Décimo episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66.
Pedindo perdão ao Luís Graça, ao Carlos Vinhal, demais
editores, aos amigos companheiros combatentes e não só, em
continuar com este resumo da história do agora Tony, que tem
somente mais um episódio, e mais não é do que uma continuação da
sua passagem pela guerra da Guiné que todos vivemos, que até se
poderá chamar, tal como disse há algum tempo o companheiro e
sofredor combatente, Hélder Valério, houve um “antes”, “durante”
e agora um “depois”, que até poderá ser “após a guerra”, mas sem
parte deste resumo não fazia sentido, e nem se encaixavam
algumas histórias que virão a seguir de algumas passagens com
antigos companheiros de guerra, que encontrou na diáspora, e de
outros episódios aqui nos USA, portanto compreendam, e às vezes
também faz bem falar de outras coisas sem ser tiros, granadas,
feridos, mortos e tudo o que aquela maldita guerra nos faz
lembrar.
Portanto, não abusando da vossa paciência, cá vamos
continuar.
No ano seguinte, próximo do outono, a Margarida e o filho
vêm ter com ele, o Tony fica contente, o filho não o conhece
nos primeiros dias, finalmente e depois de tanto tempo estão
juntos, o Tony, a Margarida e o filho, nos Estados Unidos. “Tens
cá uma sorte, és um
felizardo”, lembrava as
palavras do antigo comandante
que sempre fora seu amigo.
Começam juntos, uma nova vida,
houve logo ofertas de emprego
para a Margarida, que também
vai trabalhar, pois há uma
senhora que vive no mesmo
prédio e toma conta do filho
durante as horas de trabalho
da Margarida. O Tony larga a
limpeza da cozinha no
restaurante e a lavagem de
carros, concentra-se mais no
novo emprego da multinacional onde extraía alumínio, cobre e
outros metais do solo, em países da América do Sul e os
processava nas suas instalações em Nova Jersey, que depois
vendia para todo o mundo, mas quase toda a sua produção era para
agências do governo americano.
A tal editora em Nova Iorque continua a oferecer-lhe o
trabalho, ele depois de fazer um exame do que sabia, negoceia o
preço e aceita o trabalho em regime de “part-time”. Como
trabalha por turnos na multinacional, tem dias de folga durante
a semana que trabalha na editora. Durante quatro anos tem dois
trabalhos, trabalha a tempo inteiro e por turnos na multinacional
e na editora em “part-time”, às vezes vai ajudar em festas no
restaurante onde antes limpava a cozinha.
Continua a visitar aqueles que considerava amigos e dormiam
na margem do rio Passaic, levando-lhes tudo o que podia
arranjar, fazendo esforços para alguns começaram a trabalhar,
sobretudo na limpeza e remoção de lixo de alguns restaurantes e
não só, pois também colocou alguns em outros empregos.
Com o filho já grandote, decidem comprar uma casa, não na
cidade, mas nos arredores, onde houvesse escolas com melhores
garantias de ensino e mais sossegada, onde os vizinhos se
pudessem conhecer uns aos outros, porque afinal foi para isso
que emigraram, dar uma educação superior aos filhos. Havia uma
pequena cidade, um pouco a norte, próximo do rio Hudson, quase
fronteira com Nova Iorque, bastante pacata, um pouco sobre a
montanha e com vista para Nova Iorque. Acharam que era o local
ideal, a casa, cujo preço estava de acordo com a sua situação
financeira, negociaram e compraram, com uma entrada razoável, o
banco financiou o resto.
Entretanto a Margarida fica de novo grávida e nasce uma
menina. A família, agora é composta por pai, mãe e dois filhos,
portanto um casal de filhos. “És um felizardo, tens cá uma
sorte”, lembrava de novo o seu amigo comandante. A Margarida
tira licença de conduzir e compra um carro, leva o filhos à
escola ou ao infantário, vai fazer as compras ao mercado ou
qualquer outra tarefa, faz todo o serviço necessário para o bom
andamento da casa, deixando mais algum tempo livre ao Tony, que
agora sim, se vai matricular na escola local para assistir às
classes à noite, tal como se de uma criança se tratasse, pois
alguns companheiros de classe tinham idade de ser seus filhos.
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Nota do editor
Último poste da série de 14 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11568: Bom ou mau tempo na bolanha (9): No "mato" (Tony Borié)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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