Citação: "Temos orgulho em ti, Pepito!... E parafraseando Italo Calvino, lembraremos aqui aos ditadores e aprendizes de ditadores no mundo que 'não é a voz que a dirige a história, mas sim o ouvido'... Não é a voz dos que gritam mais alto, porque têm momentaneamente o poder de comando, mas sim o ouvido daqueles que tendem a ser tratados como a maioria silenciosa... E já lá vai o tempo em que os ditadores morriam tranquilamente na cama e iam para o céu... LG
1. Mensagem, enviada ontem para o correio interno da Tabanca Grande, pelo nosso camarada Braima Djaló, ex-sold cond da valorosa CCaç 19 (Guidaje, 1972/74) (*):
Tenho estado permanentemente a ler o Blog Ditadura do Consenso. Na qualidade de guineense,ou natural daquela terra, envergonha-me, por vezes, saber de tantas barbaridades que muitos não percebem.
Recentemente li comentários de ex-embaxadores de Portugal, na Guiné-Bissau, comentários muito interessantes para perceber a realidade que vem de séculos.
A Guiné [sempre foi palco de ] interesses de domínio dos que vivem no Nomadismo, como designou o nosso amigo Pepito, “cafres”, a maioria se não todos vindos de Traves, outrora obrigados a vestirem-se decentemente de acorddo com as etnias onde queriam ser acolhidos… A prova claro disso são os cabecilhas do golpe [de 12 de abril de 2012] ... Injai, Sanha, Sambu, e tantos outros que infelizmente são ignorantes que nem mesmo a
linguagem mais vulgar da Guiné entendem.
Hoje querem ser influentes para ter melhor domínio do tráfico de droga, pelo que só podia ser em Jugudul [o local para] a improvisação de um aeroporto para o efeito.
Bom, meus amigos, sinto-me envergonhado pois a Guiné-Bissau tem 42 etnias, embora alguns comentadores falem em 30 ou 32 (vd. Boletim Oficial da Guiné, 1956 a 1961). Entendo por outro lado que a diminuição de número deve-se à Guerra de Ultramar. E, exactamente devido ao acolhimento acima referido, Injai não é sobrenome da etnia que ele representa, maioritária, com 30% da população, mas cuja condição era bem escondida na Guiné ao longo de anos, nas vestes e noutros costumes tipo Chalim-Minde Bissorã (**).
Pois bem, baseando na escrita do nosso camarada e grande amigo, LG, temos orgulho dos que hoje sofrem humilhações pelo amor da nossa Terra, em silêncio, mas por vezes o silêncio é o grito mais alto de uma dor injustificável, que o tempo justificará.
Desejo expressar a todos os amigos da Guiné-Bissau, e aos Bissau Guineenses, os meus agradecimentos, porque muitas vezes ao ler e conviver com e-mails de tantos amigos, isso faz me aliviar a angústia das notícias vindas da minha Terra.
Bem-haja a todos.
Ibrahim Djaura
[Lisboa]
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Notas do editor:
(*) Último poste da série > 18 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9922: (In)citações (39): Integrar o Suleimane na Tabanca Grande foi de um grande significado simbólico e de homenagem a todos os guineenes que serviram na guerra da Guiné (Cherno Baldé)
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Ponta Brandão > 1970 > Dois velhos balantas. Arquivo pessoal de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71).
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Notas do editor:
(*) Último poste da série > 18 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9922: (In)citações (39): Integrar o Suleimane na Tabanca Grande foi de um grande significado simbólico e de homenagem a todos os guineenes que serviram na guerra da Guiné (Cherno Baldé)
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Ponta Brandão > 1970 > Dois velhos balantas. Arquivo pessoal de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71).
Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados.
(**) A frase tem um sentido obscuro, pedimos ao autor para nos explicar a referência a Chalim-Minde Bissorã... É um topónimo, uma povoação na região de Bissorã ? Se sim, não conseguimos indentificá-lo, nas nossas velhas cartas... Presumo antes que seja uma expressão idiomática, intraduzível em português...
Explicação posterior dada pelo Braima Djaura, em mail enviado hoje às 13h13:
Caro amigo, LG, realmente é uma linguagem pouco conhecida, mesmo na Guiné, pois é... Antigamente os balantas de Encheia e dos arredores de Bissorã vinham para a cidade de Bissorã seminus, ou seja, muito mal vestidos, sem pudor. Um Administrador de Circunscrição em Bissorã deu ordem para prender todos os que aparecessem na cidade dessa forma, ou seja, tapando apenas os orgãos genitais. E advertia-os para verem o exemplo dos Mandingas, com vestes razoáveis tipo batinas, de 4 a 5 metros de tecidos.
(**) A frase tem um sentido obscuro, pedimos ao autor para nos explicar a referência a Chalim-Minde Bissorã... É um topónimo, uma povoação na região de Bissorã ? Se sim, não conseguimos indentificá-lo, nas nossas velhas cartas... Presumo antes que seja uma expressão idiomática, intraduzível em português...
Explicação posterior dada pelo Braima Djaura, em mail enviado hoje às 13h13:
Caro amigo, LG, realmente é uma linguagem pouco conhecida, mesmo na Guiné, pois é... Antigamente os balantas de Encheia e dos arredores de Bissorã vinham para a cidade de Bissorã seminus, ou seja, muito mal vestidos, sem pudor. Um Administrador de Circunscrição em Bissorã deu ordem para prender todos os que aparecessem na cidade dessa forma, ou seja, tapando apenas os orgãos genitais. E advertia-os para verem o exemplo dos Mandingas, com vestes razoáveis tipo batinas, de 4 a 5 metros de tecidos.
Foi nesta altura que os gajos começaram a recorrer aos 3 metros de tecido, para os costureiros da cidade, pedindo que as vestes fossem feitas iguais às dos Mandigas de Bissorã e dos Fulas, pelo que tinham que dizer "Tchalim-Minde-Bissorã"... Foi nesta altura que os balantas começaram adotar nomes dos mandingas e fulas: por ex., Injai, Cumba, Sanha, e tantos outros sobrenomes, vindos daquelas etnias.
As vestes que até hoje usavam, nota-se ainda na Guiné: apesar das suas batinas, não passavam os joelhos abaixo, diferentes das dos mandingas e fulas; Isto é, uma história tribal da Guiné, significa que são tribos que vieram do nada nos Traves, hoje querem ser fluentes e dominadores. Nota-se que a maioria dos militares são desta tribo, parece ridículo, mas é verdade. Por outras razões, seria longa a explicação. Mas agora podemos perceber porque o Nino sempre foi duro com esta gente, ele sabia verdadeiramente quem eles são.
Espero que o meu amigo tenha percebido, Tchalim-Minde Bissoã significa igual à dos Mandingas de Bissoã, em dialecto dos batantas, ou "manojos", em mandinga. Cá estou eu, para quaisquer dúvidas.
Grande abraço
I. Djaura, ID