1. Mensagem de Fernando Gouveia, ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70, com data de 3 de Novembro de 2009:
Caro Carlos:
Em anexo mando mais uma estória para a série A Guerra Vista de Bafatá.
Tinha logo no início, prometido ao Luís Graça contá-la; ei-la.
Abraços para todos.
Fernando Gouveia
A Guerra Vista de Bafatá
15 – Uma estória de faca e alguidar
Por Fernando Gouveia
Antes de entrar propriamente na novela refiro que nos finais de 1969 o meu Comandante, Coronel Hélio Felgas, foi apanhado de surpresa. Uma ordem de Bissau, talvez forjada pelo recente Comandante do COP de Nova Lamego e as elites do ar condicionado da capital, transferia-me a mim e mais alguns militares, do Agrupamento para o COP. Quer eu, quer os meus superiores, achámos que foi um golpe baixo.
Confiando no Coronel Felgas que me disse que eu não estaria lá muito tempo. Foi só esperar que aparecesse outro alferes disponível para me substituir e eu regressei. Ao fim de uns quinze dias estava novamente em Bafatá. O Alf Mil Correia substituiu-me em Nova Lamego.
No Gabu, onde não me recordo de fazer o que quer que fosse relacionado com a guerra, conheci o Fur Mil Dinis, (nome fictício), o protagonista desta estória, com quem aliás bebi uns bons whiskys.
Vista geral de Nova Lamego a partir de poente
Nova Lamego. Edifício do comando
Nova Lamego. Na esplanada dum café com um cabo escriturário, que também veio do Agrupamento. A foto foi tirada pelo Fur Mil Dinis.
Nova Lamego. Com um grupo de camaradas que trabalhavam no COP. À esquerda o Capitão das Informações
Fotos e legendas: © Fernando Gouveia (2009). Direitos reservados.
Passado pouco tempo o Coronel Felgas acaba a comissão e o Coronel Neves Cardoso vai substitui-lo no Comando de Agrupamento. Com ele vem todo o pessoal afecto ao COP incluindo o nosso Fur Mil Dinis.
Em princípios de 1970 a guerra ia correndo com mais ataque, menos ataque, mais mina, menos mina e em Bafatá, oásis de paz, a vida corria entre o trabalho no aquartelamento, as idas ao café depois de almoço (quando não se dormia a sesta) e as idas ao cinema.
Tudo isso era propício ao devaneio.
O nosso Fur Mil Dinis, nas suas saídas para a cidade, começou a frequentar mais assiduamente determinada casa comercial. Era perto do quartel, comia-se lá bem, era agradável permanecer na esplanada, mas sobre tudo o senhor Tenório, (nome fictício) e a sua esposa tinham uma filha, a Rosinha, (nome fictício) de uns dezanove anos, que embora cheiinha não era nada de se deitar fora.
O nosso Furriel viu ali uma companhia que o faria esquecer as agruras da guerra.
Penso que um namoro se tinha desencadeado. Naquela altura, há 40 anos, e dado que a Rosinha não saía debaixo das saias da mãe, a coisa não teria ido além de algum beijito trocado num intervalo das idas da mãe à cozinha.
Imagino, naquele clima, que o nosso Furriel devia andar nas nuvens.
Porém o Dinis cometeu um erro grave. Como militar que era não devia ter subestimado o adversário, que neste caso era o pai da Rosinha. O senhor Tenório, raposa velha, homem de pele curtida de trinta anos de Guiné, embora atarracado mas entroncado como um touro de lide, vivido como era, meteu-se ao caminho até ao Comando de Agrupamento.
Não o vi por lá mas logo a seguir, o Ten Cor Teixeira da Silva chama-me e em termos de desabafo diz-me:
- Oh Gouveia sabe quem esteve aqui? Foi o senhor Tenório. Queria saber informações sobre o Furriel Dinis pois ele anda de namoro com a filha, a Rosinha, e era minha obrigação dizer-lhe tudo, nomeadamente que ele era casado…
Faltaria um mês para o Furriel Dinis acabar a comissão, mas à parte final fui assistindo eu diariamente:
O Furriel Dinis nunca mais saiu do quartel até ir embora.
Tudo é real, excepto alguns nomes.
Até para a semana camaradas.
__________
Nota de CV:
Vd. postes da série de:
27 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4254: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (1): Três oficiais: um General, um Coronel, um Alferes - suas personalidades
28 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4256: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia (2): Um alferes desterrado em Madina Xaquili, com um cano de morteiro 60 (I Parte)
8 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4305: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (3): Um alferes desterrado em Madina Xaquili, com um cano de morteiro 60 (II Parte)
21 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4395: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (4): Um alferes desterrado em Madina Xaquili, com um cano de morteiro 60 (III Parte)
28 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4429: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (5): Um alferes desterrado em Madina Xaquili, com um cano de morteiro 60 (IV Parte)
6 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4470: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (6): Um alferes desterrado em Madina Xaquili, com um cano de morteiro 60 (V Parte)
26 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4585: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (7): Um alferes desterrado em Madina Xaquili, com um cano de morteiro (VI Parte)
3 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4637: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (8): À carga no Esquadrão de Cavalaria de Bafatá
12 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4675: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (9): Férias na Metrópole. Não há duas sem três...
19 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4707: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (10): Mina bailarina
26 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4739: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (11): Interrogatórios
3 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4769: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (12): O Mercado de Bafatá
25 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5159: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (13): O Comando de Agrupamento (I Parte)
1 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5190: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (14): O Comando de Agrupamento (II Parte)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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1 comentário:
Fernando, o capitão das informações que está numa foto, não é o Cap Neto, nascido no Congo ?
JorgeHMFélix@hotmail.com
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