Guiné > Zona leste > Comando de Agrupamento 2957 (Bafatá, 1968/70) > Guião. O Cmd Agr 2957 esteve em Bafatá, no período de Novembro de 1968 a Setembro de 1970. Os seus elementos metropolitanos sairam do ex-RAL 1 e embarcaram no T/T Uíge, em 9 de Novembro de 1968. O comandante do Cmd Agrup 2957 era o então Cor Hélio Felgas [, 1920-2008], mais tarde substituído pelo Cor Neves Cardoso. Na Tabanca Grande, temos pelo menios dois camaradas que pertenceram ao Cmd Agr 2957: António Azevedo Rodrigues e o Fernando Gouveia.
Foto: © António Azevedo Rodrtigues (2011). Todos os direitos reservados
1. Comentário do Fernando Gouveia ao poste P11575:
Caro Luís Graça, caros camaradas:
Sobre a nossa Guiné gosto muito de contar estórias mas não histórias. Sobre a Op Lança Afiada, no entanto, como a vivi intensamente, na retaguarda, vou contar algumas coisas.
As minhas funções no Comando de Agrupamento de Bafata [, Cmd Agr 2957] eram de oficial de informações, mas como o major que tinha as funções de oficial de operações esteve de baixa muitos meses, acabei por acumular as duas valências.
Foi assim que “ajudei” o cor {Hélio] Felgas [, foto à direita,] a planear a operação. A minha ajuda resumiu-se a estar sempre com ele, normalmente sentados em frente ao grande mapa escala 1/50000, ele a congeminar as posições a assumir pelas NT e suas movimentações e eu praticamente a chegar-lhe os lápis dermatográficos com que ele ia marcando na mica, que cobria os mapas, setas e ovais, que depois eram copiadas e posteriormente enviadas para as tropas intervenientes.
O cor Felgas era 100% militarista mas demasiado individualista. Com ou sem razão só acreditava nele próprio. Talvez tenha sido por isso que o major de operações [, do Cmd Agr 2957,] tenha apanhado uma depressão, pois o coronel nunca o incumbiu de qualquer assunto ligado a operações. O senhor major andou por lá muitos meses só a organizar os arquivos.
Sentado à sua beira, aquando da programação da operação, seria impensável sugerir ao cor Felgas que, sem uma operação em simultâneo na margem sul do Corubal, a Lança Afiada não teria sucesso. Lembro-me, a propósito, que um camarada que esteve na operação me contou que, durante a operação, se ouvia toda a noite o barulho de motores de barcos a cambar o Corubal.
De qualquer maneira o cor Felgas demonstrou sempre muita preocupação com o bem estar dos soldados durante a operação. Recordo de o ter ajudado (sem aspas) a conceber uma rede mosquiteira individual para ser distribuída a cada soldado.
Recordo ainda que andou dias a magicar um substituto para as tradicionais rações de combate e aí também ele me veio perguntar se achava que a inclusão de fruta em calda estaria correcta em vez de outros produtos que faziam parte das rações mas muito mais açucarados.
Para terminar, penso que foi nesta altura que o cor Felgas ficou com uma Kalash novinha, a estrear. Nas paredes da minha casa tenho várias peças desse espólio, mas de menor importância.
foto à esquerda, na LDG que o levou de regresso a Bissau,
no final da comissão]
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Nota do editor:
Último poste da série > 13 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11565: (Ex)citações (220): Cherno Baldé, deixo aqui a minha homenagem à mulher do teu país...(João Martins)
Nota do editor:
Último poste da série > 13 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11565: (Ex)citações (220): Cherno Baldé, deixo aqui a minha homenagem à mulher do teu país...(João Martins)
1 comentário:
São depoimentos, como este do Fernando Gouveia, de camaradas (milicianos) que lidaram com os nossos chefes militares, que ajudam a escrever a história com as cores da palete do arco-íris... O preto e branco é empobrecedor. Ninguém é feito de uma "só peça", seja um comanadante nosso, sejam um homem do PAIGC...
Era major general reformado quando faleceu em 2008… Tinha nascido no ano do meu pai, 1920... Estive com a família no velório. Nunca o conheci pessoalmente, mas falei com ele ao telefone, por causa da Op Mabecos Bravios… Ou melhor, falei com a esposa, mas consegui ouvir, bem nítido, a sua voz indignada, por causa da versão sobre o desastre de Cheche que passou numa das estações de televisão (a SIC, se não erro)… Esta tragédia mexeu com ele… E este pequeno pormenor, de eu ouvir a sua voz, quando já acamado e em fase pré-terminal, ajuda a humanizar a sua figura...
Foi um dos últimos “guerreiros do império”… Hélio Felgas, condecorado com a Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito (1970), passou compulsivamente à reserva, a seguir ao 25 de Abril de 1974. Considerava-se vítima de saneamento político-militar.
Era também um homem da palavra, como escritor e conferencista, foi Professor Catedrático da cadeira de Estudos Militares, na Academia Militar e, nessa qualidade, foi professor de muitos dos homens que estavam por detrás do Movimento das Forças Armadas (MFA), incluindo capitães de Abril como o Otelo Saraiva de Carvalho.
"Sic transit gloria mundi"... Assim passa a glória do mundo.. Assim passaremos também nós, quando chegar a nossa vez...
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