Coruche > 19º Encontro Nacional da CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missitá, 1965/67)> O Mário Beja Santos, ao centro, tendo à sua direita, o Henrique Matos (o 1º Comandante do Pel Caç Nat 52), o João Crisóstomo e na ponta o Jorge Rosales (Pel Caç Nat 54); à sua esquerda, estão dois camaradas que Freitas e o Sousa (segundo informação do João)
Coruche > 19º Encontro da CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá) > O Mário mais o Henrique, ambos do Pel Caç Nat 52, e outros dois camaradas que não identificamos (As fotos vieram sem legendas: talvez o João Vaz Neto e o Cunha)
1. Há dias recebemos (e já publicámos) uma mensagem, de 8 do corrente, subscrita pelo Mário Beja Santos, na sequência do 19º encontro da CCAÇ 1439 (1965/67), a que compareceram também outros membros da nossa Tabanca Grande, como o Henrique Matos (Pel Caç Nat 52) e o Jorge Rosales (Pel Caç Nat 54) (*).
Escreveu o Mário:
"(...) Foi graças ao blogue que cheguei à fala com o Henrique Matos Francisco, 1º Comandante do Pel Caç Nat 52. Em Missirá, naqueles idos de Agosto de 1968, os soldados falavam-me de Luís Zagalo Matos, um dos seus heróis, era o seu irã. Escrevi-lhe, pedi-lhe fotografias para as fazer chegar aos soldados de Missirá, mas também aos Soncó e aos Mané.
"Com a publicação dos livros, vieram outros contactos. Por exemplo, o João Crisóstomo, alferes da CCaç 1439, estavam no Enxalé quando aqui chegou o Pel Caç Nat 52" (...)
Mas quem é afinal este camarada João Crisóstomo, já anteriormente evocado pelo Mário ? (**)
"O João Crisóstomo vive em Nova Iorque, o nosso país tem com ele uma dívida incomensurável (os principais jornais dos EUA, as grandes cadeias de televisão, apoiaram-no na defesa do povo de Timor e na preservação do património de Foz Coa, por exemplo), há uns tempos pediu-me notícias do Zagalo, acabámos por ir os dois visitá-lo na Casa do Artista, onde ele vive muito debilitado, depois de um tremendo AVC" (...).
"O almoço[, em Coruche, ] foi um turbilhão de surpresas [, a começar pelo João Crisóstomo]. Fiquei ao lado do Jorge Rosales, foi ele quem em Bolama preparou os soldados do Pel Caç Nat 52. Fiquei em frente do João Neto Vaz, um dos furriéis do Pel Caç Nat 52 que, ao fim de 20 meses de comissão, apanhou uma senhora porrada e foi despachado para Catacunda [, CART 1690], na região de Geba (Bafatá), onde foi capturado e metido numa prisão em Conacri, de onde foi libertado em finais de 1970, como é de todos sabido.(***)
"Conheci também o Cunha que, no dia em que pretendia ir a Bafatá tratar dos papéis para o casório, foi ferido gravemente num joelho, durante uma emboscada entre Xime e Amedalai.
"A companhia dos madeirenses [, a CCAÇ 1439,] entrara na minha vida pelos relatos dos soldados, era um dos meus temas preferidos quando andava de noite pelos postos de sentinela, conversava com eles, enquanto olhávamos para o interior da mata, iluminada a petromax. Esta companhia ficou no Enxalé até Abril de 1967, seguir-se-á a CART [, e não CCaç, ] 1661 [, a que pertenceu o nosso camarada Abel Rei, autor do livro Entre o paraíso e o inferno: de Fá a Bissá, Memória da Guiné, 1967/68." (...)
Guiné > Zona Leste > Enxalé > CCAÇ 1439 > Set de 1966 > Foto 1 > Na messe: 1 - Cap Mil Pires, Cmdt da Companhia [CCAÇ 1439]; 2 - Alf Mil Sousa; 3 - Alf Mil Zagalo; 4 - Médico do Batalhão; 5 - Eu [, Alf Mil Henrique Matos, Cmdt Pel cAÇ nAT 52]; 6 - Alf Mil Marchand, Cmdt do Pel Caç Nat 54; 7 - Fur Mil Antunes, falecido em combate; 8 e 9 - Fur Mil Monteiro e Altino, do meu Pelotão.
Foto: Fur Mil Viegas, do Pel Caç Nat 54. Cortesia e legenda do Henrique Matos
Foto 2 > Na enfermaria > Copos com pessoal da Companhia: de camuflado o Alf Mil Crisóstomo, ao lado estou eu de cigarro nos dedos (para variar); por trás do Crisóstomo, está o Alf Mil Freitas.
Foto: Leiria, Condutor da CCAÇ 1439. Cortesia e legenda do Henrique Matos
2. Comentário de L.G.:
O João Crisóstomo é um português das Arábias....Um dos muitos camaradas nossos que, depois do regresso da guerra, fez-se à vida, e quis conhecer o mundo largo e farto...Que na casa materna, a nossa Pátria, não cabiam todos...ou só cabiam alguns. A história, invulgar, deste nosso camarada, vim a descobri-la na Net... Confirma-se que é um militante de causas nobres (Gravuras Rupestres de Foz Coa, Memória de Aristides Sousa Mendes, autodeterminação de Timor Leste e do Sahara Ocidental).
É o primeiro a inaugurar esta série dos Camaradas na diáspora (que, de resto, já são bastantes, na nossa Tabanca Grande).
O João ainda não faz parte, formalmente, da nossa Tabanca Grande, aguardando-se a sua resposta ao convite que lhe foi endereçado pelo Carlos Vinhal.
Peço à jornalista Maria João Veloso, autora da prosa (em português e inglês), que me deixe, com a devida vénia, citar alguns (largos) excertos... A artista e o retratado bem o merecem (Os nossos leitores farão depois o favor de ler o texto na íntegra e comentá-lo):
Up Magazine > Português no Mundo > João Crisóstomo - Nova Iorque > 22/12/2009 [ Texto: Maria João Veloso; Foto: Marisa Cardoso, editada com a devida vénia]
(...) Chamam-lhe o mordomo activista. A viver em Nova Iorque há 34 anos, João Crisóstomo gasta os tempos livres a lutar por causas em que acredita. Os finais felizes para as gravuras de Foz Côa e da autodeterminação do povo de Timor-leste, contaram com a sua ajuda. Um par de causas apenas, entre tantas outras que tem abraçado.
(...) João Crisóstomo cresceu numa família com grande tradição católica. Muitos dos seus parentes seguiram a vocação religiosa e dedicaram a vida ao sacerdócio. Ele próprio, na juventude, frequentou um seminário de franciscanos, mas acabou por seguir outro rumo. Deste percurso, ficou a vontade de ajudar o semelhante: “Não sou um católico fervoroso, mas a base da minha vida é seguir a palavra de Cristo”, admite. Pode dizer-se que, nas últimas décadas, o português radicado em Nova Iorque se tem dedicado a causas quase sempre relacionadas com Portugal ou os portugueses.
Se hoje em Foz Côa existe o maior museu paleolítico ao ar livre do mundo, João Crisóstomo tem a sua quota-parte de responsabilidade, através da campanha internacional que lançou, em 1995, apelando a que não afogassem este santuário de arte rupestre. “O caso, para mim que vivo no estrangeiro, foi uma surpresa. Não fazia a mínima ideia da existência de Foz Côa e, quando li o artigo no New York Times, achei que nos EUA podia dar alguma ajuda.”
O emigrante publicou então uma carta aberta ao editor do periódico nova-iorquino que explicava o que se estava a passar em Portugal. Mandou também uma outra carta, a Boutros Ghali, então secretário-geral da ONU, onde mostrava a sua preocupação com o facto das obras da barragem de Vila Nova de Foz Côa obrigarem à submersão das figuras. O Times, a BBC, o Le Monde e o Liberation, deram-lhe um grande apoio. Da mesma forma, chegaram a Portugal epístolas suas para jornais como o Público, o Expresso, ou o Diário de Notícias. (...)
O percurso do activista português é no mínimo sui generis. Saiu de Portugal para a Europa para aprofundar os conhecimentos em línguas, tencionando depois regressar e tornar-se profissional de turismo. Mas a vida reservava-lhe várias surpresas. Andou por Inglaterra, França e Alemanha, sempre a trabalhar na área da hotelaria, tirando em simultâneo cursos de inglês e francês. Na década de 1970 rumou ao Brasil, onde começou por trabalhar na recepção de um hotel, aproveitando para tirar um curso de hotelaria na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
A convite de um professor, foi até aos EUA, onde aproveitou para estudar na universidade de Cornell. Quando se preparava para voltar ao Brasil, soube que havia uma senhora a precisar de um mordomo. Jacqueline Kennedy Onassis. “Foi uma experiência extraordinária. Ela era uma senhora em todos os sentidos. Carinhosa, diplomata, muito inteligente, tinha todos os predicados para ser uma primeira-dama.”
Terá sido um bom exemplo, nos anos em que trabalhou para ela, vê-la ajudar prisioneiros, com iniciativas de vária ordem, entre as quais mandar livros para as prisões, ou não hesitar em sair para a rua com cartazes contra a demolição do Grand Central Terminal, a emblemática estação de comboios nova-iorquina. “Inconscientemente fui influenciado pela sua determinação. Nos movimentos que entretanto lancei ela não teve influência directa, mas o John John Kennedy (o filho) sim”.
A actividade como mordomo, e depois como maître de um banco, pô-lo em contacto com personalidades de relevo americanas, da esfera da alta finança e da política, o que tem facilitado a sua actividade como defensor de causas.
Terá sido um bom exemplo, nos anos em que trabalhou para ela, vê-la ajudar prisioneiros, com iniciativas de vária ordem, entre as quais mandar livros para as prisões, ou não hesitar em sair para a rua com cartazes contra a demolição do Grand Central Terminal, a emblemática estação de comboios nova-iorquina. “Inconscientemente fui influenciado pela sua determinação. Nos movimentos que entretanto lancei ela não teve influência directa, mas o John John Kennedy (o filho) sim”.
A actividade como mordomo, e depois como maître de um banco, pô-lo em contacto com personalidades de relevo americanas, da esfera da alta finança e da política, o que tem facilitado a sua actividade como defensor de causas.
A seguir a Foz Côa, João Crisóstomo lutou pela independência de Timor-leste. Quando lhe pediram para abraçar a causa do país do sol nascente, conheceu Anne Treseder, advogada norte-americana bastante informada sobre o assunto. Os conselhos que lhe deu levaram-no, por outro lado, à descoberta do cônsul português Aristides de Sousa Mendes que, a partir de Bordéus, salvou milhares de judeus dos campos de concentração durante a segunda Guerra Mundial.
“Para ajudar Timor-Leste, impunha-se conseguir o apoio da imprensa. Ora, esta é bastante controlada pela comunidade judaica. Se quer o apoio deles, fale-lhes de Aristides de Sousa Mendes, disse-me a advogada”. O cônsul português em Bordéus tornou-se assim uma porta, e “uma causa apaixonante para mim”.
“Para ajudar Timor-Leste, impunha-se conseguir o apoio da imprensa. Ora, esta é bastante controlada pela comunidade judaica. Se quer o apoio deles, fale-lhes de Aristides de Sousa Mendes, disse-me a advogada”. O cônsul português em Bordéus tornou-se assim uma porta, e “uma causa apaixonante para mim”.
O LAMETA – Movimento Luso-americano para a Autodeterminação de Timor-leste –, da qual é presidente, deu seguimento a várias iniciativas de pressão junto das autoridades norte-americanas, como uma petição ao presidente Bill Clinton: “Quando lhe mandei o abaixo-assinado, fazia notar que estavam ali assinaturas conscientes, por exemplo de líderes portugueses e membros prestigiados da comunidade internacional, como Patrick Kennedy (filho de Ted Kennedy).” A contribuição foi decisiva para que a Indonésia mudasse a política em relação a Timor e aceitasse a realização de um referendo, passo em direcção à autodeterminação do povo timorense.
Entretanto, ao conhecer a história de Sousa Mendes, João Crisóstomo começou paralelamente um outro movimento para que se fizesse justiça ao nome do diplomata português que, com um simples carimbo no passaporte, salvou cerca 30 mil vidas, entre as quais as de 10 mil judeus.
Entretanto, ao conhecer a história de Sousa Mendes, João Crisóstomo começou paralelamente um outro movimento para que se fizesse justiça ao nome do diplomata português que, com um simples carimbo no passaporte, salvou cerca 30 mil vidas, entre as quais as de 10 mil judeus.
Na exposição Visas For Life, em Junho de 2003, no Museu da Herança Judaica de Nova Iorque, destaca-se Sousa Mendes, embora o mordomo português tenha lembrado ao curador da mostra, a relevância de outros diplomatas portugueses e brasileiros, nomeadamente Luís Martins de Sousa Dantas, Sampaio Garrido, Teixeira Branquinho e Guimarães Rosa, cuja acção diplomática permitiu salvar também milhares de judeus do holocausto.
A acção mais extraordinária desta causa, contundo, aconteceu a 17 de Junho de 2004. Por iniciativa de Crisóstomo – para assinalar o dia em que Sousa Mendes iniciou a concessão de vistos (em 1944) – organizou-se, com o apoio da Fundação Raoul Wallenberg e de vários cardeais, uma missa de Acção de Graças em 22 países, lembrando não apenas o cônsul português, mas também o sueco Wallenberg e o suíço Carl Lutz considerados por Israel como “justos entre as nações”. Em Abril do ano seguinte, aquando dos 50 anos sobre a sua morte, o nosso entrevistado conseguiu também que o “Schindler português” voltasse a ser homenageado no Museu de Herança Judaica.
João Crisóstomo conta-nos que a luta do momento se prende com a independência do Sara Ocidental
A acção mais extraordinária desta causa, contundo, aconteceu a 17 de Junho de 2004. Por iniciativa de Crisóstomo – para assinalar o dia em que Sousa Mendes iniciou a concessão de vistos (em 1944) – organizou-se, com o apoio da Fundação Raoul Wallenberg e de vários cardeais, uma missa de Acção de Graças em 22 países, lembrando não apenas o cônsul português, mas também o sueco Wallenberg e o suíço Carl Lutz considerados por Israel como “justos entre as nações”. Em Abril do ano seguinte, aquando dos 50 anos sobre a sua morte, o nosso entrevistado conseguiu também que o “Schindler português” voltasse a ser homenageado no Museu de Herança Judaica.
João Crisóstomo conta-nos que a luta do momento se prende com a independência do Sara Ocidental
: “Dizem que consigo tudo o que quero, mas só trabalhando com muito afinco”. Até hoje, tendo como quartel-general a sua casa, e como “arma” um fax, o mordomo activista tem conseguido mover montanhas.
Maria João Veloso
[ Selecção / revisão / fixação de texto / links: L.G.]
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Notas de L.G.:
(*) Vd. postes de:
10 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5969: Convívios (112): 19º Encontro da CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole, Missirá, 1965/67)
12 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5983: O mundo é pequeno e o nosso blogue... é grande (22): As voltas que o mundo dá, graças a um blogue que congrega uma diáspora de combatentes (Beja Santos)
(**) Vd. poste de 2 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5392: Em busca de... (104): Luís Zagallo (ex-Alf Mil, CCAÇ 1439) - Um pedido de ajuda do João Crisóstomo (EUA) que me encheu de lágrimas (Beja Santos)
Foi também encenador, com conforme cartaz que aqui se reproduz, e onde se vê o Luís a contracenar com o Tozé Martinho. Esteve em cena, por exemplo, no Bombarral, em 31-01-2009 - Comédia “O Meu Menino” - TZM Produções:
"Encenação: Luís Zagalo. Interpretação: Tózé Martinho, Luís Zagalo, Fernanda Sargedas, Inês Simôes, Florbela Meneses, Rita Simões, Daniel Garcia e Gonçalo Bettencourt. Autores: Franz Arnold e Ernest Bach"... Cartaz reproduzido, com a devida vénia, do sítio da Câmara Municipal do Bombarral, que tem como único propósito homenagear um camarada nosso, atingido pelo infortúnio da doença. O Luís vive hoje no lar na Casa do Artista,
(***) Vd. poste de 13 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3057: A Guerra estava militarmente perdida (26)? A situação político-militar na Guiné. A. Marques Lopes.
(...) 10 de Abril [de 1968]– Cerca da meia-noite, ataque do PAIGC ao quartel de Cantacunda, causando um morto e fazendo 11 prisioneiros. Os outros, nove, foram obrigados a abandonar o destacamento. O ataque foi conduzido pelo comandante Braima Bangura (fuzilado em 12 de Julho de 1986, juntamente com Paulo Correia e outros, por ordem de Nino Vieira, sob acusação de tentativa de golpe de Estado em 17 de Outubro de 1985) e teve a conivência do régulo Braima Candé e da população. (...)