terça-feira, 10 de outubro de 2017

Guiné 61/74 - P17844: As memórias revividas com a visita à Guiné-Bissau, que efectuei entre os dias 30 de Março e 7 de Abril de 2017 (7): 5.º Dia: Bissau, Safim, Bula, Binar e Bissorã (continuação) (António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil)


1. Continuação da publicação das "Memórias Revividas" com a recente visita do nosso camarada António Acílio Azevedo (ex-Cap Mil, CMDT da 1.ª CCAV/BCAV 8320/72, Bula e da CCAÇ 17, Binar, 1973/74) à Guiné-Bissau, trabalho que relata os momentos mais importantes dessa jornada de saudade àquele país irmão.

AS MINHAS MEMÓRIAS, REVIVIDAS COM A VISITA QUE EFECTUEI À GUINÉ-BISSAU ENTRE OS DIAS 30 DE MARÇO E 7 DE ABRIL DE 2017

AS DESLOCAÇÕES PELO INTERIOR DA GUINÉ-BISSAU (7)

5º DIA: DIA 03 DE ABRIL DE 2017 - BISSAU, SAFIM, BULA, BINAR E BISSORà
(Continuação)

BISSORÃ

Deixámos Binar para trás e encaminhámo-nos para a cidade de Bissorã, localizada cerca de 30 quilómetros para nascente, através de uma boa estrada, quase sempre plana e asfaltada, dando continuidade ao troço rodoviário que já tínhamos percorrido de Bula a Binar, ambos rodeados de grandes áreas florestais.

À entrada desta localidade, passámos por uma construção que já existia em 1973/1974 e que eu já conhecia, que com uma área coberta de cerca de 20 metros quadrados e aberta lateralmente, funcionava e continua a funcionar como Matadouro, conforme aliás se pode confirmar pela inscrição dessa palavra, em letras maiúsculas, sob o beiral do telhado, sendo neste local situado nas margens de um pequeno rio, que os seus habitantes matam ou mandam matar algum do seu gado que serve para a sua alimentação e que livremente passeia por todo o lado, como muitas vezes o pudemos verificar.

Foto 68 - Bissorã (Guiné-Bissau): Edifício, designado por Matadouro, conforme se pode ler na parte inferior do telhado e localizado à entrada da cidade, de quem vem de Binar, e local onde abatiam o gado, para alimentação

A maior curiosidade que ali se mostra e que pudemos confirmar no regresso por Binar, prende-se com o facto de depois do gado abatido e limpo, os proprietários das rezes, deixarem ali as vísceras, mas que ali páram pouco tempo, pois os jagudis (aves de rapina que muito abundam por todo o espaço da Guiné), se encarregam de fazer desaparecer em pouco tempo.

Chegados a Bissorã, cerca do meio-dia, localidade onde se fazia sentir uma temperatura bastante elevada, logo nos dirigimos para um agrupamento de escolas que se encontra à entrada da pequena cidade e destino previamente selecionado para a entrega de material escolar que levávamos.

Acolhidos neste espaço escolar pelo respectivo director, por alguns professores e por um grupo de alunos, fomos encaminhados para uma das salas onde fizemos a entrega desse material, enchendo de contentamento todas aquelas pessoas que, de uma forma muito cordial, nos receberam.

Material entregue, despedidas feitas, caminhámos a pé em direcção ao edifício da Administração de Bissorã, o mesmo da época colonial, onde fomos recebidos pela Senhor Secretário do Executivo, que nos informou ter o Senhor Administrador ido a Bissau em missão de trabalho.

Deu-nos as boas-vindas numa das salas do edifício, onde eram evidentes alguns sinais de degradação, fazendo-se acompanhar por dois outros colegas do mesmo executivo, que connosco dialogaram durante alguns minutos e agradecendo não só a nossa presença, mas também as ofertas que tínhamos deixado ao Director do Agrupamento das Escolas de Bissorã, que terá cerca de 750 alunos inscritos.

Foto 69 - Bissorã (Guiné-Bissau): Os colegas Vitorino e Isidro, entregando material escolar ao Director da Escola local, na presença de alguns dos seus alunos

Terminada a apresentação de cumprimentos e acompanhados por um membro da Administração, encaminhámo-nos para o Centro Médico local, distanciado da Administração cerca de 100 metros, onde fomos recebidos pelo responsável clínico, que se fazia acompanhar por dois enfermeiros, a quem fomos entregar um conjunto de material de primeiros socorros e medicamentos, atitude que muito os sensibilizou, dadas as carências que dizem sentir no seu trabalho diário.

O médico director, sensibilizado pela oferta recebida, transmitiu-nos o seu agradecimento e da equipa que chefia, pois as dificuldades que sentem no dia-a-dia são enormes e muito difíceis de ultrapassar, nesta pequena cidade do interior da Guiné e que em tempos recuados, chegou a ser uma urbe próspera e muito activa nas áreas do comércio, da agricultura e da pesca.

Tal como noutras localidades que visitámos, são evidentes por quase toda a Guiné-Bissau, os sinais de uma pobreza mais acentuada nalguns lugares, como aqui em Bissorã, bem traduzidos no mau estado de conservação da maioria dos antigos prédios da era colonial, que se encontram com sinais muito acentuados de degradação, talvez motivada por razões políticas, levadas a efeito pelos novos dirigentes guineenses, mal preparados para receberem o que os portugueses lá tinham deixado e entregue “de mão beijada” e de que talvez passados anos se tenham arrependido por terem feito essa infeliz opção.

Fazendo uma retrospectiva daquilo que conheci há cerca de 43 anos e o que agora vi, diria que Bissorã, tal como aconteceu noutras povoações da Guiné-Bissau, regrediu e regressou a épocas anteriores à intervenção dos portugueses na denominada “guerra colonial”.

Foto 70 - Bissorã (Guiné-Bissau): O colega Vitorino entregando diverso material de saúde a um médico e dois enfermeiros, do Centro de Saúde local

Foto 71 - Bissorã (Guiné-Bissau): O colega Vitorino em frente à antiga Messe dos Oficiais Bissorã

Foto 72 - (Guiné-Bissau): Instalações do Tribunal Provincial de Norte, sediado num antigo edifício comercial, do tempo colonial

Foto 73 - Bissorã (Guiné-Bissau): Entrega de bolas de futebol aos dirigentes do Sporting Clube de Bissorã 

Foto 74 - Bissorã (Guiné-Bissau): O colega Vitorino e um elemento da Administração local, junto a memorial que recorda a presença por aquelas paragens da Companhia de Artilharia 1525 (CART 1525)

Concluídas estas visitas de trabalho, direccionámos os nossos passos para um pequeno e muito modesto restaurante local, onde, depois de contacto prévio, fomos almoçar um peixe da região, acompanhado por batata e salada e que “afogámos” com umas cervejas fresquinhas, pois tal como atrás referi, estávamos perante um dia de muito calor.

Terminado o almoço e como o calor era ainda muito, resolvemos descansar numa área onde existiam muitas árvores, principalmente cajueiros, aproveitando para tentarmos localizar a antiga pista de aviação da localidade que, além de estar quase toda tapada por vegetação que por ali foi crescendo, parte dela também foi ocupada pela construção de um pequeno armazém, que se dedica ao tratamento da castanha de caju, que nesta zona se desenvolve com grande abundância.

Pouco depois deixámos Bissorã, decidindo regressar a Bissau, não sem que pelo caminho fizéssemos um desvio para visitarmos a pequena aldeia do Biambe, em cuja Escola também fomos entregar algum material escolar e uma bola de futebol.

Ao lá chegarmos, todos nós ficamos algo impressionados com o facto de uma das salas de aulas dessa Escola funcionar num antigo abrigo subterrâneo das nossas antigas tropas estacionadas naquele lugar, pela simples razão de um edifício escolar ali existente só ter duas salas de aula, espaço insuficiente para albergar o número de alunos, em idade escolar do Biambe.

Esta pequena aldeia do Biambe, bastante populosa, fica situada, sensivelmente a meia distância, entre Binar e Bissorã, numa zona de grande vegetação.

Vejam pois as carências que ainda continuam a existir por terras guineenses, realidade que me leva a colocar a seguinte questão: Se no Biambe, até este espaço construído e deixado pelos portugueses, foi aproveitado para sala de aulas, porque será que não fizeram o mesmo em muitos outros edifícios, com muitas melhores condições, espalhados por toda a Guiné?!

Com muita simpatia, fomos recebidos pelo Director da Escola, que nos informou que a povoação do Biambe possui muita gente jovem, ainda em idade escolar, afirmação que muito nos surpreendeu, atendendo ao facto de ela se localizar um pouco afastada de outras zonas habitacionais de maior dimensão geográfica e populacional, mas que mesmo assim tem cerca de 100 alunos, distribuídos pelas três salas de aula, que acima referi.

São realidades como esta que nos levam a pensar e a tentar ajuizar sobre as grandes injustiças que o mundo actual nos apresenta, justificando, se calhar o velho ditado “todos iguais, mas todos diferentes”. Pobre mundo, para onde caminhas?!

Foto 75 - Biambe (Guiné-Bissau): Visita a uma escola que funciona num antigo abrigo subterrâneo das tropas portuguesas, no tempo da Guerra do Ultramar e onde entregámos algum material escolar e bolas de futebol. Sintam a vontade destes miúdos em aprender, ainda que em condições bem adversas.

Efectuada esta visita ao Biambe, de que muito gostei, dada a simpatia e nobreza das suas gentes, sediadas em zona algo afastada de outras povoações, regressámos a Bissau, não sem que antes nos detivéssemos em Bula, a fim de visitarmos as instalações do antigo quartel, onde no meu tempo esteve estacionado o Batalhão 8320/72, de que, tal como atrás refiro, comandei temporariamente a 1.ª Companhia, sediada inicialmente na povoação de Pete e mais tarde em Nhamate.

Foi para mim uma enorme desilusão ver o estado lamentável de destruição em que encontrámos o antigo quartel de Bula, localidade onde, naquele tempo, além do Batalhão 8320/72, estavam também ali estacionados, a Companhia Independente 8353/73 e um Pelotão de Panhards, sendo ali também o local de grande permanência da Companhia de Comandos Africanos, chefiada pelo então Alferes Marcelino da Mata.

No local onde existiu a Porta de Armas, localiza-se agora uma pequena construção onde se instalou um pequeno Corpo de Polícia de Segurança Pública, mas onde são bem evidentes carências de toda a ordem, já que nem uma viatura possuem para efectuarem deslocações em serviço.

Terminada esta visita, regressámos à nossa “base” em Bissau, localizada no Aparthotel Machado, para tomarmos um refrescante duche e depois jantarmos, porque, pelo menos, o apetite não o perdemos.

Seguem-se mais umas fotos do interior do antigo quartel de Bula.

Foto 76 - Bula (Guiné-Bissau): Visitas às arruinadas instalações do antigo Quartel de Bula, onde o Rebola e o Azevedo, estão acompanhados por uma agente e um agente do Corpo Policial que está ali instalado num pequeno edifício

Foto 77 - Bula (Guiné-Bissau): Outra imagem do interior do quartel, onde apareço eu e o Rebola, e o Vitorino à esquerda, com 2 agentes policiais locais, vendo-se em segundo plano alguns dos degradados edifícios do antigo quartel

Fotos: © A. Acílio Azevedo

(Continua)
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Nota do editor CV

Último poste da série de 6 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17827: As memórias revividas com a visita à Guiné-Bissau, que efectuei entre os dias 30 de Março e 7 de Abril de 2017 (6): 5.º Dia: Bissau, Safim, Bula, Binar e Bissorã (António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil)

Guiné 61/74 - P17843: Convite (14): Palestra subordinada ao tema "Terrorismo", a ter lugar no Salão Nobre do Comando do Pessoal do Exército, antigo Quartel General do Porto, Praça da República, no próximo dia 13 de Outubro de 2017, pelas 15 horas

Comando do Pessoal do Exército

C O N V I T E

Palestra sobre o tema que preocupa a sociedade actual em todo o mundo, o terrorismo, a ter lugar no Salão Nobre do Comando do Pessoal do Exército, antigo Quartel General do Porto, sito na Praça da República, no próximo dia 13 de Outubro de 2017, pelas 15 horas.
A Conferência será proferida pelo Major-General Rodolfo António Cabrita Bacelar Begonha.


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Nota do editor CV

Último poste da série de 8 de fevereiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15724: Convite (13): I Peregrinação Nacional dos Combatentes a Fátima, dia 1 de Maio de 2016

Guiné 61/74 - P17842: Parabéns a você (1325): Manuel Resende, ex-Alf Mil Art da CCAÇ 2585 (Guiné, 1969/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 9 de Outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17837: Parabéns a você (1324): José Carmino Azevedo, ex-Soldado Condutor Auto do BCAV 2868 (Guiné, 1969/71)

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Guiné 61/74 - P17841: Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias (António Graça de Abreu) - Parte XIV: Em pleno Oceano Pacífico, a caminho da Polinésia


Pôr do sol no Oceano Pacífico


Parte XIV (Segundo volume, pp. 14-16)


Texto, fotos e legenda: © António Graça de Abreu (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação das crónicas da "viagem à volta ao mundo em 100 dias", do nosso camarada António Graça de Abreu, escritor, poeta, sinólogo, ex-alf mil SGE, CAOP 1 [Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74], membro sénior da nossa Tabanca Grande, e ativo colaborador do nosso blogue com cerca de 200 referências.

É casado com a médica chinesa Hai Yuan e tem dois filhos, João e Pedro. Vive no concelho de Cascais.

Neste cruzeiro à volta do mundo, o nosso camarada e a sua esposa partiram do porto de Barcelona em 1 de setembro de 2016. Três semanas depois o navio italiano "Costa Luminosa", com quase três centenas de metros de comprimento, de sair do Mediterrâneo e atravessar o Atlântico, estava no Pacífico, e mais concretamente no Oceano Pacífico, na Costa Rica (21/9/2016) e na Guatemala (24/9/2017), e depois no México (26/9/2017).

Na II etapa da "viagem de volta ao mundo em 100 dias", com um mês de cruzeiro (a primeira parte terá sido "a menos interessante", diz-nos o escritor), o "Costa Luminosa" chega aos EUA, à costa da Califórnia: San Diego e San Pedro (30/9/2016), Long Beach (1/10/2016), Los Angeles (30/9/2016) e São Francisco (3/4/10/2017). No dia 9, está em Honolulu, Hawai, território norte-americano. Navega agora em pleno Oceano Pacífico, a caminho da Polinésia. Chegará ao porto de Pago Pago, capital da Samoa Americana, ilha de Tutuila, Polinésia,  em 15/10/2016.







(Continua)

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Notícia:

Guiné 61/74 - P17840: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (45): Questões de sangue

Vista a partir da Serra do Pilar
Foto: © Dina Vinhal

1. Mensagem do nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 29 de Setembro de 2017:

Caros amigos,
Junto nova história verídica que poderá ser incluída na série de "Memórias boas da minha guerra".
Informo que os nomes de pessoas e lugares tiveram que ser alterados devido à exigência do personagem principal.

Abraço
José Ferreira Silva da Cart 1689


Memórias boas da minha guerra

45 - Questões de sangue

No início de Janeiro de 1967, vindos de todo o país e em especial da zona norte, chegavam ao RAP 2 - Serra do Pilar, os seiscentos e tal militares, tidos como preparados para seguirem para a Guerra do Ultramar. Vinham formar o BART 1913 - Batalhão de Artilharia 1913 - que se destinava a cumprir uma Comissão de Serviço Militar na guerra, no CTI da Guiné.

Não fora o facto de ter acabado de frequentar o curso de “Rangers” em Lamego - o que me ligou logo à mobilização - e eu poderia sentir-me satisfeito por continuar a cumprir o serviço militar no norte (depois do GACA 3, de Espinho). Efectivamente, depois de uma razoável classificação no Curso de Vendas Novas (o primeiro sobre guerra subversiva), fui atendido nessas “minhas preferências” então registadas: Espinho, Gaia ou Porto. O que eu não sonhava era que esse pretenso percurso me levaria até à Guiné.

Ao contrário das outras chegadas a novo quartel, desta vez eram evidentes os rostos mudos, carregados de tristeza, apatia e resignação. Entravam cabisbaixos, fixando o chão cinzento-escuro dos gastos paralelos de granito enquanto deambulavam por toda a calçada, na subida até ao pavilhão central onde funcionava a recepção Assumiam, assim, o doloroso papel de “condenados”.
Foi ali que, partindo do zero, nos fomos agrupando em Secções, Pelotões, Companhias, formando o Batalhão. Assim, apareceram as respectivas formaturas, dando início à última e decisiva preparação para a guerra. Claro que reencontrámos alguns camaradas já conhecidos em quartéis anteriores, mas muito poucos a seguirem o mesmo percurso. Uma coisa era certa: iríamos todos para a Guiné.

Da Serra do Pilar, desfrutávamos de vistas deslumbrantes em redor, em especial sobre a cidade do Porto e, planando o olhar, sobre o Rio Douro e sua foz. Agora, nos tempos livres, saíamos dali na esperança de saborearmos mais de perto os encantos daquela lindíssima e secular região portuense. Talvez por isso, era notória a movimentação dos militares a aproveitarem a sua passagem por ali. Em poucos minutos, eles afastavam-se, ansiosos, para contactos novos, pontuais ou não, parecendo quererem absorver conhecimentos, divertimento e os prazeres tripeiros.
Ao fim de uns dias, já havia verdadeiros apaixonados pelo “Puârto”, carago! As paisagens, os petiscos, a linguagem, a franca maneira de ser dos tripeiros, as “gajas” sérias e as outras - as “donzelas” - e, até, os “gajos” porreiros, eram razões mais que suficientes para encantar aquela saudável juventude. Embora eu passasse muitas noites fora dali, uma vez que me deslocava para casa (em Fiães, da Feira) a cerca de 20 quilómetros, tive a oportunidade de conhecer peripécias interessantes e de testemunhar algumas lindas histórias de amor.

Nas minhas histórias acerca desta malta, já destaquei a história do rapaz que casou com a prima empregada nos Caldeireiros (O rapaz do “sorriso parvo”) - https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2016/07/guine-6374-p16268-memorias-boas-da.html, referi o caso do Mirandela que se apaixonou pela “donzela” que trabalhava junto ao largo da Cadeia (“Deixem-nos trabalhar”) - https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2013/09/guine-6374-p12031-memorias-boas-da.html, os engates do Miranda, de Amarante, junto do Café Mucaba e o namoro do Silva “a calcantes” desde a Ponte D. Luís até Gervide, (Cegueira e religião) - https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2010/09/guine-6374-p6951-memorias-boas-da-minha.html.
Todavia, terei que contar ainda a história do Armindo Baptista, um alentejano de nascença e coração, mas um nortenho de sangue e de grande ligação. Seus pais, funcionários públicos, oriundos do Minho, acabaram por assentar em Beja, onde ainda residem, perto dos dois filhos e seus quatro netos.
Desde miúdo, apercebeu-se de que o sotaque de seus pais diferia do dos seus vizinhos. A par disso, notava também que eles se ligavam facilmente com toda a gente e que se predispunham muito no âmbito social e religioso. E ouvia os vizinhos dizerem:
- Eles são de sangue nortenho. São mais activos.

O Armindo cresceu, estudou e fez-se um rapagão, rodeado de alentejanos, com quem cimentou grandes amizades. Mas, sempre que ia ao norte visitar os avós, trazia o seu ego reforçado pelo que via, ouvia e sentia. Ele até aprofundava ali os seus conhecimentos históricos e sentia-se cada vez mais integrado no mundo dos nossos heróis, especialmente dos que nasceram e viveram no mesmo espaço que os seus parentes mais chegados. Sentia um orgulho enorme nessa ligação nortenha e estava sempre atento a tudo que ouvia desses lados, incluindo as notícias dos sucessos do F. C. do Porto.
Apesar de sentir a aproximação das miúdas mais lindas do Alentejo, parecia que via sempre nelas uma pequena sombra de sua mãe, a mostrar-lhe a energia que lhe sobrava e que não vislumbrava nessas belas alentejanas. Chegou à tropa sem compromisso amoroso e, agora, com 23 anos, na hora da partida para a Guiné, nem endereço levava para fazer uma madrinha de guerra.
Esteve na recruta das Caldas da Rainha e rumou para Tavira, para tirar a especialidade. Seguiu para Tancos, onde tirou o Curso de Minas e Armadilhas. Com esta última formação, ficou mobilizado e foi chamado para o RAP 2 - Gaia, para integrar a CART 1687, do nosso BART 1913, acima referido.

À saída da Porta de Armas do RAP 2, surgia logo de frente na Rua dos Polacos, um tasco/mercearia típico (o “Faca Afiada”), gerido pela família Moreira. Penso que todos os tropas que passaram pela Serra do Pilar visitaram esse tasco. Lá existia um grande balcão, interrompido por uma divisória, provocando uma zona mais reservada, onde se serviam alguns petiscos, se bebia e se faziam algumas ”jogatanas”. Passei por lá várias vezes, para tomar o último “reforço vitamínico”, antes de passar a Porta de Armas. E sempre encontrava lá o Armindo, conversando com os derradeiros clientes, nos intervalos de um quase contínuo assédio à moreninha que tanto ajudava os pais.

Logo nos primeiros dias de RAP 2, testemunhámos a presença de dois militares, regressados de rendição individual, que vinham fazer o espólio. Passavam o tempo todo no tasco “Faca afiada”. Um, o Jorge Ribatejano, era Furriel dos Comandos e exorbitava as suas façanhas guerreiras, fazendo relatos medonhos que nos assustavam. Exibia o seu corpanzil de pegador de touros, assumindo a sua superioridade e valentia, bem aproveitadas na preparação especial de Comando e nos seus relatos de heroicidade. O outro, o Furriel Carlos Barroso, negro, também estivera em Angola, onde não se encontraram e preparava-se para regressar à sua terra natal - a Guiné.

Não se sabia quem bebia mais. Mas notava-se que o álcool “atacava” mais o Comando. Este, farto de se exibir na sua aludida “matança de turras”, entrava agora no campo da provocação ao negro da Guiné:
- Os pretos são uns cobardes. Não valem um caralho!
O Barroso respondeu-lhe:
- Somos todos iguais. Somos todos portugueses e temos todos o sangue igual.
Irritado, o Jorge, eleva a voz:
- O caralho, é que é igual.

Pega no copo do brandy, bebe tudo de um gole, trinca as bordas do copo, estende o braço esquerdo de manga arregaçada e com o copo estalado e agarrado ao contrário pela mão direita, esfrega-o longitudinalmente pelo braço, provocando lanhos na carne, que já sangrava e grita:
- Estás a ver o que é o sangue e a coragem de um branco?
O Barroso, ferido no seu orgulho, tira-lhe o copo da mão e faz o mesmo no seu braço:
- Estás a ver, seu caralho? Onde está a diferença?

Quando cheguei ao tasco, já eles estavam quase apáticos, sentados e encostados à parede, com os braços feridos, encobertos por um pano meio ensanguentado. Por sua vez, o Armindo, aproveitava para assumir um papel de moralizador, muito do agrado do Senhor Moreira e da sua filha moreninha, a quem ele queria impressionar.
Pois, o Armindo ficou preso à Leonor, logo que a viu pela primeira vez. Passava ali todo o tempo disponível, enquanto estivemos aquartelados no RAP 2. Em pouco tempo, todos os militares ficaram a saber que a Leonor do “Faca Afiada” estava inacessível e presa a um Cabo Miliciano que não saía de lá.

Saímos da Serra do Pilar em direcção a Viana do Castelo, de onde seguiríamos para a Guiné, em finais de Abril. Com este afastamento, acentuou-se o amor do Armindo e da Leonor, provocando uma inesperada paixão que os fazia sofrer diariamente. Contra toda a lógica e expectativas, resolveram casar a escassos dias da partida dele para a guerra. Creio que poucos acreditavam no sucesso dessa ligação, com alguns prenúncios de loucura e fatalidade.

Pouco convivemos na Guiné. A minha companhia saiu do barco Uíge, fundeado ao largo de Bissau, seguindo directamente em barcaça para Bambadinca, enquanto o Batalhão ficou sediado em Catió. O Armindo pertencia à Cart 1687, que se fixou em Cufar, após uma passagem pelo Cachil. Quando estivemos em Catió, vindos do norte, fizemos várias operações militares com passagem por Cufar. Ali convivemos pontualmente e recordámos algumas ligações anteriores. Porém, era evidente que o Armindo acusava um estado bastante sorumbático e cansado. Parece que passou grande parte do tempo afastado das operações, justificando-se com doença e deslocações a Bissau. Sempre pensei que esta relação se iria desvanecer. Com tristeza minha, porque nutri bastante simpatia pelo casal, especialmente pelo Armindo.

Alguns amigos bem conhecidos no nosso Batalhão

No dia 29 de Abril de 2017, participei no Convívio do 50.º aniversário da partida do nosso Batalhão para a Guiné. Teria que ser o mesmo local - a lindíssima e simpática cidade de Viana do Castelo. Quando estávamos dentro do quartel, do Castelo, precisamente no largo onde fora a Parada das tropas, vejo o Francisco Machado (O Chico d’Alcantara) - https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2011/02/guine-6374-p7710-memorias-boas-da-minha.html, a “puxar “ um casal, ao mesmo tempo que dizia:
- Ó Silva, olha aqui o Armindo.
- Qual Armindo? - perguntei.
A Senhora avançou:
- O Armindo que casou com a moreninha do “Faca Afiada”?

Que surpresa agradável! E mais agradável se tornou, à medida que eles iam contando a sua vida deste meio século e aparentando uma felicidade imensa.

Quando me afastei do Convívio, aproveitei para dar uma última olhadela ao baile onde o Armindo e a Leonor dançavam sem cessar.

Nota: - Das conversas que trocámos nesse dia, fiquei a saber que o Armindo perdera o rasto do Comando que trincava o copo de brandy, mas mantivera uma boa relação com o Carlos Barroso, que veio, muito mais tarde, a desempenhar um alto cargo na estrutura do Estado da Guiné-Bissau.
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Nota do editor CV:

Último poste da série de 13 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17462: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (44): O Zé Manel dos Cabritos e a mula transexual

Guiné 61/74 - P17839: O poemário de Mário Vitorino Gaspar: Ler poesia faz bem ao cérebro e a minha proposta de leitura para hoje é... (1): Filomena Mealha, nossa amiga e grã-tabanqueira Felismina Costa (Parte I)


Lourinhã >  9 de outubro de 2017 > 8h40 > O nascer do sol, visto da minha janela com a torre sineira da igreja matriz do séc. XVI; pelo meio...

Foto (e legenda): © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Felismina Maria Costa Mealha,  nascida na freguesia de Santa Luzia, concelho de Ourique, Baixo Alentejo,  a 23 de dezembro de 1948...

A Felimina Costa tem cerca de 70 referências no nosso blogue e honra.nos, com a sua presença sob o poilão da Tabanca Grande, desde 16/7/2010... Além de poeta ou poetisa, é uma das raras madrinhas de guerra que contamos nesta já vasta comunidade virtual de amigos/as e camaradas da Guiné (*).


1. O nosso amigo e camarada Mário Gaspar (, ex-Fur Mil At Art, Minas e Armadilhas, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68), laminador de diamantes reformado, cofundador e antigo dirigente da Associação APOIAR, mandou-nos a seguinte mensagem em 6 de setembro último:

Caras Amigas e Caros Amigos

Cada dia acrescentamos um pouco de conhecimento. Temos que admitir que somos meros aprendizes da vida. Há que guardar espaço para armazenar no cérebro o que iremos aprender, no dia seguinte. Os cérebros das pessoas mais velhas, são lentos só porque elas sabem muito.

Não esqueçam, leiam Poesia.


O Mário Gaspar mandou-nos também excertos da imprensa em que se refere os resultados de um novo estudo da Alemanha, comparando as habilidades de memória de pessoas mais velhas com "discos rígidos completos: eles não perdem o poder cognitivo ao longo do tempo", simplemente "eles funcionam mais devagar por causa de uma quantidade crescente de informações."

"O cérebro humano trabalha mais devagar na velhice, mas apenas porque nós armazenamos mais informações ao longo do tempo", disse o investigador principal, Dr. Michael Ramscar.

A equipe de pesquisadores da Universidade de Tübingen, na Alemanha, usou computadores para replicar diferentes estágios do recall de memória de um adulto. Os modelos de computador foram alimentados com pequenas quantidades de informações por dia (bem como jovens adultos), mas à medida que os dispositivos reuniam mais informações, suas performances refletiam as pessoas mais velhas, de acordo com o estudo, publicado na revista "Topics in Cognitive Ciência.

"Esqueça de esquecer", disse o investigador Peter Hendrix ao The Independent. "Se quisesse que o computador se pareça com um adulto mais velho, tive que manter todas as palavras aprendidas na memória e deixá-las competir pela atenção". (...)

Noutro recorte de imprensa que o Mário Gaspar nos mandou, lê-se: "Ler Poesia é mais Útil para o Cérebro Que Livros de Autoajuda, Dizem Cientistas"

Resumo:  ler poesia pode ser mais eficaz em tratamentos psicológicos do que livros de autoajuda, segundo um estudo da Universidade de Liverpool. Ler autores clássicos, como Shakespeare, Camões, Fernando Pessoa ou T.S. Eliot, estimula a mente.

Os resultados da pesquisa, antecipados pelo jornal britânico “Daily Telegraph”, mostram que a atividade do cérebro “dispara” quando o leitor encontra palavras incomuns ou frases com uma estrutura semântica complexa, mas não reage quando esse mesmo conteúdo se expressa com fórmulas de uso cotidiano.

 Os especialistas descobriram que a poesia “é mais útil que os livros de autoajuda”, já que afecta o lado direito do cérebro, onde são armazenadas as lembranças autobiográficas, e ajuda a refletir sobre eles e entendê-los desde outra perspectiva. “A poesia não é só uma questão de estilo. A descrição profunda de experiências acrescenta elementos emocionais e biográficos ao conhecimento cognitivo que já possuímos de nossas lembranças”....

(O Mário Gaspar não cita as fontes...)


2. Então vamos ao poeta cuja leitura o Mário Gaspar nos propõe, em mensagem de 5 do corrente,  e que vai começar a alimentar esta nova série....  

Trata-se de uma mulher, Felismina Maria Costa Mealha,  nascida na freguesia de Santa Luzia, concelho de Ourique, Baixo Alentejo,  a 23 de dezembro de 1948. (Vd. foto acima).

Filha e neta de pequenos agricultores, o Alentejo está-lhe na alma. Escreveu na “XIX Antologia de Poesia da Associação Portuguesa de Poetas, 2015":

“E lembro as Primaveras encantadas, que desenhavam os meus livros de poemas, com cores das flores das macieiras, que em tons de branco e rosa me cercavam, e cantavam canções à minha beira”.

Conheço esta Portuguesa que é Poeta, diz o Mário Vitorino Gaspar [, responsável pela seleção de poemas da Felismina Mealha]... E nós também!...

Nota do editor - Felimina Costa tem cerca de 70 referências no nosso blogue e honra.nos, com a sua presença sob o poilão da Tabanca Grande, desde 16/7/2010... Além de poeta, é uma das raras madrinhas de guerra que contamos nesta já vasta comunidade virtual de amigos/as e camaradas da Guiné (*)... Vive na Grande Lisboa desde 1970.

No sítio "Confrades da Poesia", pode ainda ler-se a respeito de Felismina Mealha:

(...) "O gosto pela poesia vem-lhe desde o berço e foi a sua maior herança! Deu-lha a mãe, que a embalou com palavras de infinita ternura, que semeou em terra fértil.

Uma pedra, uma cor, uma flor, um fruto, uma semente germinando, uma ave, o sol escaldante da planície alentejana, as noites magníficas de verão, o cantar dos grilos e das cigarras… a paz do seu chão, transportam-na à dimensão, sem dimensão, que faz com que as palavras se transformem e tomem a forma do que a inspira." (...)

Fica aqui também o desafio ao Mário Gaspar para ir alimentando esta sua nova série... Confesso que não combinei nada com ele, nem ele comigo,  mas ele tem-nos mandado mais poemas, de outros poetas, que eu vou selecionar e publicar (acauteladas as questões de direitos de autor...). O Mário não é poeta mas gosta de ler (e de dar a ler) poesia. Obrigado a ambos, à poetisa e ao seu leitor e admirador. (LG)


3. Três poemas de Felismina Mealha

Quem Somos?

Somos robôs?
Não!
Somos o choro, o riso, a voz
que enche a casa, a escada, a rua,
os transportes, as fábricas,
os escritórios, os campos!

Somos a voz que crítica.
A força que edifica.
Somos o corpo curvado
sobre a pá e o arado
pedindo à terra resposta.

Somos o atento motorista.
O homem que vai ao leme.
O médico.
O malabarista.
O poeta enlouquecido.
O escritor de romances.
Alfaiates, cartomantes.
Peças soltas, indefinidas!

Somos juízes, dentistas…
Julgamos quem desconhecemos
porque assim o entendemos …

Somos tempo de chegada!
Somos tempo de partida!
Somos múltiplos personagens
num só corpo e numa só voz.

Conservamos, destruímos,
refazemos, construímos.
Somos o eu, que se identifica sob um nome,
ser andante e petulante
que nada sabe da vida!

Somos seres que se constroem
sobre manuais que herdamos
todos os dias da vida!

Somos memórias, ideias
coisas bonitas e feias…
Somos Paz e somos Guerra!
Somos a ciência viva
que procura sem descanso
a razão por que nasceu…

Que faço aqui? Digo eu!
E tu procuras a resposta
que insipidamente chega.
Que não satisfaz, não chega!

Quero mais!
Quero que tu me convenças.
Que desmistifiques minhas crenças.
Que esclareças minhas dúvidas.
Quero saber porque vim,
porque vivo e estou aqui 

À tua espera… e porquê?


R
egisto

Enfeitei com rosas multicolores
a minha velha casa!
Com rosas multicolores
de todos os jardins desta Primavera!

Pus na mesa, a toalha de linho e renda,
que acompanha digna, todas as nossas reuniões,
e sobre ela, o serviço de jantar, que a embeleza.

Nos pratos, pus o amor e a alegria,
que servi transbordantes aos meus convivas,
que me ajudaram a colher as rosas,
a pôr a toalha,
e, sobre ela, o serviço de jantar,
onde despejo sabores e cheiros
do velho clã que idolatro,
de quem herdei a capacidade de olhar as rosas,
de aspirar o perfume,
e do repartir por todos aqueles de que me rodeio!

Sei que as rosas que hoje vos ofereço,
voltarão a florir por várias gerações
com todo o seu perfume
e todas as suas cores…
E outras mesas e outras toalhas, voltarão a pôr-se…
Por mãos tão minhas, como se eu fosse,
presença ali…
Como sou hoje!...


H
ino à Terra

Ainda um dia vamos voltar para o Alentejo…
Meu Amor!
O infindável espaço da planície…espera-nos!
Vamos voltar a semear as searas.
Criar os rebanhos.
Olhar o horizonte sem muros
e plantar muitas árvores…
Que na Primavera… abrirão em flor…

Queres ir, meu amor?


Vamos voltar a amanhar as quintas,
plantar roseiras de armar,
fazer jardins junto às noras,
sentir o cheiro da terra molhada,
aspirar o cheiro das laranjeiras floridas…
Esquecer as horas!..

Queres ir, meu amor?

Vamo-nos sentar nos tanques, olhar a água,
observar as aves, escutar as fontes.
Vamos ver o sol nascer, qual bola vermelha
a elevar-se.
Vamos assistir aos ocasos do Rei
pintando o poente, sempre diferente,
em telas tão lindas
que mais belas não sei.

Queres ir, meu amor?

Vamos esperar a noite, que vem devagar,
cansada do dia, de tanto esperar…
Noites de luar, pejadas de estrelas,
brilhantes, douradas…noites de encantar!
Vamo-nos calar…
Que os grilos e as cigarras
já se ouvem cantar
e durante a noite não se vão calar.

Vem, meu amor, vamo-nos amar!
Sem que ninguém veja…

As searas crescem, na terra vicejam
e o tempo a passar
faz com que amadureçam,
e os grãos dourados
são de novo a semente para continuar…

Vem… meu amor, a terra é um hino,
que quero cantar!...


[Seleção: MG. Revisão / fixação de texto: LG]
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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P17838: Notas de leitura (1002): “A Última Viúva de África”, por Carlos Vale Ferraz; Porto Editora, 2017 (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Setembro de 2017:

Queridos amigos,
Carlos Vale Ferraz é autor de uma das obras-primas da literatura de guerra, "Nó Cego". Ao longo dos anos tem dividido a sua atividade literária pela ficção e pela historiografia contemporânea. O seu novo romance leva-nos até às sanguinárias guerras do Congo, pós-independência, a articulação nos grupos catangueses e mercenários de muitas origens com o que se passava no Leste de Angola.

A enigmática Madame X é uma minhota que chegou ao Congo nos anos 1950 e que vai avisando Luanda e os serviços de informação portugueses do que se está a passar, Miguel Barros é o português que viverá toda a trama deste período tumultuoso e que mais tarde deixará uma gravação que funciona como o fio de Ariadne no labirinto dos acontecimentos, um desfecho espantoso de um mausoléu de Madame X num templo algures no Alto Minho - dali partiu alguém para viver os dramas do império e ali regressou como último parágrafo da descolonização.

Um belo romance, sem margem para dúvida.

Um abraço do
Mário


A Última Viúva de África, por Carlos Vale Ferraz

Beja Santos

Para além de investigador de História Contemporânea de Portugal, Carlos Vale Ferraz é nome cimeiro da literatura da guerra colonial, não se pode fazer o seu estudo sem indagar esse extraordinário romance que é "Nó Cego" (primeira edição em 1983). Tem escrito diversos romances e agora volta a averbar a guerra colonial à sua ficção. “A Última Viúva de África”, Porto Editora, 2017, tem como trama a antiga colónia belga do Congo, a guerra de Angola, Madame X, uma portuguesa oriunda do Minho que trabalhava como informadora e conhecida por Kisimbi, a “mãe” pelos mercenários que combatiam em prol da secessão do Catanga, é esse o tempo pretérito porque mais próximo temos a sugestão de um filme passado no Alto Minho em torno do mausoléu que o filho multimilenário de Madame X procura erigir junto do velho templo, mas os antagonismos a tal propósito são enormes. O fio condutor vai do presente ao passado e uma gravação vai vertebrando o historial de guerras sangrentas, crimes abomináveis, cenários de loucura em que intervêm os Flechas, os mercenários do batalhão Leopardo, alguns descendentes desses protagonistas que o romancista vai progressivamente pondo em cena.

Logo a jornalista Lívia Catarino, “uma jovem magra, com movimentos felinos. Os cabelos pelos ombros, frisados, e o rosto seco, sem qualquer pintura. O tipo de mulher suburbana que tanto pode estar encostada a uma parede, na rua, à espera de clientes, como a trepar a um monumento para tirar a fotografia ao corpo despedaçado de um bombista”. Inicia-se uma viagem até Vilar, no concelho de Vieira, é aí que se pretende construir o mausoléu, por aí se faria um filme, é o propósito do produtor de cinema Miguel Barros que confia nos talentos do realizador Herberto Popovic. Fernando Oliveira, o filho de Madame X, entra em cena, conversa com Miguel Barros, que conheceu a mãe no Congo. Os protagonistas sucedem-se: Inácia Luz, Fabiola, a filha de um nome lendário do comandante do batalhão Leopardo, Jean Scrame. É um jogo de espelhos, as imagens revertem-se, vai-se ao fundo do passado e é então que uma bobine revela o que Miguel Barros tem para contar sobre todo esse processo descolonizador que meteu chacinas, torcionários, que foi palco iluminado da Guerra Fria. Porque Miguel Barros é uma dada imagem de um português que após diferentes deceções profissionais pega numa máquina fotográfica e aterra no Congo. Chegado a Leopoldville, conhece no hotel La Regina esta Madame X enquanto se ouvem tiros por toda a cidade. “Há três meses que Alice enviava mensagens para Luanda, dirigidas ao governador-geral, ao diretor da PIDE, aos administradores dos postos do lado de lá da fronteira, a informá-los de que o caos em que o Congo mergulhara se espalharia como um enxame de abelhas sobre Angola”. O romancista torna a vida mais fácil ao leitor apresentando-nos Holden Roberto, os acontecimentos angolanos de 1961, os combates no Norte de Angola e os mercenários, os catangueses, Tshombé e o Catanga. É um romance de conflitos, pigmentado de horrores e de combates cruentos, como num filme tipo Apocalypse Now. Entre os mercenários há até um português chamado Rodrigues que muitos anos mais tarde será visto como segurança num centro comercial. Os mercenários foram muitíssimos úteis numa dada fase da guerra, incómodos quando Mobutu se tornou o senhor absoluto do Congo. Em Vila Teixeira de Sousa, Miguel Barros conversa com um inspetor da PIDE Albano Martins e apercebe-se que houvera um aproveitamento tribal para formar os Flechas. Miguel Barros presenceia todos estes incêndios, a deposição de Lumumba, a bestialidade dos Muleles que praticavam a política da terra queimada.

Há momentos aterradores, como os massacres de Stanleyville, a prosa de Carlos Vale Ferraz é primorosa, é um mundo em convulsão onde os Simbas executam, rasgam corpos a seu belo prazer. Não é esquecido Che Guevara, que por aqui andou e se amargurou, apercebendo-se que tantos os revolucionários congoleses como os angolanos não possuíam nem estratégia nem inserção nas massas populares. Toda esta confidência de Miguel Barros a Inácia Luz dá circunstância ao leitor para acompanhar do princípio ao fim o caos congolês até à chegada do despotismo de Mobutu. Assistiremos ao conflito angolano como guerra civil, à partida de Madame X, dos mercenários, dos homens da PIDE. Num novo vaivém dos jogos de espelhos vamos conhecer melhor o drama desses protagonistas e dos seus familiares, e então voltamos a um Portugal quase atual em que Fernando Oliveira conseguiu o que quis para ter um mausoléu em honra de Madame X.

É um romance muito belo, onde se mesclam fugas permanentes, dissimulações, segredos guardados até ao limite, cenários de hecatombe, mitos africanos, a amargura pelos paraísos perdidos e, subliminarmente, a queixa inerente à incompetência dos políticos que não souberam encontrar respostas para obstar todo aquele atoleiro africano que deixou feridas abertas até ao presente. E não é por acaso que a última viúva de África veio finalmente descansar num dado ponto do Minho, de onde partira, para fugir à fome, aí pelos anos 1950 do século passado.

Carlos Vale Ferraz voltou a África com uma prosa intensa que incendeia o drama congolês e o pesadelo angolano, estruturou com enorme talento uma figuração entre o passado e o presente, entre a sobrevivência no tumulto dos acontecimentos e a pesada crítica aos europeus que também falharam o encontro com a História.
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Nota do editor CV:

Último poste da série de 6 de Outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17828: Notas de leitura (1001): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17837: Parabéns a você (1324): José Carmino Azevedo, ex-Soldado Condutor Auto do BCAV 2868 (Guiné, 1969/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 8 de Outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17832: Parabéns a você (1323): Luís Mourato Oliveira, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 4740 (Guiné, 1972/74)

domingo, 8 de outubro de 2017

Guiné 61/74 - P17836: Blogpoesia (532): "Oração ao mar..."; "Levitação das pedras" e "Através das frestas...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Pôr-do-sol em Leça da Palmeira
Foto: Carlos Vinhal

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Oração ao mar…

À minha frente um mar imenso.
Sopram forte os ventos agrestes.
Há perigo no mar ao longe.
Se cobriu de negro o horizonte.
Ameaçando tempestade.
Foi-se embora de repente a bonança azul.
Soltam-se as amarras deste barco leve.
À deriva, ficará para sempre.
Chova abundante a clemência do céu.
Se apazigue de vez, este mar em fúria.
Volte a ser uma seara verde.
Que a emoção suave inunde o mundo exangue.
Floresça a esperança. Retorne a paz.

Ouvindo San Francisco na voz de Scott Mckenzie
Berlim, 7 de Outubro de 2017
8h18m
Jlmg

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Levitação das pedras

Se calem as armas deste mundo em chamas.
Sequem as fontes do reino do mal.
Chovam dos céus rios de paz.
... Se escancarem as janelas e portas
Aos ventos do bem.
Subam oferendas carregadas de oiro.
Sejam o tributo da vitória final.
Semeie-se abraços pelos montes e vales.
Regue-se as mesas de canadas de vinho.
Se calem os obuses e levitem as pedras.
Que este mundo perdido se volte para Deus que é o seu porto seguro…

Ouvindo o tema da “Missão”
Berlim, 7 de Outubro de 2017
18h11m
Jlmg

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Através das frestas...

Através das frestas das janelas
Chegam arrufos de sopros lindos.
Vêm envoltos numa envolta pura e reluzente,
De linho puro e de arminho.
Me inundam toda a alma.
Me regalam de lindos sonhos
E vontade de sonhar.
Aquecem todo o meu ser dum calor brando e inebriante.
Dão-me o ser e o viver.
Se entranham bem fundo e se espalham nas minhas veias,
Como onda suave dum mar sereno.
Vibram sonoras as minhas cordas,
Entoam hinos.
Me enlevam num encanto puro,
Pelo esplendor do céu, até às alturas maviosas dum mar estrelado.

Ouvindo Aranguês em instrumentos de sopro
Berlim, 3 de Outubro de 2017
8h8m
Jlmg
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Nota do editor CV:

Último poste da série de 1 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17812: Blogpoesia (531): "Primavera de letras"; "Homens amados" e "Festejar a vida...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P17835: Manuscrito(s) (Luís Graça) (125): Em homenagem ao Gomes Freira de Andrade, mártir da Pátria




Ó pra cima, ó pra baixo, na colina de Santana


Em honra de Gomes Freire de Andrade
e dos demais mártires da Pátria de todos os tempos (*)




por Luís Graça


Pela colina de Santana acima,
lá vamos nós, ó malta,
atrás da banda, em bando,
sonâmbulos, funâmbulos, a quatro patas,
dando vivas à liberdade!

Sete colinas tem a cidade onde cabem todos,
ou quase todos,
os poucos, afinal, que não naufragaram
nas praias dos sete mares.

Vamos amnésicos, e já protésicos,
velhos gaiteiros, pândegos,
infantes e artilheiros,
com muito mundo e poucas vidas,
mal sabendo que, no alto da colina,
boas são as vistas das novas avenidas,
e melhores os ares.

Este país é como a lesma,
agora, ó pra cima,
é o povo, canhestro, quem mais manda,
mas se é outra a banda e novo o maestro,
a música é sempre a mesma, fandanga.

Quer mude ou não o clima, todos querem ficar por cima!
Valha-nos, ao menos, Deus
que ao rei e ao borracho vai pondo a mão por baixo.

E quem não salta, ó malta,
vai no elevador do Lavra, 
é a ralé das vilas e pátios,
a caminho das manufaturas reais,
e alguns, de baraço ao pescoço,
degredados para Angola, Timor ou Guiné.

Se fores senhor com privilégio, valido ou por valer,
ou até doutor em leis e cânones,
não tens nada que saber, segue fora dos carris,
apanha o cortejo régio, 

colina de Santana abaixo até ao Terreiro do Paço.

Bem formosas e melhor seguras
nas suas reais patas vão as açafatas 

da Rainha Catarina, que foi de Inglaterra,
senhora de etiqueta e de berço,
que sabe pôr os pontos nos ii.
No palácio da Bemposta,  meninas,
as leis podem, ser duras mas são leis,
depois do chá e do chichi, o terço
que todas vós rezareis.

Ladinas e engraçadas, essas açafatas,
à noite escapam-se, encapuçadas,
para a sétima colina.
É a movida, qual má vida ?!
Já que não temos os doces prazeres terrenos de Versalhes,
joguemos, ao menos, o jogo do gato e do rato, 
com o pescoço no fio de aço da guilhotina.

Cortesão não é criado, mas criatura,
nunca mostra má catadura,
vai respeitoso, na procissão do Senhor dos Passos,
cabisbaixo, devidamente ataviado, ordeiro,
e nunca é o primeiro a ladrar como um vulgar cãocidadão.
E muito menos dá a palavra à canalha 

que desce o Lavra, alvoraçada, 
a caminho do Rossio onde o poder pode estar por um fio.

Continuará a ir de liteira o nobre
e de chinela no pé o baixo clero,
e, aos dois enchendo a barriga, o pobre, 

o coitado, o proletário,
regista, veemente e fero, o poeta panfletário.

Com tanto palácio, convento e hospital em redor,
não sei o que nos move, senhor físico-mor
do reino de Portugal, dos Algarves
e de além-mar em África…

Não me atrevo a perguntar ao cardeal,
que é o santo inquisidor-mor,
porque aos grandes deste mundo não calam fundo
as perguntas que não têm fácil resposta.

Num país de alarves,

e de brandos costumes, dizem os estranjeiros de fora, 
não quero dizer asneira,
mas, citando o grande pregador António Vieira,
direi que, primeiro, a caridade, depois a esperança,
que é sempre a última a morrer,
e por fim a fé, ou a fezada,
que é irmã da sorte que protege os audazes.

Mas mais do que as três virtudes teologais
é a força da forca e o terror de morte
que nos fazem correr,
a todos nós, simples mortais…
E, no último minuto, a piedade
que a corda do carrasco de el-rei faz suster.

Somos um povo piedoso, meu irmão,
mas finge que olhas, discreto,
para a ostentação dos ricos,
sem a sombra do pecado da inveja dos pobres.

Em Lisboa, que tem arte barroca e forca em cada esquina,
não sigas pelo cume da airosa colina,
foge da Carlota Joaquina,
enfia-te pela viela escura, mal cheirosa e  porca
sem que ninguém te veja.

Esta é a nossa terra, Pátria amada, camarada,
diz a letra do fado do Velho do Restelo,
quem vai à guerra perde o couro e o cabelo.

E logo mais à frente a tabuleta
com a verdade que dói  

e ao mesmo tempo reconforta:
Gomes Freire, de traidor a herói,
hoje enforcado, amanhã condecorado,
que é doce e honroso morrer pela Pátria!

O rei, ou o regente, esse já ninguém o leva a sério,
não será imperador do Brasil,
acabou de perder a coroa e o império,
no casino do Estoril.
De roleta em roleta, o país vai para o maneta,
cobre-se de ervas e de silêncio de cemitério
o campo dos mártires da Pátria.


A gente aqui no bem bom do sobe e desce
e a economia que não cresce, 

ameaça o FMI no Telejornal.
Mas vamos indo, menos mal, 

vendendo aos turistas Portugal,
só não temos é tempo para nada,
e, quando o tivermos, é para morrer.

E o cruzeiro, amor, que queríamos fazer
aos fiordes da Noruega ?
Deixa lá, querido, há-de vir a retoma e o aumento da reforma,
antes de eu ficar velha, surda, muda e cega…

Pela colina de Santana abaixo
lá vamos nós, sonâmbulos, funâmbulos,
a toque de caixa, pró Aljube,

onde nos tratam da saúde…
Deixem lá, camaradas de armas, veteranos,
que daqui a cinquenta anos
já não estaremos cá,
mas haverá de novo festa na urbe,
e os cravos, as rosas e os jasmins
voltarão a florir nos jardins.

Lisboa, Festival Todos 2016,
Colina de Santana, 10/9/2016.
Versão revista hoje.

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Guiné 61/74 - P17834: Agenda cultural (590): Bicentenário da morte do general Gomes Freire de Andrade (1757-1817): eventos (António J. Pereira da Costa, cor art ref)





1. Cartaz que nos chegou por mão (neste caso, por email...) do nosso camarada António J. Pereira da Costa (*). 

Este ano comemora-se o bicentenário da morte de um grande patriota, cidadão e militar, Gomes Freira de Andrade, um dos "mártires da Pátria", nascido em Viena (27 de janeiro de 1757, e enforcado no forte de São Julião da Barra, Oeiras, em 18 de outubro de 1817. 

Além do tenente general Gomes Freire de Andrade (enforcado no forte de São Julião da Barra, contrariamente ao seu pedido para ser fuzilado), foram executados no local que é hoje o "Campo dos Mártires da Pátria, o coronel Manuel Monteiro de Carvalho, os majores José Campelo de Miranda e José da Fonseca Neves e mais oito oficiais do Exército.

Mandava então em Portugal, um inglês, William Beresford  (1768-1854), em nome do regente,  futuro rei Dom João VI, que estava no Brasil desde 1807, sendo o  Rio de Janeiro a capital do império...  Três anos depoiss da execução de Gomes Freire de Andrade e dos outros "mártires da Pátria", triunfa a revolução liberal em Portugal.


2. Património Cultural > Campo dos Mártires da Pátria, também denominado «Campo Santana», incluindo as suas vizinhanças de interesse histórico, artístico ou pitoresco

Em inícios do século XVI, o Campo Mártires da Pátria era conhecido como Campo do Curral, uma vez que era nes e espaço aberto, situado num dos pontos altos da cidade, que se efectuava o abate de gado para abastecer a cidade de Lisboa. Com a construção de uma ermida nesse planalto, a área passou a denominar-se Campo de Santana, em alusão à padroeira do pequeno templo.

Rodeado por palacetes e dominado pelo edifício da antiga Escola Médico-Cirúrgica, o campo foi sendo utilizado para diversos fins, nomeadamente a partir do início do século XIX, em que a cidade se estendia para lá da Baixa. 

Em 1831, era inaugurada no extremo do planalto uma praça de touros em madeira, demolida em 1891. Entre 1835 e 1882, o campo de Santana albergou também a Feira da Ladra da cidade, que posteriormente se instalaria no Campo de Santa Clara. 

Somente em 1880, o espaço passou a designar-se como Campo dos Mártires da Pátria, em homenagem ao General Gomes Freire de Andrade e seus companheiros, conjurados que tentaram derrubar o governo do Marechal Beresford, tendo sido enforcados neste local em 1817. 

Em 1895, quatro anos depois de ter sido demolida a praça de touros, o planalto de Santana foi transformado num jardim, que se estende num hexágono irregular, entre o Largo do Mitelo e o Torel. Num dos extremos da praça, frente à antigo Escola Médico-Cirúrgica, foi edificado em 1907 um monumento com a estátua do Dr. Sousa Martins, da autoria de Costa Mota (tio).
Catarina Oliveira

Guiné 61/74 - P17833: Inquérito 'on line' (127): Num total de 64 respondentes, mais de um 1/3 diz que não há (ou não sabe se há) um monumento aos combatentes do ultramar no concelho onde mora...



Lourinhã > Atalaia > Parque dos Moinhos > 16 de junho de 2013 > Inauguração do monumento aos combatentes do ultramar > Vista parcial do monumento... O concelho da Lourinhã tem pelo menos 5 monumentos do género: Atalaia, Lourinhã, Xambujeira/Serra do Salvo, Moledo, Ribamar.


 Foto (e legenda): © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


I. INQUÉRITO DE OPINIÃO:

"NO CONCELHO ONDE MORO, HÁ MONUMENTO AOS COMBATENTES DO ULTRAMAR"...


Total de votos apurados=64




1. Sim  > 41 (64,1%)


2. Não  > 15 (23,4%)

3. Não sei / nâo tenho a certeza > 8 (12,5%)


Total > 64 (100,0%)

O inquérito fechou ontem, sábado, dia 7, até às 20h43.

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Guiné 61/74 - P17832: Parabéns a você (1323): Luís Mourato Oliveira, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 4740 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 8 de Outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17830: Parabéns a você (1322): Jorge Rosales, ex-Alf MIl Inf da 1.ª CCAÇ (Guiné, 1964/66)