sexta-feira, 3 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20806: Esboços para um romance - I (Mário Beja Santos): Peço a Deus que tu regresses são e salvo (1)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 27 de Janeiro de 2020:

Queridos amigos, 
Reencontrar uma fotografia que tem mais de cinquenta anos, associada ao pré-anúncio de que a Guiné está à espreita e me vai receber de braços abertos, suscitou um conjunto de recordações em torno de perto de meio ano que vivi em S. Miguel, e que teve uma importância excecional na minha vida. 
Como os mais jovens não acreditam que aquele mundo existiu, tal qual aqui se recorda, permito-me trazer à vossa presença este cadinho de recordações. De associação com essa vida militar, novinho em folha, abria-se um capítulo de amizades inquebrantáveis e de uma adoração por aquela terra que seguramente irá até ao final dos meus tempos. Dessas amizades aqui farei um bosquejo, gente afetuosíssima que me preparou moralmente para a experiência guineense. Vão partindo, como ainda recentemente partiu uma distintíssima figura micaelense, Cremilde Tapia, senhora dadivosa, voluntária da generosidade e da dedicação à causa dos mais necessitados. Todo este rasurado lhe será dedicado, pelo bem que me fez e aos meus familiares, incluindo minha mãe, que se despediu de mim nessas duas partidas, para Ponta Delgada e para a Guiné, com o mesmo apelo: "Peço a Deus que tu regresses são e salvo"

Um abraço do 
Mário


Peço a Deus que tu regresses são e salvo (1)

Mário Beja Santos

“Olha, pai, andei a remexer nas gavetas do meu quarto, encontrei esta tua fotografia, tenho a impressão que tu tinhas ido para a tropa, tens um ar resignado mas não pareces triste. Como foi?”.

Peguei na imagem, há quem diga que não nos conseguimos rever naquilo que éramos, há mais de cinquenta anos atrás, mas não houve hesitação no reconhecimento, aquela boina que eu compunha como se fosse uma boina basca, a boa disposição de ter aprendido como dava jeito ter o corpo moldado para a guerra no horizonte, sem remissão. Expliquei à Joana que acabara de ser promovido a Aspirante Oficial Miliciano, com classificação baixíssima, tudo devido a uma incompetência medular para mexer no armamento, não que me custasse limpar a Mauser ou a G3, aprendi as limpezas domésticas muito novo, não era essa a dificuldade, ao montar qualquer arma sobravam-me sempre peças. Atingira o objetivo maior, certificar-me que o corpo estava apto para as grandes fadigas, como se comprovou no exame rigoroso de mais de dois anos na Guiné, a calcar laterite por tudo quanto era sítio. Promovido a Aspirante e lançado a caminho de Ponta Delgada, com colocação no Batalhão Independente de Infantaria n.º 18, Arrifes.

E a seguir, outras fotografias se encadearam. A minha mãe entendeu que devia convidar dois grandes amigos meus, no jantar de despedida, em 6 de outubro de 1967. Veio a Helena Vidal, minha professora de inglês e alemão, foi ela que me levou ao British Institute ver aqueles espantosos ciclos de cinema dos anos 1950 e 1960, com Sir Laurence Olivier e Alec Guinness à cabeça; e o Eduardo Canto e Castro, amizade firmada a partir do primeiro ano no Colégio Moderno. Para meu infortúnio, estes amigos diletos já desapareceram. Na outra fotografia, já estou no cais, a seguir embarco no Carvalho Araújo. A Amélia Lança e a Margarida Silveira, duas amigas de peito, talvez convencidas que eu partia para a Polinésia e sem regresso, acenaram até ao barco desaparecer no horizonte. A minha mãe não foi, temia comover-se. Despedimo-nos à porta de casa. E retive o que ela me disse, e que irá repetir quando a beijei pela última vez no cais da Rocha do Conde de Óbidos: “Peço a Deus que tu regresses são e salvo”. Terá pedido insistentemente, a roda da fortuna acobertou-nos.




Estou absolutamente convicto que um jovem açoriano tem a maior das dificuldades em acreditar no que eu já escrevi sobre Ponta Delgada e a vida em S. Miguel. Toda a zona da baía à volta do porto, a ida pela Calheta até à Lagoa, são paisagens de algum modo irreconhecíveis. Chegámos à noite, despedi-me do José Medeiros Ferreira, que partiu para a Fajã de Baixo, e um amigo do meu cunhado, Dragomir Knapic, levou-me até aos Arrifes, dormi no quartel, no dia seguinte começou a pesquisa de quarto, fiquei a viver num quarto alugado na Rua de Lisboa, n.º 31, muito perto do Coliseu Micaelense e da Cervejaria Melo Abreu, apanhava o Largo 2 de Março e antes de chegar às portas da cidade virava à direita para o Café Nacional, mesmo em frente da Câmara Municipal, fiz contrato de comensal, jantava ali todos os dias, sem exceção. Quando regresso a Ponta Delgada, e tem sido com muita regularidade, procura permanências e as grandes mudanças. Não sei se há outro ponto do país que beneficiou tanto com o regime democrático. Os recrutas que tive adoravam a tropa, por razões elementares: nunca tinham comido pequeno-almoço, almoço e jantar, carne e peixe todos os dias; muitos não sabiam o que era o chuveiro, o champô, o fazer diariamente a barba. Jovens dóceis e conviventes, não sei se jamais voltarei a encontrar gente que fala com tanta sinceridade, sem esconder como vive lá na terra, como trabalha, os sonhos que tem, alguns passam por viajar até ao Canadá ou Massachusetts ou San Diego, quando vierem da guerra, ali não há ilusões que o nosso destino é África.



A minha filha traz-me uma bandejinha em prata, está lá gravado “Lembrança do 5.º Pelotão” por trás vem o nome da ourivesaria em Ponta Delgada. Esta imagem já a publiquei no blogue, não ilude a boa disposição reinante. Eu estou a ajaezar o Botas, era um moço, pasme-se, que nunca tinha vindo até Ponta Delgada, quando no fim da recruta, com autorização superior, meti esta malta toda numa camioneta e viemos ver ao cinema Lord Jim, de Richard Brooks, com Peter O’Toole, James Mason e Curd Jürgens, o Botas estava siderado, tinha lágrima no olho, quis voltar. Não sei se voltou, sei que estávamos todos a crescer e a mudar, foi uma alegria esta experiência de duas recrutas, se já trazia o corpinho preparado para as grandes andanças aqui se revelou o que se guardava como enigma: a capacidade de liderança, uma forma de autoridade natural, sempre a dar o exemplo, dispensando a gritaria e o palavreado brutal. Liderar é um dom que se burila, com a vantagem de se poder dispensar, quando se pretende passar para o anonimato, viver sem chefiar.


A disposição do quartel terá que surpreender muita gente, se não lhe conhecer os antecedentes. Na presunção de que os Açores podiam vir a ser invadidos, na II Guerra Mundial, criou-se aqui um quartel-hospital, se se reparar bem organizaram-se enfermarias que, quando chegou ao tempo da guerra de África, rapidamente se adaptaram a casernas. Naquele longínquo dia de outubro de 1967, quando acordei com os toques do corneteiro, saindo de uma cama com as mantas todas molhadas, e vim à porta, não eram estas as nuvens, era a bruma, que desapareceu a meio da manhã, e todo o esplendor daquela terra fértil, verdejante, pejada de vacas, encheu o meu olhar. À volta, estradas em paralelepípedos basálticos, por aí se farão marchas e corridas, passando por sítios belíssimos, como S. Vicente Ferreira, ainda no concelho de Ponta Delgada, e Fenais da Ajuda, já no concelho de Ribeira Grande.


Os jovens micaelenses duvidarão desta história, de pungente miséria. Os Arrifes, acima de Ponta Delgada, eram uma freguesia muito populosa, casais com muitos filhos, vivendo em condições da máxima indigência. Apanhávamos um transporte no Largo 2 de Março, perto do Palácio da Conceição, e vínhamos por aí acima, até aos Arrifes, a vida militar começava pelas 8:30 da manhã. O período de almoço era curto, de modo a concluir-se o dia de faina pelas cinco da tarde, voltava-se a tomar transporte de regresso a Ponta Delgada, não dava para conhecer o que era a vida do povoado. Mas havia as funções de oficial de dia, e então, inopinadamente, surgiu a realidade das grandes carências. Findo o jantar, surpreendeu-me um conjunto de crianças junto à porta de armas, traziam umas latas na mão. Perguntei na cozinha o que era aquilo: vinham à espera de sobras, sopa, restos de batatas e de pão. Dirigi-me ao responsável, mandei abrir uma lata de atum e tirar peças de fruta da dispensa. O homem olhou-me boquiaberto, como é que o meu aspirante vai descalçar a bota com o vagomestre. Não te preocupes, hei de encontrar uma justificação. Que se conseguiu, havia felizmente no dia seguinte instrução noturna, justificou-se como comida suplementar. Iremos ver mais imagens destas crianças, virão regularmente pedir-me para eu ser oficial de dia, queriam jantar reforçado. Ninguém suspeita nos dias de hoje a miséria que havia na região.


Também este postal já apareceu no blogue, enviei-o à minha mãe, para lhe mostrar a vida dos Arrifes, aqueles moinhos que porventura foram trazidos por bretões ou flamengos. Fiz amizades para toda a vida. Com as inevitáveis perdas. O Capelão dos Arrifes era o Padre Agostinho do Couto Tavares, quis saber como é que eu passava os fins de semana, achou que havia para ali isolamento a mais, e tudo fez para me apresentar a uma família que, como veremos, teve um papel relevantíssimo naquele meu tempo micaelense.


Monsenhor Agostinho do Couto Tavares, o guardião do Senhor Santo Cristo

(Continua)
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Guiné 61/74 - P20805: Da Suécia com Saudade (67): Carta aberta ao Camarada Beja Santos (José Belo)


Tabanca da Lapónia > As queridas renas do Zé Belo, régulo  da tabanca e criador 

Foto: Cortesia de José Belo. [Edição e : Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de José Belo ex-alf mil inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70, e manteve-se no ativo, no exército português, durante uma década; está reformado como capitão inf do exército português: jurista, vive entre Estocolmo, Suécia, Abisco, Kiruna, Lapónia, no círculo polar ártico, e Key-West, Florida, EUA.

Date: segunda, 30/03/2020 à(s) 06:55
Subject: Carta aberta ao Camarada Beja SantosCaro Luís


Caro Luís:

Enquanto os nevões continuam a cair e as temperaturas voltam a descer consideravelmente nos últimos dias, aproveitei os tempos livres para rever leituras do publicado no blogue pelo Camarada Beja Santos.

A qualidade, os temas interessantes e, não menos, a continuidade da sua colaboração, levaram-me a escrever-lhe uma “carta aberta“ desde bem dentro do Círculo Polar Árctico.

Um abraço.
J. Belo


2. Carta aberta ao Mário Beja Santos:

por José Belo

Como certamente muitos outros,  tenho lido com atenção e interesse os inúmeros postes que, ao longo dos anos, tens vindo a publicar no blogue.

São variadíssimas as escolhas de autores, publicações e documentos.

A muitos têm vindo a abrir novas perspectivas, opiniões e análises sobre África, colonialismo e a nossa fantástica História.

Quanto à Guiné, interessantes detalhes etnográficos e administrativos,  tanto recentes como antigos.

Pela regularidade e qualidade, os teus postes tornaram-se um "ponto dado" de leitura para todos os que visitam o blogue.

Enriquecendo o blogue tens vindo também a enriquecer os seus leitores.

Algumas criticas, agressivas e inapropriadas no seu "pessoalizado", felizmente não têm conseguido fazer-te desistir de tão valiosa colaboração.

E não só não desistir, como não cair na armadilha de pseudo diálogos-comentaristas feita.

As provocações por parte de alguns, em necessidades quase patológicas de "planteamentos" feitas, mais não têm tido, felizmente, o... valor que têm.

As interessantes descrições das viagens por ti efectuadas, sempre acompanhadas de fotos criteriosamente escolhidas, algumas delas provocando uma suave e insidiosa sensação de "fim de século "... (esta de fim de século em francês, "fin de siècle", soa melhor!), acabam por tornar a tua colaboração multifacetada naquilo de que importante É.

Um abraço do J. Belo
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Guiné 61/74 - P20804: Ser solidário (230): Viva a Escola São Francisco de Assis "Paz e Bem", em Boibau, Manati, Liquiçá, Timor Leste (Rui Chamusco)

Rui Chamusco,
Lourinhã, 2016
1. Mensagem do nosso amigo  Rui Chamusco, membro da Tabanca de Porto Dinheiro / Lourinhã, professor reformado, natural de Malcata / Sabugal, a viver na Lourinhã,  cofundador e líder  da ASTIL - Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste.


Date: quinta, 2/04/2020 à(s) 11:38

Subject: Astil Timor Leste



ASTIL (Associação de Amigos Solidários com Timor Leste)

Estimados Sócios e amigos

Hoje seria para mim e para a Glória Sobral (esposa do Gaspar) um dia especial, caso se pudesse concretizar o nosso plano, porque estava marcado a nossa viagem para Timor Leste a fim de podermos ajudar e impulsionar alguns dos nossos projetos de solidariedade em curso.

Quis Deus que assim não fosse, devido às circunstâncias que nos abrangem a todos e que tanto nos preocupem. Esperamos, com ansiedade, que estas limitações passem depressa, a fim de darmos cumprimento à nossa missão solidária.

Quero, no entanto, informar-vos de que as nossas diligências continuam, através das redes sociais. Junto do ministério da educação de Portugal temos procurado, com insistência, o apoio necessário para o destacamento de um(a) educador(a) e de um(a) professor(a) para a Escola São Francisco de Assis "Paz e Bem", em Boibau, Manati, Liquiçá, Timor Leste e aguardamos, com esperança, que nos seja dada uma resposta positiva.

A "casa do professor" está quase concluída, faltando aplicar as loiças sanitárias e equipar os quartos (3) e a cozinha (fogão, frigorífico, loiças diversas).

A campanha "pik up", veículo ao serviço da Escola São Francisco de Assis, está em curso e, logo que possa contactarei alguns amigos que, de certeza, nos irão ajudar.

O programa de apadrinhamento de crianças necessitadas continua nos moldes já conhecidos, dando cada padrinho o apoio possível ao seu afilhado. Continuamos a insistir que o objetivo principal deste programa é o estabelecimento de relações, de modo a ajudar indiretamente cada criança/jovem na aprendizagem e desenvolvimento da língua portuguesa, a segunda língua oficial de Timor Leste. Peço desculpa a todas as madrinhas e padrinhos da falta de resposta dos afilhados aos seus esforços de comunicação, e prometo-lhes que, quando eu regressar, farei tudo o que puder para que haja uma resposta adequada dos apadrinhados.

Como muitos de vós.  estou em casa, respeitando e acatando as ordens emanadas da DGSaúde  e dos nossos governantes. Não sabendo até quando teremos de viver nestas condições, prometo-vos que logo que me seja possível e aconselhado, regressarei a Timor Leste, terra dos nossos sonhos e projetos, em cumprimento dos programas do nosso projeto de solidariedade. As crianças e os jovens que apoiamos chamam por nós. O seu sorriso de agradecimento cativam-nos. Com eles e com todos vós no coração, aqui vos deixo o meu abraço amigo

Que Deus tenha compaixão de nós e permita que nos voltemos a encontrar, o mais breve possível.

Rui Chamusco, prof
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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P20803: Parabéns a você (1779): Álvaro Vasconcelos, ex-1.º Cabo TRMS do STM/CTIG (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 1 de Abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20796: Parabéns a você (1778): Carlos Pedreño Ferreira, ex-Fur Mil Op Esp do COMBIS e COP 8 (Guiné, 1971/73) e Gina Marques, Amiga Grã-Tabanqueira

quinta-feira, 2 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20802: Prova de vida (3): Cá estou eu! (Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS / BCAÇ 2845)

1. Mensagem do nosso camarada Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70, com data de 30 de Março de 2020:

Olá Carlos Vinhal
Aqui envio meu relatório esperando continuar já que tudo está normalizado e já ter tempo para andar na Tabanca como sempre gostei e, continuar a ler o que por lá está escrito, fazendo dela o meu jornal. 

Um Abraço para todos os Tertulianos.
Albino Silva


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2. Nota do editor:

Caro Albino,
Bem-vindo, de novo, ao Blogue. Já tínhamos saudades dos teus poemas.
Já que neste momento dispões de mais algum tempo livre, esperamos que retomes o envio dos teus textos e fotos.

Para ti, um abraço em nome da tertúlia e dos editores
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de março de 2016 > Guiné 63/74 - P15831: Prova de vida (2): Ainda cá estou e continuo de pé!... Mas ainda não resolvi se este ano vou estar presente no XI Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real, dia 16 de abril (José Augusto Miranda Ribeiro, ex-fur mil da CART 566, Ilha do Sal - Cabo Verde, Outubro de 1963 a Julho de 1964, e Olossato - Guiné, Julho de 1964 a Outubro de 1965)

Guiné 61/74 - P20801: Fichas de unidade (12): CCAÇ 414 (1963/64), do cap Manuel Dias Freixo (Jorge Araújo)


Foto 1 - Março de 1963. Grupo de Sargentos da CCAÇ 414, no N/M "Ana Mafalda", a caminho da Guiné. Foto do camarada Manuel Castro (ex-Fur Enf da CCAÇ 414) – P12687, com a devida vénia.




Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/1974); um homem das Arábias... doutorado pela Universidade de León (Espanha) (2009), em Ciências da Actividade Física e do Desporto; professor universitário, no ISMAT (Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes), Portimão, Grupo Lusófona; autor da série "(D)o outro lado do combate"; nosso coeditor.

 A COMPANHIA DE CAÇADORES 414 [CCAÇ 414] - (1963/64) DO CAPITÃO DE INFANTARIA MANUEL DIAS FREIXO
- SUBSÍDIO HISTÓRICO -

1.   - INTRODUÇÃO

As duas condecorações e uma foto sem identificação adquiridas num leilão pelo nosso amigo Carlos Mota Ribeiro, e divulgadas no P20680, levou-o a solicitar ao colectivo da «Tabanca» o eventual reconhecimento da figura de um capitão de infantaria com uma "Cruz de Guerra" ao peito. 

Sobre o seu pedido de ajuda foram avançadas algumas sugestões, nomeadamente através do camarada José Martins (P20702). Manuel Castro, ex-Fur Enf da CCAÇ 414, em comentário ao mesmo poste, afirma que "a fotografia é do sr. Capitão Manuel Dias Freixo, falecido com a patente de coronel. Como capitão foi comandante da Companhia de Caçadores 414, que serviu agregada ao BCAÇ 356, com sede em Catió. Foi meu comandante nessa companhia e conheci de muito perto os seus extraordinários dotes (…)". 
Eu próprio, em resultado de consultas bibliográficas, sugeri o nome do Cap Inf Manuel Francisco da Silva (1933-2015), comandante da CCAÇ 1681 (P20736). O conjunto de informações recolhidas acabaram por serem úteis, pois permitiram elaborar um pequeno subsídio Histórico desta Unidade.

Entretanto, a propósito dos comentários bem-vindos e oportunos do nosso camarada Manuel Castro, cuja Unidade não tem História escrita (Ceca; p 316), decidi dar o meu contributo, elaborando a presente resenha histórica, para memória futura.

2.   SUBSÍDIO HISTÓRICO DA COMPANHIA DE CAÇADORES 414 =
CATIÓ - ILHA DE COMO - EMPADA - FULACUNDA - TITE - NOVA SINTRA - SÃO JOÃO - ALDEIA FORMOSA - BUBA - CACINE - XITOLE - BEDANDA - QUINHAMEL - PORTO GOLE - NHACRA - MANSOA E BISSAU (1963-1964) E CABO VERDE (ILHA DO SAL) (1964-1965)


2.1 - A MOBILIZAÇÃO PARA O CTIG


Mobilizada pelo Batalhão de Caçadores 10 [BC 10], de Chaves, para servir na província ultramarina de Moçambique, foi a Companhia de Caçadores 414 (CCAÇ 414) desviada para o CTIG, tendo embarcado em Lisboa, no Cais da Rocha, em 21 de Março de 1963, 5.ª feira, sob o comando do Capitão Inf Manuel Dias Freixo, seguindo viagem a bordo do N/M "Ana Mafalda" rumo à Guiné (Bissau), onde chegou a 27 do mesmo mês, 4.ª feira.

2.2 - SÍNTESE DA MOBILIDADE OPERACIONAL DA CCAÇ 414

A CCAÇ 414, após o desembarque em Bissau, foi integrada nas forças de intervenção e reserva do comando militar, fazendo parte do BCAÇ 356 (Comando e CCS), [23Jan62-17Jan64, do TCor Inf João Maria da Silva Delgado], tendo seguindo, em 01Abr63 e 23Abr63, por fracções, para Catió, a partir de onde tomou parte em várias operações realizadas nas Ilhas de Caiar e Como, de 24 a 27Abr63, e nas regiões de Fulacunda, de 09 a 13Mai63, do Quinara, de 01 a 27Jun63, e de Ganjola, de 17 a 20Set63. 

A partir de 02Ago63, após a remodelação do dispositivo então verificada, assumiu a responsabilidade do subsector de Catió, conjuntamente com a missão de intervenção no Sector Sul, continuando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 356 e depois do BCAÇ 619 [15Jan64-09Fev66, do TCor Inf Narsélio Fernandes Matias], tendo um Gr Comb sido deslocado para Ganjola em 15Dez63, onde substituiu a CART 494 [22Jul63-24Ago65, do Cap Art Alexandre da Costa Coutinho e Lima], e ali permaneceu até finais de Fev64.

Em 01Mar64, foi rendida, por troca, pela CCAÇ 617 [15Jan64-09Fev66, do Cap Inf António Marques Alexandre], tendo sido colocada em Bissau, e integrada no dispositivo do BCAÇ 600 [18Out63-20Ago65, do TCor Inf Manuel Maria Castel Branco Vieira], com vista à segurança e protecção das instalações e das populações. 

Em 28Jul64, foi substituída pela CART 566, por troca [vinda de Cabo Verde em 28Jul64-regresso a 27Out65, do Cap Art Adriano de Albuquerque Nogueira], embarcando para Cabo Verde (Ilha do Sal), para continuação (conclusão) da sua comissão de serviço.


Geografia da região de Quinara e Tombali (Sector Sul) com a indicação de alguns dos locais por onde palmilhou, entre Abr63 e Fev64, o contingente da CCAÇ 414 (com outras Unidades), cumprindo as diferentes missões definidas nas Directivas elaboradas pelo Comandante-Chefe, conforme se dá conta no ponto abaixo.



2.3 – SÍNTESE DA ACTIVIDADE OPERACIONAL DA CCAÇ 414

A actividade operacional da CCAÇ 414 teve início três semanas depois da sua chegada ao CTIG, num tempo em que o conflito armado contabilizava, apenas, três meses de actividades subversivas.

► A sua primeira missão decorre no âmbito da Directiva n.º 1 do Cmdt-Chefe, datada de 16Abr1963, onde incluía a participação de forças dos três ramos das Forças Armadas, cuja "ideia de manobra", para a 1.ª fase de operações no Sector Sul, apontava para a actuação simultânea a norte e sul deste Sector, nos pontos de provável localização IN, a fim de o detectar e capturar ou aniquilar.

Uma segunda "ideia" era colher informações necessárias para localizar os grupos IN e explorá-las, prosseguindo na acção até estabelecer a calma e segurança ou, pelo menos, controlar, com relativa eficiência, a situação em cada uma das zonas. Visava, ainda, continuar com acções de limpeza na zona periférica de Catió, para posterior ocupação, com maior densidade de meios, o dispositivo de protecção a fim de facilitar a execução ulterior de uma 2.ª fase de operações.

Missões das Forças

● – FT - Exploração imediata e local das informações existentes ou obtidas no decorrer da acção. - Vigilância dos rios Geba e Corubal a fim de evitar a transposição pelo ln para norte e leste da zona de acção. Forças envolvidas: Comando do BCAÇ 356, CCAÇ 273 [Açoriana; 28Jan62-17Jan64, do Cap Inf Jerónimo Roseiro Botelho Gaspar], no Sector de Cacine: CCAÇ 274 [Açoriana; 28Jan62-17Jan64, do Cap Inf Adérito Augusto Figueira], no Sector de Tite: CCS e CCAÇ 414 na Ilha do Como, e região de Tombali. As acções na região de Tite iniciaram-se em 17Abr63 e na região de Cacine em 20Abr63.

● – FN - Vigilância do rio Geba e do rio Corubal na parte navegável, com o fim de evitar a fuga de elementos inimigos. - Previsão de uma acção de desembarque na praia de Cassumba a realizar à ordem. - Fiscalizar sempre que possível e sem prejuízo da realização dos comboios, os canais entre a Ilha de Como e o Continente.

● – FA - Reconhecimento das zonas de acção. - Apoiar pelo fogo as FT e FN. - Prever acções de intervenção isoladas. - Vigiar o Canal do Geba, rio Corubal, Ilha de Como, e região de Tombali, península de Cacine.

Desenrolar das Acções

● Em 17Abr63, 4.ª feira, pelas 05h00, teve início a 1.ª fase das operações no sul, com a batida da CCaç 274 a norte de Tite. O BCAÇ 237, estacionado em Tite, também actuou, tendo provocado ao In 18 mortos.

● Em 19Abr63, 6.ª feira, foram elaboradas Directivas para emprego das FN e FA nestas operações. A acção da CCAÇ 273 [25Jul61-19Out63, do TCor Inf Carlos Barroso Hipólito], na península de Cacine, foi adiada por haver informações da existência de grupos In na Ilha de Como e na região de Santa Clara.

● Em 20Abr63, sábado, realizou-se uma actuação nessa região sem grande resultado, apesar de ter sido destruído pela FA um acampamento In, tendo a tropa reembarcado.

● Em 21Abr63, domingo, repetiu-se a acção com apoio aéreo. Este apoio não foi feito de início por se julgar haver na Ilha mulheres e crianças, quando afinal só foram vistos panos de cor estendidos no mato.

● Em 22Abr63, 2.ª feira, a FA bombardeou a tabanca de S. Nicolau. As FT desembarcaram em Uncomené depois de desalojarem o In, e por este ter ocupado um armazém da Firma Brandão, a FA arrasou-o.

● Em 23Abr63, 3.ª feira, a CCAÇ 273 iniciou a operação Cacine-Aldeia Formosa. A CCAÇ 414 transitou para a Ilha de Como com um pelotão da CCS e o Cmdt do BCAÇ 356.

● Em 26Abr63, 6.ª feira, as acções das CCAÇ 273 e CCAÇ 274 continuavam nas suas zonas de acção. A CCAÇ 414, vinda da Ilha de Como, regressou a Catió no dia 28Abr63.

● Em 30Abr63, 3.ª feira, a CCAÇ 414 realizou uma acção em Dissimbile e a CCAÇ 274 em Gamol.

● Em 01Mai63, 4.ª feira, a CCAÇ 414 terminou a acção em Catissane abatendo guerrilheiros. A CCAÇ 273 estava em acção na área de Cacine e a CCAÇ 274 em Umpassa.

● Em 03Mai63, 6.ª feira, continuavam as acções no Sul: a CCAÇ 274 em Fulacunda; a CCAÇ 273 em Cacine com Grs Comb em Cacoca e Camissorã.

● Em 05Mai63, domingo, a CCAÇ 414 iniciou o reconhecimento do itinerário Catió-São Gregório com o fim de proteger um carregamento de arroz.

● Em 07Mai63, 3.ª feira, a CCAÇ 273 continuava em Cacine, a CCAÇ 274 recolheu a Fulacunda e a CCAÇ 414 a Catió.

Em Maio'63 o In continuou as obstruções nas estradas do Sector Sul com o fim de impedir a saída das NT dos quartéis. A CCAÇ 423 [22Abr63-29Abr65, do Cap Inf Nuno Gonçalves dos Santos Machado], colocada em São João a 06Mai63, teve, antes de ocupar essa povoação, de remover centenas de abatizes ao longo do percurso Bafatá-Xitole-Bambadinca-Fulacunda-São João.

► Para prosseguimento das operações no Sector Sul, iniciadas com a Directiva n.º 1 do Cmdt-Chefe, datada de 16Abr63, é difundido em 10Mai63 um novo Plano de Operações, o 2.º, designado por «Plano Leque». 

◙ Desenrolar das Acções

● A CCAÇ 273 na península de Cacine, a CCAÇ 274 na zona de Fulacunda e a CCAÇ 414 na área de Catió, tiveram alguns contactos com elementos In, que abateram.

● Em 22Mai63, 4.ª feira, a CCAÇ 414 deslocou-se ao Tombali para remover o corpo de um furriel piloto [Eduardo Nuno Ricou Casals] e destruir o avião caído nessa região, tendo removido 90 abatizes. Regressou no dia 24Mai63, 6.ª feira, a Catió depois de ter levantado mais 170 abatizes. A CCAÇ 423 desobstruiu a estrada cheia de abatizes entre São João e Nova Sintra.

Fontes:




Sobre esta ocorrência, sugerimos a leitura da última edição do livro do António Lobato "Liberdade ou Evasão – O mais longo cativeiro da guerra" – a 5.ª, de 2014, da DG Edições – onde o autor descreve, na primeira pessoa e com circunstanciado detalhe, este acidente aéreo verificando no dia 22 de Maio de 1963 durante o seu regresso da Ilha do Como.


Como alternativa, podem ser consultadas, também, as "Notas de Leitura" elaboradas pelo camarada Mário Beja Santos e publicadas nos P11173; P20534; P20555 e P20577.


► Seguiu-se, depois, a 3.ª fase de operações no Sector Sul incluída na Directiva n.º 3, também designada por «Plano de Operações Seta», cujos movimentos preparatórios tiveram lugar a 31Mai63, 6.ª feira, e a operação a iniciar-se no dia seguinte, 01Jun63, sábado, com a presença do Comandante-Chefe.

Este «Plano Seta» emerge do diagnóstico de que as regiões de Quinara e Fulacunda estavam, na sua quase totalidade, fora do controlo das autoridades dada a intensa actividade desenvolvida pelo In. "A grande maioria das tabancas estão abandonadas refugiando-se a população no mato, embora recolha durante a noite a algumas das não destruídas. A população, em parte coagida, em parte de livre vontade, colabora com o In, nomeadamente na colocação de abatizes e no racionamento de géneros alimentícios, este para fazer face às dificuldades que certamente surgirão na época das chuvas que se aproxima. Tem criado dificuldades à movimentação das NT pela obstrução sistemática das vias de comunicação e montagem de emboscadas. Tem atacado embarcações civis e até militares. Já saquearam casas comerciai em São João."

◙ Desenrolar das Acções

● Em 01Jun63, sábado, pelas 05h00, iniciaram-se os desembarques em locais da margem direita do rio Grande de Buba e os deslocamentos das Unidades para os locais de actuação. A situação das NT no dia 03Jun63, 2.ª feira, era a seguinte: a CCAÇ 274 na região de Gansene, a CCAÇ 414 na região de Brandão, GC CCAÇ 411 [09Abr63-29Abr65, do Cap Inf João Gomes do Amaral] e GC CCAÇ 417 [12Fev63-18Jul64, para Cabo Verde, do Cap Inf Carlos Figueiredo Delfino] na região de Fulacunda, a CART 240 [30Jul61-19Out63, do Cap Art Manuel Fernando Ribeiro da Silva (1.º) e Cap Mil Inf António Gomes de Oliveira e Sousa (2.º)] em Gantongo, a CCAÇ 423 em Ponta Colónia e Ponta João Martins, FEsp em Gã Maior de Baixo e a CCAÇ 273 na região de Cacine.

● Em 04Jun63, 3.ª feira, o Comandante-Chefe seguiu, de jeep, escoltado por um GC da CCAÇ 414 e daí para Nova Sintra, onde estava a CART 240 e depois para São João, quartel da CCAÇ 423. Esteve mais tarde em Tite, vindo de avião de Bolama, tendo acordado com o Cmdt do BCAÇ 237 uma batida ao Iusse. Nos dias seguintes, como até aí, as Unidades montaram emboscadas, efectuaram reconhecimentos, alguns com contacto com o In a quem provocaram baixas, patrulharam as tabancas e realizaram acções de nomadização. As Unidades, no decorrer das suas actuações, mudaram frequentemente de estacionamento, sempre à procura do In, que não se expôs. As FN mantiveram-se em fiscalização na zona Centro-Sul e as FA em acções de ligação, transporte, evacuação e PC Aéreo.

● Em 11Jun63, 3.ª feira, os FEsp actuaram com morteiros em Gã Pedro, que revistaram e destruíram.

● Em 12Jun63, 4.ª feira, a CCAÇ 414 no decurso duma acção operacional, fez três mortos ao In, apoderou-se de armamento e seguidamente, em Gamalã, em novo confronto fez mais dez morto e vários feridos.

● Em 17Jun63, 2.ª feira, a situação era a seguinte: a CCAÇ 274 na região de Gamol; a CART 240 em Ponta Nova, Sajã, Flaque Nhadal e Brandãozinho; a CCAÇ 414 em Brandão, a CCAÇ 423 em Junqueira e São João e os FEsp desembarcaram em Gã-Chiquinho. Nessa noite o In lançou um violento ataque a Catió.

● Em 18Jun63, 3.ª feira, de manhã, o In voltou a atacar o quartel e a tabanca de Priame. O Cmdt do BCAÇ 356 pediu reforços e o regresso da CCAÇ 414. Determinou-se a ida da Fragata "Nuno Tristão" com FEsp a Catió e a deslocação da CCAÇ 414 por terra. Salienta-se a ousadia em atacar de dia o quartel e a tabanca de Priame. Este ataque ocorreu porque o In sabia que a guarnição de Catió estava reduzida, em virtude do empenhamento de parte dos efectivos na «Operação Seta».

● Em 19Jun63, 4.ª feira, a CCAÇ 414 chegou sem novidade a Catió e os FEsp desembarcaram e cooperaram com as FT.

● Em 22Jun63, sábado, a CART 240, após forte resistência, destruiu um acampamento em Jabadá-Beafada, fazendo doze mortos, muitos feridos e cinco prisioneiros.

● Em 23Jun63, domingo, foi dada por finda esta operação, onde os seus resultados não foram muito visíveis. Ainda assim, trouxe vantagens por se ter batido toda a região de Quinara-Fulacunda e se ter pacificado a região de São João, com a recolha de duas centenas de Manjacos e famílias. As Unidades recolheram aos seus quartéis com o fim de preparar a ocupação do dispositivo de protecção na época das chuvas. Foi dada ordem à FA para actuar em força contra o In na Ilha de Como, de dia e de noite.

► Com data de 27Jun63, 5.ª feira, é elaborada a Directiva n.º 4 do Comandante-Chefe, propondo um novo plano de operações, designado por «Plano Rede», abrangendo todo o território.

Missões para as Forças Terrestres (FT)

● As FT devem adoptar um dispositivo de protecção reforçado, com áreas de Companhia mais reduzidas, em vez do actual fraco dispositivo. As Companhias do Batalhão de Intervenção, com poucas possibilidades de actuação relativamente ao conjunto do Sector Sul, tomarão conta de áreas de responsabilidade. Passar-se-á a um dispositivo de protecção com capacidade de intervenção local, por área de Companhia, em actuação rápida e de surpresa, evitando-se assim movimentos de tropas que denunciam intenções e dão lugar, por parte do In, a emboscadas, obstrução de itinerários, dispersão, etc. Manter-se-á, contudo, uma força de intervenção de Comando de Sector, sempre que as disponibilidades em efectivos o permitam.

● Em 16Jul63, 3.ª feira, foram constituídos sete sectores (de A a G) em vez dos quatro anteriores, sendo as sedes dos Batalhões respectivamente em: Bissau, Bula, Mansoa, Bafatá, Buba, Catió e Tite.

● Em 16Out63, 4.ª feira, o Cmdt do BCAÇ 356, a CCAÇ 414 e a CART 494, que actuavam em Ganjola, tiveram contacto com numeroso grupo In, que debandou, deixando no terreno três mortos e material.

● Em 18Out63, 6.ª feira, a emissora rádio de Conacri informou ter havido, na região de Catió, encontro de nacionalistas com o Exército (NT), tendo morrido vinte e sete nacionalistas, dois dos quais não eram da Guiné Portuguesa.

● Em 04Nov63, 2.ª feira, a CART 494, reforçada com a CCAÇ 414, actuando na região de Gansana, estabeleceram contacto com o In que deixou no terreno mais três mortos, sofrendo as NT três feridos.

● Em 19Nov63, 3.ª feira, a CCAÇ 414 iniciou a limpeza da estrada Catió-Batambali e no dia seguinte o BCAÇ 513 a limpeza da estrada Buba-Aldeia Formosa.



Foto 2 - 1963. Grupo de Sargentos da CCAÇ 414 regressados de uma operação. Foto do camarada Manuel Castro (ex-Fur Enf da CCAÇ 414) – P12687, com a devida vénia.


Passado um mês, em 23Dez63, através da Directiva n.º 8, o Comandante-Chefe anunciava a preparação da «Operação Tridente».

2.4 - RECONHECIMENTO DA ACTIVIDADE OPERACIONAL DA CCAÇ 414



Corolário da intensa e bem-sucedida actividade operacional da CCAÇ 414 foram condecorados com a Cruz de Guerra de 2.ª classe, ao abrigo dos artigos 9.º e 10.º do Regulamento de Medalha Militar, de 28 de Maio de 1946, por serviços prestados em acções de combate na Província da Guiné Portuguesa, três oficiais da Companhia de Caçadores 414, a saber:

● Capitão de Infantaria Manuel Dias Freixo.
● Alferes Mil Infantaria Alberto Marques da Costa Lobo.
● Alferes Mil Infantaria Joaquim Teixeira de Sousa.

Cada condecoração teve origem em louvor individual, publicado na OS n.º 3, de 07 de Janeiro de 1964, do CTIG, cujos conteúdos abaixo reproduzimos.











2.5 - BAIXAS DA CCAÇ 414 DURANTE CATORZE MESES NO CTIG (1963/1964)

Da leitura do quadro abaixo, verifica-se que a CCAÇ 414 registou três baixas durante a sua comissão de catorze meses no CTIG (27Mar63-28Jul64; por ter sido transferida para a Ilha do Sal, Cabo Verde), sendo um em "combate" e dois por "acidente".

Destas três "baixas", a primeira foi "em combate", ocorrência verificada em 25Maio63, 3.ª feira, na sequência de uma emboscada montada pelo In, entre Timbó e Catió. A segunda, em 26Dez63, 5.ª feira, por "acidente" provocado por queda de árvore, e a terceira, em 26Mar64, 5.ª feira, no HM 241, em Bissau, devido a um "acidente de viação".



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Fontes Consultadas:

Ø  Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 5.º Volume; Condecorações Militares Atribuídas; Tomo II; Cruz de Guerra (1962-1965); Lisboa; (1991); pp 323-328.

Ø  Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro 1; 1.ª edição, Lisboa (2014); pp 99-110.

Ø  Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 7.º Volume; Fichas das Unidades; Tomo II; Guiné; 1.ª edição, Lisboa (2002); p 316.

Ø  Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II; Guiné; Livro 1; 1.ª edição, Lisboa (2001); pp 27-42-60.

Ø  Outras: as referidas em cada caso.
Termino, agradecendo a atenção dispensada.
Com um forte abraço (virtual) e desejos de muitos sucessos na luta contra o COVID-19.
Jorge Araújo.