quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Guiné 63/74 - P10540: Blogpoesia (307): Àguas Paradas (Juvenal Amado)


Picagem - Foto: © Juvenal Amado. Todos os direitos reservados


ÁGUAS PARADAS

O tempo flutua em ondas de calor
Não se enxerga para além dos sentidos
Entorpecidos quase sem vontade
Sente-se mais que se vê ou que se ouve
O suor encharca cada milímetro dos corpos
Nas horas lentas e pesadas como chumbo
Voam pensamentos para longe
Pensamentos livres como o vento
Pudesse o vento levá-los para o nosso chão
Que a liberdade explodisse como rio tormentoso
Ou Mar revolto
Que esse rio devastasse as margens
Ou Mar cansado de bater na areia
Extravasasse inundando ruas e praças
Uma violência que lavasse as nossas feridas de Séculos
E finalmente limpos de suor ancestral
Ficássemos para sempre puros e em paz
Enquanto esperamos pela noite
Longe do rio e do Mar
Olhamos a tristeza que há nas águas que apodrecem paradas

Juvenal Amado*
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Notas de CV:

(*) Juvenal Amado foi 1.º Cabo Condutor Auto na CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74

Vd. último poste da série de 3 de Outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10475: Blogpoesia (306): S. T. T. L., Sit tibi terra levis!... Que a terra da tua Pátria, ao menos, te seja leve!.. (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P10539: O nosso livro de visitas (148): Alfredo João Matias da Silva, ex-Fur Mil do Pel Rec Fox 3115 (Gadamael e Guileje, 1972/74) procura camaradas de armas

Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAV 8350 (1972/73) > O Fur Mil Op Esp José Casimiro Carvalho, no topo de uma Fox, viatura blindada do Pel Rec Fox 3115, Os Pipas (1972/74). Julgo tratar-se da MG-36-24. Esta subunidades de cavalaria também possuía, pelo menos, uma viatura White (MG-34-69). Este documento que faz parte do álbum fotográfico do Casimiro Carvalho, não tem data sem data nem legenda (mas só pode ser de final de 1972 ou princípios de 1973).

Foto: © José Casimiro Carvalho (2007). Todos os direitos reservados.
Legenda: Luís Graça


1. Mensagem do nosso camarada Alfredo João Matias da Silva (ex-Fur Mil do Pel Rec Fox 3115, Gadamael e Guileje, 1972/74), com data de 12 de Outubro de 2012:

Caro Amigo
Chamo-me Alfredo João Matias da Silva e fui Fur. Mil. do Pel. Rec. Fox 3115, em Gadamael e Guileje.

Moro em Paço de Arcos e sou sócio da Liga de Combatentes (Núcleo de Oeiras ).

Tenho acompanhado com relativa atenção os assuntos da Guiné, sobretudo da retirada de Guileje. Mantenho alguma correspondência com o Cor. Coutinho e Lima, Comandante do COP 5.

O meu Pelotão regressou a Portugal em finais de Maio de 1974 e eu ainda fiquei em Bissau até Julho por causa da Comissão Liquidatária.
Desde a partida de Bissau, nunca mais tive notícias do pessoal do Pelotão.
Recebo sempre a Revista do Combatente, mas nunca vi nada sobre Gadamael ou Guileje, nomeadamente almoços.

Claro que tenho listagem de toda a gente. Se me puder ser útil, agradeço.
Se eu puder ser útil nalguma coisa, não hesitem em contactar-me.

Abraço
J. Matias da Silva
silva.joaomatias@gmail.com


2. Comentário de CV:

Caro camarada Matias, muito obrigado pela tua mensagem.

Já que entraste em contacto connosco, e te ofereces para algo de útil, damos-te a oportunidade de colaborares na feitura deste Blogue de ex-combatentes da Guiné, repositório de histórias vividas na primeira pessoa. Se retens algumas lembranças daqueles tempos que queiras escrever, juntando eventualmente as fotos que ainda guardas, manda para nós, que as publicaremos.

Se aceitares o nosso desafio, manda uma foto actual e uma dos tempos da Guiné (prefencialmente tipo passe e em formato JPJ) assim como uma pequena história de apresentação.

Estando tu interessado em encontrar os teus camaradas, deixamos aqui o teu apelo e, complementarmente, dou-te dois contactos de camaradas teus, que como tu, procuram os velhos companheiros de armas. Encontrei-os na página do camarada Jorge Santos, e são eles:

Alberto Santos - 0033 143 284 890 - liliana_dos_santos@yahoo.fr e/ou (?) familleaadossantos@yahoo.fr
e
Rui Gouveia Carriço - ruicarrico@hotmail.com

Não sei se o nosso camarada Casimiro Carvalho te poderá dar alguma ajuda, uma vez que é vosso contemporâneo em Guileje. Dar-te-ei o seu endereço na mensagem que te vou enviar.

Julgo que é tudo que se me oferece dizer, pelo que te deixo um abraço

O teu camarada ao dispor
Carlos Vinhal
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Notas de CV:

(*) Vd. poste 6 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10007: O Nosso Livro de Visitas (138): Alberto dos Santos, um camarada da diáspora (França), que pertenceu ao Pel Rec Fox 3115, Os Pipas (Guileje e Gadamael, 1972/74)

Vd. último poste da série de 8 de Outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10497: O nosso livro de visitas (147): Ansumane Cassamá, engenheiro agrónomo, natural de Sare Bacar, a viver em Portugal desde 1997

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Guiné 63/74 - P10538: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (2): 3.º episódio: O 2.º Turno, no CISMI, na bela terra de Tavira

1. Mensagem do nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422, Farim, Mansabá, K3, 1965/67), com data de 12 de Outubro de 2012:

Já enviei há dias os dois 1ºs episódios e agora aí vai o 3º. Tenho mais mas para não interromper os excelentes serviços que estão a prestar a todos nós, penso que não devo enviar já.
Se virem que é útil, mando mesmo, agora que já sei fazê-lo por aqui em email.

Abraços, obrigado pela consideração.
Veríssimo Ferreira


Vista parcial de Tavira (Foto: Algarve Press Diário, com a devida vénia)


OS MELHORES 40 MESES DA MINHA VIDA

3º episódio - O 2.º Turno, no CISMI, na bela terra de Tavira

A 4 de Julho de 1964, após portanto, 5 meses e 10 dias a frequentar o 1.º ciclo do Curso com aproveitamento e todos os créditos alcançados, consideraram-me então, apto para o 2.º, ou seja, "tirar" a especialidade de "atirador" e como ordens não se discutem, aí vais EU, para Tavira.

Terra linda que continuo a visitar. Linda praia, onde até a água era e é, quente, comparada com a da Ericeira, de que tinha provado o sal.

Boas gentes, embora e nesse período, as tenha considerado más com'ás cobras, tendo em conta que quando os pobres militares, sedentos e até com alguma fomita, colhíamos algumas amêndoas, alfarrobas ou figos, ou ainda, lhes bebíamos umas gotas nos escassos poços existentes... iam de imediato participar ao quartel e algumas vezes desembolsámos os 25 tostões para compensar o prejuízo. A miséria patrimonial, deste povo algarvio, era notória e justificava a queixa. O turismo mal começara e aquelas frutas e água, eram o seu ouro.

No que se refere à instrução militar, foi o acrescento próprio, para quem já estava treinado.
Novidade apenas para o "DEITÁÁÁÁR" nas salinas. Lindo de se ver, creiam.
E nós... vestidinhos... lavadinhos e engomados... calçadinhos... botas engraxadas e reluzentes, espelhando o sol quente desse mês de Julho... obedecíamos está claro. Saíamos enlameados, cheios de lodo até aos cabelos, mas mais fortes alguns, aqueles que engoliam alguma distraída enguia. Até nisso, a sorte me foi madrasta já que o único brinde que me calhou, foi uma enorme serpente que resolveu aninhar-se no bolso esquerdo das calças.

Salinas de Tavira (Foto: raquel-alaminute, com a devida vénia)

À tardinha dispensavam-nos e podíamos então confraternizar com as tascas locais, onde sempre comíamos generosas doses de grandes conquilhas, ou jaquinzinhos atados pelo rabo e em grupos de 5 ou 6, regados com aquele saboroso tintol carrascão de tal forma, que até os dentes ficavam coloridos. Alguns mais afortunados, proporcionavam a outros, passeios e assim conheci, Quarteira, Armação de Pera, Albufeira e Faro.

A cenas incríveis mas divertidas, assisti... de difícil entendimento prá época, mas que me ajudaram nas formações, cívica, intelectual e moral, três elementos importantes para uma sã convivência entre pessoas mas que entretanto perdi em qualquer lado.

Reparem nesta:

Um jovem, ainda quase acabado de nascer, havia casado e "exibia" vaidosa e orgulhosamente a sua bem bonita e formosa esposa que para além disso era também alegre e bem formada moralmente, ao que soube mais tarde.
Nós mirones e o casal fazia questão de procurar sentar-se em locais onde nos concentrávamos, olhávamos gulosamente, aqueles belos joelhos dela (única parte anatómica, possível de ver nas damas e que hoje nem reparamos se têm, dada a forma como se despem até à cintura) mas, caras meninas, continuem seduzindo e poderão fazê-lo se seguirem o douto conselho da avó duma das minhas mais que muitas apaixonadas e que um dia me disse:
-"Até ao joelho, é para quem quiser ver, daí para cima, é para quem merecer".

Mas a cena risível aconteceu assim:

Uma noite e vendo o casal que estávamos completamente d'olhos em bico, fitos exclusivamente naquele bocado onde está a rótula, levantou-se o rapaz, olhou-nos corajosamente e sem tergiversações gritou:
- É BOA... MAS É MINHA
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 12 de Outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10522: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (1): 1º e 2º episódios: tempos de Mafra, EPI, CSM

Guiné 63/74 - P10537: Notas de leitura (418): "Guerra de África - Guiné, 1963-1974", por Coronel Fernando Policarpo - uma radiografia do conflito (1) (Francisco Henriques da Silva)

1. Mensagem do nosso camarada Francisco Henriques da Silva (ex-Alf Mil da CCAÇ 2402/BCAÇ 2851, , Mansabá e Olossato, 1968/70), ex-embaixador na Guiné-Bissau nos anos de 1997 a 1999, com data de 11 de Outubro de 2012:

Meus caros amigos,
Apesar deste livro já ter sido publicado em 2006 e de ter sido recenseado neste mesmo blogue, no ano seguinte (2007), como apenas o li muito recentemente, sem contrariar a crítica do nosso comum amigo Mário Beja Santos, decidi complementá-la com algumas ideias minhas.
Procurei, assim, dar um contributo para de algum modo desenvolver e enriquecer - passe a imodéstia - alguns temas tratados pelo Mário. Considero o livro do coronel Ferando Policarpo, uma notável obra de síntese, uma verdadeira radiografia da guerra de África, tal como foi vivida (tal como nós a vivemos) na Guiné, um livro de consulta obrigatória para todos os que se interessam pela história de Portugal no século XX.
Dividi os meus comentários em duas partes, de que vos remeto a 1ª parte .

Com os meus cordiais e amigos cumprimerntos
Francisco Henriques da Silva
(ex-alf. mil. de infantaria CCAÇ 2402)


Guerra de África - Guiné - uma radiografia do conflito (1/2) 

A obra do coronel Fernando Policarpo, “Guerra de África – Guiné 1963-1974” integrado na colecção Batalhas de Portugal, editorial Quidnovi, Matosinhos, 2006, constitui, em nosso entender, uma verdadeira radiografia dos 11 longos anos de conflito naquele país africano, que opuseram as Forças Armadas portuguesas aos guerrilheiros do PAIGC. Trata-se de um documento sintético, todavia preciso, rigoroso e objectivo que se destina ao grande público, mas que, mesmo o especialista, seguramente, não enjeitará. Fernando Policarpo não nos apresenta factos inéditos, nem tão-pouco grandes novidades, a nível da interpretação histórica. Tem, porém, cremos, a convicção de que está em terreno minado e que a sua (nossa) proximidade, ou mesmo vivência, dos acontecimentos não permite análises ousadas, que podem ser facilmente contestadas pelo seu carácter controverso, nem tão-pouco são apresentados factos não comprovados ou duvidosos. Nalguns casos são expostas várias versões e o autor limita-se a indicar qual é, a seu ver, a que entende ser mais provável, sem excluir, porém, nenhuma das outras. É o caso, por exemplo do assassinato de Amílcar Cabral em Conakry (20 de Janeiro de 1973). Em suma, a meu ver, a obra possui os méritos da concisão, do rigor e da imparcialidade.

Para além de uma breve resenha histórica inicial relativa ao descobrimento da Guiné e à consolidação dos direitos de Portugal ao território (Conferência de Berlim e sobretudo a Convenção luso-francesa de 1886), por conseguinte, o novo Direito Colonial Público, que, no fundo, marca o verdadeiro nascimento da Guiné Portuguesa, focaliza-se, em seguida, no enquadramento internacional, sobretudo após a Segunda Guerra Mundial, para delinear a génese e a evolução dos movimentos emancipalistas então emergentes e traçar, depois, as grandes linhas do conflito, no que foi considerado o pior de todos os teatros da guerra que Portugal enfrentou em África – a Guiné.

Relativamente ao problema da descolonização, o autor sublinha as diferenças no relacionamento das grandes potências (França e Reino Unido) com as respectivas colónias e “a relação estreita e fraterna que Portugal mantinha com as suas”, com as prováveis excepções dos belgas com o Congo e dos franceses com a Argélia (p. 19).

Fernando Policarpo delineia em traços claros, o que foi a política portuguesa em relação aos territórios africanos ao arrepio dos chamados ventos da História: “Os governos de Salazar e Caetano demonstraram inflexibilidade na condução da politica colonial. Num quadro de grande apoio internacional, ao desmantelamento dos impérios coloniais, Portugal não ousou tirar vantagem dessa mais-valia diplomática, optando por fechar todas as portas a uma solução sensata, credível, digna e honrosa para a Pátria... O país ficou refém da nostalgia do império” (p. 26). Tal posicionamento politico foi pesado de consequências para a Nação e para as suas Forças Armadas. Com efeito, como refere F. Policarpo, “durante os 13 anos seguintes, as Forças Armadas Portuguesas sustentaram a mais longa frente de batalha do mundo, que ia de Lisboa a Timor” (p. 27).

Nos capítulos seguintes, o autor descreve sinteticamente as origens e as características da Guiné, desde os antecedentes históricos, à geografia física e humana do território, não deixando de sublinhar com destaque a complexidade antropológica do território, um “mosaico populacional onde se falavam cerca de 20 línguas diferentes” (p. 39), bem como, a diversidade religiosa. Existem dois pequenos capítulos dedicados às actividades económicas e às comunicações, salientando-se as dificuldades existentes nos transportes terrestres, devido à falta de pontes, donde o inevitável recurso às vias fluviais.

O autor dedica, seguidamente, algumas páginas à fundação do PAIGC e à personalidade e carisma do seu líder, Amílcar Cabral. Para além de meras referências de passagem a outros movimentos independentistas guineenses de vida efémera, Fernando Policarpo acaba por concluir que o único movimento estruturado e com capacidade para a acção armada era o PAIGC, mas – e este ponto é de uma importância capital para se compreender o processo histórico na Guiné-Bissau – “quase todos os fundadores do PAIGC eram cabo-verdianos de formação marxista. Quando a guerrilha se instalou , os seus comandos eram mestiços e a maioria dos combatentes nativos do território. Esta diferenciação explicará o mau relacionamento, as tensões e os conflitos bem visíveis entre estes dois povos, mesmo ao nível da cúpula dirigente do partido – ao ponto de a maioria do povo da Guiné preferir ser colonizado pelos portugueses do que pelos cabo-verdianos.” (p. 51). O apoio explícito do Presidente da Guiné-Conakry, Sekou Touré, foi fundamental para a fundação do PAIGC e para o lançamento das suas acções armadas já em território da Guiné Portuguesa. Todavia, as pretensões do líder conakry-guineense à criação de uma “Grande Guiné” que poderia integrar a então Guiné-Portuguesa e as suas relações com Amílcar Cabral que são virtualmente desconhecidas (cfr. p. 110), bem como a condução ditatorial do seu país, levantam dúvidas quanto às suas verdadeiras intenções.

O coronel Fernando Policarpo divide o conflito na Guiné-Bissau em duas fases cronológicas e político-militares distintas: o período de 1963 a 1968, que abrange os governos de Vasco António Martinez Rodriguez (63-65) e do general Arnaldo Schultz (65-68) e a segunda fase, de 1968 a 1974 que coincide, no essencial com a governação do general António Spínola e o consulado do general Bettencourt Rodrigues, que se resume a uns escassos 8 meses (Agosto de 1973 a 27 de Abril de 1974).

A primeira fase é caracterizada pela implantação do PAIGC no terreno, sobretudo no Sul, mas também em santuários importantes dispersos pelo território, como o Morés ou a mata do Cantanhez, por exemplo. A tropa portuguesa é reforçada e o dispositivo militar na Guiné dispõe-se em quadrícula, cobrindo a quase totalidade da província. Os aquartelamentos situavam-se a poucos quilómetros uns dos outros, atenta a exiguidade do território. A malograda operação “Tridente” (batalha da Ilha de Como) constituiu um revés para Portugal e um importante triunfo para a guerrilha. As deficiências detectadas no sector das informações terão estado na razão do malogro da operação, à semelhança, aliás, da operação “Mar Verde” (invasão de Conakry), anos mais tarde, já em 1970. Em suma, Portugal não consegue conter a progressão da guerrilha em quase todo o território e assume, amiúde, uma atitude meramente reactiva. Adivinhava-se uma vitória militar do PAIGC, a prazo, e tal devia-se “à manifesta incapacidade do General Schultz, Governador e Comandante-Chefe, de planear e pôr no terreno um plano de acção político-militar capaz de inverter a situação” (p. 75)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 15 de Outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10532: Notas de leitura (417): "Guiné Portuguesa", por Avelino Teixeira da Mota (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P10536: Do Ninho D'Águia até África (18): O clima do Equador (Tony Borié)

1. Continuação da narrativa "Do Ninho de D'Águia até África", de autoria do nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), iniciada no Poste P10177.


Do Ninho D'Águia até África (18)

O clima do Equador

Já duas e meia da tarde? - Diz o Cifra, para o Trinta e Seis, soldado telegrafista, baixo e forte, que passou por ele, vindo de limpar a messe dos sargentos, onde também ajudava no bar, pois normalmente, acabava o seu serviço a essa hora.

Estava um calor forte, abafado, húmido. A pele do corpo tem uma gordura, como se fosse cola, ou coisa parecida, passa os dedos sobre o braço, e fica colado. Há mosquitos, mas a sua picadela, já não produz qualquer efeito, a pele está rija e escura. Para os lados do norte, o céu está um pouco escuro. Começa a correr uma brisa, que vem só desse lado.

- Que maravilha!. Comenta para si o Cifra, com o cigarro “Três Vintes” na boca, sentado numa cadeira feita de um barril de vinho vazio, lendo pela centésima vez uma revista do “Século Ilustrado” que trazia fotografias de umas “gajas em biquíni”, que tinha roubado na messe dos sargentos.

A brisa aumenta, torna-se em pequenos remoinhos de vento, que levantam alguma poeira e folhas secas do chão. Caiem alguns pingos de chuva, raros, mesmo raros. Já não são tão raros assim, a chuva aumenta de volume, e quando cai, deixa marcas nas costas nuas, do Cifra. O céu fica escuro, o vento sopra agora com muito mais força, e em remoinho.

O Cifra, com a revista do “Século Ilustrado”, nas mãos, foge correndo para o abrigo. Enquanto caminha para o abrigo ouve um ruído, volta-se e vê a sua cadeira ir pelos ares em redopio. É uma tempestade de chuva e vento ciclónico. No improvisado cabanal da limpeza de armas, voaram algumas folhas de zinco.

Choveu por mais de quinze minutos, o abrigo ficou inundado de água, lama e lixo, onde o Cifra ficou atolado até aos joelhos. A revista, que tanto adorava, ficou molhada, e com a água da lama ficou ilegível, sem poder mais ver as fotografias das “gajas em biquíni”.

Pensa para si, usando a linguagem do Curvas, alto e refilão: - Puta de vida!.

Sai do abrigo, recolhe a sua cadeira, senta-se de novo, acende outro cigarro, e passado uns minutos depois de tudo acontecer, vem uma brisa quente que vai diminuindo de volume, até ficar de novo tudo parado, e volta tudo ao normal, calor forte, abafado, húmido, e a revista, no chão, em pedaços, suja, enrolada, e só com uma pequena imagem da cara de uma das “gajas em biquíni”, a querer sorrir para o Cifra, que volta a cara para o lado, e volta a dizer: - Puta de vida!.

Olha para o seu corpo, a pele tem uma gordura, como se fosse cola, ou coisa parecida, passa os dedos sobre os braços e fica colado.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 13 de Outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10524: Do Ninho D'Águia até África (17): Meia Missão, em África (Tony Borié)

Guiné 63/74 - P10535: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (2): Como fui parar a Gadamael, por acção do meu pai e reacção do 'Paizinho' ...

1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires, que bebeu a água do Rio Cacine e que, depois da passagem à peluda, deixou a Pátria em 1972, passando a viver desde então nesse grande país lusófono chamado Brasil...

Ficamos a saber que ele conheceu o nosso blogue em circunstâncias infelizes: no "estaleiro", em recuperação das sequelas de um acidente automóvel. 

Daqui de Angola, e com alguns problemas de comunicação com a nossa Tabanca Grande Global, aqui vai um afetuoso abraço para ele, desejando-lhe completa recuperação, e para os demais amigos e camaradas da Guiné, incluindo o Rosinha que está ansioso que eu lhe mande umas fotos da rua e da casa onde ele morou em Luanda...  Infelizmente, regresso já na 5ª feira, sem tempo para sair da "ilha" de Luanda, onde estou "prisioneiro" das 9 às 18h... (LG):


A CAMINHO DE GADAMAEL... Ou como a acção de meu pai e a reação do "Paizinho" me levaram lá.)

Caros Luis Graça/ Carlos Vinhal,

Estas mal traçadas linhas são a minha modesta homenagem à vossa coragem e determinação, para trazer à luz do dia, e administrar, tantas emoções de uma geração, guardadas lá no fundo do subconsciente (Valha- nos "São" Lacan!!!), moderando magistralmente tantas visões de uma realidade multifacetada.

É também uma oportunidade para eu agradecer a todos que me ajudaram a chegar de volta ao Aeroporto da Portela. Não poderia deixar de agradecer também a Maria Helena, que me acompanhou nos anos "pós-Guerra", e criou meus filhos.

Saí de Portugal, ainda no mesmo ano de 72, em que voltei da Guiné, e por aí vou andando até esta data, sou um desses milhões da multissecular diáspora Lusitana, que deve ter começado lá pelo século XV, quando as caravelas jogavam em terra os "lançados", que tinham pegado nas ruas ou tirado das prisões, para na volta servirem de "linguas".

A Artilharia da Guiné era de rendição individual, para oficiais, sargentos e alguns especialistas, sendo soldados e cabos da guarnição local, inexistindo posteriormente essas reuniões que vão alimentando o espírito de corpo, das Companhias e Batalhões. Dificultado o contacto com os camaradas,esses três anos de serviço militar vão ficando no fundo do "baú de recordações".

Após um acidente de automóvel recente, que me obrigou à recuperação em casa , conheci o blog. Então, como a história é mais benevolente com quem a escreve, ousei rabiscar este meu, "A CAMINHO DE GADAMAEL".


Eu venho lá da Bairrada pofunda, que na década de 50 era mais conhecida como terra da batata, ao invés de terra do vinho, o vinho ainda se vendia a granel. Apesar de haver registro de vinhas na região no século XII, a região sofreu por muitos anos da determinaçao do Marquês de Pombal de as arrancar.

O meu pai vinha de um grupo familiar, que se poderia enquadrar no que Gramsci apelida de "intelectuais rurais"; a escola de Samel no fim do século XIX começo do XX, era na casa do meu avô, sendo ele professor, como o foram meu pai e meus tios.

Meu avô materno era filho de comerciante e, como seus irmãos,  emigrou para o Brasil, e ao contrário deles voltou a Portugal, no fim da primeira década do século XX, casou com uma professora, que era duma família profundamente ultramontana, originária da Madeira.

A minha infância e adolescência foi passada em escolas da região, seguida de uma passagem de cinco anos pela efervescente cena Coimbrã da segunda metade da década de 60.

Em 69, saí desse "borbulhar" de novas ideias e atitudes, para a disciplina EPI na "Máfrica" de tantos de nós. Logo começou a minha boa sorte, de ter camaradas, subordinados e superiores que me ajudaram nesta caminhada de três anos pelos quartéis de Portugal e África.

Nesta caminhada de soldado-cadete, apareceu o Raul, que era da Mealhada, professor, com família constituida, e lá rumávamos todo Domingo para Mafra. O Raul era um gordo bem humorado, que fazia todos os exercícios como qualquer atleta, mas comer do rancho já era pedir muito, logo tratou de desarranchar e alugar apartamento, e lá fui eu "no vácuo". E assim foi-se amortecendo o choque da irreverência da Academia Coimbrã, com a disciplina do quartel.

Onde quer que estejas Raul, o meu muito obrigado!

Depois de uma recruta sem grandes altos e baixos, anúncio das especialidades. IOL, mas que raios será isso? e fui ouvindo as mais disparatadas interpretações dessa sigla enigmática. Até que uma alma caridosa explicou que IOL era a sigla de Informação, Observação e Ligação, teoricamente o Oficial que faria a ligação da Artilharia Divisionária com o Comando. Na prática tal como o PCT, Posto de Comando e Tiro, um puxador de cordão de obus.

E lá fomos nós, eu e o Raul , para Vendas Novas, lembro que num Domingó à noite, parámos no caminho, para ver a descida do homem na Lua.

Na EPA, havia dois pelotões, um de PCT e outro de IOL, e se não me falha a memória com entre 30 e 40 alunos somados os dois. O "Jornal da Caserna" informou que quem ficasse nos primeiros lugares duma lista conjunta não iria para África, como era costume. Menos gente, tratamento um pouco melhor, lembro o Tenente Carita, que penso hoje é Coronel Reformado de Artilharia e Professor na Universidade da Madeira. E lá fomos todos, fazendo o nosso melhor, para ficar por lá mesmo (Portugal). Na EPA encontrei o Vinagre de Almeida que tinha sido aluno do meu pai.

Fim de curso e começo do estágio de um mês na própria EPA, já Aspirantes, pelo menos não seríamos praxeados como soldados-cadetes nos quartéis de destino.

Resultados conhecidos, quarto lugar no curso, RAP 3 , Figueira da Foz, comecei a antegozar umas prolongadas férias à beira mar. Chegado ao RAP 3, vários Alferes de cursos anteriores, estava confirmado, minha "Guerra" seria nas areias do Atlântico, mas, do Atlântico Norte. Figueira da Foz, fora de temporada, fácil de alugar apartamento, quando perguntado qual a previsão, falei com segurança: dois anos.

Aí começaram as notícias, Fulano foi para a Guiné, Cicrano para Angola, até aí tudo normal, os últimos colocados sempre eram mobilizados. E a fila continuou andando, até que chegou no décimo colocado, e acendeu a luz amarela, mas ainda tinha seis na frente. Quando o Aspirante Conceição quinto colocado foi chamado, acendeu a luz vermelha, provável dar Atlantico Sul!

Deu Guiné, e lá fomos nós, eu e o Vinagre de Almeida, de barco rumo a Bissau. GA 7, e logo o "Jornal da Caserna", informou em "Primeira Página": Cuidado, o "Homem" é louco, desafiou até o General. O Homem em questão era o famoso "Paizinho", controverso Oficial Superior de Artilharia, com relacionamento díficil com subordinados, bem como com superiores (o General Spínola, tinha-o punido com pena de prisão e tinham um relacionamento tumultuado). Abordava a todos com um "Oh meu filho...", daí a alcunha, era também conhecido como "o Homem da voz meiga", contudo não era nada meigo na hora da punição.

Na semana seguinte à minha chegada, recebi uma ordem através de um oficial, para me apresentar em tal data no Palácio do Governo, sem mais explicações. Nada sabia, e nada pude responder às perguntas, que deviam ter sido feitas por ordem do "Paizinho".

Apresentei-me, na data marcada (não era louco!), por acaso encontrei um conhecido de Coimbra que era Chefe de Gabinete, só disse que o General ia falar comigo. Acalmei, somente quando soube que o General e meu pai tinham amigos comuns, e que ele tinha-me chamado para me dar as boas vindas, e mais não disse. Sim Senhor, Meu General!

Ora o Homem não gostou nada, que o General, com tinha péssimas relações, tivesse chamado um Oficial do seu Comando, sem nada saber. Penso eu, como "prémio", escolheu o pior buraco disponível, que no momento era Gadamael Porto, e lá fui, trocando as "férias" da Figueira da Foz, por aquelas outras à beira do Rio Sapo.

De novo a sorte me acompanhou com relação aos superiores, a quem o comando do 23° Pelart estava subordinado: (Repetindo o que já disse anteriormente),

"Cheguei a Gadamael Porto, lá por meados de 70 para assumir o comando do 23° Pelart, encontrei uma Companhia em fim de comissão, comandada pelo experiente, então Capitão de Artilharia Rodrigues Videira, que me muito me ajudou nos primeiros tempos em zona de guerra. 

"Logo em seguida veio uma Companhia de Infantaria, comandada pelo saudoso Capitão de Infantaria Assunção Silva, morto em combate, generoso e intrépido oficial , que foi substituído pelo então capitão de Artilharia António Carlos Morais Silva, sobre o qual já falei neste blog, como um dos mais brilhantes Oficiais do Exército Português que conheci, nos meus três anos de serviço". 

O mesmo devo dizer dos Sargentos, dedicados e leais:

"O Furriel Miliciano de Artilharia, Lopes de Oliveira, foi professor dos soldados, e além de ser um esforçado cozinheiro, montou uma sofisticada logística, para garantir o abastecimento de carne e peixe com o pessoal da tabanca, e o Furriel Miliciano de Artilharia Krus coordenava com eficiência a atividade operacional do Pelotão".

Assim, pois, a conjugação da acção do meu pai, com a reação do "Paizinho", me levou até Gadamael Porto.

Cordiais saudações, VP

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Nota do editor:

Último poste da série de 13 DE OUTUBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10525: Fantasmas do fundo do baú (Vasco Pires) (1): Uma história do artilheiro de Gadamael, à beira da peluda, no 'bem-bom' de São Domingos...

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Guiné 63/74 - P10534: Blogoterapia (218): Voltei ao Éden (Felismina Costa)

Sintra - Foto retirada de http://atracoessintra.no.sapo.pt/, com a devida vénia

Voltei ao Éden

Por Felismina Mealha

A manhã nublada envolvia a serra num místico turbilhão de nuvens voláteis, que ora se posicionavam à direita, ora à esquerda…
Estou sentada no parque em frente!
Sozinha!
Os bancos do parque, todos ocupados, quando há pouco cheguei, apenas aquele em que me sento, apresentam agora, uma volumetria colorida, no azul dos jeans e da camisola de cores contrastantes, que cobrem o rectângulo humano, que de caneta na mão, desenha sobre um bloco, que firma sobre a perna traçada, as palavras que chegam através da influência panorâmica.
Fujo de mim e observo…

As folhas caem das árvores, em tons de castanho e ouro e passeiam-se pelo chão… preguiçosamente.

À minha rectaguarda, os carros circulam a pouca velocidade, condicionados pelo semáforo próximo.

De vez enquando, pequenos grupos passam falando, à procura do almoço…

Olho o candeeiro de ferro forjado, sobre o muro, de desenho airoso, que espera a noite para mostrar a sua beleza e utilidade.
Numa das floreiras, frente aos meus olhos, floresce mimosa uma planta, no tom das flores da romãzeira, e, as casas apalaçadas, no sopé da serra, estão fechadas e caladas com medo de acordar recordações.

Como que dopada, permaneço sem pressa nem objectivos imediatos. Com a estação ferroviária a dois passos, encetarei a viagem de regresso quando me apetecer. O dia… é meu!

Agora, quero sentir o vento!
Paira uma atmosfera mole, preguiçosa, tal como me sinto.
Uma brisa, ofendida com as minhas palavras, soprou mais ligeira e eu sorri…

Olho o chão, de calçada portuguesa, desenhando uma geometria ondulante a que as folhas dos plátanos emprestam um doce enfeite…
Fotografo-as para as olhar no Inverno!
Uma pomba branca passeia-se indiferente e decidida. Gostei de ver a sua coragem, expressa na atitude.

Ao fundo do parque, um monumento, encimado por uma esfera armilar, lembra os que caíram pela Pátria, e eu, que sempre me tocam essas honras, lembrei-me dos que sobreviveram e continuam a ser ignorados e passam por nós, anónimos, com o brilho da sua heroicidade, apenas no seu coração e na sua memória…

Mais carregadas, as nuvens cobriram o sol, que aparecia a espaços…
No topo da serra, um pouco a sudoeste, uma das muralhas da Pena, sobressai por entre a vegetação.

Alguns transeuntes, de livros e telemóveis na mão, ocupam alguns bancos, tranquilamente, e eu vou deixar o espaço que observei, agradada e agradecida.
Num comboio longo, que circula sobre carris, vou-me deixar levar, mirando da janela o espaço abrangente, que transformarei em crónica deste dia e tempo.

Felismina-mealha
10 de Outubro de 2012
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 30 de Setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10457: Blogoterapia (218): Obrigado pelo acolhimento nesta Grande Tabanca, que abriga as alegrias e as dores de uma geração, batizada com suor, sangue e mosquitos, nas águas escuras dos deltas dos rios da Guiné (Vasco Pires, Brasil)

Guiné 63/74 - P10533: Agenda cultural (223): Lançamento do livro "Palavras de um Defunto... Antes de o Ser", de Mário Tito, dia 27 de Outubro de 2012, pelas 16h00, na Livraria - Bar Les Enfants Terribles, em Lisboa

C O N V I T E




 
1. É já no próximo dia 27 de Outubro de 2012 (sábado), pelas 16h00, que vai ser apresentado o livro "Palavras de um Defunto... Antes de o Ser!" de autoria do nosso camarada Mário Serra Oliveira.

O evento terá lugar na Livraria - Bar Les Enfants Terribles - Cave do Cinema King - Rua Bulhão Pato, n.º 1, em Lisboa.


Oradores convidados: 
José Eduardo Ferreira Couto, 
Dr. Mário Beja Santos e 
Fernando Carvalho.

Sobre o livro:
Autor: Mário Tito
Edição: Chiado Editora
Colecção: Viagens Na Ficção
Páginas: 542
Data de publicação: Outubro de 2012
Género: Ficção
Preço: 16,00 €
ISBN: 978-989-697-706-1

Alguns dos tópicos de realce, no interior destas linhas:
“Quando perguntei ao defunto… qual o estado dele… vejam só: nem “xúz nem búz”, assim como que não me conhecia! Eu, que até andei ainda a arrastar a asa a duas das três irmãs dele – duas gémeas e uma “corcunda”; o nascimento lá na minha aldeia, de um rapazote, com um sinal numa das brilhas e um olho de vidro, tal como a mãe, bem como uma tatuagem num braço, e uma perna de pau – tal como o pai; os americanos, a falsa democracia, e o roubo do petróleo; os ingleses e as nossas descobertas; os meus dois casamentos, sem nunca me ter divorciado; a origem da águia, do tigre e dos lagartos; a “Graça do Senhor” e a fatia de pão trigo; eu, o Land Rover dos americanos e o dos chineses, em Bissau; os fuzilamentos políticos na Guiné; o baptismo do vinho na Messe dos Oficiais da FAP, em Bissau; o meu irmão bancário e os pintainhos no forno. Cheira-me a penas chamuscadas; os mórmons e o poderem ter muitas mulheres, às vezes sem poderem poder; a pergunta do alfaiate, sobre de que lado eu usava a minha “ferramenta”; o eu ter ido ao céu ou a minha 1ª experiencia sexual; a descoberta, por uma médica “para” – que eu tinha um testículo maior que o outro; o foguete “mosca-abelha” e os foguetões tripulados; o jogo da “bilharda” e o jogo do baseball americano e, muito, muito mais…”


2. Alguns esclarecimentos do nosso camarada Mário Oliveira:

(i) Os ex-combatentes da guerra do ultramar terão desconto de 20% nos seguintes moldes:

No dia do lançamento, toda a gente paga por inteiro, para o que recebe um talão comprovativo, por uma questão de contabilidade. Cada camarada ex-combatente que se identifique como tal (Angola, Moçambique, Guiné, etc - não Iraque nem Afganistão, porque isso foram opções tomadas e não obrigações forçadas) dirige-se a mim e recebe os 20% imediatamente, no local. Só um livro por camarada.

Fora do dia de lançamento. Se quiserem adquirir o livro porque tomaram conhecimento dele através do Blogue, ou outros meios, pedem o livro por intermédio do Blogue ou directamente a mim, regista-se o interesse e eu faço-o chegar ao destino, à cobrança, já com o desconto.

(ii) Do produto de venda de cada livro doarei 1 €uro à Guiné-Bissau através de uma instituição a designar oportunamente

A minha ideia até seria fazer entrega lá na Guiné, se atingisse um valor razoável, numa visita futura, com saudade constante. Creio que não estará mal desta forma.

Mais, o valor de 1€ será doado por todas as vendas, seja ou não efectuada a ex-camaradas.
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Notas de CV:

Sobre o livro "Palavras de um Defunto... Antes de o Ser", vd. postes de:

15 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10037: Os nossos seres, saberes e lazeres (45): Para breve o lançamento do livro "Palavras de um defunto... antes de o ser", por Mário Tito (Mário Serra de Oliveira)
e
21 de Setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10418: Blogoterapia (217): Mário Tito, aliás, Mário Serra de Oliveira, camarada da diáspora, está disponível, em 27 de outubro, no lançamento do seu livro, ou então na 1.ª quinzena de novembro, para estar com os camaradas de cá, para "papiar crioulo" e "parti mantenha e lembra tempo di tuga"

Vd. último poste da série de 13 de Outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10527: Agenda cultural (222): Tertúlias Fim do Império, Oeiras e Lisboa, calendário das sessões

Guiné 63/74 - P10532: Notas de leitura (417): "Guiné Portuguesa", por Avelino Teixeira da Mota (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 16 de Agosto de 2012:

Queridos amigos,
Manda o rigor que se diga que é inaceitável estudar a Guiné Portuguesa sem consultar a respetiva monografia assinada pelo então primeiro-tenente Avelino Teixeira da Mota. Profundo conhecedor da realidade guineense, foi um árduo estudioso de matérias tão dispares como o ambiente físico, as línguas, a fauna e a flora, a demografia e a pré-história e a história conhecida antes da presença portuguesa. Remete-nos para o segundo volume a história da ação portuguesa e os capítulos obrigatórios numa monografia sobre a economia que ele regista com todos os pormenores, até à exaustão.
A diferentes níveis, e reconhecido por outros estudiosos, a sua monografia mantém um valor incalculável, pelo que é de leitura obrigatória.

Um abraço do
Mário


“Guiné Portuguesa”, por Avelino Teixeira da Mota (1)

Beja Santos

Avelino Teixeira da Mota acompanha o Governador Sarmento Rodrigues, foi seu Ajudante de Campo e depois passou a prestar serviço na missão Geo-Hidrográfica da Guiné Portuguesa, em 1947. Para trás ficavam os seus decisivos contributos na fundação, organização e publicação de um Boletim Cultural, na elaboração de um inquérito etnográfico, e na sua preparação para publicação uma nova carta geográfica e etnográfica da Guiné. Mesmo com alguns interregnos, Teixeira da Mota ficará na Guiné até finais de 1957. Ele reconhecerá mais tarde que havia encontrado a solução providencial para continuar na costa ocidental de África e a aprofundar os seus conhecimentos sobre a Guiné. Por exemplo, é neste período em que colabora com a Missão Geo-Hidrográfica que estabelecerá contactos mais estreitos com membros do Institut Français de l’Afrique Noire (IFAN), prestigioso centro de investigação científica da África Ocidental Francesa, que publica a sua primeira obra de fôlego, em 1950, sobre a toponímia de origem portuguesa usada para denominar vários locais na Costa Ocidental de África. Finalmente, aparecerá em 1954 a Guiné Portuguesa que ainda hoje é inultrapassável em muitos dos seus pontos focados, como escreve o seu biógrafo, Carlos Valentim, nomeadamente no que respeita à Geografia Física e Humana, à Geologia e História do espaço guineense. Apresentada em dois tomos, publicada pela Agência-Geral do Ultramar, desta monografia é uma súmula dos cerca de nove anos de conhecimento e estudo do autor sobre a Guiné Portuguesa. Não é despiciendo referir que Teixeira da Mota esteve atento, durante este período a um conjunto de missões de zoólogos, botânicos, geógrafos, médicos veterinários e médicos tropicais que produziram documentos inovadores.

Tratando-se de um trabalho de primeiríssima, e sendo o primeiro retrato histórico de importância incontestável, obra de primeiríssima água, deve-nos merece uma apreciação detalhada. Como segue.

Depois de descrever o meio físico (situação, estrutura geológica, relevo), o clima, os solos, os cursos de água, as costas, deixou-nos um quadro impressivo da fauna e flora (vegetação, a fauna nas suas relações com o ambiente físico), detém-se sobre as populações nativas. E esclarece sem rebuços: “A pré-história guineense e, de uma maneira geral, a da África Ocidental, continua a ser pouco conhecida, em virtude da escassez dos elementos até agora descobertos. Adiante refere-se ao que se tinha vindo a apurar sobre a proto-história guineense, referindo que achados recentes vinham ligar os vales de Geba e do Corubal às velhas civilizações sudanesas, revelando que o interior da Guiné Portuguesa tinha estado na órbita de grandes Estados continentais – facto de considerável significado e que em muito explica a atual distribuição de populações e certos aspetos da sua civilização”. E discreteia sobre explorações mineiras, incluindo as auríferas, de que não restam praticamente vestígios. Admite que a mineração no vale do Geba tenha correspondido ao apogeu do império do Mali, no século XIII ou XIV e adianta: “Não é impossível que o vale do Geba tenha sido explorado no tempo do império que precedeu o dos Mandingas, ou seja o império Saracolé de Gana. São hipóteses que aqui ficam. Do que já não pode haver mais dúvidas é que o interior da Guiné portuguesa desde cedo esteve ligado aos grandes impérios sudaneses (convém articular este texto com a tese de doutoramento de Carlos Lopes intitulada “Kaabunké – Espaço, território e poder na Guiné-Bissau, Gâmbia e Casamance pré-coloniais”, de que já se fez aqui recensão). E explana sobre os impérios do Gana e do Mali e primeiras islamizações, bem como sobre o primeiro conhecimento histórico das populações da Guiné Portuguesa, efetuando uma relevante situação por meio de notas históricas das várias etnias (até ao século XIX), discutindo as suas origens e afinidades, abarcando Balantas, Felupes e Baiotes, Banhuns e Cassangas, Cobianas, Manjacos, Brames, Papéis, Bijagós, Beafadas, Nalus, Bagas e Landumãs, Tiapis e Cocolis, Pajadincas e Tandas, Mandingas. Depois regista a islamização dos fulas, a constituição do Estado do Futa-Jalom e a sua expansão. E, muito importante, analisa as consequências da ocupação europeia no deslocamento de populações. A título de curiosidade, refere que os manjacos emigraram para o território do Casamansa, principalmente a área de Ziguinchor e dentro da Guiné aparecem também em centros urbanos e dedicam-se à agricultura e exploração de palmares e regiões como o Oio e Catió; os Papéis emigraram também para áreas de palmares como os Bijagós, Chitole e Cubisseco. Os maiores emigrantes terão sido porém os Balantas que se deslocaram para constituir novas bolanhas em terrenos roubados ao mar. e foi assim que invadiram o baixo Geba, baixo Corubal, Quínara e quase toda a área de Catió.

O trabalho monográfico de Teixeira da Mota passa depois para a demografia, associando-a aos solos, recursos hídricos, doenças tropicais e própria ocupação europeia. Quanto às línguas faladas na Guiné refere que fazem parte do grande grupo das línguas sudanesas, o qual, com as línguas bantas e as línguas nilóticas, formam o ramo das línguas negro-africanas. E dá a sua interpretação sobre o crescimento do crioulo: “A necessidade dos indígenas se entenderem entre si, terem uma língua franca, pelo facto da ação e depois a ocupação europeias terem quebrado o isolamento tribal. O movimento demográfico atual carateriza-se por duas grandes correntes, uma de deslocamento para os espaços rurais desocupados anteriormente por motivo de defesa, a outra de atração urbana. Qualquer dos movimentos vem baralhar cada vez mais o complicado mosaico étnico e linguístico que é a Guiné onde se falam para cima de 20 línguas. Que se entendam por meio do crioulo, em vez de utilizaram uma língua nativa importante, como o Balanta ou Fula, só me parece motivo de satisfação para nós – noutras partes de África foi o último caso que cedeu (por exemplo, o Kisuahili nos territórios ingleses da África Oriental)”. O investigador explica como o crioulo guineense se tinha vindo a afastar do crioulo cabo-verdiano, incorporando um português antigo, arcaísmos portugueses e muitíssimas palavras africanas. Fica aqui uma nota de curiosidade, como escreve o autor: “É de registar que o crioulo utiliza para animais e plantas formas portuguesas criadas em África; para os animais marinhos é frequente a designação de peixe seguida de outra palavra (peixe-banda, peixe-areia, peixe-cavalo, etc.); para as árvores é, de maneira análoga, a forma pau (pau-carvão, pau-sangue, pau-ferro, pau-conta, etc.)".

E o primeiro volume prossegue com o inventário das religiões, a caracterização do animismo e a especificidade islâmica. Temos, por último, o capítulo sobre géneros de vida e formas de civilização que permite ao autor questionar a identidade dos diferentes grupos étnicos, bem como o agrupamento das populações negras, o que os liga à agricultura e forma de povoamento, as técnicas de pesca, a organização social ou o caso das sociedades sem Estado, como os balantas e o modo como cada uma destas etnias aplica as singularidades arquitectónicas na habitação.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 12 de Outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10519: Notas de leitura (416): Kaabunké Espaço, território e poder na Guiné-Bissau, Gâmbia e Casamance", por Carlos Lopes (Mário Beja Santos)

domingo, 14 de outubro de 2012

Guiné 63/74 – P10531: Páginas Negras com Salpicos Cor-de-Rosa (Rui Silva) (21): Operação Outra Vez, objectivo: Iracunda

1. Mensagem do nosso camarada Rui Silva (ex-Fur Mil da CCAÇ 816, Bissorã, Olossato, Mansoa, 1965/67), com data de 11 de Outubro de 2012:

Caríssimos Luís, Vinhal e M. Ribeiro.O que sai logo à ideia é enviar-vos um grande abraço, e este mail encontrar-vos em plena boa saúde.
Aqui vai mais uma página “ arrancada” do meu caderno de memórias “ Páginas negras com Salpicos cor-de-rosa”.

Passem bem
Rui Silva


Como sempre as minhas primeiras palavras são de saudação para todos os camaradas ex-Combatentes da Guiné, mais ainda para aqueles que de algum modo ainda sofrem de sequelas daquela maldita guerra.

Do meu livro de memórias “Páginas Negras com Salpicos cor-de-rosa”

- 22 de Junho de 1965 (quase 1 mês de Guiné) -

IRACUNDA 
(ainda hoje, ao falar, há ainda uma residual sensação)

Foi o batismo de fogo da 816: mais de 20 minutos de fogachada em Iracunda. Julgo que toda a espécie de arma que o inimigo usava na altura em toda a Guiné, estava toda ali.
Não foi a minha primeira vez no mato mas lá que foi a primeira vez que chamei a Nossa Senhora lá isso foi!
Iracunda ao tempo era o verdadeiro braço armado da base de Morés, no OIO.

Localização de Iracunda, estrada Bissorã-Mansabá, a sul do Olossato e a NW do Morés, bastião do PAIGC no Oio. 
Vd. carta da Província da Guiné.
Legenda de CV

Certo dia então chegou a ordem para os 2.º e 3.º Grupos de combate prepararem-se para saírem para o Olossato. Não sabíamos, mesmo nós os Sargentos, qual seria o objetivo. Se bem que não estranhássemos (?) a falta de dados, uma vez que sabíamos que na guerra o sigilo tem toda a importância, ficamos na desusada expectativa quanto ao que nos estava reservado com a Operação Olossato. A ordem veio lacónica embora concisa, à boa maneira militar. Sem fazermos qualquer objeção (pudera!) ou simples pergunta (pr’a quê?), embora a nossa curiosidade nos incitasse a tal, vestimos uma vez mais o camuflado, armamo-nos como de costume e abalamos rumo às viaturas que se encontravam já alinhadas, à saída do aquartelamento de Bissorã, na direção da estrada para o Olossato, ali bem perto do edifício civil da Administração de Bissorã e da rotunda com um pequeno monumento no meio. O centro de Bissorã, afinal.

Encarávamos o trajeto com certo pessimismo, (periquitices) pois a estrada que liga Bissorã a Olossato tinha fama de aparecerem muitas emboscadas, principalmente na zona da “carreira-de-tiro”, nome que a tropa deu e que ficava sensivelmente a meio caminho até Maqué e que atravessava um local de capim muito denso, mesmo propício a uma cilada. Também nesta estrada era frequente aparecerem minas e fornilhos, dizia-se. Sabíamos também que era uma zona batida pelos terroristas da fortíssima base de Morés e que a estrada passava por Maqué, a meio caminho, onde algures também existia uma casa-de-mato.

No entanto, uma vez que esta nossa saída foi rodeada do maior segredo (o que até em Bissorã parecia não funcionar muito bem), havia toda a possibilidade de os não termos à perna, o que não queria dizer que, pelo menos, não tivéssemos de depararmo-nos com minas e outras quaisquer armadilhas. Assim, e como era de contar com isto, a estrada foi picada por uma secção e à vez. Porque a coluna levava à frente homens apeados - os picadores -, obrigava a uma progressão lenta, embora segura, quanto a minas.

Os cerca de 15 quilómetros que separavam Bissorã do Olossato, ou melhor até Maqué (~8-9 Kms.) , percorridos de tal forma, pareciam não ter fim. As secções alternavam-se à frente na picagem da estrada, e quando essa mudança acontecia, havia uma longa paragem da coluna, o que fazia ainda mais enervar.

O trajeto, o primeiro que fazíamos naquela estrada, que tão badalada era - já em Bissau, quando passamos por Brá, ouvíamos falar dela, pelos seus perigos -, foi feita no clima da maior “suspense” e expetativa. Os “longos” quilómetros foram-se então calcorreando até que chegamos a Maqué sem qualquer novidade.

Logo divisei do lado oposto e do outro lado do pontão (ponto de encontro) uma auto-metralhadora e alguns soldados de camuflado já muito coçado, muito queimados (era a velhice). Rostos queimados do impiedoso sol, grandes barbas e/ou bigodes, tudo aquilo denunciador de velhos amigos daquelas paragens. Eram elementos da Companhia de Artilharia n.º 566, a Companhia que estava sediada no Olossato. Tinham picado a estrada do lado deles e portanto dali para a frente já ninguém foi apeado, pelo que a marcha foi imposta pela velocidade das viaturas.

Alguns quilómetros volvidos, deparam-se então as primeiras moranças, outras mais, mais ainda e eis que nos aparece o aquartelamento de Olossato. Troncos de palmeiras já muito gastos a fazerem de paliçada em toda a volta do aquartelamento; abrigos de sentinela cilíndricos e em cone no teto nos 4 cantos do quadrado da fortificação. Tudo no entanto bem arrumadinho e cuidado. Troncos de palmeiras, chapa dos bidões da gasolina e barro da Guiné para encher, eram os materiais utilizados. Na ponta de um mastro, já bem dentro do quartel, bem alto, ondulava a bandeira portuguesa, orgulho nosso e a chama do nosso valor e coragem. Numa alisada chapa de bidão logo sobre a “Porta d’armas”, podia-se ler em letras e números bem grandes, pintados à mão e com relativa habilidade: “C. ART. 566”. Esta chapa estava bem ao alto e logo à entrada do quartel. Eram ali que moravam os “velhinhos” da 566, Companhia que tinha muita fama pelo valor evidenciado através de êxitos e mais êxitos por aquela temerosa zona do Oio.

Tive mais tarde ocasião de o assim constatar, ao trabalhar com eles no mato.

Poucos meses atrás, pouco antes de virmos para a Guiné, tinham eles tido um formidável êxito na base de Morés. Aprisionaram entre 2 a 3 toneladas de material de guerra entre ele diversas e valiosas metralhadoras pesadas.

Aquele cenário no Olossato fez-me lembrar logo os filmes de cow-boys do western americano: muros construídos com trocos de palmeiras, cavalo-de-frisa e arame farpado a embrulhar tudo, e homens armados de carabina (diga-se G3) e em tronco nu e bem queimados; barbas, barbichas e exóticos bigodes e muita descontração; chão vermelho e poeirento também.

Olhei em redor a ver se encontrava por ali algum conhecido, mas não encontrei ninguém. Ouvi então risos e palmadas nas costas, mesmo atrás de mim. Virei-me e era o Zé Baião que tinha encontrado um seu conterrâneo eborense e amigo. Este era o Furriel Martins. Conversaram, riram, mas não era preciso haver conhecimentos, pois ficávamos logo em família sempre que se davam estes encontros. O Martins usava um chapéu à cow-boy, mais um dado característico dentro daquela encenação.

Receberam-nos muito bem e logo se aprontaram a arranjarem-nos comer na messe deles. Embora fosse da praxe, os visitantes serem bem recebidos pelos seus anfitriões, o certo é que os camaradas da 566 foram inexcedíveis em gentilezas, pelo que, viríamos a manifestar o nosso reconhecimento com grande ênfase. Ficamos desde o primeiro minuto a gostar daquela maralha e, diga-se de passagem, que também conquistamos a simpatia deles. Almoçamos então em clima de grande confraternização e depois de contarmos, e principalmente ouvirmos as aventuras da malta ali na Guiné, fizemos uma partida de futebol na parte da tarde.

O pequeno campo de futebol dentro do aquartelamento do Olossato que ficava junto às messes quer dos Oficiais quer dos Sargentos onde, antes umas horas de irmos à base de Iracunda, jogamos à bola com a malta da 566. A casa atrás da baliza seria mais tarde a secretaria da 816 onde estava o saudoso 1.º Rodrigues (falecido cá e já com alguma idade - paz à sua alma) e o desenfiado do “Boavista”, sempre com o Primeiro a perguntar-nos onde andava este, …na bola quase sempre. A casa do lado direito, já civil, e fora do aquartelamento, julgo ser a casa do Sr. Fodé, nativo,vendedor de panos e outras miudezas e apetências nativas.

Ao fim desta, fomos então, nós os da 816, chamados ao nosso Capitão (não foi preciso lembrar-nos que não fomos ali para jogar futebol) e por ele fomos postos ao corrente da nossa missão, agora com a informação em detalhe. O objetivo era para nós desconhecido, mas que lá ia ficar bem no nosso conhecimento lá isso ficou. Os velhinhos da 566 já o conheciam, e bem o notei logo no olhar apreensivo dos que iam alinhar com a gente, que tal refúgio não era nenhuma pera doce. Diante de um mapa estendido sobre uma mesa, fomos então elucidados pelo Alferes Victor da 566 coadjuvado pelo nosso Capitão, quanto ao efetivo do inimigo, seu armamento, quantidade e posição dos sentinelas, dispositivo que nós íamos adotar, etc., etc. A hora de saída do aquartelamento foi fixada para a 1 hora da madrugada. Objetivo: IRACUNDA!

Nada nos dizia (a nós os da 816), mas, só até lá chegar…

Depois da operação ficamos com a certeza que na verdade Iracunda era uma grande base terrorista, talvez até mais bem operacional do que a de Morés, isto dito também pelos da 566 e pelo chinfrim que houve também.

As lavadeiras do Olossato evidenciavam bem como a Guiné era muito fértil em boa fruta

Por gentileza de um colega Furriel da 566, dormitei um pouco na cama dele, acumulando energias, até à hora da partida. O jogo da bola tinha sido um grande desgaste, mas como havia o maior segredo, esse desgaste não foi poupado. Nesta altura, calmamente e com tempo, foi-me preparando. Peguei na minha G3, verifiquei o funcionamento da culatra, apalpei os carregadores nas cartucheiras, fixei bem a fivela do cinto do camuflado e fui beber um pouco de café. Um pouco de bagaço também para aquecer e a malta foi aparecendo. A noite estava com um intenso luar. A coluna foi-se formando no maior dos silêncios e, como autómatos, depois de tudo verificado, guarnições de “bazooka” e de morteiro, pessoal indígena carregador de granadas, nativos voluntários (de Mauser”!!) etc., fomos deixando Olossato no sentido oposto aquele pelo qual tínhamos vindo de manhã de Bissorã. A operação Iracunda tinha-se iniciado.

Olossato ia ficando para trás e a sua iluminação ia-se assim reduzindo para dar lugar às trevas. Como sempre, calculávamos o tempo de maneira que chegássemos às imediações do objetivo (refúgio) algumas dezenas de minutos antes da hora previamente combinada para o assalto. Servia tal interregno para nos refazermos um pouco da caminhada e ultimarmos também pormenores (se necessário), sobre o assalto. O facto de na maior parte das vezes chegarmos muito cedo às proximidades do objetivo devia-se também à progressão ter sido feita sem sobressaltos, nomeadamente do guia não nos ter feito andar às voltas, como não raras vezes acontecia, e que o tempo previsto também contemplava estes tipos de atraso mais ou menos previsíveis. Com o dito descanso, recuperávamos da caminhada e as nossas condições quer físicas quer psicológicas (sem nos vermos livres do nervoso miudinho, contudo), eram bem melhores. Até que chegamos junto de uma zona mais ou menos descoberta mas com folhagem suficiente para nos encobrir e camuflar uma vez sentados ou deitados. Estávamos ao longo de uma sebe e a escuridão da noite fazia o resto. Teríamos os cantares dos variadíssimos pássaros em breve a denunciar o nascer do dia.

(A descrição seguinte, em itálico, que faz parte integrante da narração desta operação “tirei-a” para introito do livro das minhas memórias - “Páginas Negras com Salpicos cor-de-rosa”- e nessa qualidade já saiu no Blogue (post 1809). Para aqueles que não gostam de ver coisas repetidas, as minhas desculpas)

"Eram 4 horas e meia da madrugada quando paramos. Fazia noite, noite escura. Já tínhamos andado um bom par de quilómetros.

Olhares que se interrogam e… era a espera.

Era aquele terrível espaço de tempo que se repetia sempre em todas as operações de “Golpes de mão”. Era aquela inquietante altura do tempo que nos punha na maior tensão e ansiedade. Era o aguardar da hora H, a hora do assalto ao refúgio inimigo e era ao mesmo tempo o retempero das energias gastas ao longo da caminhada.

Algumas dezenas de metros mais adiante estava o inimigo, oculto, algures acoitado naquela densa e emaranhada mata. A obscuridade dava às árvores e à sua folhagem feições de figuras fantasmagóricas e assustadoras. Estávamos todos reunidos, uns sentados, outros deitados, outros ainda nas posições que mais lhes apeteciam. Havia o maior silêncio, apenas cortado por um ou outro pigarrear inevitável ou pelo estalar de folhas secas provocadas pela mudança de posição deste ou daquele.

De olhos extasiados, circunspectos e de músculos contraídos, entreolhávamo-nos e parecia interrogarmo-nos: Como vai ser?..., Haverá surpresa?..., Conseguiremos o objetivo?, ou estarão eles já alertados e à nossa espera com uma emboscada montada?

Eram estas as pertinentes interrogações que nos martelavam o cérebro numa expectativa profundamente emocional. Que pesadelo!!... Não, naquela altura não éramos seres humanos, sentíamos e pensávamos como irracionais, quais animais selvagens prontos a atacar a presa.

Estávamos ali para matar, sim, matar, matar o semelhante, só que este tratava-se do inimigo, que, também… nos queria matar.

…E chegou a hora!!

O dia começou a nascer. Era na semi-obscuridade a altura ideal para atacar. Em pé e como autómatos tomamos as posições iniciais de fila indiana e a coluna retomou a marcha. Os cuidados agora redobravam-se. Era a etapa final, a curta etapa que precedia o ataque. As armas foram tomando nas mãos a posição adequada e os cuidados de progressão cingiram-se ao máximo.

De repente, inesperadamente, soa um tiro!... e foi o começo! Foi como que uma gigantesca trovoada então entoasse no silêncio da madrugada. As rajadas ouviam-se incessantemente; o matraquear da metralhadora pesada inimiga fazia-se destacar com as suas fortes detonações; os rebentamentos de granadas de “bazooka” e lança-“rockets” faziam-se aqui e acolá; o fogo era pleno… de parte a parte. A nossa reação, como que impelida por uma mola, foi imediata. Vi os soldados de dentes cerrados e feições crispadas apertarem com raiva os gatilhos, e trocarem os carregadores em movimentos nervosos mas calculados.

Foram 25 minutos de fogo cerrado e ininterrupto, e… embora lentamente, o inimigo foi cedendo… cedendo….

A peito descoberto e ainda debaixo de fogo, avançamos em “leque” em passos firmes e decididos na direção do refúgio inimigo que, entretanto, se põe em debandada, mas sem, no entanto deixar de atirar na nossa direção, com rajadas cada vez mais esporádicas e cada vez também mais distantes.

E o refúgio de Iracunda deu então lugar a gigantescas chamas que reduziram a cinzas aquela importante e estratégica base inimiga algures no Oio, zona de grande poderio e concentração inimiga.

O inimigo reagiu, e, de que maneira! Reagiu forte e decididamente!

Aliás foi o primeiro a atacar, pois tinha-se gorado o fator surpresa que contávamos, o que aliás acontecia em grande parte das vezes, e então emboscou-se aguardando a nossa aproximação.

O tal tiro era o sinal para abrir fogo.

Deram bem a noção da sua força, quer humana quer bélica. Tinham-nos também escapado, mas o seu tributo não tinha deixado de ali ser pago e de forma implacável: no chão, jaziam os corpos de três inimigos; três corpos despedaçados, por, presumivelmente, granadas das nossas “bazookas” ou dos nossos morteiros".

Foi uma terrível emboscada junto àquela base, e a atestar essa força, viu-se no que alguém da 566 nos disse já no regresso: “Eu já sabia que isto era assim, mas não convinha vos dizer”. Compreensivelmente aquiesci.

Depois do inimigo desbaratado e destruído completamente o seu refúgio, começamos a reagrupar as respetivas Secções. O intenso e demorado tiroteio tinha-nos tirado parte da lucidez e por momentos a malta viu-se desorganizada. O Capitão Riquito e o Alferes Castro tiveram mesmo que gritar para que a malta começasse a andar e ao mesmo tempo a reorganizar-se. As casas-de-mato mais importantes na Guiné (julgo) tinham também uma escola. A de Iracunda tinha a sua. Deu bem para ver. Os djubinhos das tabancas adjacentes não andavam ao Deus dará, não. Escola limpa, bem arrumada e asseada que indiciava muita disciplina e ordenação e que me ficou na retina.

Uma escola do PAIGC algures nas matas da Guiné. A que presenciei em Iracunda não fazia muita diferença no ordenamento, mas era mais simples e artesanal. Ao legítimo proprietário da foto a minha vénia pela reprodução aqui feita por mim.

Folhas de papel impressas, soltas (algumas podem ser vistas em reprodução de seguida) que recolhi para recordação (!!) que serviam para ensinar as crianças a escrever e a ler. As folhas que ensinavam o A E I O U e nas “entrelinhas” o incentivo ao combate aos colonialistas e à independência do povo nativo. Muito pedagógicas em todo o sentido.


Entretanto aqueles minutos de hesitação e desorganização permitiram ao inimigo o seu reagrupamento e o ensejo de fazerem ainda algum fogo bem dirigido àquilo que fora o seu refúgio e onde nos encontrávamos agora nós. Imediatamente ripostamos, embora que com poucas armas, pois estávamos desorganizados e até de algum modo desprevenidos. Ficamos a saber que era assim, quando o inimigo era desalojado reagrupava-se adiante umas dezenas de metros e agora disparava sobre os novos locatários do refúgio. Isto deveu-se mais à falta de experiência do que a outra coisa, pois se para o meu Grupo de combate era ainda o segundo contacto com o inimigo, para o 2.º Grupo era mesmo o primeiro. O inimigo “calou-se” então, se bem que tornasse a fazer-se ouvir através de tiros isolados e de muito longe, mais a querer dizer “até logo”. Começamos então a andar rumo à origem: Olossato.

Dada a resistência inimiga e às possibilidades de reagrupamento do mesmo, e uma vez que o nosso abandono do refúgio foi demorado, contávamos com emboscadas por o caminho. No entanto, e ao contrário do que era de supor, o inimigo não se emboscou, razão a que não foi alheia, concerteza, a impressão que lhe causamos com o destemido assalto ao refúgio ainda debaixo de fogo. E por vezes também haviam erros de cálculo. Talvez isto. Terá acontecido isso.

No regresso fomos queimando, sistematicamente, as tabancas e moranças que nos iam aparecendo, aliás como era habitual em análogas circunstâncias. Ao chegarmos a elas e como também invariavelmente acontecia, encontrávamo-las com um aspeto de recentemente abandonadas, portanto numa ação denunciadora de que ali habitavam terroristas ou pró-terroristas.

Completamente extenuados física e psicologicamente, chegamos junto do cruzamento, local, que como tinha ficado combinado, nos encontrávamos com as viaturas. Pousei o capacete no chão e deixei-me cair, deitando-me um pouco. Naquelas alturas que se lixe a guerra. O desgaste físico e psicológico fazia-nos olhar para o céu de forma absorta e descontraidamente. A segurança, se bem que em caso algum era de descuidar, não seria muito pertinente, pois estávamos muito perto do Olossato. E às vezes que se lixe a segurança também; queríamos era o chão para as costas e a lembrança: “Oh(!) Rui olha a nossa cervejinha à espera”, como me dizia muitas vezes no mato o meu amigo, Furriel também, o açoriano Vieira, falecido recentemente - paz à sua alma.

Iracunda tinha então ficado bem conhecida da 816. Chegados ao Olossato logo tratamos de regressar a Bissorã. Uma vez chegados aqui fomos logo “assaltados” por os colegas que ali tinham ficado, que nos “metralharam” com perguntas e mais perguntas, satisfazendo assim a sua curiosidade e o conhecimento de causa. Afinal a 816 tinha andado aos tiros pela primeira vez.

Compreensivelmente, fomos respondendo com maior ou menor humor, se bem que o que mais me apetecia era sentir o mais depressa possível a água a jorrar pelo corpo abaixo e de seguida abocanhar o gargalo de uma garrafa de cerveja bem fresquinha. Estas duas coisas (banho logo seguido de uma cerveja fresca ou, ao contrário, a maior parte das vezes - haja paciência!- era o nosso prazer e a nossa alegria quando chegávamos do mato. A operação “Outra vez”, que curiosamente até era a primeira para a 816, a Iracunda, marcou-me indelevelmente para sempre e porquê: Saraivada de fogo durante longos e longos minutos a abrir a nossa operacionalidade. Só em ficção e em filme tinha visto daquilo. Armamento atualizado e estratégia poderosa do lado do inimigo.

E carago(!), aquilo não era para brincar, vi que andava por ali muito quem me queria tirar o sarampo e sem me conhecer de lado nenhum e sem eu ter feito mal a alguém.

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 7 de Setembro de 2012 > Guiné 63/74 – P10348: Páginas Negras com Salpicos Cor-de-Rosa (Rui Silva) (20): Um sapo com asas no Olossato

Guiné 63/74 - P10530: História da CCAÇ 2679 (54): Quatro tiros para o Pedro (José Manuel M. Dinis)

1. Mais uma história do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), desta vez contracenando com o seu amigo e camarada Pedro Nunes.


HISTÓRIA DA CCAÇ 2679 (54)

QUATRO TIROS PARA O PEDRO

O final da comissão aproximava-se. Naturalmente, a nossa motivação estava toda direccionada para o regresso. Alguns já tinham passado maus bocados, não só do ponto de vista da ruideira e ansiedades da guerra, estrito senso, como também da guerra psicológica que era discricionariamente servida a uns e outros. O Pedro pertencera a este último grupo, desde que a companhia entrou em quadricula, e ele não se mostrou disponível para o negócio da gasolina. Foi tão perseguido e penalizado, que ninguém percebeu o louvor final que a "trika" lhe atribuiu. Alguma espécie de arrependimento? Teriam tido conhecimento das boas relações familiares do Pedro? Ou pura hipocrisia para compensar o elevado número de porradas que comprometiam a carreira do capitão?

Naquelas circunstâncias o Pedro, por vezes, mostrava-se alterado, exprimia a sua legítima revolta. Comigo mantinha bom relacionamento, pleno de camaradagem e solidariedade. Lembro-me de quando recebia queijos da metrópole, feito menino queque cortava as partes bolorentas, que o Pedro imediatamente agarrava e levava à boca, dando vivas à penicilina.

Um dia fui acordado muito cedo com uns traques na cara, e quando me dei conta, enquanto ele fugia pela porta, atirei-lhe uma bota que não atinou com a trajectória, e embateu suavemente na cara de outro camarada que também dormia. O Pedro escapou em frente à minha janela e ria-se com estrondo. Ele fazia a festa e lançava os foguetes.

O Pedro dormia no abrigo dos auto-rodas, mesmo ao fundo, onde havia segurança máxima. Mas era dos primeiros a acordar, pois todos os dias havia movimentação de viaturas para diferentes deslocações. Ao contrário, eu dormia quando não estava comprometido com saídas matinais. Por isso, um dia ou dois a seguir, o Pedro voltou a entrar no meu quarto a horas incertas da madrugada, aproximou-se da cama, e voltou a peidar-se na minha cara. Acordei com a detonação, muito a tempo de o ver a sumir-se no outro quarto ao lado, até atingir o alpendre da casa, e correr à frente da janela, enquanto ria alarvemente. Contava aos que por ali cirandavam a acção valente que empreendera. E já era pela segunda vez.

O sono não me permitia pensar em vinganças, mas, no íntimo, eu achava que a aleivosia ia sair-lhe cara. Ora, como diz o ditado, tantas vezes a bilha vai à fonte, até que parte. A cena ainda se repetiu para gáudio do Pedro, um sacana gabarolas, que depois se ragalava a contar e a fazer filmes que desmoronavam a minha reputação. Uma noite alguém me alertou ao deitar, para dormir em corrida, a ver se não era acordado com ataques já esperados, mas sempre surpreendentes. Fez-se luz. Peguei na minha namorada, pu-la em posição de tiro-a-tiro, e encostei-a à beira da janela que dava para o alpendre por onde ele se safava em busca de protecção, e na direcção dos espectadores que já granjeara, onde era aclamado, e se fazia a festa. Grande coiro! Ia pagá-las.

Fatal como o destino. Agora não me ocorre se já esperava por ele, se ele ainda me acordou. Lembro-me de que cumpriu o talentoso plano de me aterrorizar com flagelações, e fugiu pelo caminho do costume que já conhecia tão bem, e lhe conferia o êxito de que carecia para elevar o moral. Levantei-me. Peguei nela. Apontei-a para o exterior. E quando ele passou em correria esfuziante, puxei o gatilho uma vez. PUM! Puxei o gatilho outra vez. PUM! E ainda puxei o gatilho mais duas vezes. PUM! PUM! Os tiros foram para a parada onde não havia ninguém, direi que para uma altura que não atingia os pedestres, se lá houvesse.

Mas não houve festa. Antes, sucedeu um silêncio que muito apreciei. Como aquelas pausas na música, que lhes dão profundidade ou continuidade. O Pedro sentiu a morte a rondar-lhe. Logo argumentou que eu estava maluco, que não queria mais conversas comigo, e que eu era um perigoso assassino em potência. E, na verdade, passou cerca de 15 dias até voltar a falar-me. Mas à defesa. Sem confianças. Até que as relações voltaram ao normal, e hoje mantemos estima recíproca.

Semana de campo no Caniçal - Madeira > Pedro, Dinis, Gonçalves, Marino e Calvo

Bajocunda > Recepção aos piras

Piche > Rebenta-minas usado 

Piche > Oficina da ferrugem

Bajocunda > Crianças celebram as primeiras chuvas

Piche > Abrigo concluído pela ferrugem da 2679
Fotos de Pedro Nunes
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 11 de Outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10517: História da CCAÇ 2679 (53): "Ataque" muito certeiro (Jose Manuel M. Dinis)