sexta-feira, 3 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4637: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (8): À carga no Esquadrão de Cavalaria de Bafatá

1. Mensagem de Fernando Gouveia, ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70, com data de 27 de Junho de 2009

Caro Carlos:

Ver para crer. Pensava que não era possível melhorar as fotos a preto e branco do último poste mas conseguiste. És o maior.

Saída a última estória, conforme o combinado, aí vai em anexo a n.º 8 para série: A Guerra Vista de Bafatá.

Um abraço.
Fernando Gouveia


A GUERRA VISTA DE BAFATÁ

8 - À carga no Esquadrão de Cavalaria de Bafatá

Pescador no rio Geba ao entardecer, em Bafatá, 1968.

Hoje em dia, nos escritórios, quer do Estado, quer privados, é comum ver aquelas etiquetas autocolantes com código de barras, colocadas em todo o mobiliário e objectos de trabalho, a querer dizer que têm dono, que estão à carga.

Não vou aqui contar aquela estória em que a um colega meu de trabalho e na sua ausência, os almoxarifes, lhe colocaram uma dessas etiquetas num seu objecto pessoal que tinha em cima da secretária e que toda a gente via que de facto era pessoal, menos os fieis zeladores da entidade patronal.

Há quarenta anos ainda não era assim nas empresas ou nas repartições públicas, mas na tropa já se processava esse zelo, como todos muito bem sabem. Tudo estava à carga.

Também não vou contar aqui aquele caso que se passou, com um camarada nosso, no Norte de Moçambique, na zona de Moeda em que na passagem do testemunho entre duas Companhias se verificou que havia um Jeep a mais à carga. Como forma de resolver o problema e para a Companhia que ia embora o poder fazer sem demoras, que a zona de Moeda não era brinquedo, o Jeep foi enterrado.

Vou contar, sim, o que aconteceu, de forma mais simples, mas de certo modo idêntico, com o material à carga no Esquadrão de Rec Fox 2350 instalado ao lado do Comando de Agrupamento de Bafatá, em 1969.

Os três Alferes (às vezes 4 ou 5) do Agrupamento iam comer ao Esquadrão, daí que assisti a todas as fases desta estória caricata.

Em determinada altura um condutor duma auto metralhadora Fox veio de férias à Metrópole e não voltou, desertou. (Não me lembro se já tinha acontecido aquela emboscada em que um rocket IN perfurou a blindagem duma Fox e carbonizou os seus dois ocupantes).

Correu o respectivo auto de deserção. Já depois do auto concluído alguém se lembrou que esse condutor tinha uma pistola distribuída. Todos os responsáveis directos entraram em pânico. Havia que resolver a situação.

Os Alferes do Esquadrão, Rodrigues, Sena, Grosso e Amaral depois de discutirem vários dias como resolver esse berbicacho decidiram que se daria baixa da pistola no próximo ataque IN a Piche (Dien Bien Piche como também era conhecido dada a quantidade de ataques lá verificada, e por similitude com Dien Bien Phu no Vietname), onde tinham um destacamento.

Ao fim de pouco tempo o ataque deu-se e para os nossos cavaleiros o assunto parecia ter sido resolvido em beleza.

Puro engano, alguém descobriu que o desertor possuía um armário fechado e lá dentro, entre outros pertences, que aliás também deveriam ter sido descriminados no auto, estava, a agora, famigerada pistola.

Muito nos divertimos, os Alferes do Agrupamento, com esta última situação criada. Era ver os Aferes do Esquadrão a não quererem, cada um, nas suas mãos a dita pistola. Parecia que queimava.

Passados quarenta anos não recordo como resolveram este último problema, mas das duas uma, ou alguém se presenteou com uma pistola que já não estava à carga ou então tiveram que esperar por um novo ataque a Piche e fazer um novo auto do achamento de uma pistola.

Bajuda da tabanca da Ponte Nova em Bafatá, Possivelmente Saracolé, 1968

Fotos e legendas: © Fernando Gouveia (2009). Direitos reservados.



A próxima estória será sobre vários factos, divertidos uns, outros pelo contrário, ligados às minhas três férias que gozei na Metrópole, onde entram dois Majores, um militar (o Seidi) preso por espancar a mulher e um comandante da TAP a quem com um atraso de quarenta anos irei agradecer uma atitude que teve para comigo.

Até para a semana camaradas.
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Nota de CV:

Vd. poste de 26 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4585: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (7): Um alferes desterrado em Madina Xaquili, com um cano de morteiro (VI Parte)

1 comentário:

Anónimo disse...

Fernando Monteiro

Os problemas e as dores de cabeça que uma arma podia causar!!

Não sei se ainda hoje é necessário justificar as balas que se gastam.

Na Guiné,de cada vez que tinha um contacto,"gastava" 4 ou 5 carregadores,que eram os que costumava levar no cinturão!!!Que me lembre nunca dei tiro de rajada!!

De qualquer modo,digo-te,ao ler o titulo,julguei que a bajuda que aparece na foto é que estava à "carga" lá no esquadrão?!!

Um abraço

Luis Faria