Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
terça-feira, 9 de março de 2010
Guiné 63/74 - P5955: Estórias do Juvenal Amado (25): O Sertã e os companheiros da tenda de campanha
1. Mensagem de Juvenal Amado* (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1972/74), com com data de 2 de Março de 2010:
Caros camaradas
Um pequena estória.
Um abraço
Juvenal Amado
O SERTÃ
O Ivo num falso autoritarismo vira-se para o “Sertã” e diz-lhe:
- O senhor faz favor de ir à cantina e trazer três cervejas, passa pelo Léo trás três pães, porque hoje vamos provar as tais latas que o senhor trouxe de casa e que ainda deixa estragar.
O “Sertã” esboçou um sorriso olhando para a cara do Ivo, que muito sério acrescenta:
- É depressa.
O “Sertã” era um soldado do PelRec muito calado, passava despercebido ou pelo o menos tentava, mas na verdade ele trazia umas latas de carne cozinhada pela mãe, posteriormente conservada no próprio molho, que era de comer e chorar por mais. A acrescentar a isso era o facto de talvez ser o único de nós que ainda tinha dinheiro.
Aliás ele teve sempre dinheiro.
Eu o Ivo, o Sertã e mais dois ou três camaradas éramos os últimos inquilinos da grande tenda de campanha, onde ficámos alojados quando chegámos a Galomaro.
O camarada ainda argumentou:
- E dinheiro?
O Ivo em ar teatral no seu metro e oitenta, levanta-se de um salto, começa a esbracejar, maldizendo a sorte que lhe estava guardada de ninguém fazer, o que ele mandava e apontado a cantina no extremo oposto da parada, lá simulou que lhe dava qualquer coisa má, se o outro não fosse fazer o que ele lhe tinha dito.
O “Sertã” lá foi fazer o que lhe era pedido mesmo sem dinheiro.
Não foi a primeira nem a ultima vez, que o “Sertã” nos emprestou dinheiro. Também nos fizemos convidados às benditas latas com carne em conserva, que iam chegando de tempos a tempos. O pai mandava-lhas sempre, que tinha portador. Para nosso deleite acrescento.
A última vez que vi o “Sertã” foi no 3.º almoço que efectuámos perto de Castelo Branco. Lá estava ele com a esposa e cinco filhos. O sorriso era o mesmo e a festa que lhe fizemos foi bem demonstrativa da nossa amizade e estima por ele.
O próximo Almoço que será no dia 1 de Maio é lá perto, talvez o “Sertã” apareça.
Um abraço
Juvenal Amado
O Sertã em primeiro plano
Da esquerda para a direita: Borges, Roque, eu e Caetano que é o organizador do almoço este ano
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 8 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5954: Convívios (113): Pessoal do BCAÇ 3872, dia 1 de Maio de 2010, em Cabeçudo - Sertã (Juvenal Amado)
Vd. último poste da série de 25 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5707: Estórias do Juvenal Amado (24): O Cafezinho, ou uma história de vida
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