1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Outubro de 2009:
Malta,
Acabo hoje a recensão sobre o Notícias da Guiné.
Amanhã volto ao vosso convívio por causa do livro “A Marinha em África”.
Um abraço do
Mário
Notícias da Guiné, segunda série
Beja Santos
O órgão propagandístico do Governador e Comandante-chefe da Guiné mudou de formato em 3 de Novembro de 1968, tinha-se a ilusão de um jornal, era editado pela Imprensa Nacional da Guiné, secção do Boletim Oficial, para que não houvesse quaisquer equívocos quanto aos conteúdos.
António de Spínola está sempre na primeira página, movimenta-se pela Província, umas vezes como militar outra como político, entra fardado no hospital civil, veste à paisana numa conferência sobre “A Questão de Bolama” no Centro de Estudos da Guiné Portuguesa. Mesmo quando vem à metrópole aparece a conversar com Marcelo Caetano e ministros. Aliás, a visita de Caetano, Silva Cunha ou Pereira Crespo mereceram o maior destaque possível. A substância, no entanto, não conheceu grandes alterações, relativamente à primeira série. O director do jornal devia ser um obcecado pela prevenção rodoviária: todo e qualquer desastre de viação eram alvo de reparo da maior moralidade: as fotografias eram horríveis, tudo desconjuntado e os feridos em primeiro plano, ali ficava o solene aviso. A prisão de larápios mostrava os mesmos depois da captura e produto do roubo. O futebol local e nacional tinha pelo menos uma página por edição, Benfica e Sporting centravam as atenções. Houve um dia em que o jornal nos deu a saber que o Raul Solnado aderira ao Belenenses.
A necrologia, os comunicados das Forças Armadas, a vida social, eram uma constante. Por muito misterioso que pareça, desapareceram os anúncios dos filmes exibidos no cinema UDIB. Havia heróis que passavam de número em número: António Mourão, António Calvário, Madalena Iglésias, Eusébio, Joaquim Agostinho, Simões, Duo Ouro Negro, até vedetas da revista como Humberto Madeira. Também a publicidade conheceu mudanças. Chegara a hora das águas de mesas francesas (Vichy, Perrier e Volvic), não bastava bebê-las no mato, militares e civis tinham que saber da sua existência pelos jornais.
O último exemplar que encontrei data de 22 de Março de 1970, não sei se o jornal faliu ou se faltaram verbas para manter as revoadas de propaganda sobre os feitos de Spínola. É facto que de vez em quando se noticiava a chegada e partida de contingentes militares, mas só Spínola e Pedro Cardoso é que eram mediáticos.
No dia 15 de Fevereiro de 1970 teve lugar a cerimónia, em Bissau, da apresentação da Primeira Companhia de Comandos Africana, junto a imagem por razões que me são caras: aparece a fotografia do Zacarias Saiegh, foi meu furriel, será fuzilado em Novembro de 1977. Na mesma imagem podemos ver o tenente João Januário Lopes que aparecerá na Operação Mar Verde, entregar-se-á em Conacri às autoridades de Sekou Touré, será fuzilado com os seus soldados. Junto igualmente uma imagem de desodorizante Lander que hoje seria proibida por atentatória às regras de higiene...
Seria bom que alguém que tivesse números do Notícias da Guiné posteriores a 22 de Março de 1970 nos comunicasse o facto.
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 28 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5170: Historiografia da presença portuguesa (27): Lembram-se do Notícias da Guiné? (Beja Santos)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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1 comentário:
É muito provável que secção de "Periódicos e Jornais", na Biblioteca
Nacional, ali no Campo Grande, Lisboa, exista uma colecção completa ou quase completa do Notícias da Guiné.
Os jornais de Macau, antes e depois de Abril 1974, estão lá todos.
Um abraço,
António Graça de Abreu
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