1. O nosso Camarada Armandino Alves (ex-1º Cabo Auxiliar de Enfermagem na CCAÇ 1589 - Beli, Fá Mandinga e Madina do Boé -, 1966/68), enviou-nos uma mensagem, em 16 de Março, que a seguir publicamos:
Camaradas,
Para conhecimento do Pessoal da Tabanca, queria informar que até Março de 68, no rio Geba com acesso a partidas para Bissau por via fluvial, só existia um cais acostável, em Bambadinca.
Quando havia operações no Enxalé, ou Porto Gole, as LDG ou as LDM ficavam no meio do rio para não encalharem. Se a maré baixava enquanto descarregavam o pessoal e os seus equipamentos, ficavam lá paradas até que ela subisse novamente.
O transporte entre a LDM e a margem era feito por uma ou duas pirogas, que levavam cerca de oito homens cada uma, e que eram literalmente empurradas por um ou dois nativos, pois a profundidade do rio era pouca e a água dava-lhes pelo peito.
Nas zonas mais fundas, as pirogas eram empurradas com o auxílio de varas, que eram cravadas no fundo do rio e impulsionadas à força de braços.
Das pirogas para terra é que eram elas. As margens estavam cobertas por um lodo de cor cinza clarinho, que espelhava os raios do sol.
Éramos avisados para descalçar as botas, amarrar os cordões e pendurá-las ao pescoço, arregaçarmos as calças, ou tirá-las, e para transportarmos a arma acima da cabeça.
Para os primeiros a desembarcar a missão nem era muito má, mas para os últimos, a lama depois de revolvida, era um autêntico calvário. Para movimentarmos as pernas, quanto mais nos mexíamos mais nos enterrávamos pelo lodo abaixo.
Ainda havia pessoal do destacamento que nos atirava cordas para nos içarem, mas com uma mão ocupada com a G3, só nos ficava a outra para nos agarrarmos.
E depois para limparmos aquela lama pegajosa agarrada às pernas?!... Não havia água que chegasse.
Por isso não se admirem de ninguém até essa data falar no cais do Xime. Ele não existia.
Assim como a estrada Bambadinca/Bafatá, que só começou a ser alargada e asfaltada em Jan/Fev 68, pois até aí era uma estrada de terra batida onde não se conseguiam cruzar duas viaturas (GMC ou Mercedes).
Um Abraço,
Armandino Alves
1º Cabo Aux Enf CCAÇ 1589 (1966/68)
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O transporte entre a LDM e a margem era feito por uma ou duas pirogas, que levavam cerca de oito homens cada uma, e que eram literalmente empurradas por um ou dois nativos, pois a profundidade do rio era pouca e a água dava-lhes pelo peito.
Nas zonas mais fundas, as pirogas eram empurradas com o auxílio de varas, que eram cravadas no fundo do rio e impulsionadas à força de braços.
Das pirogas para terra é que eram elas. As margens estavam cobertas por um lodo de cor cinza clarinho, que espelhava os raios do sol.
Éramos avisados para descalçar as botas, amarrar os cordões e pendurá-las ao pescoço, arregaçarmos as calças, ou tirá-las, e para transportarmos a arma acima da cabeça.
Para os primeiros a desembarcar a missão nem era muito má, mas para os últimos, a lama depois de revolvida, era um autêntico calvário. Para movimentarmos as pernas, quanto mais nos mexíamos mais nos enterrávamos pelo lodo abaixo.
Ainda havia pessoal do destacamento que nos atirava cordas para nos içarem, mas com uma mão ocupada com a G3, só nos ficava a outra para nos agarrarmos.
E depois para limparmos aquela lama pegajosa agarrada às pernas?!... Não havia água que chegasse.
Por isso não se admirem de ninguém até essa data falar no cais do Xime. Ele não existia.
Assim como a estrada Bambadinca/Bafatá, que só começou a ser alargada e asfaltada em Jan/Fev 68, pois até aí era uma estrada de terra batida onde não se conseguiam cruzar duas viaturas (GMC ou Mercedes).
Um Abraço,
Armandino Alves
1º Cabo Aux Enf CCAÇ 1589 (1966/68)
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Nota de M.R.:
Vd. último poste da série em:
Vd. último poste da série em:
11 DE MARÇO DE 2010 >
3 comentários:
Armandino: É uma informação preciosa, aliás duas, a do cais do Xime que não existia no 1º semestre de 1968, e a construção e asfaltamento da estrada Bambadinca-Bafatá, ou melhor da única "auto-estrada" que eu conheci na Guiné...
Nunca o PAIGC montou minas ou emboscadas ali,pelo menos no meu tempo... Mas acidentes, por excesso de velocidade, com mortos e feridos, houve vários... Ia-se a Baftá "mudar o óleo", "limpar a vista" e morfar... Seria um suicídio, e punha em causa a segurança de balantas e mandingas que viviam no "chão fula", nas margens do Geba Estreito, e que eram uma fonte importante de informações e reabastecimentos
Pode parecer alarvice e estupidez, mas a verdade é que nunca mais voltei a comer bifes com batatas fritas e ovo a cavalo, como os da Transmontana!... (Aliás, não como, por princípio).
Não Luís Graça e Armandino
Salvo melhor opinião, deve haver aqui um erro com o ano. Eu cheguei em Janeiro de 68 ao Xime/Bambadinca/Fá. A estrada estava asfaltada entre a zona do cais? de Bambadinca e Bafatá.
Não será 1967?
O resto tens razão...espetei-me com o jeep ao virar para Fá...quanto ás comidas...pois.
Um abraço do Torcato
Amigo Torcato Mendonça
Tem toda a razão.Fomos para Fá Mandinga de Baixo em Dezembro de 66 e saímos de lá para Nova Lamego em Março de 1967 com destino a Madina e Béli. Quando volta-mos em princípios de 68 já se encontrava asfaltada. Quem não conhecesse a estrada e gostasse de ir a desfrutar o ar fresco da deslocação em pé em cima do Unimog, tinha a surpresa de levar com os ramos das árvores na tromba,pois aquilo era um autêntico túnel
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