sábado, 25 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11627: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (10): Perguntas sem resposta

1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72), com data de 1 de Maio de 2013:

Caros Luis/Carlos,
Desta vez no lugar de memórias vão perguntas (ainda) sem resposta.

Se acharem publicável, podem fazê-lo.

Estava tentando responder a uma pergunta do Camarada Manuel Vaz, sobre um ataque a acampamento em Janeiro 71.

Numa leitura apressada pensei tratar-se de ataque ao quartel, ato contínuo,"vi" a Panhard chegar do fim da pista com o atirador já sem vida (P11033)*. Será assim que funcionam as "madalenas proustianas"?

Fui rever um ensaio sobre as tais madalenas, a cena do bolinho amanteigado que faz o narrador recuperar a memória do passado, a modos de um transe. Memória involuntária ligada aos sentidos, em contraste com a memória racional, voluntária e fragmentada, as duas incompletas, cada a uma à sua maneira, e complementares(?).

Será que a memória racional é a reconstrução de fragmentos do passado à luz de valores presentes?

E a visita dos meus fantasmas que vem lá das margens do Rio Sapo? Ou será que eles estão alojados em alguma "couraça reichiana"?

Qual será a amarga madalena que os chama?

E porque será que a minha memória se "negou" a gravar a palavra INGORÉ (P11302)**, apesar de tudo ter transcorrido em paz por lá?

E estas e outras tantas inúmeras perguntas precisam de resposta, ou será melhor não se levar muito a sério?

forte abraço
Vasco Pires
____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 31 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11033: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (4): Quem vem lá?

Foi num dia, o que na altura se entendeu como tentativa de invasão do quartel. Lembro que alguém informou que o IN estava no fim (começo) da pista, o Capitão duvidou, contudo, por segurança, mandou uma Panhard fazer um reconhecimento. É um facto conhecido, que o apontador foi morto e o condutor voltou "transtornado"; em seguida, desencadeou-se um dos piores ataques a Gadamael no período (aliás no P7142 e no P7186 tem foto da parede da messe com os estilhaços desse dia). 

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gadamael Porto > 10 de Outbro de 2010 > Ex-edifício do comando, com vestígios de estilhaços
Foto e legenda: © Pepito / AD -Acção para o Desenvolvimento (2010). Todos os direitos reservados


(**) Vd. poste de 23 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11302: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (9): INGORÉ... ou os inusitados caminhos da memória

E realmente o Mundo é Pequeno ...e a nossa Tabanca é Grande..

O Major Sampaio, presente no almoço, se identificou e a quase todos os Oficiais da foto.

Na foto, a partir da esquerda: Capitão Saraiva, Comandante da CCAV 3364 (a Companhia do Carlos Nóvoa) e presente no almoço; Major Sampaio, Oficial de Operações; Major (Tenente-Coronel?) Mateus; com barba, Alf Mil Ribeiro da CCAV 3364; de frente, Alf Mil de Transmissões Almeida; com o copo na mão, Alf Mil Agostinho Miranda; o Oficial de óculos não foi identificado; Alf Mil Vasco Pires; o último à direita é o Tenente Nobre da CCS; de costas, Alf Mil Teixeira (?) da CCAV 3364.

Sim, os últimos meses da minha comissão foram em INGORÉ, todavia, essa palavra continua "adormecida' no meu inconsciente... Vai saber...!!!

2 comentários:

Anónimo disse...

Tá visto que os artilheiros eram os intelectuais da tropa.
Falam de Proust como se estivessem a calcular o ângulo de sítio para a crista.
Oh..infantes..isto é só coisa de artilheiros..tá bem.

Tínhamos que saber matemática,trigonometria e coisas assim..

Tentando responder à tua questão,meu caro Vasco, o inconsciente tem razões que o consciente desconhece..

Julgo que é simples a resposta,enquanto que em Gadamael foste causticado com a porra da guerra, em Ingoré,pelo contrário,deves ter feito licença sabática..daí o não teres memória.

Um alfa bravo

C.Martins

Anónimo disse...

Caro C. Martins,

Cordiais saudações.

Muito obrigado por tua avalizada opinião sobre a memória.
Quanto à (não)memória de Ingoré, adianto também a opinião da minha companheira do pós-guerra, que é psicóloga clínica, quando arrisca que foi eliminada em razão da minha "raiva", julgando que já devia estar em casa, como o resto da tropa.
Disse para o nosso nobilíssimo editor Carlos Vinhal,que estava fazendo este comentário sobre memória voluntária e involuntária, mesmo sem ter certeza se seria oportuno, "nesta altura do campeonato.
abraço
Vasco Pires