quinta-feira, 4 de março de 2010

Guiné 63/74 - P5928: Memória dos lugares (73): Bissau, cidadezinha colonial (Parte I) (Agostinho Gaspar / Luís Graça)



Guiné > Bissau > s/d  > "Monumento ao Esforço da Raça. Praça do Império"... Bilhete postal, nº 109, Edição "Foto Serra" (Colecção "Guiné Portuguesa")






Guiné > Bissau > s/d  > "Av Carvalho Viegas"... Bilhete postal, nº 129, Edição "Foto Serra" (Colecção "Guiné Portuguesa")





Guiné > Bissau > s/d  > "Praça Honório Barreto e Hotel Portugal"... Bilhete postal, nº 130, Edição "Foto Serra" (Colecção "Guiné Portuguesa")






Guiné > Bissau > s/d > "Aspecto parcial e Câmara Municipal"... Bilhete postal, nº 133, Edição "Foto Serra" (Colecção Guiné Portuguesa")




Guiné > Bissau > s/d > "Vista parcial e Ilhéu do Rei"... Bilhete postal, nº 117, Edição "Foto Serra" (Colecção "Guiné Portuguesa")

Colecção: Agostinho Gaspar / Digitalizações: Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010).


1. Comentártio de L.G.: Quem de nós não mandou à família e amigos um postalinho da Bissau colonial dos anos 60 ? (*) Escrito à pressa, tranquilizador... Nós por cá todos bem, como podem ver isto até é bonito, e  calmo, e limpinho, há gente a passear nas ruas e avenidas novas...

Quem de nós não passou uns dias, desenfiado em Bissau, longe do Vietname, ou simplesmente em trânsito, e portanto quem não reconhece estes lugares ? (**) Muitos dos nossos camaradas que não se podiam dar ao luxo de vir à Metrópole no gozo da licença de férias, escolheram Bissau como a solução menos dispendiosa...É certo que não havia muito para fazer e para ver em Bissau, mas sempre se saía dos Bura..kos em que vivíamos, no sul, no leste, no centro...

A colecção de postais ilustrados "Guiné Portuguesa", editada pela Foto Serra (C.P. 239, Bissau), era provavelmente a mais conhecida e a de melhor qualidade fotográfica... Muitos destes postais (a colecção conmpleta deverá ter deverá ter perto de 2 centenas) eram impressos em Portugal, na Imprimarte -  Publicações e Artes Gráficas, SARL...

Em boa hora, o Agostinho Gaspar (***) conservou e fez-nos chegar, a título de empréstimo, a sua colecção de cerca de 90 postais ilustrados (alguns a preto e barco) sobre a Guiné que conhecemos... Escolhemos alguns menos conhecidos... Peço aos  amigos e camaradas da Guiné, que conheceram a Bissau desta época,  que façam os comentários e observações. E quem conhece a Bissau de hoje, que faça o favor de actualizar o roteiro: por exemplo, como se chama hoje, a Praça Honório Barreto ? Ou a Av Carvalho Viegas (que eu não sei quem foi) ?

É também um pequena prenda que damos aos nossos leitores, nas vésperas de atingirmos o milhão e meio de páginas visitadas e um Giga de imagens no Picasa Web Albuns (Lá vamos ter que comprar mais espaço aos donos do Google!)...

Sobre Bissau do anos 50, vd, ainda os postes do nosso amigo e camarada Mário Dias (****).
____________

Notas de L.G.:

(*) Sobre Bissau temos, só na II Série do nosso blogue, cerca de 180 referências (marcadores / descritores)

(**) 14 de Novembro de 2007 >  Guiné 63/74 - P2264: Blogue-fora-nada: O melhor de... (3): Carta de Bissau, longe do Vietname: talvez apanhe o barco da Gouveia amanhã (Luís Graça)

(...) À noite, entretanto, c’est le vide: os únicos noctívagos ainda são aqueles que vêm do mato e que sofrem da fobia do arame farpado: é vê-los até às tantas da madrugada, à mesa das esplanadas, empanturrando-se de ostras e de cervejas e contando histórias do mato. Mas em vão o guerreiro, em cura de repouso, busca outra atmosfera em que o oxigénio não esteja carregado das toxinas da angústia e da lassidão… A menos que, no dia seguinte, tenha passagem marcada para a Metrópole… Ele vem da guerra e para a guerra há-de voltar, de avião ou de barco, já que não há praticamente ligações terrestres de Bissau para o resto da Guiné. De qualquer modo, os que vêm do Vietname, ainda são as espécies mais curiosas da fauna humana que vagueia por esta capital-fantasma.

De facto, aqui desaguam todos os rios humanos da Guiné: a carne que já foi do canhão e agora é do bisturi (ou dos vermes, em caixões de chumbo, discretamente empilhados, à espera que o Niassa ou o Uíge ou o Alfredo da Silva os levem nos seus porões nauseabundos); os desenfiados, como eu, todos os que procuram safar-se do inferno verde, quanto mais não seja por uns dias ou até umas breves horas, que o tempo aqui conta-se, de cronómetro na mão, até à fracção de segundo; os prisioneiros de guerra, esfarrapados, andrajosos, a caminho da Ilha das Galinhas; as populações do interior desalojadas pela guerra; os jovens recrutados para a nova força africana; enfim, os criminosos de guerra como o capitão P. que está aqui detido no Depósito Geral de Adidos à espera de julgamento em tribunal militar – suponho eu -, juntamente com um furriel miliciano da sua companhia. Ambos estão implicados em vários casos, muito falados, de violação e assassínio a sangue frio de bajudas, além da tortura e liquidação de suspeitos (..)


(***) Vd. poste de 7 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5898: Tabanca Grande (206): Agostinho Gaspar, de Alqueidão, Boavista, Leiria, ex-1-º Cabo Mec Auto, 3ª C/BCAÇ 4612/72 (Mansoa, 1972/74)


(****) Vd.postes de:

9 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXII: Memórias do antigamente (Mário Dias) (1): Um cabaço de leite

19 de Fevereirod e 2006 > Guiné 63/74 - LDXVI: Memórias do antigamente (Mário Dias) (2): Uma serenata ao Governador

15 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXX: Memórias do antigamente (Mário Dias) (3): O progresso chega a Bissau

10 comentários:

Anónimo disse...

Que cambada de saudosistas!

Carlos Viegas

Luís Graça disse...

Meu caro leitor(presumo que o seja, e de boa fé, uma vez que não temos na nossa Tabanca Grande ninguém com o seu nome):

Saudosistas ? Diz o dicionário de português:

Saudosimo, substantivo masculino:
(i) Apego aos princípios de um regime político (ou económico e social) que deixou de estar vigente, que existiu no passado, que foi deposto (por ex., o colonialismo, o escravagismo); (ii) fidelidade ou apego a ideias, valores, costumes, antigos, que deixaram de ser admitidos ou tolerados (por ex., a Mutilação Genital Feminina, o canibalismo).

Comentário meu:

O seu comentário ("cambada de saudosistas") deve ser irónico, só pode ser... De contrário, tenho que o tomar como insultuoso, vindo de alguém que está de má fé, e que nem sequer conhece quem escreve neste blogue nem quem o edita, e que nem sequer se deu ao trabalho de ler os seus príncípios editoriais e de ética...

Nem de propósito, acabo de receber fotos da Bissau antiga, "Bissau d'Onti", algumas reproduzidas neste poste de hoje, e que nos foram enviadas por um filho da Guiné, nascido há cerca de 40 anos em Bissau, hoje jornalista na "Voz da América", vivendo portanto na diáspora, de seu nome Nelson Herbert Lopes, filho de um futebolista, conhecido, que veio de Cabo Verde no pós-guerra (o "Búfalo Bill", se não me engano), membro muito estimado deste blogue, admirador de Amílcar Cabral, insuspeito de ser um "saudosista", e que simplesmente escreve isto, à laia de comentário:

"ACREDITEM QUE A MINHA GUINEÉ ... E PARTICULARMENTE BISSAU, BERÇO DA MINHA NATALIDADE, CHEGOU A SER TAL COMO NAS FOTOS!!"

Será que evocar a Bissau dos anos da presença portuguesa, a "cidadezinha colonial" que desde 1943 a 1974 foi a capital da "Guiné Portuguesa", é sinónimo de "saudosismo", e, pior ainda, de "saudosismo colonialista" ? Se sim, que disparate!

É pena é que o património edificado da "cidadezinha colonial" de Bissau se perca para sempre... Estou de acordo, não é um patriomónio particularmemnte rico, do ponto de vista arquitectónico, mas é um testemunho (interessante) de uma época...

Hoje, quem volta a Bissau, não sente "saudades", patológicas, doentias, do passado (, do colonialismo, da guerra, etc.), mas não deixa de sentir uma "dor na alma" pela degradação (material e simbólica) a que chegou a baixa de Bissau, o "casco viejo", como diriam "nuestros hermanos"... Esse património pertence aos nossos amigos da Guiné-Bissau, mas também nos diz respeito, faz parte do nosso imaginário, das nossas memórias, da nossa história (comum)...

Luís Graça

Anónimo disse...

Existem, infelizmente, imensos CARLOS VIEGAS, exactamente com esta intolerância.

Eles são cultivados, continuam a ser bem tratados e regados, e, com uns tantos equívocos, alguns, ainda são eles que pretendem interpretar e escrever este pedaço de história de Portugal olhando apenas para um lado.

Enquanto, aqueles que participaram neste momento histórico, até conseguem ouvir pacientemente todos os Carlos Viegas.

Porque eles tambem fazem parte do todo português.

Antº Rosinha

Anónimo disse...

Caro Viegas,

Hoje, ao olhar para os postais aqui postados, senti a mesma dignidade que a inocência dos meus verdes vinte anos sentiam quando, sem culpa alguma, palmilhei as ruas de Bissau,e os trilhos, as picadas e as bolanhas do interior da Guiné.

Naqueles dias aprendi a amar aquela terra e as suas gentes.

Agora, neste blogue, sinto o carinho e a amizade dos camaradas que conheci então, e daqueles que aprendi a conhecer.

Tenho a certeza que não sabes o que isso significa.

Felizamente a ignorância nem sempre é pecado, mas se for cultivada passa a fazer parte de um mundo ingrato e miserável.

O mundo desta cambada de saudosistas é, disso não tenhas dúvidas, bem melhor e mais saudável que o teu.

José Câmara

Anónimo disse...

Sr.Carlos Viegas,o que nos move não é saudozismo,temos é alguma amargura de ver,o estado a que
se encontra a Guiné-Bissau,nós que convivemos e comemos o pão que o diabo amassou com aquelas gentes,
os governantes não quiseram ou não souberam,aumentar e ou preservar as poucas estruturas,que foram criadas,nós ex-militares,lado a lado com o povo,fizemos mais em 10 anos que os governos,e governadores em 400anos de Guiné.
Tudo de Bom prós Guineus.
José Nunes
Beng 447
Guiné,68/70

Amilcar Ventura Ex. Furriel Mil da 1ª comp BCAV8323 disse...

EXº SRº. carlos viegas CHAME-LHE O QUE CHAMAR SAUDOSISTAS OU O NOME QUE O SR. QUISER, NÓS ESTIVEMOS LÁ, DEMOS PARTE DA NOSSA JUVENTUDE NESSA GUERRA, HOJE ESTAMOS AJUDANDO O POVO DA GUINÉ E NÃO É O SR NEM NINGUÉM QUE NOS VÊM PREGAR LIÇÕES DE MORAL SOBRE AS NOSSAS OPINIÕES SOBRE O QUE SE DIZ NESTE NOSSO BLOGUE SOBRE AQUILO QUE FIZEMOS NO GUINÉ, MAS EU DIGO-LHE MAIS ESTÁ ESCONDIDO DEBAIXO DUM NOME QUE NÃO SABEMOS QUEM É PORQUE NÃO NOS DIZ ONDE ESTAVA EM QUANDO NÓS COMBATIA-MOS E DÁVAMOS A VIDA PELA PÁTRIA, SE CALHAR FUGIU E AGORA VEM MANDAR ATUARDAS, JÁ DISSE MUITO, NÃO SE ESCONDA ATRÁS DE UM NOME E CONVERSE COM A GENTE QUE NÓS DAREMOS RESPOSTA AOS SEUS PROBLEMAS.

UM ABRAÇO AMIGO PARA si

Anónimo disse...

Caros veteranos de guerra:

Não fui combatente, não sou da vossa geração, felizmente sou um bocado mais novo, e felizmente também que, mal ou bem, vocês resolveram um problema que sobrava para a malta da minha geração. Eu tinha dez anos quando se deu o 25 de Abril. Mal seria que a guerra colonial durasse mais 10 anos. Nessa idade estava-me nas tintas para o problema. Nem sabia que estávamos em guerra. Na escola nunca se falou do problema. E muito menos em casa.

Devo dizer que não quis ofender ninguém. Cambada de saudosistas é uma força de expressão. Eu até podia estar no vosso lugar e, agora, vir para aqui também matar saudades dos meus belos vinte anos, perdidos nas matas da Guiné, ou de Angola ou de Moçambique, conforme o que me calhasse na rifa. Ou do bem-bom de Bissau, de Luanda ou de Lourenço Marques.

Venho aqui ao vosso blogue, esporadicamente... Tenho interesses em Angola. Boa sorte para todos.

Carlos Viegas
Luanda

Hélder Valério disse...

Caro Carlos Viegas

De facto, a sua expressão "que cambada de saudosistas!", assim, a 'seco', sem fonia a acompanhar para se perceber o 'tom', bem podia ser interpretada como uma recriminação sua a estas manifestações de 'regresso ao passado' estribadas numa leitura de que isso seria uma ensolapada declaração de suporte do regime de então e/ou das suas acções que se revelavam nas fotos 'limpinhas' em contraste com a situação actual ou então que se estaria perante um acto de 'regressão mental em busca da juventude perdida'...

Também não deixa de ser verdade que se se fizer uma leitura 'pela positiva', isto é, que a sua expressão seria pronunciada num tom um pouco irónico mas ao mesmo tempo 'condescendente', se podia então entrar por outras conclusões sobre essa sua observação e, no fundo, o que seria bem mais positivo e interessante, procurar as razões porque tantos de nós que passámos 'por lá' naquelas circunstâncias, jurando que 'Guiné nunca mais' que aquilo era um 'burako', um autêntico 'cú de Judas', etc e tal, aparecem agora com energia redobrada a interessar-se por aquelas gentes e a canalizar energias, idéias e apoios.

Portanto, caro amigo, se se interessar por esse fenómeno procure perceber então o que, por exemplo, leva antigos militares a fazer neste momento a rota terrestre até à Guiné, e caso queira, pergunte que certamente obterá respostas.

Devo dizer-lhe que, como sou um 'crente', achei sempre que a sua expressão seria mais no sentido de se mostrar admirado, assombrado, pela vitalidade das nossas recordações e por isso só agora produzo este comentário.

Participe, dê mais opiniões, o facto de ter beneficiado do fim da guerra para já não ter a 'oportunidade' de ter sido contemplado com férias em África, não é, para mim, motivo impedidor para que comente, pergunte, esclareça ou seja esclarecido e até é vantajoso que se produza essa troca de pontos de vista para aferir como as gerações que se seguiram à nossa sentem (ou não) o que foram esses nossos tempos.
Um abraço
Hélder S.

Anónimo disse...

Caro Viegas,

Não ficaria de bem com a minha conciência se não reconhecesse a tua coragem e humildade ao vires aqui dar-te a conhecer e dar as tuas explicações.

O teu gesto também te dignifica.

Se me permites, deixa-me levar a minha mão ao encontro da tua, ao mesmo tempo que subscrevo o comentário do Helder Valério.

Cumprimentos,
José Câmara

João Galvão Borges disse...

É a primeira vez que acedi, graças ao FB a este blog. Permitam-me algumas palavras sobre os diferentes comentários que li por simples curiosidade. Sempre me insurgi contra a Guerra colonial. Esperando ser bem compreendido e que não fira susceptibilidades, sempre achei profundamente injusto enviar milhares de jovens portugueses, 'extirpados' do seio de suas famílias e do 'torrão natal' para se baterem (morrerem) por uma 'causa' que não era a deles. Muitos discordarão do que afirmo e respeito esse direito . Mas a trilogia 'Deus, Pátria e Família' não penso ter deixado gratas recordações...Por tudo isso quero saudar a coragem de todos quantos sobreviveram ao 'Deus, Pátria e Família' e que conseguem, ou têm conseguido superar esse periodo difícil e serem capazes de conservar um olhar isento de rancôr em relação à GBissau e ao seu Povo. Isso manifesta uma enorme grandeza de espírito e merece o meu aplauso. Um abraço de um Guineense. João Galvão Borges jgalborges@yahoo.fr