1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Novembro de 2009:
Camaradas,
Este Bolamense foi para mim uma revelação, sobretudo pela qualidade das fotografias, muitas delas de elevada qualidade. Findo por aqui esta incursão pelos jornais guineenses, era bom que os outros tertulianos escrevessem sobre o Arauto de Bissau, não consegui encontrar nada de jeito, desapareceu ainda nos anos 60. Tendo o Bolamense findado em 1972, questiono que outras publicações regulares houve na Guiné, até 1974, para além do Boletim Oficial e do Boletim Cultural.
Foto 1 - Guiné-Bissau > Bolama > s/d > Cais > Uma canoa Inhominca, para transporte de passageiros
Bolamense: Um mensário para tirar a ex-capital da Guiné do abatimento
O mensário que começou por se publicar regularmente no primeiro dia de cada mês, em Bolama, em 1956, foi, a diferentes títulos, uma publicação periódica de grande significado no panorama editorial guineense, no último período colonial. Muitos dos tertulianos conheceram-no, sobretudo em Bolama e arredores. Apresentava-se como órgão de propaganda regional, de cultura e de turismo.
Tal como o “Arauto” de Bissau, não enganava quanto aos intuitos nacionalistas: reproduzia as idas e vindas do Governador, transcrevia na íntegra os discursos de Salazar, noticiava os grandes eventos civis e militares da província. Leopoldo Amado no seu indispensável ensaio “A Literatura Colonial Guineense” chama a atenção para alguns dos seus aspectos mais originais.
Se é verdade que o Arauto era um misto de divulgação missionária e de conúbio com o regime de Salazar e acolheu a opinião de figuras culturais da colónia como Fausto Duarte, Juvenal Cabral ou Caetano Filomeno Sá, o “Bolamense” teve o mais sério impacto cultural e literário, acolhendo poetas que aqui cantaram as delícias da velha cidade.
Quem viveu em Bolama lembra-se da sua bela arquitectura, com destaque para o Hotel do Turismo, o Palácio do Governador e os edifícios da Administração, isto para já não falar na praia de Nova Ofir e outros pontos de inegável beleza paisagística que interessava divulgar para captar potenciais turistas.
O Bolamense vendia-se a 2$50. Certamente que a redacção tinha bom entendimento com o Centro de Estudos da Guiné Portuguesa pois reproduziu muitas imagens e algum texto do seu Boletim Cultural caso da imagem que agora se publica “Tatuagem de rapariga manjaca”.
À semelhança do “Notícias da Guiné”, tinha noticiário regional, com destaque para os principais eventos (que até incluíam a chegada de navios, palestras, inauguração de infra-estruturas e as formaturas e desfiles da Mocidade Portuguesa), noticiário desportivo, necrologia e publicidade.
Quando Raul Ventura foi Ministro das Colónias, fez uma grande cobertura à possibilidade de haver petróleo na Guiné. Publicava muitas vezes poesia de intelectuais locais, mas seguramente que o director gostava muito de Fernando Pessoa, numa altura em que este gigante da literatura era escassamente conhecido entre nós, teve muitos poemas seus publicados no Bolamense.
Extinguiu-se em 1972, Bolama ficou sem jornal. A Bolama que procurou resistir até ao fim para não ser um apêndice de Bissau, usara este mensário para saber que estava bem viva com os seus monumentos históricos e as suas atracções turísticas.
Folheando este mensário, descobre-se uma cidade hoje reduzida a um escombro, que viveu a nostalgia de ter acolhido os escritórios da Pan American e os seus hidroaviões, o mais rico património da região e que levantara o nosso orgulho pátrio quando um presidente dos Estados Unidos (Ulysses Grant) dirimiu a nosso favor a “Questão de Bolama”.
Foto 2 - Tatuagem de rapariga manjaca
Um abraço,
Mário B. Santos,
Alf Mil, Cmdt do Pel Caç Nat 52
Foto 1: © Mário Beja Santos (2009). Direitos reservados.
Foto 2: © Patrício Ribeiro (2009). Direitos reservados.
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Notas de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
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