Bissau > Outubro de 1968 > O Máruio Gaspar junto ao forte da Amura.. Esta foto à anterior às obras de remodelação da fortaleza. Recorde-se que,alguns meses depois, no o início do ano de 1969, o novo Governador da Guiné, brig António Spínola, terá manifestado o seu interesse em “cuidar da Fortaleza de S. José da Amura”, motivo pelo qual o arquiteto Luís Benavente terá sido requisitado para elaborar os estudos e o plano de actuação necessário. Data deste período (e desta campanha de obras) a instalação na fortaleza do Comando Chefe [, QG/CCFAG - Quartel General do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné], da Companhia de Polícia Militar, de um destacamento adido à Polícia Militar e do Comando Chefe do Agrupamento de Bissau.
Foto: © Mário Gaspar (2015). Todos os direitos reservados
Data: 13 de janeiro de 2015 às 21:08
Assunto: Forte da Amura (*)
Caros Camaradas:
Existiu uma Guerra, uns a denominam Guerra do Ultramar, mas para mim foi uma Guerra Colonial. Iniciada em 1961, dizem que terminou em 1974, mas mentira, nem mesmo em 1975 porque ela continua bem infiltrada dentro de cada um de nós. Se a pretendermos narrar, hoje, amanhã é tarde, temos pouco tempo à nossa frente. Não querendo que seja narrada, sem mentiras e omissões, temos de dar as mãos, e todos os camaradas contribuírem. Se tal não se pretender porque é prejudicial para alguém, então partam para outra – mas não contem comigo:
a) Blogues em que se contem anedotas – e existem por aí tantos!... que tal umas almoçaradas e jantaradas em louvor aos que morreram?
b) É com muita tristeza que ao consultar o Arquivo Histórico-Militar, e já lá fui as vezes suficientes para o verificar, tantas contradições e as tais omissões – e quem omite mente – de pôr as mãos à cabeça;
c) Depois uns senhores Gungunhanas surgem de barriga cheia, no seu trono, como donos da palavra, e sem respeito algum pelos outros – a pessoa a quem me dirijo sabe bem do que falo – e é pena;
d) O nosso blogue é uma família, e o local de troca de mensagens, não é uma arena; estudei em Vila Franca de Xira e sei bem como marra o boi. Não gostando das esperas de toiros, deixei de as frequentar.
Em relação ao Forte da Amura o que posso dizer? Cumpri a Comissão isolado no mato e não em Bissau. O que assisti em Bissau – em Setembro/Outubro de 1967 – quando estava no período de gozar licença invadiu-me de tristeza. Tiroteio em Bissau? Então não eram as Tropas Especiais que andavam em Guerra em plena cidade aos tiros após um jogo de futebol ?! (**)
(i) estive no Forte da Amura e fiz Sargento de dia e Sargento de Guarda, até ao embarque, em outubro de 1968;
(ii) o quartel não era de todo mau;
(iii) os s meus pequenos-almoços eram no "Zé da Amura", com uns pombos verdes fritos e cervejas;
(iv) conheci lá o Marco Paulo que me ofereceu mancarra e cerveja que rejeitei;
(v) havia alguém que não queria que eu morresse à sede e me enviava cervejas fresquinhas, mas nunca tive conhecimento quem era;
(vi) tinha um preso a meu cargo e, se não tenho a sorte de perguntar a razão de não estar preso, talvez não tivesse vindo com a minha Companhia;
(vii) quem passou a comissão de serviço no Forte da Amura teve muita sorte, coitados daqueles que estiveram nos "cus do mundo", isolados no mato;
(viii) em Bissau havia muita mulher branca e até muita miúda cabo-verdiana linda.
Cumprimentos
Mário Vitorino Gaspar
________________
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 20 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14165: Memória dos lugares (282): Gadamael... O enigma da palavra ASCO que consta de um edifício em ruínas (que era messe de oficiais no tempo da CART 2410...) pode estar decifrado: seria o acrónimo da casa comercial Aly Souleiman & Companhia que existia em 1956 (Luís Graça / Mário Vasconcelos)
(**) Vd. poste de 2 de janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5580: FAP (44): A verdade sobre os incidentes, em Bissau, em 3 de Junho de 1967, entre páras e fuzos... (Nuno Vaz Mira, BCP 12)