terça-feira, 21 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11607: Bom ou mau tempo na bolanha (10): A família junta-se (Tony Borié)

Décimo episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66.



Pedindo perdão ao Luís Graça, ao Carlos Vinhal, demais editores, aos amigos companheiros combatentes e não só, em continuar com este resumo da história do agora Tony, que tem somente mais um episódio, e mais não é do que uma continuação da sua passagem pela guerra da Guiné que todos vivemos, que até se poderá chamar, tal como disse há algum tempo o companheiro e sofredor combatente, Hélder Valério, houve um “antes”, “durante” e agora um “depois”, que até poderá ser “após a guerra”, mas sem parte deste resumo não fazia sentido, e nem se encaixavam algumas histórias que virão a seguir de algumas passagens com antigos companheiros de guerra, que encontrou na diáspora, e de outros episódios aqui nos USA, portanto compreendam, e às vezes também faz bem falar de outras coisas sem ser tiros, granadas, feridos, mortos e tudo o que aquela maldita guerra nos faz lembrar.

Portanto, não abusando da vossa paciência, cá vamos continuar.

No ano seguinte, próximo do outono, a Margarida e o filho vêm ter com ele, o Tony fica contente, o filho não o conhece nos primeiros dias, finalmente e depois de tanto tempo estão juntos, o Tony, a Margarida e o filho, nos Estados Unidos. “Tens cá uma sorte, és um felizardo”, lembrava as palavras do antigo comandante que sempre fora seu amigo. Começam juntos, uma nova vida, houve logo ofertas de emprego para a Margarida, que também vai trabalhar, pois há uma senhora que vive no mesmo prédio e toma conta do filho durante as horas de trabalho da Margarida. O Tony larga a limpeza da cozinha no restaurante e a lavagem de carros, concentra-se mais no novo emprego da multinacional onde extraía alumínio, cobre e outros metais do solo, em países da América do Sul e os processava nas suas instalações em Nova Jersey, que depois vendia para todo o mundo, mas quase toda a sua produção era para agências do governo americano.

A tal editora em Nova Iorque continua a oferecer-lhe o trabalho, ele depois de fazer um exame do que sabia, negoceia o preço e aceita o trabalho em regime de “part-time”. Como trabalha por turnos na multinacional, tem dias de folga durante a semana que trabalha na editora. Durante quatro anos tem dois trabalhos, trabalha a tempo inteiro e por turnos na multinacional e na editora em “part-time”, às vezes vai ajudar em festas no restaurante onde antes limpava a cozinha.

Continua a visitar aqueles que considerava amigos e dormiam na margem do rio Passaic, levando-lhes tudo o que podia arranjar, fazendo esforços para alguns começaram a trabalhar, sobretudo na limpeza e remoção de lixo de alguns restaurantes e não só, pois também colocou alguns em outros empregos.


Com o filho já grandote, decidem comprar uma casa, não na cidade, mas nos arredores, onde houvesse escolas com melhores garantias de ensino e mais sossegada, onde os vizinhos se pudessem conhecer uns aos outros, porque afinal foi para isso que emigraram, dar uma educação superior aos filhos. Havia uma pequena cidade, um pouco a norte, próximo do rio Hudson, quase fronteira com Nova Iorque, bastante pacata, um pouco sobre a montanha e com vista para Nova Iorque. Acharam que era o local ideal, a casa, cujo preço estava de acordo com a sua situação financeira, negociaram e compraram, com uma entrada razoável, o banco financiou o resto.

Entretanto a Margarida fica de novo grávida e nasce uma menina. A família, agora é composta por pai, mãe e dois filhos, portanto um casal de filhos. “És um felizardo, tens cá uma sorte”, lembrava de novo o seu amigo comandante. A Margarida tira licença de conduzir e compra um carro, leva o filhos à escola ou ao infantário, vai fazer as compras ao mercado ou qualquer outra tarefa, faz todo o serviço necessário para o bom andamento da casa, deixando mais algum tempo livre ao Tony, que agora sim, se vai matricular na escola local para assistir às classes à noite, tal como se de uma criança se tratasse, pois alguns companheiros de classe tinham idade de ser seus filhos.

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Nota do editor

Último poste da série de 14 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11568: Bom ou mau tempo na bolanha (9): No "mato" (Tony Borié)

Guiné 63/74 - P11606: Agenda cultural (274): Fafe e a guerra colonial: exposição "Guerra colonial, uma história por contar", que decorreu de 5 a 19 de abril de 2013 - Parte II (Jaime Bonifácio Marques da Silva)















1. A exposição itinerante “Guerra Colonial, uma história por contar” do Museu da  Guerra Colonial, de Vila Nova de Famalicão,  foi destinada ao público em geral e aos professores e alunos da região, em particular.

O Museu da Guerra Colonial, cujos antecedentes remontam ao ano letivo de 1989/90, e a um projeto pedagógico-didático levado a cabo por proprofessores e alunos do concelho de Vila Nova de Famalicão, está sediado em Ribeirão, Vila Nova de Famalicão.  Resulta de uma parceria entre a Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, a Associação dos  Deficientes das Forças Armadas (ADFA) e o Externato Infante D. Henrique, em Ruilhe, Braga. È seu diretor científico o prof José Manuel Lages, um estudioso apaixonado da guerra colonial, minhoto de Viana do Castelo, mas que todavia não foi combatente. (Presumo que seja hoje homem na casa dos 59/60 anos).

Neste poste mostramos, em imagens, as 12 secções (ou paineis temáticos), sob as quais estava organizada esta exposição, da responsabildiade científica do Museu da Guerra Colonial e em cujo sítio oficial se lê:

"O Museu está organizado segundo temas que assentam naquilo a que chamamos 'o itinerário do combatente na guerra colonial' e tem um perfil pedagógico de informação histórica e cultural para as gerações do pós guerra e para o público em geral com a intenção de preencher uma lacuna sobre este período recente da História de Portugal."
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Nota do editor:

(*) Últuimo poste da série > 21 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11605: Agenda cultural (273): Fafe e a guerra colonial: exposição "Guerra colonial, uma história por contar", que decorreu de 5 a 19 de abril de 2013 - Parte I (Jaime Bonifácio Marques da Silva)

Guiné 63/74 - P11605: Agenda cultural (273): Fafe e a guerra colonial: exposição "Guerra colonial, uma história por contar", que decorreu de 5 a 19 de abril de 2013 - Parte I (Jaime Bonifácio Marques da Silva)




Reprodução do folheto 

Transcrição da última parte do folheto


GUERRA COLONIAL, UMA HISTÒRIA POR CONTAR 

Treze anos de guerra… uma geração de jovens que 
viveram, sofreram e deram as suas vidas na convicção 
de defender a pátria perante um inimigo que pretendia 
retirar-nos as “províncias de além-mar”ccomo parte 
integrante do território português. 

Treze anos que são as sementes para que fosse 
possível “abril e a sua revolução" e seja uma página 
recente da nossa história contemporânea que urge 
presevrvar, manter e divulgar. 

O projeto “Guerra colonial, uma história por contar” é 
o resultado de uma parceria entre a Câmara Municipal 
de Vila Nova de Famalicão, a Associação dos 
Deficientes das Forças Armadas (ADFA) e o Externato 
Infante D. Henrique / Alfacoop de Ruilhe em Braga [que] 
decidiram abrir o “baú da guerra”. 

A ousadia de mexer nas memórias da guerra, umas 
vezes intencionalmente esquecidas, outras 
compulsivamente recalcadas, cedo começou a dar frutos. 
O espaço onde cresceu tornou-se pequeno e a “guerra 
colonial, uma história por contar” concretizou-se numa 
verdadeira “pedagogia da paz”. 

Para que o “baú da guerra” não se voltasse a fechar, 
encerrando com ele memórias, sentimentos e 
testemunhos de uma página recente da nossa história, 
os promotores deste projeto criaram este museu que 
permitirá dar a conhecer o itinerário do combatente 
português, preservar as memórias desta guerra e 
divulgar a todos, especialmete os jovens, o contexto 
da guerra colonial portuguesa de 1960 a 1974.

O diretor científico do Museu da Guerra Colonial 

Dr. José Manuel Lages


1. O meu amigo e conterrâneo Jaime Bonifácio Marques da Silva, natural do Seixal, licenciado em ciências do desporto, professor de educação física reformado, antigo vereador da cultura da Câmara Municipal de Fafe, ex-alf mil paraquedista, BCP 21 (Angola, 1970/72), grande dinamizador de iniciativas ligadas à preservação da memória dos antigos combatentes da guerra colonial (nomeadamente em Fafe e na Lourinhã), mandou-me o folheto informativo da exposição que se realizou em Fafe, no passado mês de abril de 2013, e que marcou o início de um conjunto de iniciativas que aquele município nortenho está a levar a cabo, no âmbito das comemorações dos 50 anos da guerra colonial (*).

A exposição itinerante “Guerra Colonial, uma história por contar”, da responsabilidade do Museu da  Guerra Colonial, de Vila Nova de Famalicão,  foi destinada ao público em geral e aos professores e alunos da região, em particular.

Num próximo poste mostraremos, em imagens, as 12 secções(ou paineis temáticos), sob as quais estava organizada esta exposição, de inegável valia didática e pedagógica. Outras iniciativas estão já na forja como me informou o meu amigo Jaime:

"Quanto a Fafe: O coronel [Matos Gomes] esteve cá e fizemos a primeira exposição.  Depois das eleições autárquicas voltamos ao tema com a realização de um curso de História Local dedicado à Guerra Colonial Vou enviar-te o desdobrável da exposição (...)". (**)

Em resposta transmite-lhe a minha opinião e convidei-o, mais uma vez, a integrar a nossa Tabanca Grande:

(...)"É um excelente exemplo do que se pode fazer, em muitas das nossas terras, para que a guerra colonial não seja rapidamente esquecida por nós e completamente ignorada pelas novas gerações, O poste vai em teu nome (e está na altura de aceitares o meu convite para integrares, de pleno direito, a nossa Tabanca Grande: já fizeste mais pela Guiné e pelo nosso dever de memória do que muitos dos que lá estiveram e que estão aqui inscritos...)".

Recorde-se a notável e original exposição que o Jaime organizou, em 2009,  na sua terra natal, Seixal, Lourinhã, evocativa da participação de todos os seixalenses (cerca de 4 dezenas) na guerra colonial, entre 1961 e 1974. (LG)

Guiné 63/74 - P11604: Guiné-Bissau, manga di sabe (2): Vídeo: Dança de bajudas nalus na tabanca de Catesse, no Cantanhez (José Teixeira)




Vídeo (2' 06''): © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados. Alojado em You Tube > José Teixeira...


1. O nosso querido amigo e camarada Zé Teixeira regressou recentemente da Guiné-Bissau onde fez alguns vídeos que disponibiliza para visualização dos visitantes do nosso blogue (*). 

Da visita à tabanca de Catesse, na região de Tombali, Cantanhez, trouxe esta dança de bajudas nalus. A nossa tabanqueira Anabela Pires vai adorar, ao rever estas acrobáticas bajudinhas, suas amigas. Recorde-se que ela esteve, em 2012, cerca de três no chão nalu, como voluntária do projeto de ecoturismo,  desenvolvido pela AD - Acção para o Desenvolvimento. Foi a priemria tabanca que conheceu, depois de Iemberém. A Anabela está neste momento a viver em Auroville, no sul da Índia. Não temos tido notícias dela, mais recentemente. (LG)

PS - Sobre os nalus, tandas, sossos, balantas e fulas do Cantanhez, ver texto histórico-antropológico do nosso amigo Pepito. (P3070, de 18 de julho de 2008).
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Guiné 63/74 - P11603: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (52): Respostas (nºs 113/114/115): José Augusto Ribeiro, ex-Fur Mil da CART 566; Manuel Dias Pinheiro Gomes, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista do STM e Ernestino Caniço, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Rec Daimler 2208

1. Respostas ao inquérito do nosso camarada José Augusto Ribeiro, ex-Fur Mil da CART 566, Cabo Verde (Ilha do Sal,  Outubro de 1963 a Julho de 1964) e Guiné (Olossato, Julho de 1964 a Outubro de 1965):


(1) Quando é que descobriste o blogue?

R - Descobri o Blogue no dia 26 de Dezembro de 2012.

(2) Como ou através de quem (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada)?

R - Através de pesquisas no Google, quando procurava temas relacionados com a guerra colonial na Guiné.

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia)? Se sim, desde quando?

R - Sou membro da nossa Tabanca Grande desde 5 de Janeiro de 2013 com o número 597.

(4) Com que regularidade visitas o blogue (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)?

R - Vejo o Blogue quase diariamente, à noite, quando estou à espera do sono.

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.)?

R - Já mandei material para o Blogue. Fotografias do Sal (Cabo Verde), Bissau, Bissorã e Olossato. Enviei também alguns textos e um filme sobre a CArt 566 realizado pelo Comandante da Companhia.

(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça]?

R - Conheço bem a nossa página do Facebook, Tabanca Grande, Luís Graça. Tenho como endereço: https://www.facebook.com/jose.mirandaribeiro.

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue?

R - Ultimamente tenho ido menos vezes consultar o Blogue, do que o Facebook por este, ser novidade para mim.

(8) O que gostas mais do Blogue? E do Facebook?

R - Gosto mais do Blogue, porque nos dá mais informações sobre a Guerra Colonial na Guiné, fala dos nossos camaradas conhecidos e desconhecidos, que agora, muitos já passaram a ser do meu conhecimento.

(9) O que gostas menos do Blogue? E do Facebook?

R - Nestes quatro meses, não encontrei nada, que mereça a classificação “de não gostar”. De um modo geral, tudo me tem agradado. Se encontrar alguma vez, algo que não concorde, saberei fazer a minha crítica construtiva.

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)

R - Tenho tido algumas dificuldades, em aceder ao Blogue, mas a pouco e pouco vou aprendendo a procurar os assuntos, que mais me têm cativado. O meu maior problema é escrever nos espaços apropriados. Vou tentar vencer esta dificuldade, porque eu sou “um jovem” interessado em aprender e as minhas netas dão-me lições de Informática, em troca das explicações de Matemática que habitualmente lhes dou.

Em relação à lentidão no acesso ao Blogue e ao Facebook, a que se refere o Inquérito, informo que,  para mim, não tem havido qualquer lentidão.

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti? E a nossa página no Facebook? 

R - Como encontrei o Blogue, há relativamente pouco tempo, o que ele representa para mim é o que ele representou no início. O Blogue e a nossa página no Facebook representa para mim o reviver de tempos passados, que nunca mais esquecerei. É a falar nos episódios difíceis, onde eu fui protagonista, e que me marcaram psicologicamente, que encontro a “cura” para o meu stress de guerra.

Creio que foi uma ótima ideia a sua criação e oxalá continue, cada vez com mais entusiasmo e que os camaradas mais novos, não o deixem morrer, pois que muitos temas, aqui abordados, poderão mais tarde contribuir para a história da Guerra Colonial, em especial no que se relaciona com os militares que nela participaram. 

Nas invasões francesas, por exemplo, só se fala em generais, Junot, Massena, Ney, Loison (o Maneta), Claussel, Solignae, etc. e do lado das tropas portuguesas fala-se excecionalmente no Furriel Vitorino de Barros Carvalhais, que comandou um grupo de 15 académicos (milicianos), que com a ajuda de muitos populares impediram as tropas francesas de entrarem na cidade de Coimbra. 

Quem defende a sua Pátria, a sua terra, a sua família tem mais força, mais coragem do que quem ataca. Da nossa Guerra Colonial poderá falar-se, um dia, nos valentes soldados de qualquer secção de 9 homens, muitas vezes com poucas munições, que tiveram de se defender de grupos inimigos, com mais de 200 elementos. 

Na minha opinião, nós na Guiné defendiamo-nos, a nós próprios e aos nossos companheiros. Um dia, num domingo de manhã, depois de ter chovido abundantemente toda a noite, recebi ordens para ir com a minha Secção realizar uma patrulha de reconhecimento nos arredores do Olossato. Na minha Secção tinha três elementos voluntários africanos, um mandiga, outro balanta e o terceiro era manjaco, cujos nomes já passaram ao esquecimento. O mandinga, era quase o meu braço direito, ia sempre perto de mim e fazia-me observar muitas anormalidades. Naquele dia, repentinamente mandou parar todos, e disse-me que queria ir sozinho à frente para observar. 
Falou numa linguagem clara que era quase a Língua Portuguesa, Eu concordei e ficámos todos parados em alerta. O mandinga volta para trás e disse: - Vêem aqui estes passos, de pés descalços a saírem do capim? Foi alguém (deles) que veio ver se a armadilha, que aqui terá colocado, já rebentou, porque depois voltou para trás. Disse isto, mostrando-nos as pegadas em sentido contrário. 

Com as facas do mato preparámos umas varas compridas cortadas de uma árvore que parecia um salgueiro. Com as varas esgravatámos aquele chão ainda encharcado da chuva da noite anterior. Finalmente encontrámos, a poucos metros, uma mina antipessoal que tinha o tamanho aproximado de uma caixa de fósforos. Qualquer um de nós poderia ter ficado sem uma perna, como já acontecera antes. Nenhum era especialista em minas e armadilhas, por isso, levámos aquela mina com todo o cuidado, na palma da mão até ao quartel. 

Cerca de 100 metros, antes de entrarmos pela porta do lado de Bissorã, vimos um papel pregado numa árvore, que dizia: “Salazaristas filhos da puta, ide-vos embora. Esta terra é nossa”. 
Estas palavras deram-me muito que pensar. Só vi este problema a ser resolvido, ao chegarmos ao 25 de Abril. 
  
(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais?

R - Nunca participei em qualquer encontro da Tabanca Grande.

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real?

R - Já estou inscrito para o próximo Encontro Nacional que se irá realizar em Monte Real, no dia 8 de Junho.

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar?

R - Sou otimista e por isso acho que este Blogue ainda terá fôlego, força anímica e garra para continuar por mais alguns anos, mas é preciso que todos vão contribuindo, e fazendo pequenas intervenções, que possam motivar alguns dos nossos camaradas, que já se “sentem velhos” para relembrar o passado.

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer.

R - Não tenho críticas a fazer, por enquanto, mas, como já disse anteriormente, se as fizer algum dia, serão críticas construtivas.

Como comentário quero confessar que me sinto triste de ser o único “tabanqueiro” da CArt 566. 
Já fiz, sem sucesso, vários apelos aos “Bravos e Sempre Leais”, meus camaradas de Companhia, muitos deles que comparecem todos os anos na Serra do Pilar, onde temos uma cerimónia religiosa e na Parada daquele Quartel uma cerimónia militar, onde o nosso Ex-Comandante, a quem se deve todo o êxito da Companhia, coloca uma coroa de flores, com guarda de honra e ao toque de clarins, junto ao painel de pedra que contém o nome de todos os camaradas, daquela unidade, mortos em combate. O dia termina com um longo almoço, no Restaurante Boucinha, em Avintes, que é do nosso camarada Madureira. Ali o General Albuquerque Nogueira, que continua a ser a alma da CArt 566, recorda-nos, nos seus discursos “o esforço daqueles jovens na flor da idade, que deixaram a família, as namoradas e os amigos, para cumprirem o dever…”

José Augusto Miranda Ribeiro

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2. Respostas ao questionário do nosso camarada Manuel Dias Pinheiro Gomes (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista do STM / Agrupamento de Transmissões da Guiné, Catió e Bissau, 1970/72): 

1 - Em 23-12-2011. 

2 - Através do camarada Hélder de Sousa.

3 - [Sou membro da Tabanca Grande,] desde Agosto 2012. 

4 - [Visito o blogue] todos os dias.

5 - Pouco mas já mandei.

6 - Sim, conheço.

7 - Mais ao blogue.

8 - O passado que eu não conhecia.

9 - Gosto de tudo. 

10 - Não nunca tive ] dificuldades de acesso ao blogue].

11 - Representa as memorias dos tempos que passei na Guiné.

12 - Ainda não.

13 - Sim,  estou com ideias de estar presente [no VIIi Encontro Nacional, em Monte Real, dia 8 de junho].

14 - Penso que sim, ainda tem muito caminho para andar.

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3. Respostas ao questionário do nosso camarada Ernestino Caniço (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Rec Daimler 2208, MansabáMansoa e Bissau, 1970/72):

(1) Quando é que descobriste o blogue? 

R - Em 2010.

(2) Como ou através de quem? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada) 

R - Através do nosso camarada Manuel Traquina, no exercício da minha atividade profissional.

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia)? Se sim, desde quando? 

R - Sim, desde 2011.05.21.

(4) Com que regularidade visitas o blogue? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...) 

R - 1 a 2 vezes por semana.

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.)? 

R - Tenho mandado, condicionado à disponibilidade temporal e às ocorrências. Penso continuar. 

 (6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça]? 

R - Não.

 (7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue? 

R - Ao Blogue. 

 (8) O que gostas mais do Blogue? E do Facebook? 

 R - As verdades.

 (9) O que gostas menos do Blogue? E do Facebook? 

R - As inverdades.

 (10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...) 

R - Não. 

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti? E a nossa página no Facebook? 

R - O despertar de emoções só compreendidas por quem as viveu. 

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais? 

R - Sim. 

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real? 

R - Sim.

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar? 

R - Com certeza que sim, até que haja um ex-combatente da Guiné “de pé”.
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Nota do editor:

Último poste da série de 20 de Maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11601: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (51): Respostas (nºs 111/112): Carlos Sousa (CCAÇ 1801, Ingoré, Bissum-Naga, S. Domingos, Cacheu e Antotinha, 1968/69); e António Barbosa (2.ª CART/BART 6523, Cabuca, 1973/74)

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11602: Convívios (525): Encontro do pessoal da CCAÇ 4740, dia 15 de Junho de 2013 em Fátima (Armando Faria)

1. A pedido do nosso camarada Armando Faria (ex-Fur Mil, CCAÇ 4740, Cufar, 1972/74), damos notícia do próximo Encontro Nacional do pessoal da CCAÇ 4740 a levar a efeito no dia 15 de Junho de 2013 em Fátima

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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11593: Convívios (524): Rescaldo do Encontro do pessoal do BCAÇ 2885, no passado dia 11 de Maio, em Ançã - Cantanhede (César Dias)

Guiné 63/74 - P11601: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (51): Respostas (nºs 111/112): Carlos Sousa (CCAÇ 1801, Ingoré, Bissum-Naga, S. Domingos, Cacheu e Antotinha, 1968/69); e António Barbosa (2.ª CART/BART 6523, Cabuca, 1973/74)


1. Resposta nº > Carlos Sousa [, ex-alf mil op esp/ Ranger,  CCAÇ 1801, Ingoré, Bissum-Naga, S. Domingos, Cacheu e Antotinha (destacamento de Ingoré) 1968/69]



Caro Luis,
Não tenho participado muito do nosso fórum, mas quero manter-me "vivo".
Não sei como é que queres que responda ao inquérito, mas posso desde já deixar aqui uma resposta em formato livre:


(1) Quando é que descobriste o blogue ?

Em 2009

(2) Como ou através de quem ? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada)
Através do camarada Eduardo Magalhães Ribeiro (Ranger)

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) ? Se sim, desde quando ?

Sim [, desde 17 de setembro de 2009].

(4) Com que regularidade visitas o blogue ? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)

De tempos a tempos.


(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.) ?

Só mandei no início.

(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça] ?

Sim.

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ?

Não tenho ido a nenhum deles.

(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ?

Do blogue gosto das recordações lá colocadas.


(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ?

Não tenho referências negativas.

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)

Não.

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ?

Tenho tido poucos acessos.

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais ?

Não.

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ?

Não.


(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ?

Acho que sim.

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer.

Nada.

Um abraço, Carlos Fernando da Conceição Sousa

 2. Resposta > António Barbosa [Santarém] [ex-alf mil op esp/Ranger, 2.ª CART/BART 6523,  Cabuca, 1973/74]



1) Descobri o blogue em Agosto de 2009.

2) Descobri-o através do também Ranger Magalhães Ribeiro

3/4) Visito o Blogue quase diariamente.

5) Já mandei várias publicações, bem como parte significativa do meu álbum fotográfico.

6) Conheço a página no Facebook

7) Visito mais vezes o blogue que a página

8/9) Gosto do rigor e qualidade das postagens no blogue.

10) Ultimamente não me posso queixar na rapidez de acesso ao blogue.

11) Para mim o blogue representa a mesa de café (gigante) em que livremente podemos expor as n/ opiniões reviver velhos amigos, partilhar informação que por certo irá servir para engrandecer a História de Portugal, enfim podemos recordar os bons e maus momentos por que todos nós passámos, momentos esses que nos ajudaram a crescer e a tornar-nos nos pais e avós que hoje somos.

12/14) Embora seja minha vontade ir ao VIII Encontro [, em Monte Real, no próximo dia 8 de junho], ainda não poderei garantir com exactidão a minha presença.

14) Bem hajam pelo bem que tem feito aos combatentes. Um Abraço.
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Guiné 63/74 - P11600: Notas de leitura (484): Os Portugueses nos Rios da Guiné (1500-1900), por António Carreira (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 5 de Fevereiro de 2013:

Queridos amigos,
Creio que a reedição desta obra era um facto cultural da maior importância para Portugal e Guiné-Bissau. António Carreira até hoje não foi contestado nas suas observações bem cruas sobre a presença portuguesa, a sua incapacidade para travar a presença francesa que culminou num acordo com a perda de um território que secularmente era ocupado pelos portugueses, mesmo que superficialmente – o Casamansa.
Ao exemplificar com a formação tardia do crioulo guineense como língua franca, Carreira destaca a precariedade da nossa ocupação, chefes tradicionais poderosos resistiram à potência colonial.
E como ele lembra, o PAIGC apostou fortemente no crioulo para procura unir os guineenses.

Um abraço do
Mário


Os portugueses nos rios da Guiné (1500-1900), por António Carreira (3)

Beja Santos

Se há título indispensável para conhecer, sob a forma de resumo, a presença portuguesa num território amplo, nos primeiros séculos, e progressivamente minguado até se ter chegado à Convenção Luso-Francesa de 1886 que no essencial consagrou as fronteiras atuais, é este livro de António Carreira. Carreira era já um investigador de créditos firmados quando se lançou nesta edição de autor, coisa estranha, parecia um testamento sobre a sua visão da Guiné, um olhar pessoalíssimo como atesta o que escreveu sobre a presença portuguesa no século XIX. Adiante se verificará como escreveu para a História.

Recorde-se que Carreira enfatiza as guerras e escaramuças entre grupos étnicos, no período entre 1840 a 1899, os portugueses a tudo assistiram impotentes, era impossível qualquer intervenção com tão magros efetivos nas praças, tal o armamento obsoleto e a falta de meios navais. Quem dessa impotência se aproveitou foram os franceses que visavam a consolidação do seu domínio nas chamadas rias do Sul e mesmo no Casamansa. Só depois de tudo perder é que Lisboa decidiu melhorar os efetivos para assegurar a integridade das praças de Geba e Buba, elas foram reforçadas com vista a garantir os direitos de ocupação de todo o território. Carreira reflete sobre este “pandemónio” de praticamente meio século observando que se deveu a múltiplos fatores que ele aliás regista cuidadosamente: a decisão dos Fulas-Pretos de se libertarem da escravização a que se encontravam submetidos pelos Fulas-Forros; a conquista do poder dominava os jovens, eles esforçaram-se pela expulsão dos velhos régulos, déspotas que governavam microsociedades sem nenhum desejo de mudança; e a imposição do islamismo aos povos animistas, em que o papel mais ativo foi desenvolvido pelos almanis do Futa-Djalon.

Dá-se, entretanto, nesse estado de deliquescência a separação do Governo da Guiné do de Cabo Verde, em 1879. Mas mesmo com a autonomização do Governo, não foi possível dominar a situação na periferia das praças, estas continuaram a ser atacadas com frequência. Como o autor regista, de 1864 a 1919, as diversas praças e presídios sofreram pelo menos 30 ataques das populações nativas. Parte das sublevações terminou com a assinatura de tratados em que os régulos e chefes tradicionais intervieram como se fossem entidades soberanas. Tem aqui todo o sentido respigar um texto do governador Correia Lança no seu relatório em 1888: “Nos tratados estabeleceram-se cláusulas que nunca se observaram e obrigações que não se cumpriram”. Aos poucos, cada praça foi equiparada a comando militar. Nos primeiros anos de 1900 tentou-se a instituição de um regime de administração civil denominado as Residências, substituindo os comandos militares. No ano que preludia as medidas efetivas de pacificação foram criadas as circunscrições civis.

Em 1913, o Governo, na convicção de que os Papéis não voltariam a atacar a praça de Bissau, deliberou a demolição das muralhas construídas à volta da fortaleza de S. José, a Amura. A partir de 1919, foram sendo criados centros fixos em locais de reconhecido interesse comercial e administrativo, era mais uma tentativa de ocupar território e de impor a lei portuguesa. E convém não esquecer que mesmo após a pacificação se viveu um período de grande intranquilidade nos anos de 1919 e 1920.

Carreira lembra as diferenças abissais nas culturas guineenses e cabo-verdiana. Na Guiné, as sete escolas primárias oficiais que funcionaram no ano letivo 1899-1900 com 303 alunos destinavam-se a filhos dos colonos, dos funcionários, filhos dos cristãos e grumetes já fora das suas comunidades de origem. Nesse mesmo ano letivo funcionavam nas ilhas de Cabo Verde 42 escolas primárias oficiais com 4275 alunos, além das escolas particulares. Isto serve para compreender como é que a massa esmagadora dos cabo-verdianos usavam na plenitude o crioulo como língua materna e na Guiné, no final do século XIX, o crioulo estava circunscrito aos escassos 7000 cristãos e grumetes residentes nas praças e presídios.

Então, Carreira desenvolve a sua tese observando que parece lícito afirmar que até à segunda metade do século XIX a evolução do processo histórico da Guiné mostra que o território viveu quase fechado a culturas estranhas, com a sua economia de subsistência, esta auxiliada pela comercialização, em modesta escala, de couros, cera, algum marfim, panos e bandas de algodão de confeção local, e pouco mais. Evidentemente, o tráfico de escravos foi, até à sua extinção, uma notável fonte de rendimento dos régulos e seus guerreiros.

A moeda praticamente não funcionava no comércio. Terá sido a introdução do cultivo do amendoim a primeira tentativa positiva de viragem económica. Mas as guerras tribais tudo dificultavam. O mil reis português, em prata, e a moeda divisionária em prata ou em cobre mal circulavam. As moedas verdadeiramente importantes eram a pataca espanhola, o peso mexicano, o peso boliviano, o franco francês (conhecido por peso) e a libra.

Urgindo concluir, estão apontadas as dificuldades que se depararam à fixação dos portugueses na costa africana, elas ajudam a entender como era difícil a formação de um crioulo que pudesse ultrapassar as exíguas áreas que os régulos arrendavam para a implantação das praças e presídios. Tudo contrariou à aceitação do crioulo, os chefes sentiram que esta língua franca faria perigar o seu poder e os modos de vida. E Carreira opina que não se criou nenhum crioulo na área conhecida por Guiné, o que se deu foi a difusão dos rios da Guiné do crioulo nado nas ilhas de Cabo Verde, difusão essa feita pelos lançados crioulófonos para ali enviados a partir dos primeiros anos para o resgate de escravos.

Outra razão que levou à dificuldade em formar-se o crioulo da Guiné foram os dois grandes grupos linguísticos, a língua sudanesa (mandingas e fulas) definido pelo uso de sufixos plurativos e o grupo étnico-linguístico classificado de Semi-Banta, de línguas aglutinantes (balanta, papel, manjaco, felupe, banhum…). São dois grupos que não possuem grandes afinidades com o crioulo. O crioulo guineense, com o andar dos tempos, tornou-se permeável à influência destes dois grupos. A partir de 1900, e depois com a Pax Lusitana, a situação alterou-se. Os próprios negociantes tiveram um papel fundamental na divulgação do crioulo, ele entrou em expansão nas décadas de 1920 e 1930. E Carreira observa que a luta pela independência foi outro dínamo para acelerar a aprendizagem do crioulo.

António Carreira junta um apenso documental do maior interesse para a compreensão da presença dos portugueses e das múltiplas dificuldades que se puseram à sua fixação, inclusive demonstra como o processo da missionação falhou rotundamente, impedindo a cristianização maciça dos guineenses.
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Notas do editor:

Vd. postes anteriores de:

13 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11562: Notas de leitura (480): Os Portugueses nos Rios da Guiné (1500-1900), por António Carreira (1) (Mário Beja Santos)
e
17 de Maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11581: Notas de leitura (481): Os Portugueses nos Rios da Guiné (1500-1900), por António Carreira (2) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 19 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11597: Notas de leitura (483): Soronda - Revista de Estudos Guineenses - Dezembro de 2000 (2) (Francisco Henriques da Silva)

Guiné 63/74 - P11599: Manuscrito(s) (Luís Graça) (3): O país que via passar os comboios



Lisboa > Museu da Electricidade > 2006

Foto: © Luís Graça (2006). Todos os direitos reservados.


O país que via passar os comboios

14:13h.
Coimbra B.
Estação da CP.
Deprimente.
Como todas as estações B do mundo.
Como todas as estações da CP.
B de 2ª classe.
B, segunda letra do alfabeto.
Como todas as estações da CP urbanas, suburbanas e rurais.
Deprimentes.
Todas as estações de caminho de ferro do mundo são deprimentes.
Abro talvez uma excepção para os apeadeiros.
São bonitos, os apeadeiros.
Ou eram bonitos os apeadeiros da CP,
Quando havia o cavador, o burro, o boi, a charrua,
O camponês, o zé povinho, camponês e burro,

Besta de carga.
A horta, a saída direta para os campos.
As hortas.

Os azulejos azuis  e amarelos Viúva Lamego 
Nas quatro estações do ano.
O termo apeadeiro eternece-me,

Faz-me lembrar os tempos
Em que se ia às hortas.
Eu já não sou desse tempo.
Mas os alfacinhas iam às hortas dos saloios.
Benfica, Porcalhota, Pontinha, 
Sintra, Caneças, Colares ...
Faziam piqueniques, cantavam o fado.
Gosto do termo apeadeiro.
E da ideia de ir passear às hortas.
Em família, aos domingos, de comboio.
Ronceiro, o comboio.
Ronceira, a vida da gente.
Li isso algures numa história qualquer sobre os comboios
Que unificaram o país de norte a sul.
Há uma dívida de gratidão que é devida aos comboios.
E aos homens dos comboios.
E aos engenheiros das estradas e pontes.

E aos operários que as construíram.
Ao zé povinho da cidade e dos campos.
Ao engenho e à obra.
Ao Fontes.

Ao Pereira.
Ao Melo.
Ao fontismo.

Ao positivismo.
Ao génio organizativo.
Mesmo que a minha professora 
De Sociologia Histórica das Classes Laboriosas,
Discípula do E.P. Thompson,
Só gostasse dos corticeiros
Que eram anarcossindicalistas.
Sempre suspeitei que ela não gostasse dos cavadores.
Nem de comboios.
Nem de hortas.
Nem do Fontes.
Nem dos ferroviários,
Nem dos camponeses e dos burros e dos bois.
Naquele tempo parava-se em todas estações e apeadeiros.
E havia tempo, não havia pressa.
Não havia stresse naquele tempo.

Colhiam-se papoilas vermelhas no meio do trigo.
Não havia tempo para se ter stresse.
Morria-se cedo. 
Ou nascia-se tarde.
Sem tempo de ver crescer filhos e netos.
O stresse é uma construção social do meu tempo.
E não havia bombas nos comboios.

Ao alcance de um qualquer toque de telemóvel,
Da Nokia, da Samsung ou da Siemens, tanto faz.
Que as novas tecnologias quando nascem 
(não) são para todos.
Ou talvez houvesse stresse
Mas chamavam-lhe outra coisa.
Afinal, essa coisa é tão velha como a vida.
E morria-se cedo naquele tempo.

A esperança média de vida é um artefacto estatístico.
E há sessenta e tal anos, na França ocupada,
Os ferroviários também punham bombas. 

Nas linhas de caminhos de ferro.
Matavam os seus postos de trabalho em nome da liberdade.
Punham bombas para fazer descarrilar os comboios.
Sabotagem.
Resistência ao ocupante nazi.
Hoje seriam caçados como terroristas internacionais.
Não sou ferroviário nem resistente nem terrorista.
Nem anarcossindicalista.
Estou numa estação deprimente.
Coimbra B.
Coimbra merecia, pelo menos, uma estação A.

Este país, bom aluno da Europa,
Devia merecer uma letra A.
Nem que fosse Coimbra A.
Ouço uma voz gritante.
Alfarelos.
Com paragem não sei onde.
Nunca soube, ao certo, onde fica Alfarelos.

É algures no país profundo.
Assim como Freixo de Espada à Cinta
Que ninguém conhece.
Não, vim de boleia.

Muito obrigado.
De Viseu.
Aguardo o Alfa Pendular para Lisboa.
Aliás, Lisboa SA.
Deve chegar às 15:16h.

── Lisboa, Santa Apolónia ?
── Não, Lisboa, Sociedade Anónima!
 Corrijo o portuga por detrás do guiché.
── Não, não quero Santa Apolónia.
Quero a Estação de Lisboa Oriente.
E depois... o que diria o Zé (Cardoso Pires)!

── Lisboa, SA!

Pergunta o portuga, 
Caixa de óculos, por detrás do bunker, 
Que fala em nome da CP.
── Conforto ou turística ?
Olha para mim, como se quisesse me tirar as medidas.
Ou adivinhar a minha secreta conta bancária.
──  2ª classe, se faz favor!
──  Turística...
... 2ª classe, por defeito.
Para quem não ostenta sinais exteriores de riqueza.
Classe B.
E eu a pensar ingenuamente que já não havia 2ª classe.
Comboios de 2ª classe. 

Gente de 2ª classe.
País de 2ª classe no desconcerto das nações.
(Ah!, meu velho José Rodrigues Miguéis,
E a tua gente de 3ª classe
Nos porões nauseabundos dos cargueiros
Que rumavam às Américas!).

Devo ter percebido mal.
Os comboios e a CP também se democratizaram.
Agora só há conforto e turística.
No alfa pendular de todas as emoções e condições.
O Portugal SA já não é mais classista.
Para ter classe basta ter dinheiro no multibanco,
Minha querida professora.

Mas, mais seguro, é na Suiça ou num off shore qualquer.
É o que se chama mobilidade social.
Fugir à condição de besta de carga.
── Vê-se mesmo que o senhor é um utente acidental da CP,
Já não há 2ª classe.

── Sou um mau utilizador do comboio, peço desculpa ──.
Comprei um bilhete de 2ª classe.
17 euros, IVA incluído à taxa de 5%.
── O senhor, desculpe, mas eu sou fã dos comboios.
Tenho uma dívida histórica para com os comboios,
Que unificaram o meu país.
Pode não ser seu, mas é meu.
Tenho orgulho nele.
E tinha que lhe dizer isto.
Vou para Lisboa, SA,

Capital do reino,
Desço na Gare do Oriente...





Lisboa > Museu da Água > Aqueduto das Águas Livres  > 18 de abril de 2013

Foto: © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados.

Tenho tempo.

Ou penso que tenho tempo.
Nada como esperar um comboio 

Numa estação de tipo B, Coimbra B
Para saber o que é isso de ter tempo.
É bom ter tempo.

Uma hora de avanço.
Nada de stresse.
Não penses na morte.
Que o stresse mata
Como uma bala de Kalash.
Peço uma sandes manhosa no bar da esquina.
Bebo uma topázio que é uma cerveja local.
Compro o Zé Cardoso Pires no quiosque.
A república dos corvos.
Um livro de contos.
Jornal Público.
Colecção Mil Folhas, ao preço de hipermercado.
Redescubro o meu velho Dinossauro Excelentíssimo.
Que li na revista Almanaque, se bem me lembro.
Deambulo no cais de embarque 

Como o prisioneiro no pátio da prisão.
E leio a única coisa interessante
Que está afixada na parede da estação de Coimbra B.
Alguém mandou afixar.
Creio que em bronze (sou mau em metais):

"Neste cais da estação de Coimbra, embarcou,
No dia 15 de Maio de 1982, Sua Santidade,
O Papa João Paulo II"
.
O artista não quis desqualificar a estação nem a cidade.
Coimbra B ?, 

O que diria a corte papal!
Os grandes deste mundo!
E os turistas que visitam a cidade dos doutores!
E os vindouros!
Mas lá fica a tabuleta.
Para a história.
Para o viajante distraído, apressado ou deprimido como eu.

Ou se calhar para ninguém.
Só para a História.
Afinal, quem lê neste país placas de bronze 
Afixadas em estações B da CP ?
Aliás, quem lê neste país, perguntaria a minha professora ?

Histórias aos quadradinhos 
Mas não a História com H grande.
Um dia um arqueólogo, um historiador ou um antiquário
Desaparafusa a placa e leva-a para casa,
Para o museu ou para a loja de antiguidades.
Não, nada acontece em Coimbra B.
Mas por aqui passou um peregrino.
João Paulo II.

Um dia,  em 1982.
Por aqui passou Jesus Cristo,
Na pessoa do seu representante na terra.
Sou mau em metais e em teologia.
Mas esta é a minha leitura.
Peço desculpa aos poetas mais doutos  do que eu.
Peço desculpa aos lentes de Coimbra.

Chega o Alfa.
Just in time,
Como na linha de montagem automóvel pós-taylorista da AutoEuropa.
Entro no Alfa e sinto-me quase europeu
Na ponta mais ocidental da Europa acidental.
Com o lusitano Mondego aqui ao lado.
Admiro a eficiência
Das sociedades pós-tayloristas e cosmopolitas.
A nossa nunca chegou a conhecer o Sr. Taylor,

Nem os seus principles of scientific management.
Nem a ética protestante nem o Max Weber.
Provinciana e ronceira, a tua terra,

Lá diriam o Eça e a minha professora, 
Que é queirosiana e estrangeirada.
Acelera o Alfa.
Tenho um secreta vertigem suicidária pela alta velocidade.
Dou por bem empregues os meus 17 euros,

IVA incluído à taxa de 5%.
Isto faz bem à minha autoestima.
Sobretudo depois da sandocha manhosa e da topázio morna
Que engoli, de pé, ao balcão, do bar manhoso
Da estação deprimente de Coimbra B.

── Quanto vai dar ?
──  Chega aos 200 ou mais!, ──
Diz-me um puto de brinco na orelha...
Não apostei.
Nem gosto de apostas.
Deixei de ser solidário, que me desculpe a Santa Casa

Da Misericórdia.
── Umas cartas para passar o tempo ?
── Não, obrigado, não jogo, não aposto, não fumo. 
Tenho livros para ler. 
Abranda o Alfa lá para os lados da Albergaria dos Doze.
Regresso à idade média da minha memória coletiva.
O caminho de Santiago.
As albergarias.
Já em terra dos mouros.
La folie meutrière de la réligion.
A tua, a minha.
Deus é grande e tem muitos profetas.
São bons hortelãos, os mouros e os moçárabes.

── Chega à tabela.
Dezassete e seis na Estação do Oriente,
Diz-me o pica, orgulhoso.

── Até que enfim que os comboios partem e chegam à tabela,
Na nossa terra.
Fico sempre com inveja
Quando vou a Amesterdão e a Leiden.
Quando ia à Holanda, que agora já não vou.
Quero dizer, ao estrangeiro de fora.

── Já não te calha na rifa, ó Ramalho!,
Agora são vinte e cinco cães a um osso, ó Ortigão!

── Vai desejar tomar alguma coisa ?,
Pergunta no futuro próximo o homem-do-chá-café-laranjada...

── Um Prozac, por favor.
── Lamento, mas já não temos. Esgotou-se.
── Sim ?
── Esgotou-se na última viagem que fizemos ao inferno.
11 de Março último.
Estação de Atocha.
Madrid.

── Atocha ?
── Sim, Atocha...Não lê os jornais ? 
── Não, acabo de chegar doutro planeta.
── En Madrid existen dos estaciones principales de tren:
Chamartín y Atocha.
Ambas son estaciones de trenes de largo recorrido y de cercanías
...

── Muchas gracias!, não sabia.
Não vou a Madrid há anos.

Estou de costas para a Europa.
── Atocha está situada en la zona sur de la ciudad,
Muy cercana al centro.
Desde ella salen todos los trenes de largo recorrido
Que van a levante y al sur de España.
También algunos trenes de los que pasan por la estación
Se dirigen luego a Chamartín
Y luego a destinos en la mitad norte de la península.
Dentro de la estación hay otra estación llamada Puerta de Atocha
Desde donde sale el tren de alta velocidad (AVE)
Que va a Andalucía
...

── Muchas gracias! Vejo que é um homem viajado.
── Só faço a península ibérica.
── Ah!, a jangada de pedra...
── Perdão ?!... Sabe, nasci no Entroncamento,
Filho e neto de ferroviários.
Os comboios estão-me na massa do sangue...
Mas a Espanha para mim é pura emoção.
Uma tragédia horrível, aquela...

── E não tem medo do futuro dos comboios ?
── Não... Com os aviões passou-se o mesmo.
Enfim, um homem tem que ganhar a vida.
De qualquer jeito.

── Deixe, a vida continua... As guerras passam.
Olhe, já agora dê-me um compal de maçã.
Fico sempre deprimido quando tomo o comboio.
Ou quando parto. 

Ou penso em bombas nas casas de banho
Das carruagens dos comboios.
Ou quando bebo compal de maçã.
Não sei por que pedi o raio do compal.
Reflexo condicionado.

Empatia.
Compaixão.
Que é coisa rara, tomar o comboio.

E pensar em bombas.
Houve um tempo em que pensava em minas.
Anticarro. Antipessoais.
Minas. Bailarinas. O ballet da morte.
Nasci numa terra onde não passavam comboios.
É um estranho sentimento, esse,
Que me acompanha desde pequeno.
Mas o compal de maçã até é bom.
E dizem que vale mais do que uma chávena de café 
Para te tirar o sono.
Antes de partires às 3 da manhã,
Para a Ponta do Inglês.
── Ponta do Inglês ?!...
Já sei, saíste cedo da casa de teus pais, 
Ainda menino e moço!
── É a voz do sangue, 
O meu lado de marinheiro que nunca fui.
Em boa verdade, detesto os entroncamentos.
Rodo ou ferroviários.

As picadas. Os trilhos.
Detesto o Entroncamento.
Da primeira vez que lá passei.
Meia de dúzia de casas mal caiadas, 
Uma feixe de linhas e cheiro a óleo e a sucata.
Mas tenho a nostalgia dos cais de embarque.
A nostalgia do mar e da maresia.
Uma palavra que mexe comigo.
Cais.
Cais de embarque.
Cais de partida.
Niassa.
Rocha Conde de Óbidos.
Num comboio que veio da noite, silencioso e triste.
Do Campo Militar de Santa Margarida.
Destino: Lisboa.
Com carga para outro destino: Bissau.

Mercadoria=carne para canhão,
Alguém escreveu, a spray,  
Um grafito na última carruagem.
Na primavera de 1969.
Numa outra primavera que não chegou a haver.

── Política, meu estúpido!,
A primavera política do Marcelo Caetano.
Eras jovem
E não vias a luz ao fundo do túnel.
Nem muito menos as luzes da cidade-luz.
Paris.
Perdeste o último comboio para Paris.
Com o teu amigo que queria ser pintor.
Fernando Nobis.
Com paragem, talvez em Atocha,
Para visitar o Greco, o Velasquez, o Goya,
Os grandes de Espanha que estão no Prado...

── És doido, ou quê ?!
Com a pide à perna,
Mais os carabineiros da guardia civil!



Portugal > Alto Douro Vinhateiro, Património Mundial da Humanidade > Vila de Foz Coa > Pocinho > 3/9/2010 > Estação terminal da linha de caminho de ferro do Douro (Porto-Pocinho) > Pormenor dos azulejos da estação, da Fábrica Sant'Anna (fundada em 1741): a vindima...

Foto: © Luís Graça (201o). Todos os direitos reservados.


Fazia sol e frio em Viseu.
O país profundo.
O país que mexe, dizem-te.
Gosto sempre de ler os jornais da terra
Quando estou no hotel.
Duas estrelas, o hotel. Novo, a cheirar a tinta.
Bom serviço. Comida caseira. Faces rosadas.
Mas faz frio à noite.

── Voyeurismo!  ── pensa ela.
A rapariguinha do bar.
Oito páginas,
Entre notícias locais e os pequenos anúncios classificados.
Duas páginas de anúncios pessoais.
"A brasileira do bumbum"...
"A universitária que faz oral"...
"A mulatchinha dengosa"...

Linguagem de código.
A semiótica da solidão.
Do sexo triste e solitário.

── Mue bem, ligue para o meu telemóvel,
Que a crise bate a todas as portas,
Sem distinção de género, etnia, cor, condição ou religião.

── A crise também chegou ao teu país profundo, baby.
── Ah!, mas Viseu, como cresceu, meu Deus!
── Não sei se cresceu bem...
Não sou de cá.
O Politécnico. 
O túnel de Viriato.
Os colóquios. 
Os debates. 
As ideias.
Os intelectuais e artistas que vêm de fora.
O comércio.
O fórum, que há-de vir.
A Grande Área Metropolitana de Viseu.
Quase 400 mil.
O orgulho de se ser do Kavaquistão.

O que é feito do RI 14 ?
Não sei, a guerra acabou. 
Foi bom para cidade,
A tropa,
O regimento.
── Ruas, estás de granito!,
Diz o grafito.
(Ruas é o chefe da tribo, presumo).
Nada como um bom grafito na terra do Grão Vasco:

── Apreciem o lado empreendedor dos beirões. 
── Só falta a Universidade,
Que mais de 10 mil estudantes do politécnico  já cá temos.

── Tiraram-nos a Faculdade de Medicina,
Os gajos da Covilhã.
Outro lóbi beirão, o da Covilhã.
Registo o orgulho dos  miúdos e miúdas
Da Associação de Estudantes 
Da Escola Superior de Enfermagem de Viseu
Que realizam anualmente as suas jornadas.

O país mexe.
Viseu mexe.
O país profundo mexe.

O Kavaquistão.
Os jovens deste país mexem.
Mesmo com capa e batina,
Vestidos de preto como o corvo do Zé (Cardoso Pires).

16:30h. Passei o corpo pelas brasas.
Perdi um pedaço de mundo.

Revisitei outros infernos.
── O Alfa vai a 140, ó puto.
Temperatura: 19º interior. 20º exterior,
Leio no tabelau de bord.

── Mas agora abranda. 129, 101, 74, 52...
Está parado.

── Porquê ?
Uma placa com um S, outra com um M.
Não percebo nada da sinalética dos comboios.
Obras.
Modernização da linha.
Tenho um pensamento piedoso e nobre 

Para com os trabalhadores anónimos
Que constroem as novas linhas dos caminhos de ferro do futuro.
Ucranianos ? Africanos ? 
Guineenses ? Ex-camaradas teus ? 
Imigras ? Clandestinos ?
── Não lhes vejo nem a cara nem o passaporte.
── Podiam estar a trabalhar na estufas de Almeria, 
O inferno na terra.
Mas aí são magrebinos.

── O novo proletariado do Século XXI.
── Desço na Oriente.
Mandem alguém da empresa buscar-me.

── Dá o Benfica na esporte tê vê.
E de novo o Alfa em marcha...
A paisagem muda.
A paisagem industrial da bacia do Tejo.
A ocupação selvagem da lezíria.
Mataram os campinos e o gado bravo.

E os flamingos. E as ostras,
Les petites portugaises.
O branqueamento de dinheiro
Que vai por essa nova Lisboa do Póximo Oriente.
A luxuriante estação do Oriente.

A ostentação dos ricos.
Just in time.
17:06h.
Cheguei.
Balanço do cliente:

── Pensei que já fosse o TGV.
O TGV é que é.

── Não é o TGV,
Mas por mim não desgostei.
De viajar no Alfa Pendular.
Turística, claro.

Que é como quem diz, 2ª classe.
De Coimbra B a Lisboa SA.
17 euros, IVA incluído à taxa de 5%.
Mais 10% de desconto nos Hotéis Tal &Tal.
Tive tempo para (des)arrumar algumas ideias.

── O país que via passar os comboios...
E o puto tinha razão:

── Na ponta final, o Alfa Pendular dá mesmo
Os 210.
Um dia ainda vou ter orgulho na CP.
E na terra onde nasci
E onde nunca vi sequer passar os comboios.
Os comboios não passam na minha terra.
Nem chegam a Viseu.
Um abraço aos Viriatos.
Até para o ano.
Voltarei, se me convidarem,
De Expresso, por esses ipês acima.
Com regresso de comboio.

Se não sabotarem o comboio que pára em Coimbra B.
E prometo ao barman

Que não me esquecerei de Atocha.
Sobretudo não esquecerei Atocha.
Quando voltar a Coimbra B.

Outra vez.
Não esquecerei as bombas de Atocha.
Nem as minas e armadilhas da Ponta do Inglês.

25/3/2004. Revisto nesta data.


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Nota do editor:


Último poste da série > 14 de maio de 2013 >Guiné 63/74 - P11566: Manuscrito(s) (Luís Graça) (2): Humor com humor se (a)paga: RIP... Requiescat In Pace... Lápides funerárias da minha coleção!

Guiné 63/74 - P11598: Parabéns a você (578): Mário Pinto, ex-Fur Mil da CART 2519 (Guiné, 1969/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11592: Parabéns a você (577): Francisco (Xico) Allen, ex-1.º Cabo da CCAÇ 3566 (Guiné, 1972/74)