Guiné-Bissau > Zona Leste > Xitole > 2001 > A antiga Ponte Marechal Carmona, sobre o Rio Corubal, a sul do Xitole, de construção anterior à Ponte Craveiro Lopes, no Saltinho (esta a montante)
Guiné-Bissau > Zona Leste > Xitole > 2001 > O David J. Guimarães à entrada da antiga Ponte Marechal Carmona , sobre o Rio Corubal, entre o Xitole e os rápidos do Cussilinta, portanto a jusante do Saltinho. (Assinalada no mapa do Xitole, como "ponte em ruínas).
Guiné-Bissau > Zona Leste > Saltinho > 2001 > O David Guimarães junto à ponte sobre o Rio Corubal, do Saltinho, um dos sítios paradisíacos da Guiné, onde havia, durante a guerra colonial, um aquartelamento que ficava a 20 Km de Xitole na estrada Bambadinca-Aldeia Formosa (hoje, Quebo). Esta ponte, no nosso tempo (1969/71), chamava-se Craveiro Lopes, e estava interdita...
Fotos: © David Guimarães (2005). Direitos reservados
1. Nota do editor L.G.:
Obrigado ao Carlos Silva pela magnífica cobertura fotográfica da Ponte Marechal Carmona, sobre o Rio Corubal, a cerca de 5 km, a sul do Xitole (*).
De facto, pouca gente tem conhecimento dessa magnífica obra do Estado Novo. No nosso blogue, o primeiro camarada a falar dela, foi o David Guimarães, o nosso tertuliano nº 3 - como eu gosto de lhe chamar...
O David foi Fur Mil Minas e Armadilhas, CART 2716 (Xitole, 1970/72). Em 2001, o David revisitou com a esposa (Lígia), um filho (menor) e antigos camaradas (incluindo o Dr. Vilar, ex-Alf Mil Médico da CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72) os sítios por onde passou (Sector L1/Zona Leste).
Escreveu ele (**):
"É célebre o Saltinho pela sua localização junto ao Rio Corubal e pela sua linda ponte. Curiosamente como em Cussilinta o Rio aí também tem rápidos. A Guiné toda plana e com rápidos nos rios!... É estranho mesmo. Ao tempo estava lá uma Companhia que pertencia ao Batalhão com sede em Galomaro, e que eram portanto nossos vizinhos".
A importância estratégica desta ponte era óbvia e era conhecida de nós, nal da CCAÇ 12, mas, devido à guerra, não se passava para lá do Saltinho... Hoje continua a ser vital, permitindo a ligação rodoviária do resto da Guiné (norte, leste, oeste) com o sul... A ponte lá está, uma belíssima e boa construção que aguenta todos os anos com as enxurradas do Corubal. Foi inaugurada em 1955.
Em 1996 também lá esteve, no Saltinho e em Cussilinta, o nosso camarada e amigo Humberto Reis (ex-Fur Mil, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)
Nem ele nem eu, tínhamos conhecimento de outra ponte sobre o Corubal. Daí a dúvida apresentada ao David, por parte do Humberto (**):
"Tens de me esclarecer uma coisa, sff: na nossa página sobre o Xitole/Saltinho, há uma fotografia tua, que tiraste em 2001, a atravessar a Ponte Marechal Carmona, em que tu dizes ser 'sobre o rio Corubal, na estrada Bambadinca-Xitole-Aldeia Formosa'. Então para se ir do Xitole até à Aldeia Formosa não tinha de se passar no Saltinho e atravessar a Ponte Craveiro Lopes, a tal que tem vários arcos em betão armado? Que estrada era essa, afinal ?"
Anteriormente, o David Guimarães, no poste de 17 de Maio de 2005 > Guiné 69/71 - XX: "Foi você que pediu uma kalash?", já tinha esclarecido em parte o mistério da tal ponte Marechal Carmona (**):
"No Xitole, para lá da pista de aviões, a 5 Km, há uma ponte que atravessa(ava) o Rio Corubal, ligando a estrada de Bambadinca-Xitole à Aldeia Formosa.... Essa ponte está interrompida com um pegão dentro da água... Essa ponte mantem-se lá, inoperante, e não foi reconstruída...
"A história é que essa ponte teria sido interrompida pela nossas tropas no início da guerra. Outra versão é que que tinham sido os naturais. Uma terceira versão é que tinha sido o Corubal e as chuvas que teriam causado o colapso da ponte... Fico à espera que alguém me conte a versão verdadeira. Alguém da Guiné saberá? Desconfio que não, pois dela resta a história somente.
"Seguem em anexo duas fotografias da tal ponte [a Ponte Marechal Carmona], pois ela é só meia ponte: a fotografia que mostra a interrupção, não saiu, que pena! Mas, enfim, é essa. Onde estou eu é exactamente na entrada do lado do caminho para o aquartelamento... Nota-se que ela está inclinada... Era importanete esta zona, pois que, como em todas as pontes, eram feitas operações de reconhecimento regulares"...
E eu acrescentei a seguinte nota (**):
"No mapa do Xitole (Serviços Cartográficos do Exército, 1956), a "ponte em ruínas" vem devidamente sinalizada, no Rio Corubal, a cerca de 4,5 km, a sul do Xitole, entre os ilhéus Saido (a oeste) e os rápidos de Cusselinta (a leste)...
"Não sei a data da construção da Ponte Marechal Carmona, mas é capaz de ser dos anos 40. Essa ponte deveria permititir a ligação a uma picada (ou uma estrada projectada: está no mapa a tracejado) que ia ter à estrada para Buba e Fulacunda (à direita) e Mampatá, Quebo (Aldeia Formosa) e Chamarra (à esquerda). Antes da guerra, podia-se depois regressar ao Xitole, através de Contabane (virando à esquerda) e Saltinho (Ponte Craveiro Lopes). No cruzamento de Contabane, à direita, apanhava-se a estrada para Guileje e Madina do Boé".
2. Na I Série do nosso bogue, tivémos mais uma achega, a de Mário Dias (Srgt Comando Ref, Brá, 1963/66), profundo conhecedor da Guiné dos anos 50 (antes de frequentar o 1º CSM, na Guiné, em 1959, trabalhou em Bissau, cujo desenvolvimento e progresso acompanhou):
"Deparei com algumas dúvidas suscitadas pelas pontes sobre o Corubal. Ambos, David Guimarães e Humberto Reis, têm razão. Antes da construção da ponte Craveiro Lopes, a tal que tem a sutentanção feita com arcos superiores, a travessia do rio era feita na outra ponte que - pasme-se, soube agora - se chamava Marechal Carmona. Essa fica próxima do Xitole, a jusante de Cussilinta. Entre nós, os colonos, era conhecida por passagem submersível do Saltinho e foi mandada construir, se não me falha a memória, pelo governador almirante Sarmento Rodrigues.
"No meio do rio, no local de corrente mais forte, foi construido uma espécie de dique com várias aberturas na parte superior destinadas a dar passagem à água na altura de maiores caudais, o que acontecia durante grande parte do ano na época das chuvas. Por tal facto, nessa altura do ano a passagem era impossível por ficar submersa. Daí a designação de 'submersível'. Daí também a sensação, para quem não souber e nunca a utilizou, que o que se vê parece ruína, acidental ou propositada.
"Alguns anos mais tarde, não me recordo já quando, foi construida a nova ponte (Craveiro Lopes) que, embora obrigando a um percurso mais longo, veio permitir a passagem durante todo o ano. A antiga passagem submersível deixou de ser utilizada e mais ninguém lhe 'passou cartão'.
"Um abraço. Mário Dias"(***).
Recorde-se que Manuel Maria Sarmento Rodrigues (1899-1979)> foi Governador da Guiné entre 1946 e 1949. E em 1950 integrou o Governo de Salazar como Ministro das Colónias (a partir de 1951, Ministro do Ultramar). Era um prestigiado oficial da marinha e um homem com grande experiência de administração em África .
Guiné > Zona Leste > Sector L5 (Galomaro) > Saltinho > 1972 > Vista aérea do Rio Corubal, da ponte e do aquartelamento do Saltinho (na margem direita, instalações hoje transformadas em unidade hoteleira)
Foto: © Álvaro Basto (2007). Direitos reservados
Entretanto, o Mário voltou a fazer outro esclarecimento (***):
"Depois de ter lido com mais atenção as intervenções do David Guimarães e do Humberto Reis sobre as pontes do Corubal, e tendo ido à carta do Xitole, verifiquei a existência de uma ponte em ruinas, assinalada nessa carta e que deve ser a tal Marechal Carmona da fotografia.
"Confesso que desconhecia a sua existência pois, pelo menos desde 1950, que a travessia do rio se fazia pela tal passagem submersível de que falei. Ao ler, muito por alto,que a referida ponte Marcehal Carmona estava interrompida e existia no meio do rio um 'pegão', deduzi tratar-se da ponte submersível que, por não estar em uso desde a inauguração da nova Craveiro Lopes, estivesse já em ruína.
"Errei, e peço desculpa.Nunca atravessei o Corubal na tal ponte Marechal Carmona. Sempre o fiz pela submersível e mais tarde pela nova que, penso eu, foi inaugurada em 1955, pois tem o nome de Craveiro Lopes que, nesse ano, visitou a Giuiné. É de supor, portanto, que a derrocada da antiga ponte Marechal Carmona deve ter acontecido antes dos anos 50, certamente por causas naturais.Mais uma vez as minhas desculpas pelo meu involuntário erro".
Guiné-Bissau > Saltinho > Ponte General Craveiro Lopes > Lápide, em bronze, evocativa da "visita, durante a construção" do então Chefe do Estado Português, general Francisco Higino Craveiro Lopes, acompanhado do Ministro do Ultramar, Capitão de Mar e Guerra Sarmento Rodrigues, em 8 de Maio de 1955. Era Governador Geral da Província Poprtuguesa da Guiné (tinha deixado de ser colónia em 1951, tal como os outros territórios ultramarinos...) o Capitão de Fragata Diogo de Melo e Alvim... Craveiro Lopes nasceu em 1894 e morreu 1964. Foi presidente da República entre 1951 e 1958 (substituído então pelo Almirante Américo Tomás).
Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Novembro de 2000 > Brasão, inspirado na ponte do Saltinho, da CCAÇ 2406 (1968/70). Esta companhia, sob o comando do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) esteve envolvia na trágica retirada de Madina do Boé (a sua irmã, a CCAÇ 2405, de Galomaro, sofreu 17 mortos em Cheche) mas também na Op Lança Afiada (triângulo Xime, Xitole, margem direita do Rio Corubal, Março de 1969)...
Guiné-Bissau > Saltinho > Novembro de 2000> Pousada do Saltinho > Brasão, igualmente inspirado na ponte sobre o Rio Corubal, da CCAÇ 2701 (1970/72), companhia a que esteve adido o nosso Paulo Santiago (Pel Caç Nat 53). Era comandada pelo Cap Carlos Trindade Clemente. (***P). Camaradas que passaram por lá: Martins Julião, Carlos Santos, Tony Tavares, Mário Rui, al´+em do médico já falecido, Dr. Faria (Paulo, cito de cor) (****)...
Fotos: © Albano M. Costa (2006). Direitos reservados
3. Comentário de L.G.: Afinal, chegou a haver não duas pontes, mas três pontes sobre o Rio Corubal... É isso ?
__________________
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 7 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5227: Memória dos lugares (51): Ponte Carmona sobre o Rio Corubal (Carlos Silva)
(**) V. poste de 26 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXXV: Estórias do Xitole ao Saltinho: duas pontes, um fornilho e uma trovoada tropical (David Guimarães)
(***) Vd. postes de:
26 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXXVI: As pontes sobre o Rio Corubal (Mário Dias)
26 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXXIX: As pontes sobre o Rio Corubal: rectificação (Mário Dias)
(****) Vd. poste de 13 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1424: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (6): amigos do peito da CCAÇ 2701 (Saltinho, 1970/72)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sábado, 7 de novembro de 2009
Guiné 63/74 - P5228: Memória dos lugares (52): Rio Corubal: afinal, havia... 3 pontes !? (C. Silva / D. Guimarães / M. Dias / Luís Graça)
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