terça-feira, 29 de junho de 2010

Guiné 63/74 - P6654: José Corceiro na CCAÇ 5 (13): Ritual do Fanado no Aquartelamento de Canjadude

1. Mensagem de José Corceiro (ex-1.º Cabo TRMS, CCaç 5 - Gatos Pretos , Canjadude, 1969/71), com data de 18 de Junho de 2010:

Caros amigos, Luís Graça, Carlos Vinhal, J. Magalhães.
Como me tinha comprometido, no P6320**, trago mais uma vez ao Blogue o tema do Fanado em Canjude, Guiné.
Deixo ao vosso critério a publicação, ou não, assim como a inclusão das fotos onde acharem apropriado.

Um Abraço
José Corceiro


José Corceiro na CCAÇ 5 (13)

RITUAL DO FANADO NO AQUARTELAMENTO DE CANJADUDE

Desde criança, com seis ou sete anos, tanto quanto me lembro, que nutro particular interesse por matérias relacionadas com os seres Vivos (a Vida) e a sua interacção com o meio circundante. A curiosidade, o gosto, a vontade de mais saber, foi evoluindo para temas mais específicos, na área da Biologia (Citologia, Histologia, Fisiologia, Anatomia, Genética, Bioquímica, etc. etc.).

Sempre admirei e fico estupefacto, ao confrontar-me com o alto nível de organização social das formigas, e outros insectos, ou seja, a Eusocialidade. Lembro-me dos tempos de criança, as traquinices que eu fazia ao descontinuar os corredouros da passagem das formigas, limpando nos trilhos os seus vestígios de marcação, suspendendo assim a sua azáfama laboriosa, ver as suas resistências até se organizarem novamente e partirem à luta do quotidiano, não sabendo eu, na altura, nada sobre ácido fórmico (metanoico) ou sobre o poder das feromonas. Verificava, inicialmente, a reacção de indecisão e pânico gerado no grupo dos insectos, por lhe faltarem os rastos guias, marcados com feromonas, no seu carreirinho que os orientava rumo ao alvo alimentício, até que se ordenavam e disciplinavam, para logo de seguida prosseguirem, com a sua estafa, em piso adjacente ao descaracterizado, com destino ao objectivo, nos dois sentidos, sem desfalecimento, cansaço, ou desmotivação, mas, antes sim, com expediente, determinação e afoiteza, pugnando pela sobrevivência do formigueiro.

Recordo também a minha perplexidade e admiração, devido à majestosa estrutura social e energia dinâmica das abelhas, na sua labuta infatigável para governar e perpetuar a vida. Intrigava-me a rapidez com que chegavam à descoberta do mel, por mais camuflado que estivesse, elas apareciam num ápice e iam direitinhas ao mel, que eu colocava em caixinhas da pomada dos sapatos, já vazias, em sítios escondidos e de difícil acesso, a dois ou três quilómetros de distância do local onde estavam as colmeias, o apiário, que era do meu avô, um pequeno industrial de mel e seus afins (aguardente, a cera…), que tinha umas centenas de cortiços com enxames de abelhas.

Mais deslumbrado ficava eu quando o meu avô crestava as colmeias, geralmente duas vezes por ano, cujo mel era em cada época de diferente densidade, viscosidade e cor, consoante a captação do néctar, pelas abelhas, era mais ou menos plurifloral. Também era em função do peso que a colmeia tinha e conforme a variação das Estações do Ano, assim como a mudança do local dos cortiços para regiões de mais ou menos floração, que se aferia se devia haver segunda cresta, estes factores tinham muita influência no armazenamento do mel na colmeia.

Logo que o meu avô despregava e levantava o tampo superior do cortiço, ao tirar as “sovinas” (“viros”, pregos de madeira feitos dos caules das “xaras” estevas) e me deixava ver o interior da colmeia, com capelo enfiado na cabeça e depois de utilizar a mecha para afugentar as obreiras, podia observar os seus labirintos de acessos e movimentações, habilmente arquitectados pelos laboriosos animaizinhos, que os dimensionavam com um alinhamento e aprumo constantes, cujos edifícios nada mais eram do que os favos de mel, devidamente organizados e distribuídos pelas trancas cruzadas do cortiço que os suportavam. Ficava intrigado e maravilhado, como é que um insecto tão pequenino a laborar no escuro, conseguia ordenar com tamanha perícia, precisão e beleza, tão preciosas obras de arte, concluídas com todo o rigor matemático, quer na uniformidade de enfileiramento dos acessos, quer na perfeição da arrumação dos favos. Nos favos, os seus alvéolos todos geométricos e homólogos, obedecendo ao rigor das leis trigonométricas, cheios de mel e tamponados com tamanha mestria, tornavam-se tentação para os saborear, despertado no homem o desejo de saquear as colmeias constantemente.

Nos dias de cresta, eu não faltava a esse acontecimento, aguardado com ansiedade e euforia e, logo pela manhã, todo prazenteiro, deslocava-me para o local da faina, onde com curiosidade ficava atento ao desenrolar de todas as tarefas dos crestadores com a crestadeira em punho, para fazer a cresta. Eu, logo que presumisse ser oportuno, seleccionava um favo que me parecia ser o mais perfeitinho, ainda que todos iguais, para me deliciar e besuntar.


Foto 1 - Livro que o meu avô me deu quando eu tinha 9 ou 10 anos.

Ainda hoje guardo um livro que o meu avô me deu, sobre Apicultura, escrito em Espanhol, porque na época não havia nada escrito em Português sobre o tema, andava eu na escola primária.

Tem sido esta curiosidade intrínseca na minha génese, que me tem acompanhado pela vida fora e, foi talvez, por condão a ela, que me ia metendo em palpos de aranha, quando da minha falta de prudência ultrapassei o limite do razoável e quis tirar fotos na mata ao Altar de Rituais do Fanado, onde as meninas de Canjadude iam a ser mutiladas, (Fanado) como relatei no Poste 6320.

Foto 2 - No terreiro sagrado da Tabanca, com o Povo reunido, creio que vedado ao sexo feminino, dá-se inicio aos rituais festivos. Vê-se à frente o Sr. Capitão Costeira, no centro da foto.

Foto 3 - Animal sacrificado, cabrita, que faz parte do ritual e cujas vísceras, e outras partes do corpo, são colocadas numa taloca de árvore sagrada, como oferenda ao Deus Alá.

No comentário que fiz no Poste 6320, prometi que traria o tema do Fanado novamente ao Blogue, isto porque no espaço de um ano houve uma mudança muito acentuada na mente e no procedimento, dos Homens Grandes da Tabanca de Canjadude, para encarar as tradições e dar outra permissividade a toda a problemática que envolve o cerimonial do Fanado. Deu-se uma abertura, salto de gigante, impensável, porque pela primeira vez em Canjadude foi facultado (convidados) aos militares metropolitanos, que se envolvessem um pouco, nos rituais festivos da Tabanca, quer assistindo fisicamente, quer nas tarefas de organização dos meios de suporte, de forma a poder criar condições e disponibilizar estruturas com mais potencialidades de salubridade, para que a execução do Fanado fosse operado em local menos inclemente, com utensílios e meios mais higienistas (anti-sepsia), de forma a minimizar os efeitos funestos das infecções e seus colaterais.

Foto 4- Reunião dos Homens Grandes das etnias representadas, Anciães, a planear o desenrolar do ritual, vendo-se no meio, o Sr. Capitão Costeira.

Foto 5 - Momento solene de passagem de penhor.

Esta abertura de comportamento da parte dos civis de Canjadude, deve-se em parte ao empenho e envolvimento do Sr. Coronel Arnaldo Silveira Costeira, que na época como Capitão, foi um dos quatro Comandantes na CCAÇ 5, que eu conheci. Foi a diligência e a visão para por em prática, toda uma política de reconciliação e entrosamento à comunidade civil, levada a cabo pelo Sr. Capitão Costeira, homem com sensibilidade, sensatez, sentido de responsabilidade e dever, que estimulou toda uma conduta de avizinhamento, favorável para os militares e civis. Soube interpretar e aproveitar, no bom sentido, as deliberações das linhas orientadoras da política que aspirava implementar na Guiné, o Comandante-Chefe, Sr. General António Spínola, (vulgarmente chamada “psico”) tão propalada na altura em que o lema era “por uma Guiné Melhor”. A partir daqui, creio eu, que as portas do Aquartelamento Militar de Canjadude, ficaram mais permeáveis e acolhedoras às celebrações das solenidades civis, dando assim um contributo e prova de compromisso para uma aproximação sadia entre civis e militares, assim como ficou implícito uma confluência de sinergias propícias à melhoria da qualidade de vida da população civil, contribuindo de alguma maneira para um ajuste de vontades. Houve uma mudança perceptível para melhor, com mais confiança, acolhimento e doação, na coabitação dos civis com os militares, desde que eu cheguei a Canjadude, até sair de lá, algo melhorou.

Foto 6 - Deões juntos com a criançada e com os animadores de festividades, cujo trio se vê em último plano, de pé, tendo um polo verde.

Foto 7 - Início da preparação das meninas de Canjadude que iam ser Fanadas, com os familiares.

Em rituais de Fanado, as crianças ficaram um pouco mais protegidas, ao ser feito no Aquartelamento, onde se criaram algumas condições de salubridade e assepsia, não tantas quantas o acto exigia, mas já foi positivo. É digno de destaque o precioso contributo do envolvimento do pessoal de enfermagem que estava a postos para socorrer alguma urgência, ou se algo descambasse para além do propósito. Neste âmbito, pode dizer-se que já foi uma pequena vitória.

Para mim, é muito complicado compreender a circuncisão nos dois sexos como imposição religiosa, ou a base que sustenta a sua execução. É lógico, que no homem, quando necessária, por uma questão de sanidade, ou disfuncionalidade, (fimose, com anel prepucial muito apertado, podendo provocar estrangulamento) deve ser praticada em condições higiénicas.

A abominação, pela circuncisão masculina, dobrou ao ver dois miudinhos na “enfermaria” de Canjadude, a fazer curativo ao pénis, com a glande e área do sulco coronal, tudo infeccionado devido a uma má prática da circuncisão e, à dilação de tempo que mediou até os familiares decidirem, com tibieza, que as crianças precisavam de ser observadas e tratadas. Uma das crianças aparentava já não ter glande peniana, confundia-se glande com coroa peniana. Por aquilo que vi, fiquei sem saber se foi no acto da circuncisão, em que um auxiliar distende o prepúcio com uma das mãos, num sentido, retraindo a glande com a outra mão, no sentido oposto, com o pénis apoiado num cepo (base de encosto) para decepar o prepúcio com objecto cortante. Não sei se terá sido ao executar a acção de eliminar o prepúcio, que terá falhado a orientação do cutelo rumo à direcção do objectivo e, mutilaram acidentalmente parte da glande, ou se foi devido à evolução da infecção, que já estava em estado avançado, pois mais parecia que ia tudo gangrenar, porque os familiares só recorreram à enfermaria em último caso e com desconfiança. O que esta criança padecia/ceu, pois até urinar se tornava suplício …

Foto 8 - Preparação dum bebé para ser Fanado.

Foto 9 - Meninas de Canjadude a serem preparadas (perliminares) para o Fanado.
Ora, se eu era um inconformado e execrava a circuncisão masculina da maneira e razão pela qual era feita, muito mais me repugnava o acto da excisão do clitóris e dos pequenos lábios vaginais, nas meninas, ou seja a Mutilação Genital Feminina. Acção horrenda, impossibilitando e negando à mulher o direito ao prazer sexual, além de todos os inconvenientes para a saúde mental e física, assim como ficam sequelas, durante a vida, geradoras de graves problemas nefastos para a função da maternidade. Ainda que na mulher, a região púbica seja pouco ramificada por terminações nervosas, mutilar sem anestesia e anti-sépcia, e sabe-se lá com que tipo de objecto cortante, deve ser horripilante para a criança o feito que a fanateca executa ao fanar os órgãos do corpo da infeliz fanada. (nos partos quando a dilatação não é suficiente e há perigo de rasgar a abertura vaginal, o mais provável é que o médico, para controlar e orientar o rasgo, se antecipe e dê um corte a frio, (episiotomia) na zona do períneo e, é depois provável, que a sutura do corte até seja feita sem anestesia, atendendo à particularidade de insensibilidade da região púbica da mulher).

A MGF é uma prática execrável, e é lamentável que os Portugueses, nos séculos que estiveram à frente dos destinos da Guiné, nunca tivessem tido a preocupação, para ir minimizando a barbárie, que é, a prática da execução da Mutilação Genital Feminina.

Foto 10 - Rapazes de Canjadude calçados a caminhar na Tabanca rumo ao Aquartelamento para serem Fanados.

Foto 11 - O Sr. Capitão Costeira, como anfitrião, a receber e a cumprimentar à entrada da porta do Aquartelamento, os rapazes que se dirigiam para o local onde iam ser Fanados, a quem desejava felicidades.

Pelos relatos e descrição que me foram feitos por nativos de Canjadude, a forma como era efectuada a MGF, era dum barbarismo primário, consumando-se o fanado da pobre criança, na presença das outras meninas do grupo, insurgindo-se estas, negativamente e repudiando a que estava a ser fanada, caso esta chorasse ou tivesse lamentações. No cerimonial as meninas caminhavam descalças.

Nos preparativos que antecediam o acto da circuncisão dos rapazes, posicionavam-se em alinhamento, sendo incentivados por um adulto, a entoar cânticos guerreiros para exorcizar os espíritos malévolos e maus-olhados, assim como serviam, o extasiar dos cânticos, para expulsar o medo e incutir coragem e orgulho aos efebos.

Foto 12 - Rapazes no local onde estavam a ser Fanados, dentro do Aquartelamento, lado direito quando se saía para Nova Lamego, entre as rochas e o abrigo das praças, a entoar hinos guerreiros dirigidos por um adulto. Podem ver-se os biombos e estruturas, instalados pelos Militares. Aqui, os rapazes já estão descalços, em sinal de pureza e humildade para terem contacto com a terra.
Pelo que sei do fanado dos rapazes, estes não assistiam visualmente à circuncisão do companheiro, cada um avançava por sua vez para o local onde era executado o acto, ouvindo-se de seguida gritos lancinantes deste, quando lhe eliminavam o prepúcio. Logo de seguida, ele já fanado, saía do local aos saltos, a rir e a dizer que já era homem. No cerimonial os rapazes caminhavam calçados.

Em Canjadude estavam representadas quase todas as etnias do povo da Guiné, pelos militares da CCAÇ 5, e suas famílias. Cada etnia realizava o fanado nos seus membros em idades distintas. Havia etnias que o executavam logo em bebés e outras só o faziam já em adultos.

Foi insensibilidade dos nossos governantes, ao longo de anos e anos, ignorarem esta prática aberrante, sobre tudo no sexo feminino, sem que nada tenha sido feito para a debelar, quer em termos de educação, sensibilização, ou sanidade, faltou coragem e arrojo, para enfrentar o problema, embora o fármaco fosse difícil de administrar, mas era preciso curar esta tradição anormal e desviante no ser humano, mas nada foi feito, mesmo agora, parecem andar adormecidos os defensores da libertação da mulher! Foi pena…

Um abraço para todos e boa saúde.
José Corceiro

P.S.
Lanço um repto a algum camarada que tenha sido efectivamente Fanado e que com conhecimento de causa, nos possa tecer algum comentário, esclarecedor, sobre o significado das diversas etapas do ritual porque passam, até ser Fanado, referenciando as próprias fotos.
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 24 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6641: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (22): José Corceiro, um bom filho, um melhor pai, um avô babado

(**) Vd. poste de 5 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6320: José Corceiro na CCAÇ 5 (10): Dia de Fanado em Canjadude

Vd. último poste da série de 3 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6527: José Corceiro na CCAÇ 5 (12): Canjadude visitada por dois ilustres Generais

Guiné 63/74 - P6653: In Memoriam (46): Luís Zagallo de Matos, herói do Cuor (Beja Santos)


Luis Zagallo de Matos, ex-alf mil CCAÇ 1439 (1965/67)


1.
  Mensagem do Mário Beja Santos, com data de ontem:


Queridos amigos, Não tenho coragem de telefonar ao Mamadu Camará, ao Queta ou ao Abudu e dizer-lhes que o herói do Cuor abandonou a cena, ainda andou lá pelo firmamento, com garrulice, a despedir-se das gentes que guardam o seu nome. Ali, entre os regulados do Enxalé e do Cuor, ele foi herói, irã e deus da guerra. Coisa curiosa, colou-se à minha pele porque era o nome mais admirado nas gentes que eu comandei. Também por isso me curvo respeitosamente pela sua memória. Um abraço do Mário


Lembranças do Luís Zagallo de Matos (*)
por Beja Santos


Algures, por meados de Maio de 1968, foi-nos comunicado no Regimento de Infantaria nº 1 que o BCaç 2851, de que eu fazia parte, ia seguir para a Guiné, em Julho. Conversando com a Cristina, ela pediu-me insistentemente: "Fala já com o Luís Zagallo, ele veio da Guiné, seguramente que te pode informar do que é que vocês lá vão encontrar. Tens aqui o telefone. Ele trabalha com a família ali para os lados de Santos".


A Cristina fizera amizade com ele na Faculdade de Letras e depois no respectivo grupo cénico, já nessa altura o Luís Zagallo revelara a sua garra de artista e o seu pendor para as artes da encenação. Não fui muito feliz na conversa ao telefone. Disse-me abruptamente que a Guiné era um livro fechado, que pretendia esquecer tudo, era sítio que não recomendava a ninguém, e por aí adiante. Confesso que achei toda esta conversa desprimorosa, havia outros pretextos para não chegarmos à fala, já que era exclusivamente a Guiné o assunto a deslindar. E esqueci o encontro que não chegou a ter lugar.


E em Agosto chego a Missirá. Duas ou três noites depois de lá viver, nas rondas, em conversas com as sentinelas, um nome se foi impondo nas lembranças dos soldados: alfero Zagallo (foto à esquerda), da companhia dos madeirenses [,CCAÇ 1439, Enxalé, 1965/67,], era esta a permanente referência do heroísmo puro, o militar de peito feito, em África ou se ama o guerreiro imortal ou se esquece rapidamente o homem comum.

Toda esta aura entre o mitológico e sobrenatural levou-me a perguntar ao Saiegh: "Quem é este alferes Zagallo que anda na boca do mundo, este semi-deus do heroísmo incomparável?"


E a verdade irrompeu como bomba: estávamos a falar de Luís Zagallo de Matos (foto acima), o mesmo que tinha estagiado em Paris e no Teatro Nacional D. Maria II. Daí as cartas que lhe enviei, algumas não obtiveram resposta, outras trouxeram as fotografias que os soldados pediam, vieram notícias inócuas, muitos cumprimentos, numa dessas cartas (aqui está a arte de bem representar) o Luís chegava ao cúmulo de prometer voltar a Missirá e ao Enxalé. O teor das cartas que lhe enviei e de que guardei lembrança, vêm nos meus dois livros sobre a minha comissão na Guiné (**).

O resto está escrito no blogue, era uma morte anunciada. O astro definhara depois de um brutal AVC, recusava ver amigos e conhecidos. Afugentou-me do seu quarto, na Casa do Artista. Depois fui lá com o João Crisóstomo, aceitou ver-me. Levava decorada a mensagem, saiu-me de um só jacto, era a minha vez de me pôr no palco: "Luís, os nossos soldados nunca o esqueceram. O seu nome é sempre lembrado em Missirá e no Enxalé. O Luís é o destemido condutor de homens que eles recordaram com grande saudade. Veja se melhora e cumpre a promessa de lá voltar".


Com um nó na garganta, acabei a prédica em frente daquele homem acamado que dava contínuos sinais de desalento para a vida. Sorriu-me, virou-me a cara, a conversa findara.


No dia seguinte, na reunião em Coruche, ele foi recordado. No domingo passado, a minha filha telefonou-me ao princípio da tarde, o Luís tinha partido. Claro que não partiu, anda a parodiar nos céus do Cuor, se fosse uma personagem do Jorge Amado emborcava cachaça, metia-se num jipe de madrugada e ia de Enxalé até Missirá a afugentar os demónios, cantarolando. Mas não, ele esvoaçou por aqueles céus e recordou, na plenitude, as amizades que ali fez, cumpriu a promessa visitando as gentes que nunca o esqueceram. Agora descansa em paz, tem direito à representação final. 


Mário Beja Santos


[ Fixação de texto / Bold a cores: L.G.]
___________


Notas de L.G.:


 (*) Vd. poste de 27 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6646: In Memoriam (45): Luís Zagallo (1940-2010), actor e encenador, ex-Alf Mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, 1965/67)


(**) Vd. 30 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1637: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (40): Cartas de além-mar em África para aquém-mar em Portugal (2)


Carta para Luís Zagalo Matos

(...) "Estimado Luís Zagalo:

"Obrigado pela sua carta. Li-a aos homens de Missirá, riam e batiam as palmas de contentamento por saber que não esqueceu este povo. Vou tirar fotografias e mandar-lhe. Tenho aqui um soldado que insistiu em contar-me as suas façanhas, ele estava de sentinela e durante horas ouvi falar de si, arrumando ideias sobre o princípio da guerra e o seu desenvolvimento até hoje.



"Os meus soldados estavam em Enxalé ao tempo em que aqui havia uma companhia, a que V. pertencia. O pelotão 54 estava em Porto Gole, o 52 acabava de chegar a Enxalé. V. estava destacado em Missirá e fazia frequentemente o percurso com dois Unimogs e um jipe, reabastecia-se no Enxalé. Até ao dia em que uma mina anticarro mudou tudo, na curva de Canturé em ligação com a estrada ao pé de Gambana.

"Este meu soldado, de nome Queta, contou-me que um furriel ficou tão despedaçado que foram buscar as pernas a uma árvore. Para este povo V. é um herói porque conhecia toda esta região, era destemido e amigo de ajudar. O Queta não é para intrigas, baixou a voz e disse-me "Nosso alfero, Zagalo ia a toda a parte mas tinha medo de ir ao Gambiel, pois naquela altura as tropas portuguesas abandonaram os quartéis em Mansomine e Joladu, só ficou Geba". Como não lhe quero tirar os méritos, estou inteiramente à sua disposição para o levar ao Gambiel, se este episódio for importante para que o seu nome se torne numa lenda.

"Por aqui, chegou a minha vez de ter o quartel incendiado e de estar a viver as maiores dificuldades. Mas não vou incomodá-lo mais com esta guerra, fico feliz por saber que V. foi colega da Cristina. Como não irei a Portugal tão cedo, e se for possível ajudar-me peço-lhe que lhe telefone e lhe fale desta guerra, desdramatizando o que é possível desdramatizar.

"Prometo mandar-lhe as fotografias em breve, não espero ir ao Enxalé mas vou mandar fotografias do Geba e dos palmeirais à hora do pôr do Sol. Se lhe for possível, na resposta mande-em uma fotografia sua para eu entregar ao régulo. Só fiquei triste em saber que V. nunca mais teve um sono completo e que tem pesadelos quando se lembra dos momentos trágicos que passou. Desejo que recupere e peço-lhe por tudo que me dê companhia, pois os amigos de Missirá meus amigos são. Até breve" (...).

Guiné 63/74 – P6652: Parabéns a você (126): Santos Oliveira, nasceu a 29 de Junho de 1942 (Os Editores)

1. Hoje, dia 29 de Junho de 2010, cumpre mais um aniversário o nosso camarada Santos Oliveira, que foi 2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf, Pel Mort 912, Como, Cufar e Tite, 1964/66.

Recordamos que foi no poste P2282, de 19 de Novembro de 2007, que o Luís Graça endereçou a seguinte mensagem ao Santos Oliveira:

“Santos,
És bem-vindo à nossa Tabanca Grande, e ainda para mais pertencendo tu a uma camada, mais velha, da chamada geração da guerra colonial... De facto, a malta de 1961/66 está menos representada no nosso blogue... Em número, não em qualidade...
Podes pertencer à nossa tertúlia, juntando aos teus elementos de identificação (que tiveste a gentileza de nos mandar) mais duas fotos (digitalizadas, em formato .jpg), uma do teu tempo de Tite e do Como e outra actual...
Já agora, e como é da praxe, escreve mais umas tantas linhas sobre o teu Pelotão, a tua actividdade operacional, a Operação Tridente (1), os teus camaradas, a Guiné do teu tempo, etc. Se tiveres fotos e/ou estórias de Tite, manda, que é raro aparecerem referências a essa terra onde, oficialmente (segundo o PAIGC e as autoridades portuguesas da época), a guerra começou, a 23 de Janeiro de 1973 (2)...”

Postal da autoria do nosso Camarada Miguel Pessoa.
2. Independentemente das mensagens e comentários que os nossos Camaradas enviarem e colocarem, futuramente, no local reservado aos mesmos neste poste, em nome do Luís Graça, Carlos Vinhal, Virgínio Briote, Magalhães Ribeiro e demais Camaradas da Grande Tabanca, que por vários motivos não puderem enviar-te as suas mensagens, queremos:
Desejar-te neste teu aniversário os nossos maiores e melhores votos, para que junto da tua querida família sejas muito feliz e que esta data se repita por muitos, bons e férteis anos, plenos de saúde, felicidade e alegria.
E mais te desejamos, que por longas e prósperas décadas, este "aquartelamento" de Camaradas & Amigos da Guiné te possa dedicar mensagens idênticas, às que hoje lerás neste teu poste e no cantinho reservado aos comentários.


Estes são os mais sinceros e melhores desejos destes teus Amigos e Camaradas, que como tu, um dia, carregaram uma G3 por matas e bolanhas da Guiné.


Com montanhas de abraços fraternos.
__________
Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
24 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6636: Parabéns a você (124): Vasco Joaquim, ex-1.º Cabo Escriturário da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1972 (Os Editores)

Guiné 63/74 - P6651: Parabéns a você (125): José Rodrigues Firmino, ex-Soldado da CCAÇ 2585/BCAÇ 2884 (Os Editores)

1. Neste dia 29 de Junho de 2010, dia dedicado às festividades de S. Pedro, faz anos o nosso camarada José Firmino (ex-Soldado Atirador da CCAÇ 2585/BCAÇ 2884, Jolmete, 1969/71) a quem a Tertúlia vem por intermédio deste poste desejar uma longa vida cheia de qualidade, junto dos seus familiares e amigos.

2. José Rodrigues Firmino que veio até nós pela mão do nosso tertuliano Sousa de Castro no mês de Setembro de 2007, é um viseense a residir bem perto do Porto, mais propriamente em Paredes.


Caro José Firmino, muitos parabéns pelos teus 63 anos.
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 24 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6636: Parabéns a você (124): Vasco Joaquim, ex-1.º Cabo Escriturário da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1972 (Os Editores)

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Guiné 63/74 - P6650: V Convívio da Tabanca Grande (10): A palavra a quem esteve presente (1): Manuel Maia

1. Mensagem de Manuel Maia* (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74), com data de 27 de Junho de 2010:

Caro Carlos,
Pela primeira vez tive o grato prazer de estar reunido neste convívio da Tabanca Grande.
Foi uma satisfação enorme poder abraçar uma série de camaradas que conhecia apenas da net, pelos seus escritos mais ou menos contundentes, melhores ou menos conseguidos do ponto de vista qualitativo, mas todos, sempre, prenhes do idealismo que nos une e do sentido de solidariedade que tem sido apanágio visível desde a hora em que sigo, mais ou menos de perto, o blogue do Luís Graça, afinal a razão mestra para este relembrar de África num regresso saudável ao passado, e força motriz e aglutinadora de vontades.

Não vou comentar o repasto, porque não foi o objectivo do Encontro, mas sim a alegria, o são convívio que todos encetaram, suportado nas entradas e no copo desanuviador de uma ou outra situação de menor à vontade.

Correu tudo muito bem, creio, surgindo apenas da minha parte um pequeno reparo, como que uma pedra no sapato, que não poderia deixar de referir agora, horas de sono cumpridas...

Com muita pena minha, mau grado algumas discretas buscas que fiz a intervalar as entradas e a passagem à sala de jantar para fruir do almoço aprazado, e logo após o levantar das mesas para se dar sequência aos bons momentos musicais com vozes femininas de alta qualidade, bem como algumas masculinas, mormente no fado de Coimbra onde alguém que só ouvi, me fez pensar que afinal o Zeca estava vivo, realçando ainda o Mexia, fadista de raça, sempre muito bem acolitados pela excelência dos violas...

Pois nesses intervalos, dizia, qual mítico Holmes, ou não menos afamado Hercule Poirot (para não vos remeter ao nosso inspector Varatojo...) procurei uma pequena pista que fosse, um mínimo detalhe por mais insignificante que fosse o modo em que pudesse estar travestido, e... nada...

Convenhamos que senti um misto de frustração e de quase desânimo, mas como sou persistente, não dei a busca por encerrada e estou certo que mais convívio, menos ajuntamento, um dia vai ser dia, e vou poder dar graças aos deuses, e à nata dos investigadores que foram a minha fonte inspiradora nos métodos de busca que utilizo, por finalmente atingir uma espécie de orgasmo cerebral na sequência da detecção de uma veneranda figura do espectro bélico português, que roída pelo remorso, mas, apesar de tudo, apostando na máxima que diz: mais vale tarde do que nunca, se disponha a descer do pedestal em que se auto colocou, para, descendo à terra, apresentar o seu pedido de desculpas e finalmente sarar assim a ferida que sangra nos vivos mas sobretudo mancha a honra dos mortos, quando irreflectidamente, (como alguns gostam de dizer...) enxovalhou os muitos milhares de homens portugueses com H grande que nos tarrafos, nas matas e bolanhas da guiné, deram o seu esforço e o melhor tempo das suas vidas, em prol dum país ingrato que os ignora e lesa de forma despudorada, vergonhosa e cobarde, e ajudaram o dito a atingir um estatuto comprovadamente injusto porque lhe falta o sentido da honra que sempre norteou os militares e as suas instituições...

Um dia pode ser dia...

Mas vamos às sextilhas...

P`ra apreciar a vida e bons pitéus,
Na "terra prometida", estão guinéus,
Em festa de amizade e alegria...
Soberba foi a escolha, a mostrar siso,
Fonte termal, jardim do paraíso,
Monte Real, o berço do Mexia...

Sem tiros de Kalash, R.P.G.
Napalm, Breda, Uzi, F.B.P.
Sem perdedores nem gente que aqui ganhe.
Abraços lassos são arrás de paz
Que todo e cada um cá mostra e traz,
Qu`estoiro só do tinto e do champagne...

Centena e meia aqui atabancados,
A reviver por si, casos passados,
Saudade é um atributo lusitano...
Mau grado aquele enorme sofrimento,
voltar, p`ra nós ,estou certo, é sentimento,
Comum ao periquito e grã decano...

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Notas de CV:

(*) Vd. poste com data de 24 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6242: O 6º aniversário do nosso blogue (28): O meu bem haja com o vozeirão maior que se possa conceber (Manuel Maia)

Vd. último poste da série de 28 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6649: V Convívio da Tabanca Grande (8): Monte Real, sábado, 26 de Junho: Slideshow (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P6649: V Convívio da Tabanca Grande (9): Monte Real, sábado, 26 de Junho: Slideshow (Luís Graça)

 

Vídeo (10' 21''): Luís Graça (2010). Alojado em You Tube > Nhabijoes


Estas fotos também estão disponíveis, com melhor resolução, em verdadeiro slideshow, no nosso álbum Picasa (Galeria pública).


 Amigos e camaradas: Vejam aqui mais fotos (da autoria do nosso editor Luís Graça) sobre a nossa
 jornada de convívio do passado dia 26 (*).


 Foi uma belíssima jornada, num sítio magnífico, num dia de sol esplendoroso, no Palace Hotel das Termas de Monte Real, com muitas caras novas (cerca de 45% do total de mais de centena e meia de participantes, vieram pela primeira vez ou, ou pelo menos, não tinham vindo ao IV Encontro), e sobretudo com uma forte representação feminina.


Parabéns a eles e elas... É para já o que, muito rapidamente, se me oferece dizer neste início de semana. Faço votos que todos tenham chegado bem as suas casas, já que alguns de nós vieram de bastante longe, doa Açores, do Algarve, de Trás-os-Montes... Salvo melhor e mais actualizada informação da Comissão Organizadora, tivemos 152 pessoas à mesa... Houve, pois, algumas baixas de última hora, por motivos de força maior... Continua a ser, em todo o caso, o nosso convívio mais concorrido, desde 2006 (I Encntro Nacional)... Em relação ao ano passado, tivemos mais 20 presenças... Uma palavra de agradecimento e carinho deve ser voltada a dar à Comissão Organizadora, e em especial ao Joaquim Mexia Alves, que foi também o nosso anfitrião. LG


PS - Sentimos, naturalmente, a falta de muitos outros amigos e camaradas! Mas, como já tive ocasião de comentar noutro poste, a o convívio foi um momento, bonito, dos amigos e camaras da Guiné que se juntam debaixo do poilão da Tabanca Grande!

A tarde esteve animado, com a revelação de novas vozes, afinadas para o fado e para as velhas baladas do nosso tempo: para além do nosso anfitrião, Joaquim Mexia Alves (que não dormiu na véspera, tal era o peso da responsabilidade de "jogar em casa"), a animação musical esteve a cargo da Maria do Amapro (companheiro do José Carmino Azevedo, de Vila Flor) e do "periquito" Acácio Correia... (Mas houve também "espontâneos", como Mário Fitas: não há alentejano que não cante)...

À viola, o David Guimarães e o Zé Luís Vacas de Carvalho...como já é da tradição!
Vamos já pensar no próximo, em 2011!
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 Nota de L.G.:


 (*) Vd.poste anterior desta série > 27 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6648: V Convívio da Tabanca Grande (7): Reportagem fotográfica

domingo, 27 de junho de 2010

Guiné 63/74 - P6648: V Convívio da Tabanca Grande (8): Reportagem fotográfica

V CONVÍVIO DA TABANCA GRANDE
26 de JUNHO de 2010
Palace Hotel Monte Real
Tal como tinha vindo a ser programado, decorreu, em 26 de Junho de 2010, o 5º Convívio da Tabanca Grande, começando o pessoal a concentrar-se por volta das 11h30, e avançando para o ataque aos aperitivos cerca das 13h00, no airoso e fresco pátio de acesso à entrada do Palace Hotel Monte Real (inaugurado há um ano), nas Termas de Monte Real.
No comando das operações esteve o dinâmico e bem organizado Joaquim Mexia Alves, coadjuvado pelo Carlos Vinhal, Miguel Pessoa (responsável pela feitura e distribuição dos crachás), que orientaram cerca de centena e meia de convivas.
Quanto ao modo como se viveu a festa, prolongada pela tarde fora com um revigorante lanche, acompanahdo por uma sessão de fados a preceito e outros cantares tradicionais bem conhecidos da malta da Guiné, não há nada melhor que ver as fotografias que a seguir se apresentam.
Martins de Matos, Jorge Canhão e Juvenal Amado

O massivo ataque aos aperitivos dispostos no pátio de acesso à entrada do Hotel

Jorge Canhão, Eduardo & Manuela Campos, Margarida & Vasco Ferreira, Manuel reis, Casimiro & Ana Carvalho, Fernanda Ribeiro

Manuela & José Martins, Manuel Resende, Manuel & Maria Jacinta Rebocho, António & Clara Sampaio, Virgínio & Maria Irene Briote e Isaura Resende

António & Clara Sampaio, Virgínio & Maria Irene Briote, Isaura Resende, Manuela & José Martins, Manuel Resende e Manuel & Maria Jacinta Rebocho

Rosa Serra, (?), Vitor Barata, Miguel & Giselda Pessoa, (?), Jorge Narciso, Gil Moutinho e Martins de Matos
Jero (José Eduardo), Joaquim Alves, Casimiro Carvalho e Luís Graça
Hélder Sousa, Luís Graça, Paulo Santiago e Vistor Tavares
Juvenal Amado, José Pires, (?), Jero, Jorge Rosales, Rui & Rolina Albino, José Brás, José Dinis e Manuel Maia O habitual grito de guerra dos RANGERS presentes, dedicado e todos os presentes, por Casimiro Carvalho, Mário Fitas, Benjamim Durães Joaquim Alves, Humberto Reis, Eduardo MR, Pedro Neves e Jorge Araújo
Nos instrumentos: David Guimarães, Acácio Correia e Vacas de Carvalho
Jero, Virgínio Briote e Nartins de Matos
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Notas de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
22 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6627: V Convívio da Tabanca Grande (6): As inscrições terminam amanhã, quarta-feira, 23 de Junho de 2010 (A Organização)

Guiné 63/74 - P6647: In Memoriam (46): Carta ao Victor: Ainda não consegui a tal foto, mas continuarei a tentar e quero que saibas, querido amigo, que no momento de disparar estarei a pensar em ti (Jorge Portojo)


Porto > Prédio do nº 4 da Rua de S. Miguel, forrada com azulejos do séc. XVII que saíram do Convento de S. Bento.

1. Texto e foto do nosso camarada Jorge Teixeira, mais conhecido, na blogosfera como Portojo


Data: 25 de Junho de 2010 23:29
Assunto: Carta ao Victor


Carta ao Victor 

Querido amigo e camarada

Encontraste-me ao fim de 36 anos porque viste um escrito meu e a foto de uma menina que ambos conhecemos em África, lá no fundo da Guiné, em Catió, filha dos nossos saudosos amigos Barrinhos.

A partir dessa altura, conversámos muito e acabámos por nos rever pessoalmente em Maio de 2007. De muita coisa falámos, procurámos gentes, que gentes procuravam. Conseguimos pistas, trocámos contactos, enfim, andámos por aí.

Quando comecei a ter tempo para descobrir a fundo o meu Porto, foste dos primeiros a ver as minhas fotos, que elogiaste. Disse-te que havia coisas que não conseguia, por mais que tentasse, fazer bem. Uma delas era a foto da casa nº 4 da Rua de S. Miguel, forrada com azulejos do séc. XVII que saíram do Convento de S. Bento. Disseste-me que um dia haveria de o conseguir.

Esta casa bem fotografada tornou-se como uma espécie de obsessão. De dia ou de noite, nunca consegui fazer obra asseada. E mandava-te as fotos para veres. Dizias sempre:
- Tem calma, um dia consegues.

Em 14 de Maio, dia da visita do Papa à minha cidade, fui para a Vitória fazer as "Fernandinas" e obriguei-me a ir fotografar a casa. Pensei para mim: 
- É hoje,  Victor. 

Mas não tive coragem para te enviar as fotos. Dias antes tinhas escrito aos teus amigos para seleccionarem os emails que te enviassem. Falámos sobre isso e eu retraí-me.

Ainda não consegui a tal foto. Mas continuarei a tentar e quero que saibas, querido amigo, que no momento de disparar estarei a pensar em ti.

Até qualquer dia, Victor.(**)

Jorge / Portojo

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Notas de L.G.:



Guiné 63/74 - P6646: In Memoriam (45): Luís Zagallo (1940-2010), actor e encenador, ex-Alf Mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, 1965/67)



Guiné > Zona Leste > Enxalé > CCAÇ 1439 > Setembro  de 1966 >  Na messe: 1 - Cap Mil Pires, Cmdt da Companhia [CCAÇ 1439]; 2 - Alf Mil Sousa; 3 - Alf Mil Luís Zagallo; 4 - Médico do Batalhão; 5 - Eu [, Alf Mil Henrique Matos, Cmdt Pel cAÇ nAT 52]; 6 - Alf Mil Marchand, Cmdt do Pel Caç Nat 54; 7 - Fur Mil Antunes, falecido em combate; 8 e 9 - Fur Mil Monteiro e Altino, do meu Pelotão.

Foto: Fur Mil Viegas, do Pel Caç Nat 54. Cortesia e legenda do Henrique Matos (*)




1. Estive ontem com o Henrique Matos e o Jorge Rosales, em Monte Real, no V Encontro Nacional do nosso blogue... Estava longe de imaginar que, vinte e quatro horas depois, iria ouvir a notícia da morte de mais um camarada da Guiné, e que quem andámos à procura, em tempos: Luís Zagallo (**), ex-Alf Mil da CCAÇ 1439 (1965/67), que tanto o Jorge como o Henrique conheceram, no Enxalé...

A notícia que ouvi ao fim da tarde de hoje que que o actor e encenador Luís Zagallo falecera hoje, aos 69 anos, na Casa do Artista, em Lisboa. Em Março de 2009, sofrera um AVC.

O nosso antigo camarada (que não fazia parte deste blogue nem provavelmente tinha conhecimento da nossa Tabanca Grande)  integrou vários elencos no teatro, televisão e cinema. Participou ainda em telenovelas como "A Banqueira do Povo" (1993), "Olhos de Água" (2001), "Morangos com Açúcar" (2003) ou "Floribella" (2006).

O funeral é 3ª feira, partindo da Basílica da Estrela, onde o corpo estará em câmara ardente, amanhã, a partir das 17h.


Segundo escreveu há tempos o Beja Santos (*), "o Luís Zagallo era o herói dos povos do Cuor e do Enxalé" (**), sendo um nome e temido respeitado pelos soldados do Pel Caç Nat 52 (de que o nosso camarada Henrique Matos Francisco foi o primeiro comandante, entre 1966 e 1968)... 

O Beja Santos ajudou o João Crisóstomo a procurar a encontrar o seu amigo e camarada Luís Zagallo, "de nome completo Luís Manuel de Mello Carneiro Zagallo de Matos".... Nascido em Cacilhas, Almada, era "uma cara familiar para o público português, no teatro, no cinema e na televisão. Estudou bailado em Paris, teve os seus primeiros pequenos papéis na Comédie Française. Fez parte do Teatro Universitário e mais tarde da Companhia de Amélia Rey Colaço, no Teatro Nacional D. Maria II. Em 1964, partiu (...) para a Guiné, foi condecorado com uma cruz de guerra e diversos louvores"...  


 À família, colegas e amigos do meio teatral e televisivo, e sobretudo aos nossos camaradas da CCAÇ 1439  e outras subunidades que o conheceram no Enxalé, apresentamos as nossas condolências, em nome de toda a Tabanca Grande. (***)
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Notas de L.G.:

Guiné 63/74 - P6645: Memória dos lugares (87): Bissau, cidadezinha colonial (Parte V) (Agostinho Gaspar)


Guiné > Bissau > s/d > Sem legenda > Baixa de Bissau à noite.  Bilhete Postal. Edição Comer. Trav Alecrim, Lisboa.   [Que saudades, dirão alguns dos mais antigos habitantes da cidade de Bissau, ao rever esta imagem do tempo em que a capital tinha iluminação pública...]




Guiné > Bissau > s/d > "Monumento ao Esforço da Raça (Bissau)". Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 131". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal. Imprimarte, SARL).

[Não sei de quem é o autor deste monumento nem o ano exacto da sua concepção e construção. A estética é claramente estado-novista típica dos anos 40/princípios de 50... Fazia parte dos projetos de "monumentalização" da cidade, anunciados em 1945 pelo governador Sarmento Rodrigues... 

O monumento, parcialmente destruído (ou vandalizado) depois da independência (ao que me disseram), tem várias leituras: para uns pode ser uma obra-prima, para outros um mamarracho... Eu, que sou contra o camartelo dos iconoclastas (de todos os iconoclastas, a começar pelo camartelo camarário), tenho pena que o monumento não tenha sido poupado, como de resto parte da estatuária do 'colonialismo'...

Para os camaradas que fizeram a guerra colonial, como eu, e que conheceram este monumento, devo dizer o seguinte: toda a arte (e é difícil fazer a distinção entre arte e propaganda...)  traz a marca do seu tempo e fala do seu tempo...  Seria fácil, há trinta e cinco atrás, do alto da nossa arrogância juvenil, apodar o monumento de 'colonial-fascista'... Mas já nos tempos que por lá passei, em Bissau, em 1969/71, o termo raça me fazia urticária... Qualquer que fosse a raça em causa... 

 Hoje é sabido, de resto, que não existem raças humanas... Pertencemos todos à mesma espécie, Homo sapiens sapiens... É uma constatação científica, não é uma asserção do politicamente correcto... Dito isto, tenha pena que os guineenses tenham destruído (?)  o 'Monumento ao Esforço da Raça' [, Portuguesa, claro]... fazia parte do seu património histórico, da mesma maneira que os marcos milíários que pontuavam as vias romanas ligando a Lusitânia ao resto do Império Romano, fazem parte do nosso património histórico, ou os moinhos de vento que herdámos da permanência de muitos séculos da civilização árabe]... (LG)



Guiné > Bissau > s/d > "Paisagem da Guiné". Bilhete Postal. Edição exclusiva das Galerias Jota Éme para a "Casa Gouvêa".



Guiné > Bissau > s/d > "Mesquita muçulmana (Bissau)" . Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 145". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal).



Guiné > Bissau > s/d > "Fulas batendo pano (Bissau)". Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 114". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal).


Guiné > Bissau > s/d > "Mercado nativo (Bissau). Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 103". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal).


Colecção de postais ilustrados: Agostinho Gaspar (a quem devolvi, ontem, emMonte Real, no decurso no nosso V Encontro Nacional, o precioso álbum fotográfico que ele confiu há três meses... Selecção dos postais, digitalização, edição de imagem, legendas, texto de ligação, título do poste e links: L.G.


1. Continuação da publicação de uma selecção de postais ilustrados da Guiné (*), da colecção do nosso camarada Agostinho Gaspar (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74), natural do concelho de Leiria.

Já pedi ao António Estácio (que nasceu em Bissau, de pais transmontanos) e a outros amigos e camaradas nossos que conheceram bem a Bissau do nosso tempo (como o Mário Dias) para completarem, reverem ou melhorarem as legendas, identificando monumentos, ruas, lugares ou contando pequenas histórias associadas a Bissau...

Voltamos, por outro lado, a repetir o pedido: alguém tem um mapa da cidade de Bissau anterior à Independência ? Se sim, agradecíamos que nos mandasse uma cópia digitalizada... Começo a ter dúvidas sobre a existência de mapas da cidade colonial, capital desde 1943 da antiga província portuguesa da Guiné... Até à data, o meu apelo não obteve qualquer resposta...

A pensar sobretudo na geração guineense pós-independência mas também nos nossos camaradas que querem voltar a Bissau, em "turismo de saudade", seria interessante fazer a equivalência das toponímicas, a de Bissau colonial de ontem, e da capital da Guiné-Bissau de hoje. 

Volto a repetir o pedido: haverá alguém, de entre os nossos leitores, que queira e possa abalançar-se a esse tarefa (em princípio fácil, desde que se tenha conhecido a cidade, antes e depois da independência) ? Se sim, será bem vindo... Contacte-me, por favor. (LG)

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Notas de L.G.:

(*) Vd. postes anteriores da série:

4 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5928: Memória dos lugares (73): Bissau, cidadezinha colonial (Parte I) (Agostinho Gaspar / Luís Graça)


11 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6369: Memória dos lugares (74): Bissau, cidadezinha colonial (Parte II) (Agostinho Gaspar / Luís Graça)


22 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6625: Memória dos lugares (78): Bissau, cidadezinha colonial (Parte III) (Agostinho Gaspar / Luís Graça)


23 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6632: Memória dos lugares (79): Bissau, cidadezinha colonial (Parte IV) (Agostinho Gaspar / Luís Graça)