sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16791: Inquérito 'on line' (91): A "batota" que fazíamos no mato ?... Tenho dificuldade em responder por dois motivos: (i) a decisão não estava nas minhas mãos; e (ii) no Xime não podíamos deixar de privilegiar o conceito "A segurança, em primeiro lugar"... (Jorge Araújo, ex-Fur Mil Op Especiais, CART 3494, Xime e Mansambo, 1971/74)


Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > c. 1969/70 > Xime > Margem esquerda do Rio Geba > O cais do Xime... que alimentava o "ventre do leste"... Por aqui passaram milhares de homens, viaturas, equipamentos, armas, munições, géneros alimentícios, etc. Desembarcados das LDG, seguiam depois pela estrada (alcatroada já no tempo do Jorge Araújo ) Xime-Bambadinca-Bafatá-Nova Lamego-Piche, etc. até pontos mais longínquos, já fronteira (Sare Bacara, Pirada, Canquelifá, Bajocunda, etc.).

Havia um aquartelamento na margem esquerda, guarnecido por uma companhia de quadrícula, além de um Pel Art (obus 10.5). Havia ainda uma tabanca (c. 250 habitantes), e no regulado do Xime três destacamentos de milícias (Amedalai, Demba Taco e Taibatá)..

Na margem direita do Rio Geba, frente ao Xime, situava-se a povoação e destacamento do Enxalé, /povoação outrora importante?.  A montante do Xime  ficava o reordenamento (e destacamento) de Nhabijões, os destacamentos de Mato Cão, Missirá, Finete, o qiartel de Bambadinca...Entre Xime e Bambadinca, no Rio Geba Estreito, circulavam as embarcações civis (também conhecidas por "barcos turras")...

Foto: © Arlindo Teixeira Roda (2010) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. Comentário (*) do nosso camarada e colaborador assíduo do nosso blogue, Jorge Araújo (ex-Fur Mil Op Especiais da CART 3494. Xime e Mansambo, 1971/74),  


Camaradas,

Como certamente aceitarão, vivi como elemento do colectivo da CART 3494 muitas emoções/tensões na geografia do Xime (1972/73), umas mais fortes outras mais suaves, mas todas juntas dão corpo ao meu “livro de memórias” daqueles anos, experiências únicas e, até ver, inesquecíveis. Desde emboscadas em situação adversa e em inferioridade numérica, naufrágio, mortes e outras situações já descritas em narrativas publicadas anteriormente, tenho uma colecção de eventos que fazem de mim uma “pessoa rica” ou que dão título à formação militar que conclui em Lamego: «A sorte protege os audazes».

Quando se aborda a temática «A batota que fazíamos na guerra»…, tenho muitas dificuldades em responder, na medida em que não dependia de mim decidir sobre o que quer que fosse, pois estava sujeito à hierarquia, e quando entrava em operações mais problemáticas, as informações que me transmitiam eram escassas ou quase nulas.

Por outro lado, a situação geográfica do aquartelamento do Xime, não permitia fazer muitos “desvios” aos que faziam parte do “protocolo”, em que a principal missão estava relacionada com o conceito de Segurança, tarefa prioritária e diária que fazia parte da agenda dos diferentes Grupos de Combate.

Todas elas teriam de ser cumpridas com o máximo de rigor e superior atenção, pois tínhamos de garantir a segurança possível em parte do troço que ligava o Xime a Bambadinca, por causa/efeito do tráfego rodoviário que aí ocorria, uma vez que a possibilidade mais exequível para chegar à capital [Bissau], ou desta ao extremo leste do território, de que são exemplos: Bafatá, Contuboel, Nova Lamego, Piche, Canquelifá, Paunca, Galomaro, Mansambo, Xitole, Saltinho, …, só poderia acontecer por via marítima [Rio Geba].

Porque o cais do Xime era utilizado diariamente, quer como ponto de chegada e/ou de partida, por onde circulavam semanalmente centenas de militares e civis e uma vasta panóplia de produtos e equipamentos, este assumia-se como local político-militar-económico estratégico por excelência.

.Deste modo o nosso grande objectivo operacional era garantir a máxima segurança a todos os que dela necessitavam naquele troço, todos os dias, entre as 07.00/07:30H até ao pôr-do-sol ou, em situações particulares, até que ficassem concluídas as actividades portuárias, no local conhecido por Ponta Coli, onde os grupos escalados das diferentes Unidades de quadricula foram surpreendidos por bigrupos de guerrilheiros do PAIGC, no caso da CART 3494 em 22ABR1972 e 01DEC1972, daí resultando baixas de ambos os lados. 

Outro tipo de segurança que realizávamos estava relacionada com a protecção às embarcações que navegavam no Geba, onde os Gr Comb da CART 3494, algumas vezes reforçados por Gr Comb da CCAÇ 12,  percorriam os itinerários ícones do Xime, como sejam os exemplos de «Ponta Varela», «Madina Colhido», «Gundaguê Beafada» e «Poindon», em patrulhamentos ofensivos, montagem de emboscadas e outras missões/acções mais específicas, umas vezes com contactos outras de sentido inverso.

Perante o exposto, em que situações era possível “fazer batota”?.

Ab. Jorge Araújo

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Guiné 63/74 - P16790: Inquérito 'on line' (90): A "batota" que fazíamos (ou não....) quando em operações, no mato: a votação termina no domingo, dia 4, às 18h42... Só tínhamos, até hoje de manhã, 37 respostas, o que é pouco, o habitual é 100... Por lapso, não se incluiu a hipótese de resposta 19: "Não, não se fazia batota"...



Guiné > Região de Tombali > Ilha do Como > Op Tridente (14 de janeiro a 24 de março de 1964) > LDG, desembarcando tropas

Foto: © Mário Dias (2005), Todo os direitos reservados




I. INQUÉRITO 'ON LINE': 



"A BATOTA QUE FAZÍAMOS NA GUERRA"... 
ASSINALAR UMA OU MAIS FORMAS



Resultados preliminares (n=37 respostas, até hoje de manhã)


As formas mais frequentes de 'batota'...


2. Emboscar-se perto do quartel > 15 (40%)

17. Começar a “cortar-se", com o fim da comissão à vista > 15 (40%)

1.“Acampar” na orla da mata, ainda longe do objetivo > 9 (32%)

10. Falsas justificações para perda de material > 9 (24%)

3. “Andar às voltas” para fazer tempo > 9 (24%)

16. Falsificar o relatório da ação > 8 (21%)

4. Evitar o contacto com o IN (não abrindo fogo) > 7 (18%)

14. Simular problemas de saúde > 7 (18%)

18. Outras formas > 7 (17%) 

11. Reportar “enganos” do guia nos trilhos > 6 (16%)


As formas menos frequentes de 'batota'...


6. Alegar dificuldades de ligação com o PCV > 5 (13%)

9. Sobrevalorizar o nº de baixas causadas ao IN > 5 (13%)

15. Regresso antecipado ao quartel p/ alegados problemas de saúde> 5 (13%)

7. Enganar o PCV sobre a posição das NT > 4 (10%)

8. Outros problemas de transmissões > 3 (8%)

5. Provocar o silêncio-rádio > 2 (5%)


As formas de 'batota' ainda não referidas...


12. Deixar fugir o guia-prisioneiro > 0 (0%)

13. Liquidar o guia-prisioneiro > 0 (0%)



II  Comentário do editor (*):


Repare.se que falamos de "batota" grupal ou coletiva, ou seja a nível de seção, pelotão ou companhia. Não falamos de "batota" individual, "fazer ronha", "desenfiar-se", etc,,, Falamos de batota operacional, não falamos da batota que os nossos generais e políticos faziam... Falamos da "pequena" batota... E muito menos ainda de "resistência" (política) à guerra... São coisas diferentes...

É evidente que ninguém tem que "enfiar a carapuça", tanto os superiores como os subordinados,,. É um assunto para se falar entre camaradas, incluindo os nossos copmandantes operacionais.

Nem é desonra nenhuma admitir-se. como mera hipótese teórica, "a batota que se fazia no mato"...

Os camaradas, que foram operacionais, sabem do que se trata... A generalidade admite  que sim, que havia várias formas possíveis de "gerir o esforço de guerra", podendo isso implicar  não cumprir, no todo ou em parte, as missões que nos eram confiadas... 

 Claro que o questionário não se aplica a nenhuma companhia  nem a ninguém, em particular. Não é isso que está em causa. Como diz o José Martins, fizeram-se dezenas, centenas de milhares de operações, em todo o período da guerra que vai de 1961 até 1974... 

Era bom ouvir (e saber ouvir)  testemunhos tanto dos velhinhos de 63/64 , como  também dos periquitos de 73/74 que fecharam a guerra

Passámos estes anos todos, "podemos abrir o livro", e falar "olhos nos olhos" uns com os outros, e escrever as nossas histórias, sobretudo as que ficaram por contar... Se calhar, ainda há muita história por contar... É isso que justifica a existência (e a longevidade) do nosso blogue (que é único no seu género).

Esste tema da "batota no mato" não é de fácil abordagem,,, Partimos do pressuposto que havia batota, que nós (ou os nossos "vizinhos do lado"... ) fazíamos algum tipo de batota...sem com isso comprometer deliberadamente a nossa segurança e a dos nossos camaradas.  

Até à data, e a dois dias de se encerrar a viotação (, no domingo, dia 4, às 18h42), este inquérito não teve grande adesão... Estamos longe das habituais 100 respostas... É preciso saber porquê... Há camaradas que disseram que este questionário não se aplicava à sua companhia... E, portanto, que a resposta só podia ser NÃO...

No questionário devia estar prevista essa hipótese: 19. Não, não se fazia batota no mato

As sondagens de opinião são frequentemente acusadas de utilizarem a técnica dos pressuspostos implícitos, de modo a manipular, voluntária ou involuntariamente, as respostas. Não foi essa a nossa intenção... Esquecemo-nos mesmo da hipótese 19. Não, não se fazia batota no mato...

Este procedimento do "pressuposto implícito" é utilizado conscientemente noutros contextos,. como por exemplo, o da entrevista piscoterapêutica, para fazer admitir, à pessoa que procura ajuda, aspectos delicados, do foro íntimo, que dificilmente ela  confessarioa. Por exemplo, o psiquiatra,  ao longo de uma anamnese,  não costuma pôr a questão ‘vocês masturbou-se?", antes pergunta directamente 'com que idade começou a masturbar-se?’. Há aqui um pressuposto implícito o de que a masturbação é um comportamento humano normal e universal, nomeadamenmte na adolescência e juventude.

Aqui também há um pressuposto implícito. Na guerra, há sempre algum tipo de batota ou forma de fazer batota.  Quantoaio resto, todos fonos heróis, ou como a gente diz aqui na Tabanca Grande, "mais do que homens, menos que deuses"...Bom fim de semana. E não se esqueçam, os retardatários, de responder ao inquérito "on line", diretamente no blogue, ao canto superior esquerdo,

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Nota do editor


(*) Último poste da série > 2 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16789: Inquérito 'on line' (89): Batota havia, ponto assente: Dancei conforme a música e, quando fui maestro, assumi... Dou três exemplos: a CCAÇ 12, no tempo do cap mil inf José Antóno de Campos Simão; o CIM de Bolama; e a CCAV 3404, em Cabuca (João Candeias, ex-fru mil, CCav 3404, CINM e CCAÇ 12, 1971/73)


Vd. postes anteriores:

1 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16783: Inquérito 'on line' (88): A malta fazia alguma batota a nível de pelotão, sobretudo no que dizia respeito aos locais de emboscada... [Mário Pinto, ex-fur mil at art, CART 2519 (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71); e José Manuel Cancela (ex-sold apont metralhadora, CCAÇ 2382, (Bula, Buba, Aldeia Formosa, Nhala, Contabane, Mampatá e Chamarra, 1968/70)]

30 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16780: Inquérito 'on line' (87): A "batota" que fazíamos quando em operações, no mato: a votação termina no domingo, dia 4, às 18h42... E já temos 28 respostas: "emboscar-se perto do quartel" (50%) é a forma mais referida, seguida de "começar a 'cortar-se', com o fim da comissão à vista" (46%)...Comentários: José Martins, César Dias, Rogério Cardoso


29 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16775: Inquérito 'on line' (86): A "batota" que fazíamos quando em operações, no mato: depois do 25 de abril de 1974, continuávamos a fazer patrulhamentos ofensivos, encontrávamos gente do PAIGC que vinha "visitar família no Bissorã", "partíamos mantenhas" e depois lá seguíamos à procura... do "turra"!... Além de cansados, sentíamo-nos "ridicularizados"... (Henrique Cerqueira, ex-fur mil, 3.ª CCAÇ/BCAÇ4610/72, e CCAÇ 13, Biambe e Bissorã, 1972/74)


28 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16769: Inquérito 'on line' (85): A "batota" que fazíamos quando em operações, no mato: quais as formas mais usadas ? Responder até domingo, dia 4 de dezembro, às 18h42

Guiné 63/74 - P16789: Inquérito 'on line' (89): Batota havia, ponto assente: Dancei conforme a música e, quando fui maestro, assumi... Dou três exemplos: a CCAÇ 12, no tempo do cap mil inf José António de Campos Simão; o CIM de Bolama; e a CCAV 3404, em Cabuca (João Candeias da Silva, ex-fur mil, CCav 3404, Cabuca, 1972, CCAÇ 12, Bambadinca e Xime, 1973, e CIM Bolama, 1973/74)


Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Cabuca > Brasão da CCAV 3404 / BCAV 3854... Este batalhão embarcou em 4 de julho de 1971 e regressou à Metrópole em 5 de outubro de 1973... Esteve sediado (comando e CCS) em Lamego (Comandante: ten cor cav António Malta Leuschner Fernandes). A CCAV 3405 esteve em Mareué e Nova Lamego. A CCAV 3406 em Madina Mandinga.   O João Candeias, fur mil, pertenceu originalmente a esta companhia, a CCAV 3404, antes de ingressar, em rendição individual, na CCAÇ 12.

Foto: Cortesia de Os Abutres de Cabuca


1. Comentário de João Candeias, nosso leitor e camarada (a quem já dirigimos, em vão, convite para integrar a Tabanca Grande):


Batota havia,  ponto assente.

Inicio de 1973,  estando a [CCAÇ] 12 sediada em Bambadinca e depois no Xime, nas operações comandadas pelo capitão Simão [, cap mil inf José António de Campos Simão],  não houve batota e sofremos duas emboscadas num curto espaço temporal. 

Quando o capitão não participava ficávamos recorrentemente "acampados" a uma distância relativamente curta do arame. Não vi nenhum sinal de desagrado tanto pelos quadros como pelos militares da província. Esta situação sempre foi aceite como "normal" e não era objeto de conversa nem de censura.

Em Bolama todos os dias saía uma secção comandada por um furriel para uma operação de 24 horas, 365 dias por ano. Era utilizado um Unimog 411. O furriel recebia um envelope onde estavam as instruções para essas 24 horas. Confesso que poucas vezes as cumpri na totalidade. O serviço terminava com a picagem da pista de aviação,  o que cumpri sempre a 100%.

Também em Bissau uma vez estive de sargento de piquete no Depósito Adidos e não cumpri o "programa" estabelecido que incluía uma inspeção à cadeia de Brá, que não fiz.

Em Cabuca, na Ccav 3404, comandada pelo capitão Moura, todas as operações eram cumpridas à risca.

Dancei conforme a música. E quando fui maestro assumi.

Tive várias experiências porque fui em rendição individual.

João Candeias, 
Ccav 3404, Ccaç 12, CIM Bolama
[Cabuca, Bolama, Bissau, Bambadinca, Xime, 1972/73] (**)

Guiné 63/74 - P16788: Notas de leitura (907): “Histórias Coloniais”, por Dalila Cabrita Mateus e Álvaro Mateus, A Esfera dos Livros, 2016 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 29 de Novembro de 2016:

Queridos Amigos,

Trata-se de um trabalho poliédrico sobre levantamentos, marchas de protesto, resistência à brutalidade dos anos 1930 aos anos 1960, nas colónias portuguesas, não escondendo paradoxos e contradições, sobretudo quanto ao número de vítimas.

Estranhamente, e quanto à greve do Pidjiquiti, não fazem referência ao detalhado relatório que o Comando da Defesa Marítima da Guiné fez logo a seguir para Lisboa, observaram tudo à distância de centenas de metros, como se sabe. Concorda-se com os autores que Amílcar Cabral colheu o ensinamento que era inviável na Guiné, naquele período tentar a subversão urbana, ficou Rafael Barbosa e um grupo na subversão, a direção do PAI partiu para Conacri, preparar a logística da guerrilha e os apoios internacionais.

Um abraço do
Mário


Conflitos sociais que preludiaram os tempos anticoloniais

Beja Santos

“Histórias Coloniais”, por Dalila Cabrita Mateus e Álvaro Mateus, A Esfera dos Livros, 2016[1] é o livro póstumo de dois investigadores que se debruçaram sobre matérias das lutas de libertação nacional. Como referem na apresentação, este acervo de ensaios descreve conflitos sociais significativos e determinantes em todas as antigas colónias portuguesas. E definem: “Significativos, porque mostram a violência e brutalidade associadas a uma dominação colonial insensível aos problemas das populações. Determinantes, porque estes conflitos sociais contribuíram para a formação da consciência nacionalista tendo acelerado a marcha das populações para a independência ou para a integração dos territórios nos países a que pertenciam”.

Os investigadores escolheram os seguintes conflitos para análise: a revolta de «Nhô Ambrose», Cabo Verde; o massacre de Batepá, S. Tomé; a invasão dos Satyagrahis, Goa; a revolta de Viqueque, Timor; a greve do Pidjiquiti, Guiné; a manifestação de Mueda, Moçambique; a greve da Baixa de Cassange, Angola e o motim 1-2-3, Macau. Conflitos que se situaram entre 1934 e 1966.

O que se pode entender por significativo e determinante nestes conflitos?

“Nhô Ambrose” é um conflito social que assumiu uma enorme carga simbólica, à volta da fome num contexto de secas e da crise 1929, de profundo desemprego, em que o porto de Mindelo perdera enorme atividade. No dia 7 de Junho de 1934, um grupo que foi engrossando, de homens, mulheres e crianças, arvorando um pano preto a servir de bandeira, percorreu algumas ruas da cidade de Mindelo, assaltaram estabelecimentos, as autoridades declararam o estado de sítio na cidade, houve dois mortos e vários feridos. Baltazar Lopes irá reconstituir a tragédia da fome e do protesto no seu romance "Chiquinho". Anos mais tarde, Amílcar Cabral recordará os acontecimentos.

O massacre de Batepá é um dos acontecimentos mais hediondos do período colonial português na segunda metade do século XX. Os autores detalham o trabalho nas roças, realizado por trabalhadores forçados, trazidos de Angola, de Moçambique e de Cabo Verde. Faltava mão-de-obra, pensou-se então integrar os forros, descendentes de brancos e de escravos alforriados no século XVI nessas atividades. O Governador Carlos Gorgulho inventou uma revolta comunista e exerceu uma repressão sem precedentes, a tal ponto que os relatórios da PIDE comentam negativamente os excessos, duvidando de qualquer caráter comunista nos protestos e enunciando provas de brutalidade e violência: os prisioneiros foram torturados com varapaus, tiras de borracha e chicotes; obtinham-se confissões através da intimidação, da tortura e de falsas acusações; quando os prisioneiros sucumbiam, Gorgulho determinava: "atirem essa merda ao mar para evitar aborrecimentos". O Ministro Sarmento Rodrigues indignou-se e agiu para afastar Gorgulho do governo de S. Tomé. O déspota queixou-se a Salazar, acabou condecorado.

Se é claro que o que se passou em Goa com a invasão dos Satyagrahis anuncia a firme determinação da União Indiana em ocupar o Estado da Índia, como aconteceu em Dezembro de 1961, a revolta de Viqueque tem pontos nebulosos como a instigação da Indonésia que semeou sentimentos de dissidência entre timorenses. Houve mortos em número ainda hoje impossível de determinar e deportações para Angola. É sabido que vários rebeldes deportados estiveram entre os 36 fundadores do partido APODETI – Associação Popular Democrática Timorense, que, desde o início, declarou que um Timor independente só podia ser economicamente viável se fosse apoiado pelos seus irmãos da Indonésia.

A greve do Pidjiquiti continua ainda hoje a ter versões díspares. Os investigadores citam várias fontes mas estranhamente não referem o importante relatório do Comando da Defesa Marítima feito em cima dos acontecimentos e com observação direta, visto que as suas instalações estavam a escassas centenas de metros do palco do tiroteio e do massacre. O PAIGC tirou lições da repressão, tentou utilizar a greve como acontecimento seu, o que nunca foi verdade.

A manifestação de Mueda envolveu os Macondes que desejavam negociar o regresso massivo de compatriotas seus a Moçambique. A população da região estava descontente pelos baixos preços a que eram pagos os seus produtos, bastante inferiores aos praticados no Tanganica. As autoridades detiveram alguns Macondes e começou o tiroteio. Mais tarde, Eduardo Mondlane, fundador e primeiro presidente da FRELIMO, sublinhou que os incidentes de Mueda tinham sido um importante ingrediente para lançar os Macondes na luta pela independência.

O que se passou na Baixa de Cassange está hoje altamente documentado, foi o ensaio geral da guerra colonial. E como observam os autores, a repressão brutal da luta dos cultivadores de algodão contribui para cavar ódios raciais que explodiriam em atos de barbárie e morticínio, desencadeados em Março e Abril de 1961, em todo o norte de Angola.

O motim 1-2-3 foi assim designado pelo facto de a imprensa norte-americana se referir aos acontecimentos pelo mês e dia dos grandes protestos dos chineses de Macau, que constituíam afinal 95% dos 270 mil habitantes do enclave. Tudo começou em 15 de Novembro de 1966, um grupo de chineses não se compadeceu com a burocracia para o início de obras de reparação e ampliação de um velho edifício para aí se instalar uma escola. Exerceu-se repressão, os chineses praticaram desmandos e depois de um laborioso período de negociações, a autoridade portuguesa ficou reduzida ao mais simbólico e com cláusulas vexatórias: as autoridades portuguesas foram obrigadas a entregar os agentes secretos da Formosa, mais tarde executados; proibidas associações opostas à República Popular da China; pagamento de indemnizações superior a 2 milhões de patacas, às vítimas da repressão.

Os autores recordam o acervo de documentos novos que foi possível consultar depois do 25 de Abril, bem como a recolha de testemunhos presenciais.
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Notas do editor

[1] - Vd. poste de 29 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16774: Agenda cultural (517) Acaba de sair, "Histórias Coloniais", livro póstumo de Dalila Cabrita Mateus (1952-2914) e e Álvaro Mateus (1940-2013) . Edição: A Esfera dos Livros, Lisboa, 2016

Último poste da série de 28 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16770: Notas de leitura (906): “António Carreira, Etnógrafo e Historiador”, por João Lopes Filho edição da Fundação João Lopes, Praia, Cabo Verde, 2015 (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P16787: Parabéns a você (1169): Herlânder Simões, ex-Fur Mil Art da CART 2771 e CCAÇ 3477 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 1 de Dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16781: Parabéns a você (1168): Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2208 (Guiné, 1969/71)

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16786: Agenda cultural (526): Porto, Unicepe, 5 de dezembro de 2016: às 18h15: apresentação do livro do nosso camarada Paulo Salgado "Guiné: crónicas de guerra e amor".


1. Mensagem do editor António Lopes, com data de 29 de novembro  último:

Amigos,

Desta vez convido-os para estarem na UNICEPE, Porto, no dia 5 de Dezembro, pelas 18h15
para acompanharmos a Paulo Cordeiro Salgado, com a sua obra GUINÉ - Crónicas de Guerra e Amor.

Atentamente,


Lema d'Origem - Editora, Ldª
NIPC: 509 059 473
Endereço de email; editora@lemadorigem.pt
URL/ http://lemadorigem.pt
Facebook: https://www.facebook.com/LemadOrigem

Guiné 63/74 - P16785: Manuscrito(s) (Luís Graça) (103): E no 1º de dezembro, a banda a tocar o Ti Zé da Pera Branca...


E no 1º de dezembro,
a banda a tocar
o Ti Zé da Pera Branca

por Luís Graça





(...) E no 1º de dezembro, a banda a tocar
o Ti Zé da Pera Branca,
que era uma paródia  do hino da Restauração,
o hino que um punhado de patriotas,

vagamente monárquicos e republicanos do reviralho,
fazia seu, na tua aldeia,
quiçá para acicatar o Franco de Espanha
e o Salazar de Portugal...


... mas a gente sabia lá 

quem era o Franco, o Salazar
e os grandes deste mundo!
Na escola, só sabíamos do tal Vasconcelos,

que seria defenestrado 
na manhã libertadora do 1º de dezembro,
para exemplo dos traidores da pátria,
os lacaios que  tinham servido os Filipes,

durante a longa noite de sessenta anos,
como te ensinava a tua professora.
Fonte: portugal. Ministério da Educação Nacional -
Livro de leitura da 3ª classe . Carvalhos :
 Liv. dos Carvalhos, imp. 1958. 1 vol., p. 159

Fazia frio, de tremer o queixo, 
nas efemérides do 1º de dezembro de 1640,
e ias agarrado ao capote do teu pai,
a gritar morte ao traidor,

atrás da banda,
pelas ruas e vielas da tua aldeia:
Vais Com Cuspo e Selo, Vais, 
Vasconcelos!
Morte a Castela

e aos seus serviçais!


Sabias lá tu, meu menino,
quem era a pátria,
e o pai da pátria?!
E os seus heróis,
mais do que homens,
menos do que deuses,
sabias lá tu
quem era eles, os heróis 
e os traidores?!

Sabias lá tu quem era o senhor,
professor,
doutor,
Salazar,
o rapa-o-tacho,
a colher de pau
que a tua mãe usava na cozinha ?!


Não sabias, pois claro,
mas tinhas-lhe medo,
ao cara de pau,
de nariz aquilino, 

especado na parede da tua escola do Conde de Ferreira,
olhando-te de soslaio,
vigiando-te e punindo-te,
que os símbolos do poder, 

–   Ouve lá, menino ou menina!  ,
eram como o código de barras da zebra: 
–  Ou memorizas ou morres, 
logo à primeira,
mal nasças, ó zebrinha!


De um lado, o Craveiro Lopes,
que irá a marechal de opereta,
e do outro o Salazar,
ou era ainda o Óscar Carmona,
o dos bigodes farfalhudos ?


Não te esqueças dos nomes 
dos altos magistrados da Nação
que tos podem perguntar, em Lisboa,
no teu exame da admissão! (...)



Excerto de:

Luís Graça - Autobiografia: com Brughel domingo à tarde
(poema, inédito, 2005, c. 40 pp)

Guiné 63/74 - P16784: Agenda cultural (525): comemoração do 1º de dezembro: 5º Desfile Nacional de Bandas Filarmónicas: Lisboa, av da Liberdade, hoje , a partir das 15h: 1600 músicos, 35 bandas e agrupamentos de todo o país... Desfile culmina com a interpretação conjunta de 3 hinos patrióticos, Maria da Fonte, Restauração e Nacional



Lisboa, praça dos Restauradores, 29 de novembro de 2015. Comemoração do 1º dezembro 1640. 27 bandas, oriundas de todo o país tocam o hino da Restauração.

Vídeo (1' 01') Alojado em You Tube > Luís Graça




Hino da Restauração (letra)

Portugueses, celebremos
O dia da Redenção,
Em que valentes guerreiros
Nos deram livre a Nação.

A Fé dos Campos de Ourique
Coragem deu e valor
Aos famosos de Quarenta
Que lutaram com ardor.

P'rá frente! P'rá frente!
Repetir saberemos
As proezas portuguesas.

Avante! Avante!
É voz que soará triunfal
Vá avante,  mocidade de Portugal!
Vá avante,  mocidade de Portugal!



DESFILE NACIONAL DE BANDAS FILARMÓNICAS | COMEMORAÇÕES DO 1º DE DEZEMBRO

Fonte: Sítio da Câmara Municipal de Lisboa (com a devida vénia)


O desfile vai juntar cerca de 1600 músicos, de 35 bandas filarmónicas e agrupamentos de todo o país, que se reúnem em Lisboa para desfilar na Avenida da Liberdade, terminando com uma atuação conjunta nos Restauradores.

A apresentação do 5º Desfile Nacional de Bandas Filarmónicas é também uma homenagem a esta prática musical com mais de 200 anos que, um pouco por todo o país, continua a desempenhar um importante papel na formação cívica e musical de crianças e jovens.
 (*)

O desfile tem início às 15 horas, na Avenida da Liberdade, junto à Estátua dos Combatentes da Grande Guerra e termina nos Restauradores, com todos os grupos reunidos para interpretar o Hino da Maria da Fonte, o Hino da Restauração e o Hino Nacional, sob direção do Maestro da Banda Sinfónica do Exército, Tenente Duarte Cardoso. Acesso livre.

Esta iniciativa é uma parceria entre a Câmara Municipal de Lisboa, a EGEAC e o Movimento 1º de Dezembro. (**)


ALINHAMENTO 5º DESFILE NACIONAL DE BANDAS FILARMÓNICAS



Tocá a Rufar
Grupo de Bombos de Atei
Banda Sinfónica do Exército
Banda Anfitriã: Associação para o Desenvolvimento Social e Cultural de Marvila (Lisboa)


Açores: 
Sociedade Filarmónica União e Progresso Madalense (Pico – Madalena)

Aveiro: 
Banda Musical de S. Tiago de Lobão (Sta. Maria da Feira)

Beja: 
Banda da Sociedade Filarmónica União Mourense “Os Amarelos"  (Moura)

Braga: 
Banda Filarmónica de Santa Maria de Bouro (Amares)
Banda Marcial de Arnoso (Vila Nova de Famalicão)


Bragança: 
Banda Filarmónica do Brinço (Macedo de Cavaleiros)
Banda de Música 1º de Maio (Mirandela)


Castelo Branco
Filarmónica Retaxense (Castelo Branco)
Filarmónica Recreativa Cortense (Covilhã)
Sociedade Filarmónica Oleirense (Oleiros)
Sociedade Filarmónica de Educação e Beneficência Fratelense (V. V. Rodão)


Coimbra: 
Sociedade Recreativa Instrutiva e Beneficente Santanense (Figueira da Foz)
Filarmónica Sangianense (Oliveira do Hospital)


Évora: 
Banda Filarmónica da Casa do Povo de Nª Sra de Machete  (Évora)
Banda da Sociedade União Alcaçovense (Viana do Alentejo)


Faro: 
Banda Musical de Tavira

Guarda: 
Banda Academia de Santa Cecília – S. Romão (Seia)
Sociedade Musical Estrela da Beira - Seia


Leiria: 
Sociedade Filarmónica Maiorguense (Alcobaça)
Banda Recreativa Pedroguense (Pedrogão Grande)


Lisboa: 

Associação Musical de Cabanas de Torres (Alenquer)
Sociedade Filarmónica 1º de Dezembro da Encarnação (Mafra)


Portalegre: 
Banda Juvenil do Município do Gavião
Sociedade Musical Euterpe de Portalegre



Porto: 

Banda Musical de S. Vicente de Alfena (Valongo)

Santarém: 
Sociedade Filarmónica União Maçaense (Mação)
Sociedade Filarmónica Gualdim Pais (Tomar)

Setúbal: 
Sociedade Filarmónica Incrível Almadense (Almada)

Viana do Castelo
Banda Filarmónica da Associação Musical de Vila Nova de Anha (Viana do Castelo)

Viseu: 
Sociedade Filarmónica da Fraternidade de São João de Areias (Sta. Comba Dão)

Guiné 63/74 - P16783: Inquérito 'on line' (88): A malta fazia alguma batota a nível de pelotão, sobretudo no que dizia respeito aos locais de emboscada... [Mário Pinto, ex-fur mil at art, CART 2519 (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71); e José Manuel Cancela (ex-sold apont metralhadora, CCAÇ 2382, (Bula, Buba, Aldeia Formosa, Nhala, Contabane, Mampatá e Chamarra, 1968/70)]


Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa (Quebo) > ..CART 2519, "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71) > A primeira secção do fur mil at art Mário Pinto.

Foto (e legenda): © Mário Pinto(2009). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Dois comentários ao poste P16780 (*)


(i) Mário Pinto [ex-fur mil at art, 

CART 2519, "Os Morcegos de Mampatá" (Buba,  Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71)]

Não posso confirmar se alguma vez houve batota na ninha companhia, a  CART. 2519,  e se o que vou expor pode ser considerado batota.

No princípio da nossa comissão,  depois da construção da nova estrada Buba-Aldeia Formosa em 1969, fomos colocados em Mampatá e tinhamos como principal missão a contra-penetração do corredor de Missirá. 

Todos os dias um Gr.Com,  reforçado com milicias e uma secção do Pelotão de Caçadores Nativos, deslocava-se para um local previamente determinado afim de emboscar por um período de 24 horas. Ao princípio foi cumprido na integra,  apesar das contrariedades que tinhamos com várias situações que aconteciam ao longo do período que nos era destinado à permanência no local. (necessidades fisiológicas, ansiedades por diversos motivos, mosquitada, calor abundante, saturação, etc.).

Tudo isto e mais algumas coisas não permitiam que a emboscada tivesse sucesso porque,  derivado ao desassossego que se apoderava dos militares emboscados,  permitia ao IN detectar-nos a longa distância e assim abortare a passagem no local ou atacarem-nos, (facto que por acaso nunca aconteceu, não sei porquê). 

Quero dizer com isto que,  uns tempos mais tarde,  começamos por nossa iniciativa a contrariar as ordens da missão. Ficávamos no corredor as primeiras horas e retirávamos para outro local, quando o pessoal começava no desassossego, mas sempre próximos do nosso objectivo, local em que pudessemos controlar a área envolvente ao nosso objectivo. 

Até porque o comandante de operações de Aldeia Formosa, na altura o major Pezarat Correia,  tinha por hábito meter-se numa DO e ir inspeccionar o local onde se encontravam as tropas. ( Eu tinha por hábito dizer que o Major andava a mostrar ao IN onde nós nos encontrávamos emboscados, mas isso é outra história.)

Apesar deste esquema engendrado por nós, conseguimos ter vários êxitos de capturas de material, como consta no nosso historial. O nosso capitão  só veio a saber deste esquema quase no fim da nossa comissão, porque esteve sempre convicto que nós passávamos as 24 horas no local pré estabelecido.



(ii) José Manuel Cancela [ex-soldado apontador de metralhadora, CCAÇ 2382, Bula, Buba, Aldeia Formosa, Nhala, Contabane, Mampatá e Chamarra, 1968/70]

Havia batota a nível de pelotão.

Por mais que uma vez saíamos do Quartel, com chuva e trovão, para irmos emboscar a três
quilómetros.

Passada a pista de aviação,fora do arame farpado, embrenhávamo-nos na mata,e era aí que passavamos o tempo.

Parece-me que todos o faziam, a nível de pelotão.
_______________

Guiné 63/74 - P16782: Agenda cultural (524): Convite para a sessão de apresentação do livro "História(s) da Guiné-Bissau - Da Luta de Libertação aos Nossos Dias", da autoria de Mário Beja Santos, a levar a efeito no dia 6 de Dezembro de 2016, pelas 18,00 horas, no Auditório da Associação Nacional das Farmácias, Rua Marechal Saldanha, em Lisboa (Mário Beja Santos / Editores)




1. Em mensagem do dia 24 de Novembro de 2016, o nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), autor do livro "História(s) da Guiné-Bissau - Da Luta de Libertação Aos Nossos Dias", enviou-nos um extrato deste livro, a pedido do editor Luís Graça.


Extrato do livro “História(s) da Guiné-Bissau”, a lançar em 6 de Dezembro 

Os últimos dias de Portugal na Guiné Portuguesa

Beja Santos

A 27 de Abril, começaram em Bissau manifestações populares exigindo a libertação dos presos políticos, extinção da PIDE/DGS e a abertura de negociações com o PAIGC. A agitação crescia cada vez que chegavam jornais de Lisboa.

É um tropel de acontecimentos, parece que os próprios atores não têm comando no conjunto da peça. A 7 de Maio, Carlos Fabião, graduado em brigadeiro, escolhido por confiança de Spínola, seguramente tendo em consideração os doze anos que levara em comissões na Guiné, é nomeado como Encarregado do Governo e Comandante-Chefe da Guiné. Quando chega a Bissau, logo se apercebe que a missão de Spínola o encarregara perdera a razão de ser. Regista-se indisciplina nas Unidades, o MFA local vai tomando conta do poder, a Comissão Coordenadora estende-se à Armada e Força Aérea, qualquer esforço defensivo e dar continuidade ao processo político de autodeterminação são meros exercícios de retórica. Em Lisboa, o poder político procura negociar com o PAIGC, Mário Soares, já Ministro dos Negócios Estrangeiros, viaja para Dakar, conversa amistosa com os líderes senegaleses e com Aristides Pereira, o encontro é inconclusivo, não havia ainda qualquer compromisso formal sobre o cessar-fogo. Seguir-se-ão conversações em Londres e em Argel, todo este processo da descolonização conhece clarificação com a Lei 7/74, onde se inclui a aceitação da independência dos territórios ultramarinos. Em 10 de Setembro, em Lisboa, ocorre o reconhecimento de jure. Em 24 de Setembro, em Madina do Boé foram solenemente comemorados o cinquentenário de Amílcar Cabral, os 17 anos do PAIGC (alegadamente fundado em 19 de Setembro de 1956) e o primeiro aniversário da independência, as autoridades portuguesas estão presentes.

A descompressão da guerra passara a ser uma realidade, a seguir ao 25 de Abril começaram encontros mais ou menos formais, de um modo geral, independentemente de casos de indisciplina, de alguma agressividade bacoca de alguns líderes militares do PAIGC, a paz em respeito mútuo alargou-se pelo território. Na sequência deste processo foram-se estabelecendo protocolos para uma retirada das tropas portuguesas e a entrada das forças do PAIGC. Para dar cumprimento ao anexo dos acordos de Argel tomaram-se medidas que vieram a ter consequências dramáticas. Vejamos como.

Dentro dos 28 pontos deste anexo, há que relevar as seguintes matérias: as Forças Armadas Portuguesas entrariam em retração e facilitariam a transmissão gradativa dos serviços da administração; a República da Guiné-Bissau obrigava-se a neutralizar os seus meios antiaéreos suscetíveis de afetar a circulação de aeronaves e de voos de reconhecimento no espaço aéreo à responsabilidade das Forças Armadas Portuguesas; as Forças Armadas Portuguesas obrigavam-se a desarmar as tropas africanas sob o seu controlo; uma comissão mista coordenaria a ação das duas partes; o governo português comprometia-se a pagar todos os vencimentos até 31 de Dezembro de 1974 aos cidadãos da República da Guiné-Bissau desmobilizados das suas forças militares ou militarizadas, bem como aos civis cujos serviços às Forças Armadas portuguesas ficavam dispensados; o governo português comprometia-se a pagar as pensões de sangue, de invalidez e de reforma a que tinham direito quaisquer cidadãos da República da Guiné-Bissau por motivo de serviços prestados às Forças Armadas Portuguesas; o governo português participaria num plano de reintegração na vida civil dos cidadãos da República da Guiné-Bissau que tivessem prestado serviço militar nas Forças Armadas Portuguesas e, em especial, dos graduados das Companhias de Comandos Africanos.

O que se irá passar, e de acordo com a escassa documentação existente, é que as Forças Armadas portuguesas abandonaram o território dentro dos prazos estipulados, e não se cuidou de garantir a normalidade do sistema económico e financeiro da própria vida administrativa e da natureza dos serviços de primeira grandeza, a começar pela saúde e pela educação, garantia do abastecimento a todos os níveis, e uma adaptação equilibrada na transferência da ordem colonial para a República independente. Em “Crónica da Libertação”, Luís Cabral virá dizer que encontrou os cofres vazios quando chegou a Bissau, que os colonialistas tinham partido com tudo, e com esta frase parecia deixar no ar que houvera um abandono puro e simples e que as novas autoridades foram confrontadas com o vazio do poder. Obviamente que a questão é mais complexa. O PAIGC, em toda a sua ingenuidade, estimara que o modelo administrativo adotado na luta de libertação se podia aplicar automaticamente à nova situação, com correções e ajustes. Presidia a mentalidade da coletivização, nunca se dimensionou que os Armazéns do Povo transacionavam muitos bens oferecidos por países amigos e que havia uma troca com as populações fora de controlo das autoridades portuguesas que entregavam os seus produtos agrícolas.

Não há uma referência nos Acordos de Argel à manutenção da presença portuguesa num regime de transição faseado, para evitar sobressaltos no funcionamento dos hospitais, dos estabelecimentos escolares, dos portos e na própria recolha de impostos. Com sobranceria, os quadros dirigentes do PAIGC julgavam-se capacitados para pôr pessoas habilitadas em todos os postos. E havia um fator ideológico preponderante, muito mais tarde invocado como fator determinante: era preciso mostrar aos movimentos de libertação irmãos (MPLA e FRELIMO) que o sistema colonial estava a soçobrar, era irreversível, as conversações para a independência de Angola e Moçambique não podiam ser arrepiadas por manobras dilatórias.

O PAIGC parecia embalado pela Constituição do Boé, acreditava piamente numa vigorosa participação popular que faria enfunar as velas dos ventos revolucionários, e que rapidamente se poria em ação uma política económica enfocada no investimento industrial e no setor público. Acresce que a Constituição do Boé dava como certo e seguro o funcionamento das instituições: a Assembleia Nacional Popular, o Conselho de Estado, o Conselho dos Comissários de Estado, os Conselhos Regionais e o Poder Judicial. Atente-se que no artigo primeiro da Lei n.º 3/73, de 24 de Setembro, foi nomeado o primeiro Conselho de Comissários de Estado, tendo como Comissário Principal Chico Té e 15 comissários e subcomissários. Como é óbvio na generalidade dos casos, estes dirigentes políticos estavam impreparados para enfrentar a realidade de um território descolonizado à pressa e inadaptado aos sonhos de Amílcar Cabral. Aliás, o líder fundador previra dificuldades de monta para reverter a economia colonial ao modelo que ele preconizava que seria uma adaptação de economia planificada onde a experiência vivida nos anos da luta tivesse a sua quota-parte de inserção.

E vamos assistir ao esbarrondar desses sonhos, ao agravamento de tensões internas, a escolhas económicas erradas e a uma total incapacidade de proceder a uma reconciliação nacional, isto quando uma boa parte da antiga colónia tinha participado no processo de “africanização” da guerra e tomado declaradamente partido pelas propostas de Spínola.
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Notas do editor

Vd. poste de 19 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16736: Agenda cultural (513): Lançamento do livro "História(s) da Guiné-Bissau", por Mário Beja Santos, dia 6 de Dezembro de 2016, pelas 18 horas, no Auditório do Museu da Farmácia, Rua Marechal Saldanha, Lisboa... Visita (gratuita) ao Museu de Farmácia e recital de Kora com o grande Braima Galissá!...

Último poste da série de 29 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16774: Agenda cultural (517) Acaba de sair, "Histórias Coloniais", livro póstumo de Dalila Cabrita Mateus (1952-2914) e e Álvaro Mateus (1940-2013) . Edição: A Esfera dos Livros, Lisboa, 2016

Guiné 63/74 - P16781: Parabéns a você (1168): Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2208 (Guiné, 1969/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 26 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16761: Parabéns a você (1167): Jorge Teixeira, ex-Fur Mil Art da CART 2412 (Guiné, 1968/70) e Manuel Lima Santos, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3476 (Guiné, 1971/73)

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16780: Inquérito 'on line' (87): A "batota" que fazíamos quando em operações, no mato: a votação termina no domingo, dia 4, às 18h42... E já temos 28 respostas: "emboscar-se perto do quartel" (50%) é a forma mais referida, seguida de "começar a 'cortar-se', com o fim da comissão à vista" (46%)... Comentários: José Martins, César Dias, Rogério Cardoso



Guiné  > Região do Oio > Bissorã > CART 643/BART 645 (Bissorã, 1964/66) > "Roncos": armas apreendidas ao IN, numa operação com a CCaç 564 . Fotos do álbum do fur mil manut Rogério Cardoso,  A CART 643 teve 7 Cruzes de Guerra e dezenas de louvores. (*)

Fotos (e legendas): © Carlos Brito / Rogério Cardoso (2009). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




I. INQUÉRITO 'ON LINE':

"A BATOTA QUE FAZÍAMOS NA GUERRA"... ASSINALAR UMA OU MAIS FORMAS




Resultados preliminares (n=28 respostas, até ao meio dia de hoje)

As formas mais frequentes de 'batota'...


2. Emboscar-se perto do quartel > 14 (50%)

17. Começar a “cortar-se", com o fim da comissão à vista > 13 (46%)


1.“Acampar” na orla da mata, ainda longe do objetivo  > 9 (32%)

10. Falsas justificações para perda de material  > 9 (32%)

3. “Andar às voltas” para fazer tempo  > 8 (28%)

16. Falsificar o relatório da ação  > 8 (28%)

14. Simular problemas de saúde  > 6 (21%)


As formas menos frequentes de 'batota'...

6. Alegar dificuldades de ligação com o PCV  > 5 (17%)

9. Sobrevalorizar o nº de baixas causadas ao IN  > 5 (17%)

11. Reportar “enganos” do guia nos trilhos  > 5 (17%)

15. Regresso antecipado ao quartel p/ alegados problemas de saúde> 5 (17%)

18. Outras formas  > 5 (17%) 

4. Evitar o contacto com o IN (não abrindo fogo)  > 4 (14%)

7. Enganar o PCV sobre a posição das NT  > 4 (14%)

8. Outros problemas de transmissões  > 3 (10%)

5. Provocar o silêncio-rádio  > 2 (7%)


As formas de 'batota' ainda não referidas...

12. Deixar fugir o guia-prisioneiro  > 0 (0%)

13. Liquidar o guia-prisioneiro  > 0 (0%)


II Os três primeiros comentários dos nossos camaradas (**):



(i) José Marcelino Martins

Por serem muitas as operações desenvolvidas, por muitas subunidades, agora podem contar-se "por muitas" as batotas feitas.

Uma das causas mais apontadas, eram as transmissões que, por "esgotamento dos equipamentos" e as más condições de propagação rádio, [falhavam por vezes].

Ao ler os relatórios das operações, somos obrigados a "relembrar" algumas habilidades.


(ii) Cesar Dias

Na resposta nº 17ª  estão inseridas várias das primeiras, mas era sempre um risco não cumprir o objectivo, principalmente quando as coisas corriam mal e era necessário bater a zona com os obuzes. Isto aconteceu.


(iii) Rogério Cardoso

Pouco tempo depois da chegada à Guiné,  em 1964, soubemos de uma bronca, que se passou numa companhia, pertencente ao BCAV  490, e que serviu de exemplo ao BART 645, Águias Negras. Um comandante de  secção saiu com os seus homens para uma patrulha, mas passados 1 ou 2 km, simularam uma emboscada, sendo "a arma do inimigo a FBP", e claro voltaram para o quartel, que salvo erro era em Farim, a correr.

O cmdt do BCAV 490, Fernando Cavaleiro, que era um grande conhecedor da matéria, quis ir ao local, e assim aconteceu. Deparou com as cápsulas de 9 m/m com a inscrição Braço de Prata [BP] e,  como o crime nunca é perfeito, apanhou o infrator logo à primeira.

Segundo me contaram, mandou reunir a companhia  ou o batalhão  e deu um par de bofetadas no furriel, não sabendo eu se ele foi despromovido ou não.

Ora bem, foi esta história,  que não tenho a certeza se foi veridica, que nos chamou à atenção, e posso garantir que pelo menos a CART 643, cumpriu a 100% todas as ordens do seu valoroso cap.Ricardo Silveira,,,

Só não cumpriu a entrega dos prisioneiros na sede do batalhão,  porque os primeiros apanhámo-los pouco tempo depois com armas na mão, tendo o nome de recuperados. Então eramos nós que faziamos o interrogatório, para as saidas serem o mais rápido possivel.

Portanto o questionário,  para nós,  não se aplica.

PS _ Desculpem, mas acrescento mais, aos militares da CART 643, foram atribuidas 7 Cruzes de Guerra e dezenas de louvores, atribuidos pelo Com de Sector, tudo isto não foi conquistado com "ronha".

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(**) Últimos postes da série:

Guiné 63/74 - P16779: Os nossos seres, saberes e lazeres (188): De novo em Bruxelas e a pensar nas Ardenas (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 29 de Junho de 2016:

Queridos amigos,
Ainda não completamente refeito de uma memorável digressão aos países eslavos do Sul, correspondendo ao apelo insistente de amigos que apreciam a nossa companhia, estou de regresso a Bruxelas, e ainda na fase de organizar a agenda turística já sonho andar à cata de trastes em feiras de velharias, à cata de livros em livrarias de segunda mão.
Apanhei o Maio floral em todo o seu esplendor, é um tempo apertado em que este concerto polifónico está ao dispor de quem aprecia deambular por floretas e jardins.
Aqui fica o primeiro dia da chegada, uma sinfonia de begónias, lírios e malmequeres, antes e depois de um aprazível passeio pela floresta de Soignes com as suas catedrais de faias e carvalhos.

Um abraço do
Mário


De novo em Bruxelas e a pensar nas Ardenas (1)

Beja Santos

É o regresso a Bruxelas depois dos atentados terroristas em Zaventem e da estação de metro de Malbeek. O avião aterra, saímos, e nota-se à vista desarmada que há alterações de fundo, há contingentes militares, o grau de vigilância intensificou-se. Venho por uma semana em cheio, propus ao anfitrião um aproveitamento integral da Bruxelas floral, pois estamos em Maio, explodem por todos os cantos as florescências, das árvores aos arbustos. Chegado a uma casa que me é tão familiar, em Watermael-Boisfort, mesmo na fronteira da cidade com o Brabante flamengo, uma delicada mão feminina preparou as boas-vindas com este arranjo de fruta e flores, Felizmente que há luz para registar esta intensa demonstração de ternura.




Parti pela alva para aproveitar a parte da tarde, tive imensíssima sorte, mesmo com as vigilâncias de Zaventem. Come-se ligeiro e parte-se com o pé ligeiro para a floresta de Soignes, o tal pulmão verde situado a menos de 10 km do centro da cidade e que cobre mais de 10% de superfície regional. É mentira que vá de pé ligeiro, não há canto nem recanto que não suscite a atenção, são as azálias, as begónias, os castanheiros da Índia, as rosas multicolores, as árvores de fruto, é o segundo aceno de boas-vindas, acreditasse eu no panteísmo e diria que esta Bruxelas floral não tem sombra de dúvida que este estrangeiro que por aqui se passeia ama perdidamente a capital belga.



Estas duas imagens não estão aqui por acaso, é necessário chegar à floresta atravessando um extenso bulevar, chamado bulevar do Soberano. Mesmo a arquitetura moderna tem grossas paliçadas florais, é uma sensação bizarra de tanto trânsito, tanto cosmopolitismo e sentir-se abertamente que a escassos metros a floresta espreita. Contemplava o charco e via o vento trazer os pólenes na celebração do seu mistério, por caminhos que o olho humano não deteta esses pólenes fecundam, haverá germinações num outro tempo e não se sabe a que tal distância elas irão ocorrer. O que interessa é que também atapetam as águas. Impossível não captar esta concelebração da vida, a natureza em pleno movimento na aparente quietude da paisagem.


Logo à saída de casa me despertou a atenção este pespontar de rosas, grandes gotas de sangue, andou por ali o amestramento de jardineiro ou jardineira, aliás ao meu lado sussurravam comentários sobre as vantagens de cortar as rosas velhas para rebentarem novos botões. O que gosto na imagem é o vigor da natureza como se estivesse a bater à janela, é uma ode ao bom tempo, com o calor ameno celebra-se a canção da terra.



Também não se acasalam estas duas imagens por acaso. Na linha do casario que precede a travessia da artéria principal há casas cujos jardins nos recebem de branco imaculado, uma lembrança de neve fora de tempo, é tão intenso o caramanchão de branco que seria crime fugir à imagem. E agora estamos na floresta de Soignes, bendita a luz por estes raios de sol, bendito o tempo sem céus de chumbo, tão sorumbáticos, temos boas horas para palmilhar, passam cavaleiros, ciclistas, cães ofegantes, gente a correr e a marchar e há o potentado do silêncio nestas catedrais de faias e carvalhos. E bendito este dia de Maio, já entardece e não arrefece, vamos continuar.



No retorno a Watermael-Boisfort, agora já com os pés cansados, com uma passagem pela cervejaria, aqui se deixa as últimas saudações florais, parece milagre a presença desta paleta de cores, assiste-se a um privilégio que dura escassas semanas, parece que acertei no dia e na hora. Amanhã será diferente, haverá viagem de metro até ao centro da cidade, viajo com alguém que desconfia em permanência do tempo Nórdico e que neste exato momento até questiona, à boa moda britânica, se não deve passar mais tempo a aproveitar o apogeu floral. Mas não, amanhã começa-se o dia em Bruxelas capital, o primeiro monumento será uma igreja de nome Nossa Senhora do Bom Socorro, monumento barroco, por estar perto da Grand Place foi em grande parte destruída pelos bombardeamentos de 1695 do marechal Villeroy, às ordens de Luís XIV, e reconstruída no final do século XVII. Ninguém ignora que o Norte da Europa, católico ou protestante, se laiciza a passos gigantescos e os templos religiosos recebem turistas e cada vez menos crentes. Amanhã iremos visitar uma igreja vazia, felizmente que haverá música de fundo a tentar colmatar a ausência dos cânticos dos fiéis.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 29 de Novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16776: Os nossos seres, saberes e lazeres (187): A medicina antes do 25 de Abril - Intervenção, no âmbito do 11.º Congresso da FNAM - Federação Nacional dos Médicos (Adão Cruz ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547)