIDE, em mensagem por rádio existente nos arquivos de Salazar, afirma que, no dia 1 de Novembro de 1965, cerca das 20 horas, fora lançado um engenho explosivo para o meio dos africanos que se encontravam num batuque em Farim. A explosão teria provocado 63 mortos e feridos, na sua maioria mulheres e crianças.

Foi detida meia centena de pessoas. Confissões obtidas levaram à detenção de um tal Issufo Mané, que declarou pretender atingir militares (?). Para o fazer, teria recebido 14 contos de Júlio Lopes Pereira, o qual, por seu lado, actuara por indicação do chefe da Alfândega de Farim, Nelson Lima Miranda. E este teria vindo a declarar que a bomba fora lançada a mando da direcção do PAIGC.

(AOS/CO/UL- 50-A, Informações da PIDE, 1965-1966, 86 subdivisões, pasta 2, fls. 636, 637, 638, 641 e 642).

O interessante é que Pedro Pinto Pereira, um adepto do regime e admirador de Salazar, atribua o incidente à própria PIDE. Aliás, fazendo-se eco da versão que, na altura, circulou entre a população africana, como o reconhece a própria Polícia (DCM).