quinta-feira, 18 de março de 2010

Guiné 63/74 - P6011: Controvérsias (68): Ainda a tragédia de Fajonquito... Como se descavilhavam duas granadas de mão? (António J. Pereira da Costa)

1. Mensagem de António J. Pereira da Costa, com data de 15 do corrente:

Assunto - Fajonquito (*)

Camarada

Aqui te envio mais uma consideração posterior.

Para descavilhar duas granadas-de-mão será necessário descavilhar uma, usando, obviamente, as duas mãos. A segunda tem de ser descavilhada usando apenas uma mão.
Como te recordas, as cavilhas tinham uma certa dificuldade em sair, pelo que não podíamos usar os dentes como os americanos faziam (pelo menos nos filmes de guerra do nosso tempo de adolescência) (**). A solução que me parece mais directa será recorrer a um prego, cabide bem fixo, gancho ou objecto similar, para o que bastava pendurar-lhe a granada e puxar violentamente com uma só mão.
Aqui surgem-me dúvidas acerca de uma possível premeditação, o que remete para o tal diferendo cujas características se nos escapam. E o 1º Sargento de quem se fala e que se afastou? Porquê? Será que previu o que ia acontecer? Como e porquê? E os dois rangers que também morreram? Estavam ao pé do capitão ou apareceram para apaziguar? Se estavam, porquê?

O soldado não teve em linha de conta que matava também dois homens que não tinham que ver com a sua situação. Daqui podemos começar a ver a necessidade que ele tinha de chamar a atenção do mundo que o cercava para a sua desgraça. O que lhe interessava era desistir, deixando a sua assinatura e o eco do seu acto, tanto mais forte quanto mais pessoas levasse com ele. Creio que seria a sua recusa ao Sistema. Será que os rangers tiveram tempo de intervir e tentar qualquer coisa ou o suicida nem sequer lhes deu tempo para isso, tal era o vigor da sua decisão?

Como vês, há mais dúvidas do que certezas. Por isso creio que é necessário investigar bem. Talvez localizando alguém da companhia: o médico, o furriel Enfermeiro, os maqueiros ou o próprio sargento…

Um abraço do

António Costa
(Cor Art na Reserva,
na efectividade de serviço,
Guiné, 1972/74)

PS - Estou a escrever mais uma história, esta sobre a evacuação de Cacoca. [para a série A Minha Guerra a Petróleo (ex-Cap Art Pereira da Costa)...]
__________________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 15 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5997: Controvérsias (67): A Páscoa Sangrenta de Fajonquito, em 2 de Abril de 1972 (António Costa)

(**) A propósito, vd no You Tube , o vídeo (1' 00'') Hand grenades are not for tourists... Parafraseando este título, também se poderia dizer que as granadas de mão não eram (ou não deviam ser) para soldados básicos...

A imagem que reproduzimos, de uma granada defensiva M26A1 m/963, foi retirada, com a devida vénia, do blogue COT 1 > 1ª CART 6323 - Os Guerreiros da Paz... ("O BART 6323 foi o primeiro a partir depois de 25 de Abril de 1974 para Angola. E certamente o primeiro a partir com mentalidade diferente dos seus antecessores. Isto é: uma mentalidade mais pacífica do que bélica").

1 comentário:

mario gualter rodrigues pinto disse...

Caro António Costa

Tudo o que hoje pudemos sugerir são meras especulações. Só os presentes e quem viveu os factos podá ter uma versão mais exacta dos acontecimentos.
No entanto existe um facto que descreves que me chamou atenção. Como foi possivel descavilhar as duas granadas em simultâneo? Não sei se foi o caso! Mas, basta tirar a cavilha a uma, atirar as duas acopuladas ao mesmo tempo que a outra rebenta por simpatia. Como, disse não sei como se passou. Agora que é possivel o arrebentamento das duas granadas em simultâneo, isso é possivel.

Um abraço


Mário Pintoefledu