1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72), com data de 1 de Maio de 2013:
Caros Luis/Carlos,
Desta vez no lugar de memórias vão perguntas (ainda) sem resposta.
Se acharem publicável, podem fazê-lo.
Estava tentando responder a uma pergunta do Camarada Manuel Vaz, sobre um ataque a acampamento em Janeiro 71.
Numa leitura apressada pensei tratar-se de ataque ao quartel, ato contínuo,"vi" a Panhard chegar do fim da pista com o atirador já sem vida (P11033)*. Será assim que funcionam as "madalenas proustianas"?
Fui rever um ensaio sobre as tais madalenas, a cena do bolinho amanteigado que faz o narrador recuperar a memória do passado, a modos de um transe. Memória involuntária ligada aos sentidos, em contraste com a memória racional, voluntária e fragmentada, as duas incompletas, cada a uma à sua maneira, e complementares(?).
Será que a memória racional é a reconstrução de fragmentos do passado à luz de valores presentes?
E a visita dos meus fantasmas que vem lá das margens do Rio Sapo? Ou será que eles estão alojados em alguma "couraça reichiana"?
Qual será a amarga madalena que os chama?
E porque será que a minha memória se "negou" a gravar a palavra INGORÉ (P11302)**, apesar de tudo ter transcorrido em paz por lá?
E estas e outras tantas inúmeras perguntas precisam de resposta, ou será melhor não se levar muito a sério?
forte abraço
Vasco Pires
____________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 31 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11033: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (4): Quem vem lá?
Foi num dia, o que na altura se entendeu como tentativa de invasão do quartel. Lembro que alguém informou que o IN estava no fim (começo) da pista, o Capitão duvidou, contudo, por segurança, mandou uma Panhard fazer um reconhecimento. É um facto conhecido, que o apontador foi morto e o condutor voltou "transtornado"; em seguida, desencadeou-se um dos piores ataques a Gadamael no período (aliás no P7142 e no P7186 tem foto da parede da messe com os estilhaços desse dia).
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gadamael Porto > 10 de Outbro de 2010 > Ex-edifício do comando, com vestígios de estilhaços
Foto e legenda: © Pepito / AD -Acção para o Desenvolvimento (2010). Todos os direitos reservados
(**) Vd. poste de 23 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11302: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (9): INGORÉ... ou os inusitados caminhos da memória
E realmente o Mundo é Pequeno ...e a nossa Tabanca é Grande..
O Major Sampaio, presente no almoço, se identificou e a quase todos os Oficiais da foto.
Na foto, a partir da esquerda: Capitão Saraiva, Comandante da CCAV 3364 (a Companhia do Carlos Nóvoa) e presente no almoço; Major Sampaio, Oficial de Operações; Major (Tenente-Coronel?) Mateus; com barba, Alf Mil Ribeiro da CCAV 3364; de frente, Alf Mil de Transmissões Almeida; com o copo na mão, Alf Mil Agostinho Miranda; o Oficial de óculos não foi identificado; Alf Mil Vasco Pires; o último à direita é o Tenente Nobre da CCS; de costas, Alf Mil Teixeira (?) da CCAV 3364.
Sim, os últimos meses da minha comissão foram em INGORÉ, todavia, essa palavra continua "adormecida' no meu inconsciente... Vai saber...!!!
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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2 comentários:
Tá visto que os artilheiros eram os intelectuais da tropa.
Falam de Proust como se estivessem a calcular o ângulo de sítio para a crista.
Oh..infantes..isto é só coisa de artilheiros..tá bem.
Tínhamos que saber matemática,trigonometria e coisas assim..
Tentando responder à tua questão,meu caro Vasco, o inconsciente tem razões que o consciente desconhece..
Julgo que é simples a resposta,enquanto que em Gadamael foste causticado com a porra da guerra, em Ingoré,pelo contrário,deves ter feito licença sabática..daí o não teres memória.
Um alfa bravo
C.Martins
Caro C. Martins,
Cordiais saudações.
Muito obrigado por tua avalizada opinião sobre a memória.
Quanto à (não)memória de Ingoré, adianto também a opinião da minha companheira do pós-guerra, que é psicóloga clínica, quando arrisca que foi eliminada em razão da minha "raiva", julgando que já devia estar em casa, como o resto da tropa.
Disse para o nosso nobilíssimo editor Carlos Vinhal,que estava fazendo este comentário sobre memória voluntária e involuntária, mesmo sem ter certeza se seria oportuno, "nesta altura do campeonato.
abraço
Vasco Pires
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