sábado, 2 de abril de 2016

Guiné 63/74 - P15928: O meu álbum de fotografias (António Bastos, ex-1º Cabo do Pelotão de Caçadores 953, Cacheu, Bissau, Farim, Canjambari e Jumbembem, 1964/66) - Parte I


Foto nº 5



Foto nº 3



Foto nº 4

Fotos (e legendas): © António Bastos (2016). Todos os direitos reservados.


Foto nº 1
1. Mensagem do António Bastos [ex-1º Cabo do Pelotão de Caçadores 953, Cacheu, Bissau, Farim, Canjambari e Jumbembem, 1964/66]

Data: 10 de março de 2016

Assunto: O meu álbum de fotografias




Ao grande régulo da Tabanca Grande, Luís Graça, companheiro:  como já aprendi alguma coisa destas tecnologias novas (digitalizar, por exemplo), já não estou dependente das netas, vou enviar as fotos da minha vida militar, não são muitas,   principalmente as de cá, agora da Guiné já tenho mais.

Foto 1>  em 1963 quando fui ao distrito da reserva em Setúbal dar o nome.

Foto 2 >  no dia da inspecção no quartel de Infantaria 11 em Setúbal

Foto 3 > o meu pelotão que pertencia à 1ª Bateria (eu estava no Porto Brandão que pertencia ao RAAF - Regimento de Artilharia Antiaérea Fixa)

Foto 4 >  era o cartão que davam para não esquecer o número
Foto nº 2
e a Bateria, vai um pouco riscado mas, quando se tinha rapazes pequenos, era o que acontecia.

Foto 5 >  já era na semana de campo na Fonte da Telha, no pinhal mesmo junto ao posto da Guarda Fiscal.

Foto 6 >  Essa também é na semana de campo no dia 10 de março de 1964, faz hoje 52 anos. (O processo de ampliar as fotos ainda não aprendi,  fica para outra altura.)

Por hoje é tudo, logo se mandam mais amanhã ou noutro dia,

Um abraço,     António Paulo S. Bastos

2. Comentário do editor:

Obrigado, António, pelo teu esforço. Nunca é tarde para 
aprender. As tuas netas merecem um xicoração muito ternurenta por  ajudarem o avô nesta nobre tarefa de salvaguardar as fotos do seu álbum. 

Podes mandar mais, já temos cá bastantes, tuas, do tempo de Guiné. Mas uma das fotos que querias mandar falhou, só mandaste cinco. Fica para a próxima. 

Já agora recapitulamos aqui o teu currículo militar. Recebe um alfabravo do pessoal da Tabanca Grande.

3. A minha vida militar (António Bastos)

(i) No dia 12 de janeiro 1964 assentei praça no RAAF de Queluz;


(ii)  depois fui transferido para uma Bateria que existia em Porto Btandão;

(iii)  aí fiz a recruta e jurei bandeira em Queluz;

(iv) depois foi para o RI1 na Amadora onde fiz a especialidade: tinha como oficial,  comandante de pelotão, um tenente que se chamava (já faleceu) Nuno Nest Arnout Pombeiro que era genro do Comandante da Unidade, coronel Américo Mendonça Frazão (faleceu como feneral);

(v)  aí acabei a especialidade e fui mobilizado para a Guiné, incorporado num Pelotão Caçadores 953, independente;

(vi) embarquei para a Guiné no dia 15 de julho de 1964, onde cheguei a 21;

(vii) desembarquei e fui para Amura, aí permaneci duas horas, sendo depois escoltado pela Polícia Militar até João Landim, onde rendemos o Pelotão Caçadores independente 857;

(viii) dali fomos para Bula, Comando de Batalhão 507, cujo comandante era o tenente coronel Hélio Felgas (já falecido, como major general):

(ix) depois das apresentações fomos para Teixeira Pinto, onde ficámos adidos à Companhia de Artilharia 527, comandada pelo capitão António Amorim Varela Pinto;

(x) eram já 16 horas quando almoçámos, dali seguimos para Cacheu onde permanecemos até ao dia 9 de março de 1965, regressando novamente a Bissau para seguirmos para Farim, via Mansoa e Mansabá: jlantámos e às quatro horas da manhã seguimos então para Farim;

(xi) aí já nos esperava o BCav 490, comandada pelo tenente coronel Cavaleiro; permanecemos lá uns dias;

(xii) no dia 23 de março de 1965 deu-se a grande invasão de Canjambari onde a guarnição era composta pelas Companhias 487 e 488, Pelotão Morteiros 980, um Pelotão da 1.ª Companhia de Caçadores Africanos, um Pelotão Auto-metrelhadoras e o meu, o 953;

(xiii) eram 6,30 horas quando rebentou uma mina debaixo de uma GMC e começámos a embrulhar até às 16,00 horas; quando os T6 largaram as bombas, o IN logo nos deixou, mas por poucos dias, porque depois começaram a atacar-nos no acampamento: este era para ficar em Canjambari praça, mas o Comandante mandou-nos recuar para Canjambari Morcunda;

(xiv) começámos logo a fazer o aquartelamento com palmeiras; de dia trabalhava-se, de noite era um desassossego, porque vinham visitar-nos e fazer alguns tiritos; também tínhamos as operações a nível de duas secções de brancos e uma de africanos; infelizmente numa dessas operações tivemos duas baixas na 488; os trabalhos e até a pista para a avioneta foram todos feitos à força de braço;

(xv) com a saída do BCav 490, veio o 733, comandado por tenente coronel Glória Alves, que infelizmente já nos deixou [, em 2008]; passámos a descansar e viemos para Jumbembem onde permanecemos três meses, regressando um mês a Canjambari;

(xvi) em maio de 1966 regressámos a casa.

Guiné 63/74 - P15927: Blogpoesia (442): "Castelo da Pena", de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Palácio da Pena
Com a devida vénia a RTP.PT


1. Em mensagem de hoje, 2 de Abril de 2016, o nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66), enviou-nos este poema dedicado ao Palácio Nacional da Pena:


Castelo da Pena

Neste fim de tarde, luminosa e calma
que a natureza caprichou em dar,
se divisa daqui, ao longe,
sobre as altas cumeadas,
poisado,

o recorte fino e ténue,
de muralhas e ameias
dum castelo.

Será de Sintra?

São de cinza as cores
E de silêncio as suas lendas.

Se cobre de nuvens,
Com muitas penas,
São dos piratas,
Dos sarracenos,
Barcos à vela,
Vindos do mar.

Galgaram as pedras.
Tantas refregas.
Tanta barbárie.
Que mortandade!
Para reinarem.
Todos morreram.
Ninguém ficou.
Só as muralhas.
Só as ameias.
Fino recorte,
No horizonte!

Será de Sintra,
Castelo das Penas?...

Bar Caracol, arredores de Mafra, 1 de Abril de 2016
18h49m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
____________

Nota do editor

Último poste da série de 20 de março de 2016 Guiné 63/74 - P15877: Blogpoesia (441): "Tratar da horta...", de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Guiné 63/74 - P15926: Notas de leitura (823): “Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África”, publicação do Estado-Maior do Exército, 1989 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Maio de 2015:

Queridos amigos,
Sob a coordenação do General Themudo Barata, o Estado-Maior do Exército deu à estampa no final da década de 1980 um conjunto de volumes alusivos ao estudo das campanhas de África.
Este volume diz inteiramente respeito à evolução do dispositivo da Guiné, não se tecem comentários sobre a diferentes estratégias, mas dá para perceber que o que aconteceu entre 1963 e 1968 foi uma tentativa de espalhar efetivos por todo o território, a partir do momento em que se percebeu que o inimigo instalara bases e dispunha do apoio de populações. E dá igualmente a perceber a escalada dos efetivos e a gradual africanização da guerra.
Refira-se que este estudo abarca exclusivamente o Exército.

Um abraço do
Mário


O Exército na Guiné: os números entre 1961 e 1974

Beja Santos

Temos passado ao lado da “Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África”, publicação do Estado-Maior do Exército, 1989. O terceiro volume desta série de obras é dedicado à Guiné e ao dispositivo das nossas forças.

Precede uma monografia breve que inclui resumo histórico. A Resenha inclui um bom número de cartas de situação que ajudam a compreender a evolução do dispositivo das nossas tropas na Guiné. Explica-se o adensamento da ocupação militar pela reduzida dimensão do território. O que me parece que me devia ter sido acompanhado de um comentário para se entender tal malha em localidades onde praticamente não havia população, caso do Sul e do Leste, mas que, na interpretação militar, devia ter destacamentos em pontos nevrálgicos da fronteira. Na primeira fase seguiu-se a hierarquia habitual: Comando-Chefe; Comando Militar; Zonas Militares à responsabilidade de Comandos de Agrupamentos; Setores entregues a Comandos de Batalhão; Subsetores a Comandos de Companhia; e Destacamentos de Pelotão e por vezes até de Secção.

Antes de eclodir a luta armada, eram numerosos os Destacamentos de Pelotão, depois foram substituídos por Companhias e mais tarde irradiou-se para Destacamentos com efetivos menos numerosos. Com Spínola, deram-se modificações importantes: criaram-se áreas de intervenção em territórios desocupados e ali só podiam ser conduzidas operações às ordens do Comando-Chefe.

Na primeira carta de situação, referida a Agosto de 1962, as unidades operacionais comportavam duas Companhias de Caçadores (de recrutamento local), uma Bateria de Artilharia, também de recrutamento local, uma Companhia de Caçadores, um Esquadrão de Reconhecimento e um Pelotão de Polícia Militar. Estes efetivos estavam em Bissau, Tite, Bafatá e Bula, sobretudo.

A segunda carta de situação refere-se a Novembro de 1963. Temos um dispositivo militar ainda bastante rarefeito, ao longo do ano houve tentativas de sabotagem em Paunca e Pirada, houve o ataque ao aquartelamento de Tite, emboscadas na região de Bedanda e ações violentas no Oio. Nesse mesmo Novembro, o dispositivo passou a ter três batalhões, um com sede em Mansoa, de colaboração com o batalhão de Bula, outro com sede em Buba e outro em Catió. O CTIG passou a ser reforçado com uma Companhia de Engenharia. Comparativamente a 1961, o dispositivo ganhou uma dimensão enorme: 7 Comandos de Batalhão de Caçadores; 1 Batalhão de Cavalaria; 15 Companhias de Caçadores; 7 Pelotões de Caçadores Independentes; 7 Companhias de Artilharia; 2 Companhias de Cavalaria; 1 Esquadrão de Reconhecimento; etc.

Tendo presente a terceira carta de situação, referente ao final do ano de 1964, verificam-se nítidas alterações ao dispositivo. O PAIGC já dispõe de corredores preferenciais para a infiltração, caso de Sitató, Jumbembem e Sambuiá no Norte, e Guileje no Sul. Surgem forças paramilitares, as Milícias. Há um Comando de Agrupamento em Mansoa, outro em Bolama e no Leste o Setor de Fá-Mandinga, grosso modo. No final do ano, há 12 Comandos de Batalhão, 47 Companhias tipo Caçadores, e em Bissau estão instalados os Comandos de Engenharia e das Transmissões, mais 4 chefias de Serviços (Religioso, Contabilidade e Administração, Justiça e Postal Militar).

Temos agora presente a carta de situação referente ao final de Dezembro de 1966. O dispositivo está mais ou menos estacionário, mas há algumas remodelações com aumentos efetivos de reforço, caso de 1 Comando de Agrupamento, 2 Comandos de Batalhão, 1 Companhia de Comandos, 19 Companhias tipo Caçadores. A Guiné dispõe neste momento de 15 Companhias de Milícias.

A carta de situação referente a Setembro de 1968 ainda não revela alterações no dispositivo geral. Mas cresceu o número de Pelotões de Artilharia. O Comando-Chefe dispõe de reservas: 1 Batalhão de Caçadores, 2 Companhias de Comandos e 1 Companhia de Artilharia, em Bissau; uma Companhia de Comandos em Cuntima, 1 Companhia de Caçadores em Contuboel, etc.

A sexta carta de situação é referente a Dezembro de 1968, o novo Comandante-Chefe já tomou alterações no dispositivo, adota um conceito de centralização, e cria os Comandos Operacionais (COP), em Aldeia Formosa, em Guileje e Gandembel e Binta, Bigene e Barro. O teatro de operações da Guiné está dividido em 4 grandes áreas (Bissau, Oeste, Leste e Sul). Assiste-se a uma maior concentração de meios ao longo da fronteira no Oeste e no Centro, criou-se no Leste junto à fronteira o Setor L4, e no Sul criaram-se os COP1 e COP2. O recrutamento local tende a expandir-se: 3 Companhias de Caçadores, 1 Bateria de Artilharia de Campanha, 19 Pelotões de Caçadores Independentes e 25 Companhias de Milícias.

A sétima carta de situação é referente a Agosto de 1969, verificamos novas alterações na organização dos meios operacionais: o Setor L4 fica na dependência direta do Comando-Chefe; os 2 COP do Sul foram extintos e transferidos para a Aldeia Formosa, etc. Criou-se um Agrupamento Operacional (CAOP), em Teixeira Pinto (é um órgão de comando apenas operacional). Em jeito de resumo, temos dois Comandos de Agrupamento (em Bissau e Bafatá), 1 CAOP (Teixeira Pinto), 18 Comandos de Batalhão (mais 5 do que do antecedente), 4 Comandos Operacionais (mais 1 do que do antecedente). O recrutamento local mostra-se estacionário.

A oitava carta de situação reporta-se a Agosto de 1970, verifica-se um acréscimo de meios operacionais, sobretudo com recurso ao recrutamento local (Comandos, Caçadores e Artilharia, bem como Milícias). O dispositivo de recrutamento local cresceu substancialmente: 1 Companhia de Comandos Africana, 8 Companhias de Caçadores, 18 Pelotões de Caçadores Independentes, 30 Companhias de Milícias.

A nona carta de situação é referente a Janeiro de 1973, o ritmo do recurso ao recrutamento local é uma constante. Apareceram Grupos Especiais de Milícias; a defesa antiaérea tornou-se uma realidade. Não se verifica, neste período, grande alteração nos limites das zonas de ação dos principais escalões; a intervenção do Comando-Chefe continuava a ser muito direta.

E assim chegamos à décima e última carta de situação, referente a Abril de 1974. Houve alterações decorrentes da atividade de reocupação no Cantanhez, da asfaltagem de estradas, aumentou o material antiaéreo. Procurando resumir as Unidades e Órgãos Operacionais nesta data, temos: 1 Comando de Agrupamento (COMBIS), 2 CAOP, 1 COT, 18 Comandos de Batalhão, 1 Batalhão de Comandos da Guiné, 3 Comandos Operacionais, 1 Batalhão de Engenharia, 4 Companhias de Comandos, 14 Companhias de Comandos da Guiné, 83 Companhias tipo Caçadores, 19 Pelotões de Caçadores Independentes, 34 Pelotões de Artilharia de Campanha (de recrutamento local).
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Nota do editor

Último poste da série de 30 de março de 2016 Guiné 63/74 - P15916: Notas de leitura (822): “A tropa vai fazer de ti um homem! Guiné 1971-1974”, por Juvenal Sacadura Amado, Chiado Editora, 2016 (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P15925: Memória dos lugares (337): Cancolim, subsetor de Galomaro (Rui Baptista, ex-fur mil, CCAÇ 3489 / BCAÇ 3872, 1972/74) - Parte II: "Passei lá alguns maus bocados, com duas idas ao hospital, mas também lá tive alguns bons bocadinhos"...



Foto nº 10 A > "Os Vingadores", o meu pelotão  (2.º Pelotão da CCaç 3489),  prontos para uma patrulha. Ficámos com este nome porque quase sempre nos tocava ir em busca do IN após os ataques ao aquartelamento


Foto nº 10 B > "Os Vingadores", o meu pelotão  (2.º Pelotão da CCaç 3489)...


Foto nº 8 > Um posto de sentinela em Cancolim


Foto nº 11 > Mais uma partida para o mato de "Os Vingadores" em 15 de  abril de 1972, após uma flagelação a Cancolim à hora do almoço... Não gostávamos que o Juvenal Amado lá levasse o capelão... Não sei porquê, o homem dava-nos azar... Sempre que lá ia, Cancolim embrulhava"...


Foto nº 13 > Segurança à picada entre Cancolim e Sangue Cabomba


Foto 14 > Preparação para uma coluna a Bafatá (parte do 2.º Pelotão)


Foto nº  15 > O estado em que ficou a viatura (Unimog 404) que caiu numa mina em 14 de agosto de 1972 na picada,  no regresso de Bafatá a Cancolim (deixou-me 40 dias, todo partidinho, no HM 241 de Bissau – além de mim tivemos mais 16 feridos,  entre eles dois camaradas que tiveram de ser evacuados para o HMP de Lisboa)


Foto nº 3 A > Vista aérea de Cancolim: ao fundo do lado esquerdo, o heliporto... Além das instalações, veem-se alguns troços do perímetro de valas, abrigos e espaldões... Não havia artilharia, só morteiro 81...


Foto nº 3 B > Outra vista aérea de Cancolim: em segundo plano, a tabanca, anexa ao quartel...

Fotos (e legendas): © Rui Baptista (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


1. O Rui Batista (ex-fur mil, CCAÇ 3489 / BCAÇ 3872, Cancolim, 1972/74)  mora em Póvoa de Santo Adrião, Loures, com 65 anos de idade, está reformado, é lisboeta, sendo os pais oriundos de Arganil. e é nosso grã-tabanqueiro desde 9/12/2009.
 

Já aqui nos contou parte das andança e desandanças pelo TO da Guiné (*)... A primeira parte da comissão são mais intranquila.  Cancolim era um buraco lá no sector de Galomaro...
 

"O resto da comissão, principalmente os últimos 7 ou 8 meses de 1973, foi bem mais calmo. O último ataque a Cancolim foi em 20 de Janeiro de 1974. Nesse dia o IN veio de manhã, quase junto ao arame, mas apesar de muitos de nós andarem a jogar futebol, conseguimos fazer com que batessem em retirada deixando um morto no terreno".

Foi parar ao hospital duas vezes:

"A primeira vez que fui parar ao Hospital Militar de Bissau foi devido a uma febre que ninguém conseguiu identificar. Cheguei lá a 6 de Junho de 1972 e saí quase um mês e meio depois". (...)

"A segunda vez foi pouco tempo depois da primeira, foi logo na coluna seguinte a me irem buscar a Bafatá, dia 14 de Agosto de 1972. Não era a vez do meu Pelotão fazer a coluna. Quem estava na escala era o 1.º Pelotão,  comandado pelo Capitão;  este alegando que não se sentia bem e como eu tinha estado fora da Companhia algum tempo, conseguiu convencer-me a substituí-lo dessa vez".

O Rui confessa que não gostou  muito da ideia mas lá foi, contrariado... E tinha razões para temer que aquele fosse um dia aziago...

"Após a saída de Bafatá,  comecei a sentir que algo não ia correr bem. Ao chegarmos a Sangue Cabomba fui colocar o saco do correio (a mais sagrada das coisas para nós) na última viatura, e dei algumas indicações aos condutores de como iríamos proceder à passagem das zonas mais perigosas do resto do percurso até Cancolim.

"Foi exactamente no último bocadinho do troço onde nos podiam emboscar que deflagrou a mina colocada na picada. A partir desse momento não me lembro de muita coisa, sei que ainda dei instruções ao homem do rádio para pedir o batimento da zona e também de pedir uma arma e água a um elemento da população e deste me dizer que a mina não era para mim ("Furriel desculpa a mina não era para ti" – foi o que me ficou gravado na mente)."...

A seguir o Rui foi evacuado de heli para Bafatá...

"Recordo ainda de desmaiar sempre que me agarravam no ombro partido e de me terem posto numa maca dentro de numa DO. Acordei em Bissau quando me estavam a cortar o camuflado e voltar a desmaiar quando me agarraram no ombro para radiografar, acordei ao fim de três dias todo ligado e entubado na sala de observações. Estive hospitalizado 40 dias"...
Balanço da explosão da maldita mina: 17 feridos, dois deles evacuados para Lisboa.

"Até aqui só escrevi sobre coisas menos boas, mas também existiram algumas bem divertidas como, por exemplo,  aquela de eu ter pedido uma ZUP em vez de 7UP na primeira vez em que entrei na messe de sargentos no Cumeré, foi um "salta, pira!", geral.

Outras de que se lembra:
(i) "as corridas de arcos com gancheta que fazíamos na parada de Cancolim";

(ii) "um ou dois festivais da canção de Cancolim: uma das canções vencedoras,  "Rio Chancra" era cantada pelo Rodinhas (Furriel Mecânico Correia)";

(iii) "as caçadas às galinhas e cabras da população, e a fisgadas as pombos do nosso pombal para os petiscos";

(iv) "os campeonatos das mais variadas jogatinas de cartas";

(v) "as missivas que escrevíamos aos ratos para não nos roerem as roupas dentro dos armários – quando vim de férias da primeira vez, dei com o meu saco de viagem todo desfeito e no meio dos farrapos uma ninhada de 7 ratinhos"...

"E mais, muito mais", diz ele, "que eu não sei contar aqui"!... A gente acha que ele sabe e tem jeito para contar histórias... Esperamos que nos visite muito proximamente, agora que lhe fomos reeditar (e para melhor!) algumas fotos do seu álbum...
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Nota dos editores:

(*) Último poste da série > 27 de março de  2016 > Guiné 63/74 - P15907: Memória dos lugares (336): Cancolim, subsetor de Galomaro (Rui Baptista, ex-fur mil, CCAÇ 3489 / BCAÇ 3872, 1972/74) - Parte I

Guiné 63/74 - P15924: Agenda cultural (471): O Corpo de Enfermeiras Paraquedistas (1961-1974) vai ser homenageado em Fafe, no dia 6 de abril de 2016, 4ª feira, no decurso do evento "Terra Justa 2016" ("II Encontro Internacional de Causas e Valores da Humanidade"). Intervenções (entre outras) das nossas camaradas Maria Arminda e Rosa Serra (Jaime Silva, ex-alf mil para, 1ª CCP / BCP 21, Angola, 1970/72)





1. Mensagem enviada pelo nosso camarada, grã-tabanqueiro, Jaime Bonifácio Marques da Silva, ex-alf mil paraquedista, 1ª CCP / BCP 21 (Angola, 1970/72),  lourinhanense, professor de educação física reformado, antigo autarca em Fafe, "terra justa":


Imagem inserida no portal da Câmara Municipal de Fafe.
Reproduzida aqui com a devida vénia...
Sobre o evento "Terra Justa 2016",
clicar aqui para saber mais.
O CORPO DE ENFERMEIRAS PARAQUEDISTAS (1961-1974) VAI SER HOMENAGEDO EM FAFE NO DIA 6 DE ABRIL 2106, DURANTE O “II ENCONTRO INTERNACIONAL DE CAUSAS E VALORES DA HUMANIDADE”


De 5 a 9 de Abril, Fafe volta a receber o “Terra Justa - Encontro Internacional de Causas e Valores da Humanidade”.

O “Terra Justa – Encontro internacional de Causas e Valores da Humanidade” é um evento internacional, que procura alertar, provocar e envolver as pessoas a refletir sobre a importância das causas e valores da humanidade.

De 5 a 9 de Abril, a cidade vai acolher conferências, tertúlias de café com convidados nacionais e internacionais, exposições de rua, animação de rua, debates, arte pública, entre muitas outras atividades.

Além da questão dos refugiados, vão ser ainda abordados temas como os direitos humanos em cenários de conflito, o valor da cultura e questões relacionadas com a religião. Durante cinco dias, a cidade vai ser inundada com factos, números, dados, textos e histórias reais que remetem para as causas globais e para os grandes valores da humanidade.

O Corpo de Enfermeiras Paraquedistas Portuguesas que atuou no apoio aos militares feridos em combate durante a Guerra Colonial, será homenageado neste evento de grande significado, entre outras figuras e associações de grande prestígio nacional e internacional.

Penso que este “Tributo à memória”, promovido pela Câmara Municipal de Fafe, às Enfermeiras Paraquedistas Portuguesas merecerá, certamente, de toda a sociedade e particularmente dos ex-combatentes da Guerra de África o nosso aplauso e o carinho da nossa gratidão.

Este será o tempo da gratidão e, mais uma vez, dizer: “PRESENTE”.

PROGRAMA

“TERRA JUSTA – II Encontro Internacional de Causas e Valores da Humanidade”

Nota: O programa está sujeito a alterações. O nome dos intervenientes nas conversas de café e conferências/debates pode vir a ser mudado. Brevemente serão ainda indicados os nomes de todos os moderadores.

DIA 5 DE ABRIL – TERÇA-FEIRA

Pré-arranque do “Terra Justa” / Recordar a edição de 2015

14h30 – Animação de rua

15h00 – Inauguração do Jardim Maria Barroso, com a presença de Isabel Soares | Parque da Cidade

15h30 – Inauguração da exposição de arte pública “Caminho das Causas” e da exposição de rua “Luz ao fundo do túnel”

17h30 – Conferência Fundação Pro-Dignitate “A paz como missão”, com os convidados jornalista António Pacheco, dr.ª Isabel Soares, dr.ª Raquel Abecassis (RR), padre Villas Boas (TSF) e jornalista Celso Filipe (JNegócios) | Sala Manoel Oliveira

18h30 – Atribuição do Prémio “Jornalismo pela paz – dr.ª Maria de Jesus Barroso Soares”

21h30 – Apresentação do Livro “Terra Justa 2015”, pelo jornalista António Pacheco, diretor da Fundação Pro Dignitate

DIA 6 DE ABRIL – QUARTA-FEIRA

10h00 – Animação de Rua

10h30 – Conversa de Café “Gente que trata gente – ativismo humanitário”, com a enf.ª Rosa Serra e Joaquim Letria | Café Shake

Capa do livro "Nós, enfermeiras
paraquedistas" (Coord., Rosa Serra)
Porto: Fronteira do Caos Editores.
2015  (Há já uma 2º ed).
15h00 – “Um salto pela memória: Salto de Paraquedas do Regimento de Paraquedistas”, pela equipa de paraquedistas “Falcões Negros”

15h30 – Colocação de mensagem no “Mural das Causas”, pela enf.ª Rosa Serra e coronel José Aparício | Praça 25 de Abr
16h00 – Conversa de Café “Eu, tu e eles: Que mundo é este?”, com Teresa Tito de Morais

17h30 – Inauguração da exposição “Gente que tratou gente - Enfermeiras paraquedistas Portuguesas”, apresentada pelo major-general José Ferreira Pinto | Arquivo Municipal, Sala Serviço Educativo

21h30 – Conferência “Memória e tributo - Enfermeiras Paraquedistas Portuguesas”, moderada por enf.ª Rosa Serra, enf.ª Maria Arminda, soldado Manuel Ferreira | Teatro Cinema de Fafe jornalista Joaquim Letria com a presença do general Luís Araújo – antigo Chefe do Estado Maior-General das Forças Armadas de Portugal (CEMGFA), coronel José Aparício,

– Apresentação do livro “Enfermeiras Paraquedistas” por dr. Vítor Raquel | Teatro cinema de Fafe

DIA 7 DE ABRIL – QUINTA-FEIRA

10h00 – Animação de rua

10h30 – Conversa de Café “Refugiados e Deslocados – medos e mitos”, com frei Mussie Zerai e Tareke Brhane

15h00 – Colocação de mensagem no “Mural das Causas” por Agência Habeshia

15h30 – Inauguração da Exposição “EU EXISTO - missão Agenzia Habeshia” | Arquivo Municipal de Fafe

18h00 – Conversa de Café “As novas fronteiras de um novo mundo”, com Mussie Zerai e Carvalho da Silva

21h30 – Conferência de Homenagem a “Agenzia Habeshia – História e Missão”

DIA 8 DE ABRIL – SEXTA-FEIRA

10h00 – Animação de rua

10h00 – Conferência de Café “A Cultura como valor na sociedade”, com Graça Morais, Maria Rueff, frei Bento Domingues e Ângelo Torres | Café Easy

11h30 – Conversa de Café “ Uma Ca(u)sa para o Mundo”, com eng.º António Guterres

15h00 – Colocação de mensagem no “Mural das Causas”, pelo engº António Guterres

15H30 – Inauguração Exposição “António Guterres vida e obra” | Arquivo Municipal

18h00 – “Arquivos de vida: uma conversa com eng.º António Guterres”

21h30 – Conferência de Homenagem “António Guterres, Vida e Obra” | Teatro Cinema de Fafe

DIA 9 DE ABRIL – SÁBADO

10h00 – Animação de rua

10h30 – Conversa de café com Artur Santos Silva

15h00 – Apresentação do projeto de torneio de futebol inter-religioso “RELIJOGANDO – o papel do desporto na questão das diferentes crenças religiosas”, apresentado por Paulo Mendes Pinto | Sala Manoel Oliveira

16h00 – Inauguração da exposição “Gulbenkian, uma missão”

17h30 – Colocação de mensagem no “Mural das Causas” de Artur Santos Silva

18h00 – Conferência OLR - "Europa Refugiada - O papel da Religião e da Laicidade nos (des)encontros do futuro | Sala Manoel Oliveira

21h30 – Conferência de Homenagem “Gulbenkian, história e missão” | Teatro Cinema de Fafe

Encerramento do evento “Terra Justa 2016”, por frei Fernando Ventura e dr. Raúl Cunha, presidente da Câmara Municipal de Fafe

Fafe, 29 março 2016

Fonte: Câmara Municpal de Fafe > Agenda > Terra Justa - II Encontro Internacional de Causas e Valores da Humanidade

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Nota do editor:

Último poste da série > 22 de março de 2016 >  Guiné 63/74 - P15890: Agenda cultural (470): Apresentação do livro "A Tropa Vai Fazer De Ti Um Homem", da autoria de Juvenal Amado, levada a efeito no dia 19 de Março de 2016, na sua terra natal, Alcobaça

Guiné 63/74 - P15923: Parabéns a você (1056): Carlos Pedreño Ferreira, ex-Fur Mil Op Especiais do COMBIS e COP 8 (Guiné, 1971/73)

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Nota do editor

Último poste da série de 30 de Março de 2016 Guiné 63/74 - P15912: Parabéns a você (1054): António Graça de Abreu, ex-Alf Mil Inf do CAOP 1 (Guiné, 1972/74); Benjamim Durães, ex-Fur Mil Op Esp do BART 2917 (Guiné, 1970/72) e Rosa Serra, ex-Alf Enf.ª Paraquedista da BA 12 (Guiné, 1969)

quinta-feira, 31 de março de 2016

Guiné 63/74 – P15922: Memórias de Gabú (José Saúde) (62): Saudades daquela nota esverdeada estampada com a figura de Nuno Tristão, 50 pesos.



1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos mais uma mensagem desta sua série.

As minhas memórias de Gabu

Saudades daquela nota esverdeada estampada com a figura de Nuno Tristão, 50 pesos

Os conteúdos de memórias registadas na Guiné continuam. Nos seus teores cruzam-se recordações que jamais se apagarão das nossas respeitosas histórias e sobretudo analisadas sobre o prisma de militares que conheceram uma peleja que não dava folgas.

Numa destas últimas manhãs primaveris, ainda com o tempo bastante instável, atrevi-me a efetuar uma viagem por gavetas onde guardo alguns registos de uma vida que persiste em diluir-se num tempo sempre indeterminado, e detive-me perante uma nota de 50 pesos que trouxe da Guiné mas que arquivo religiosamente.

Falar em 50 pesos (escudos) é literalmente citar que essa nota, outrora grande, representa, atualmente, uns meros 25 cêntimos. Dá, quiçá, para comprar duas pastilhas elástica, ou coisa de somenos importância ou tão-pouco uma lembrança com o mínimo de projeção.

Mas, naquele tempo uma nota de 50 pesos na Guiné já fazia algum ronco. Sou de um tempo em que cruzei os anos de 1973/1974, sendo porém certo que a grandeza do dinheiro, escudos, foi paulatinamente ganhando novos contornos ao longo de comissões que a irreverente moçada cumpriu naquele território ultramarino.

Registo que o meu ordenado como furriel miliciano era de 6400$00 (seis mil e quatrocentos escudos, hoje, simplórios 32 euros), ficando na Metrópole 3800$00 e recebendo 2600$00 em Gabu. Manga de patacão, é verdade, daí que os gastos fossem fartos na compra de várias bugigangas e num beber permanente de bebidas alcoólicas entre as saudosas mariscadas, nomeadamente. Ah, fazia-se, à socapa, também um pequeno mealheiro.

Sobrou-me, assim, patacão para vir de férias e deliciar-me com os baldes de ostras, ou de camarão tigre, grelhado de preferência, bem como refrescar a garganta com as belas cervejas fresquinhas em cervejarias de casta em zonas nobres da cidade de Bissau e as noites de arrombo numa urbe que acolhia o pessoal que vinha do mato e já farto em levar “porrada”.

Para trás ficavam então as trincheiras do medo, ou, os indetermináveis dias em defesa de uma vida jovem e já entregue a insofismáveis incertezas, restando o momento de aparente sossego para a malta dar largas a leviandades próprias de uma idade que se situava na casa dos vinte e poucos anitos. 

Reconhecido pelo primeiro momento em que o blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné me proporcionou e, simultaneamente, abriu as suas portas para eu debitar pequenos textos enquadrados com exíguas memórias que cruzam gerações, atrevi-me a inserir nesta narrativa a razão óbvia da dimensão de uma nota de 50 pesos e a atual realidade de 25 cêntimos. Talvez que o repto seja eventualmente proveitoso para uma troca de ideias, tendo em conta a representatividade dos valores expostos.

E é com este pequeno subterfúgio que por ora deixo expresso que a vida, a nossa, conheceu momentos irónicos na guerra onde 50 pesos faziam rugido na Guiné e presentemente 25 cêntimos é um valor meramente irrisório. 



Guiné e a sua moeda designada por pesos. Como o tempo mudou, camaradas.

Um abraço, camaradas 
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em: 

Guiné 63/74 - P15921: Blogoterapia (277): Velhos são os trapos (Mário Vitorino Gaspar, ex-Fur Mil Art MA da CART 1659)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Vitorino Gaspar (ex-Fur Mil At Art e Minas e Armadilhas da CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68), com data de 27 de Março de 2016, a propósito do aniversário deste vosso escriba:

Camarada Carlos
Tive conhecimento ser hoje o teu Aniversário.
Os anos passam e fogem-nos sem darmos por isso. Mas mal damos conta vamos nos “enta”. E a guerra nos “inte”.
Para o camarada Carlos dos “Enta”, espero que o passes com os teus, que somes a estes muitos mais, com saúde.
Tentei fazer um Poema dedicado a todos aqueles como nós que atingimos aquilo que já tratam de Terceira Idade.
Se quiserem podes publicar no Blogue.

Um grande dia para ti
Um abraço
Mário Vitorino Gaspar


Velhos são os Trapos

Mário Vitorino Gaspar

Pequeno corria ventos e com as nuvens falava:
– Por que não constróis castelos mirabolantes?
Gentes de todas as idades rindo como dantes?
Jovem dos vinte a sorrir? Por favor não minta
Andas a sonhar e casado, pai e homem aos trinta
Rebentas pela vida! Quem a suporta e aguenta?
És a vida que espera sem esperar pelos quarenta
Sem saber… atingiu cinquenta os que sonhava.

O que interessa é viver a vida e não só a contar:
– Quantos palmos… palmo a palmo e a medir
Cantar. Cantar. Segundos, minutos horas a sorrir!
Cantar. Cantar. Longe de tormentos e ais a sofrer
Cantar canções de vida de amores a vida que viver.
A música cresce nos tons nostálgicos de uma flauta
A orquestra e seu maestro, batuta baque na pauta.
Vamos sorrir nos anos poucos ou muitos a amar

Quero gritar… E grito, apetece-me gritar:
– Ser humano que sente não é velho farrapo
Velho e remendado… é aquele solitário trapo
Um reformado… sente bem o tempo ocupado
Outro sozinho triste, vazio oco… desconsolado
Um o tempo medido e pesado é curto e escasso
Outro a vida que era vivida virou fracasso
Grita. Grita Por que não? Danças a cantar?

Ser-se de entre os anos o óbvio um sexagenário
Atingidos com alegria a verdade dos setenta
Correm os ponteiros às voltas somam oitenta
Anos seguidos e a vida a decrescer vem a soma
Noventa? Mas por que razão pedi a reforma?
Centenário? Cem anos? Poderá isto ser verdade?
Vivi, gozei e vi. Filhos e netos é mesmo a idade!
Galguei os anos sem sequer olhar o calendário.

Aprendermos que a vida é também feita de zeros
Nados, ventre da mãe, mulher criada do mundo
Fêmea que amou o homem somente um segundo
E repete-se. Repete. A luz que acende e aquece
Repete. Anos repetem-se e há alma que esquece
Música que toca nos rádios todo a hora e dia
Dancemos ao toque do tambor e da melodia
Matematicamente o mundo é feito de números.

Mas velho… velho, sem voz, mudo e calado?
– Velho, caco de barro esburacado e partido?
Cala-te! Não sabes que esse termo foi abolido?
Nem consta e nem lês nas palavras do abecedário!
Nem no mundo, no melhor catalogado dicionário…
Velho! A palavra foi extinta, não existe nem se fia
Nem em todos os acordos do mundo de ortografia…
Velho era alguém com idade, e um caso acabado.

Vivemos neste mundo e anos seguidos de felicidade
Amamos as flores do campo e as borboletas voando
Escutamos a voz do mar, ondas leves se enrolando
Há muito que aprender e melhor conhecer este ninho
Palacete com palhas e paus cruzados, em remoinho.
Se cometermos nesta longa caminhada na natureza
A vida é amor. O homem tem de cumprir esta certeza
No mundo, suas gentes, são estrelas do céu sem idade.

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2. Comentário do editor CV

Caro Mário
Muito obrigado pelo teu poema, que se me permites dedico a toda a tertúlia, pois há muito que estamos todos nos enta, donde, desde que se entre, nunca mais se sai... Só aos CEM, mas esta meta é para meia-dúzia de privilegiados.

Já agora, aproveito para agradecer as palavras de carinho, enviadas, não só a mim, mas também aos meus companheiros de aniversário, a Ni, o Armando Pires e o Eduardo Magalhães, através do Blogue, facebook, mensagens pessoais, telefonemas, pombos-correios, etc.

Bem hajam.
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de março de 2016 Guiné 63/74 - P15866: Blogoterapia (276): Porque continuamos a falar da guerra que vivemos na então província da Guiné? (António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo Condutor Auto da CART 3493)

Guiné 63/74 - P15920: Memória dos lugares (337): Cuntima, junto ao Senegal... Imagens do antigo quartel (Patrício Ribeiro, Impar Lda, Bissau)


Foto nº 1 > Rua principal de Cuntima


Foto nº 2 > Antigo quartel de Cuntima: depósitos de água


Foto nº 3 > Antigo quartel de Cuntima: marca da passagem do 4º Gr Comb, "Xonés", da CART 3360 (não temos, salvo erro, nenhum representante desta subunidade na Tabanca Grande)


Foto nº 4 > Antigo quartel de Cuntima: marca da passagem do BENG 447 (Bissau)


Foto nº 5 >  Antigo quartel de Cuntima: a equipa da Impar Lda em trabalho (1)


Foto nº 6 > Antigo quartel de Cuntima: a equipa da Impar Lda em trabalho (2)


Foto nº 7 > Antigo quartel de Cuntima: mais marcas da passagem das NT


Foto nº  8 > Antigo quartel de Cuntima:o vice-administrador Samba Candé [, da vila de Cuntima], ex- milícia português, no local onde morreu o seu grande amigo,  o cabo Machado, assim como o furriel Dorindo, em um dos ataques com morteiros.


1. Estas fotos foram-nos enviadas recentemente pelo nosso amigo e camarada Patrício Ribeiro [,foto à esquerda: português,natural de Águeda,criado e casado em Angola, com família no Huambo, ex-fuzileiro em Angola durante a guerra colonial, a viver na Guiné-Bissau desde 1984, fundador, sócio-gerente e director técnico da firma Impar, Lda; também conhecido carinhosamente como "pai dos tugas"]

 De vez em quando ela pega  na máquina fotográfica (ou no telemóvel?)  e tira umas chapas sobre os "sítios de nenhures", os bu...rakos onde nos meteram ou nos metemos, entre 1961 e 1974... Para a gente, masoquista como nós, "matar saudades"... Cuntima foi um deles... O quartel era protegido por um pelotão de artilharia. E tinha uma delegação da PIDE/DGS... Era um ponto importante para a segurança da província. Vejam aqui fotos da época, dos nossos camaradas Vitor Silva e Humberto Nunes...  (*). Há mais de meia centena de referência no blogue sobre Cuntima. Mas é preciso saber procurá-las: o Blogger só nos mostra meia dúzia. Pesquisar também no Google > Imagens > Cuntima Guiné.

Quem esteve em Cuntima foi o Vasco [Correia] Lourenço, hoje cor inf ref (ex-cap inf, CCAÇ 2549, Cuntima e Farim, julho de 1969/junho de 1971]. E quem sabe mais de Cuntima é o nosso camarada Carlos Silva, dirigente da ONGD Ajuda Amiga [e nosso grã-tabanqueiro, de longa data: jurista, foi fur mil inf, CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Jumbembem, 1969/71; tem mais de 90 referências no nosso blogue].

Refira-se ainda, e por fim, que Cuntima, dois anos depois da independência da Guiné-Bissau, em novembro de 1976, foi palco de cenas de terror e violência de Estado, a execução sumária e pública de dois antigos milícias, "cães dos colonialistas", por ordem do famigerado comandante Quemo Mané, cenas essas  aqui já reconstituídas num poste memorável e corajoso do nosso amigo Cherno Baldé (**), um poste que merece ser lido e relido: na altura teve cerca de meia centena de comentários.

Dos 42 graus, no mato...

Junto algumas fotos da vila de Cuntima (e em especial do antigo quartel das NT).

É também uma pequena homenagem aos que aqui viveram, aos que aqui morreram, aos que agora aqui agora trabalham.

Tenho pena… mandei deitar abaixo a casa onde estava instalado o gerador no tempo português.

Vou lá instalar,  no furo feito pelos Portugueses junto à casa, uma bomba solar 50 m3/dia, um reservatório de 30 m3, vai levar diversos fontanários, espalhados pela vila e pela tabanca mais próxima, para abastecimento de água.

Caminho difícil, os 33 km de Farim até lá, terra de ninguém… onde mandam os que lá estão…

Em uma das fotos [foto nº 8], pode ver-se um antigo abrigo, e junto está o vice-administrador da vila Samba Candé, ex-milícia português, no local onde morreu o seu grande amigo, o Cabo Machado, assim como o Furriel Dorindo, em um dos ataques com morteiros. [Não há indicação de data nem da subunidade] (***)

Abraço,
Patrício Ribeiro

IMPAR Lda
Av. Domingos Ramos 43D - C.P. 489 - Bissau , Tel, 966623168 Guiné Bissau
Tel / Fax 00 351 218966014 Lisboa 
www.imparbissau.com
impar_bissau@hotmail.com



Guiné - Mapa de Colina do Norte (1956); Escala 1/50.000 - Localização de Cuntima

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné
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Notas dos editores

(*) Vd. alguns dos nossos postes com imagens e outras memórias de Cuntima:

22 de setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4993: Memória dos lugares (44): Cuntima, na fronteira com o Senegal (Ex-1º Cabo Vitor Silva, CART 3331, 1970/72)

17 de março de 2008 > Guiné 63/74 - P2657: Cuntima nos tempos da CART 3331 (1970/72) (Vítor Silva)

6 de setembro de 2012 >  Guiné 63/74 - P10340: Álbum fotográfico do ex-Alf Mil Art Humberto Nunes (3): Cuntima

3 de Setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10320: Álbum fotográfico do ex-Alf Mil Art Humberto Nunes (2): Cuntima

(**) Vd. poste de 25 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11762: Memórias do Chico, menino e moço(Cherno Baldé) (45): Horror e terror em Cuntima, em novembro de 1976: a revoltade um grupo de antigos milícias, a execução pública de Soarê Seidi e de AbbaroCandé, por ordem do histórico comandante do PAIGC, Quemo Mané (Recordações deDemburri Seidi, tradução e texto de Cherno Baldé)

(***) Último poste da série > 27 de março de  2016 > Guiné 63/74 - P15907: Memória dos lugares (336): Cancolim, subsetor de Galomaro (Rui Baptista, ex-fur mil, CCAÇ 3489 / BCAÇ 3872, 1972/74) - Parte I

Guiné 63/74 - P15919: Álbum fotográfico de António José Pereira da Costa, Coronel de Art.ª Ref (ex-Alferes de Art.ª na CART 1692; ex-Capitão de Art.ª e CMDT das CART 3494 e CART 3567 (3): Arte guineense

1. Mensagem do nosso camarada António José Pereira da Costa, Coronel de Art.ª Ref (ex-Alferes de Art.ª na CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69; ex-Capitão de Art.ª e CMDT das CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, e CART 3567, Mansabá, 1972/74), com data de 21 de Março de 2016, com mais fotos sobre a arte da Guiné para o seu Álbum fotográfico:

A minha colecção de cachimbos.
Destes só um é que foi utilizado e comprei-o directamente ao fumador em Janeiro de 1969 perto do Cumeré.
Não tinham qualquer tipo de filtro e o fornilho era forrado com um pouco de metal flexível, parecido com alumínio.
O tabaco era em folha e enrolado no momento de ser fumado.
Os chapéus eram feitos de de palha de capim(?) enrolada e depois coberta com linha enrolada de várias cores. Acho que era um chapéu de ronco, uma vez que pouco aparecia na vida diária nas tabancas. Protegia bem do sol dada a matéria de que era feito.
Alguém sabe qual o nome destes chapéus?

Um Ab.
António J. P. Costa


Cachimbos


Chapéu Fula
Fotos: © António José P. da Costa
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Nota do editor

Último poste da série de 28 de janeiro de 2016 Guiné 63/74 - P15681: Álbum fotográfico de António José Pereira da Costa, Coronel de Art.ª Ref (ex-Alferes de Art.ª na CART 1692; ex-Capitão de Art.ª e CMDT das CART 3494 e CART 3567 (2): Arte guineense

Guiné 63/74 - P15918: Inquérito 'on line' (50): Nunca apanhei nenhum pifo de caixão à cova na tropa ou no TO da Guiné (Augusto Silva Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Augusto Silva Santos (ex-Fur Mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73), com data de 15 de Março de 2016, com o que será o último depoimento sobre os nossos pifos no TO da Guiné:

Olá Carlos Vinhal, bom dia!
Antes de mais espero que esteja tudo bem contigo e família.

No âmbito do inquérito "on line" que tem estado a decorrer sobre o assunto em epigrafe, recordo parte de um episódio que comigo ocorreu, e sobre o qual em tempos enviei para publicação, sendo que este foi mesmo o único "pifo" que apanhei em terras da Guiné.

O extracto abaixo faz parte do Post P10432 de 25-09-2012 / Estórias dos Fidalgos do Jol / 12 - A minha primeira noite no Jol:

..."Mas felizmente era apenas e só a minha preocupação de “pira” a funcionar, pois nada de anormal se passou, só que, ao contrário do que aconteceu com o “pira” do Juvenal, no meu caso era ver quem mais “álcool” me conseguia fazer beber e, obviamente, pagar.
Tanto quanto foi possível lá me fui aguentando, normalmente tentando disfarçar as grandes quantidades de whisky com coca-cola à mistura. Como sabia e “escorregava” bem, consegui manter-me durante um bom par de horas a ouvir alguns dos acontecimentos mais significativos dos últimos 12 meses (a eterna tentativa de “acagaçar” os recém chegados), e sinceramente não dei conta que já me encontrava muito perto dos limites.
Enquanto estive sentado, a coisa correu bem, o pior foi mesmo quando fiz mais do que uma tentativa para me levantar, e as pernas não me obedeciam. A minha intenção de evitar apanhar uma primeira bebedeira em terras da Guiné, definitivamente não tinha resultado. Estava mesmo embriagado e, só com alguma ajuda, lá me consegui pôr a caminho do meu abrigo. Pelo meio fui “apanhado” pelo Cabo da ronda que, “simpaticamente” me perguntou se precisava de ajuda, depois de me ver de joelhos e a vomitar. Bonito exemplo logo no primeiro dia, pensei eu…
Mas a “praxe” tinha sido cumprida e, no outro dia, era como se nada se tivesse passado. Nunca mais ninguém falou nisso, eu é que durante largos meses, nunca mais pude ver à minha frente aquela “maldita combinação” de whisky com coca-cola. Foi mesmo de arrasar"…

Se achares que tem interesse recordar, p.f. publica, fazendo as alterações que considerares oportunas.

Aproveito para juntar umas fotos tiradas em Jolmete, em Outubro / Novembro de 1972, que ilustram alguns momentos de "alegria". De salientar que o fim da comissão estava próximo.

Recebe um grande e forte abraço,
Augusto Silva Santos




Jolmete, Outubro e Novembro de 1972

Fotos: © Augusto Silva Santos
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Nota do editor

Último poste da série de 23 de março de 2016 Guiné 63/74 - P15892: Inquérito 'on line' (49): Pifos não eram comigo, só por duas vezes! (Manuel Joaquim, ex-Fur Mil da CCAÇ 1419)