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sábado, 24 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26839: Facebok...ando (79): Bissássema (cor GNR ref João Manuel Pais Trabulo, ex-alf mil, CCAÇ 2314, Tite e Fulacunda, 1968/69) - Parte II: a tragédia de 3 de fevereiro de 1968 e dias seguintes, que a NT e o PAIGC tentaram esquecer

 

Guiné > Região de Quínara > Carta de Tite (1955) (escala 1/50 mil) > Posição relativa de Tite, Jabadá, Enxudé, rio Geba e Bissássema

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)


1. Bissássema, como outros topónimos da guerra, tem estado esquecido. Temos apenas 15 referências no nosso blogue. De um lado do outro da "barricada", há memórias trágicas. Tanto as NT como o PAIGC parece terem feito um "apagão" da batalha de Bissássema (que, em rigor, vai de 31 de janeiro, início da operação para reocupar Bissássema,  a 10 de março de 1968, altura em a tabanca foi queimada e abandonada pelas NT).

Falaremos disso em próximo poste. Mas podemos desde já adiantar o seguinte: o Arquivo Amílcar Cabral / Cada Comum tem apenas uma única referência a Bissássema, um comunicado assinado por Amílcar Cabral, em francês, com datada de 19/2/1968,   quinze dias depois dos acontecimentos, sobre o grande "ronco" do dia 3; omite-se, portanto, os desaires que o PAIGC sofreu, nesse e nos dias seguintes; por sua vez, o livro da CECA sobre a atividade operacional das NT nesse ano tem 5 referências a Bissássema, mas nenhuma reportada ao dia da tragédia (3/2/1968). Lapso? Branqueamento ? "Apagão" ?... 

 (...) "Sabe-se que esta intervenção, em Bissássema, foi um fracasso para ambos os lados, e que o PAIGC sempre ocultou no seu historial. Se, pelo lado português, para além dos prisioneiros e dois desaparecidos e feridos, não se conseguiu concretizar os objetivos propostos; para o lado do PAICG, o elevado números de baixas, levou a que sempre escondesse as suas consequências tendo, inclusivamente, ter sido considerado por alguns, como um dos maior desaires que sofreu no seu movimento de libertação da Guiné." (...)

Este é um excerto do texto do antigo alf mil at inf da CCAÇ 2314 (Tite e Fulacunda, 1968/69), J. M. Pais Trabulo, disponível na sua página do Facebook (João Manuel Pais Trabulo), e também reproduzido na página do CCAÇ 2314 - Agis Quod Agis.e e na página do BART Tite - Guiné (BART 1914).

Hoje Cor GNR ref, Pais Trabulho (natural de Meda, a viver em Gouveia), tem mantido viva a memória desse tempo que foi de "terror, para quem o viveu (CART 2314, CART 1743 / BART 1914, milícia e população, etc.). Bem haja!

A versão dos acontecimentos que vamos aqui reproduzir, parece-nos equilibrada e fidedigna. Deve ser conhecida por um público mais vasto, e nomeadamente pelos nossos leitores. Tiro, pois, o quico ao cor Pais Trabulo que de resto tem mais textos sobre Bissássema e a história da CCAÇ 2314.

Da CCAÇ 2314 também só tínhamos até agora escassas referências. O ex-fur mil Joaquim Caldeira aceitou ser o primeiro representante desta subunidade, sentando-se à sombra do nosso poilão no lugar nº 905. (Iremos apresentá-lo proximamente à Tabanca Grande; mas fica também aqui o convite para o cor Pais Trabulo se juntar ao blogue dos "amigos e camaradas da Guiné").



O Pais Trabulo no Poço do Inferno, geossítio do Geoparque Estrela (BG 19), s/d. Cortesia da sua página do Facebook (João Manuel Pais Trabulo). Ex- alf mil at inf, CCAÇ 2314 (Tite e Fulacunda, 1968/69).

Na página do CCAÇ 2314 - Agis Quod Agis.e na página do BART Tite - Guiné (BART 1914) o cor Pais Trabulo tem algumas fotos inéditas e preciosas de Bissássema. Vamos pedir-lhe a competente autorização para as reproduzir aqui. É também uma forma de homenagear os bravos, já esquecidos, de Bissássema.





Memórias de uma guerra… > A Tragédia de Bissássema

por João Manuel Pais Trabulo, cor GNR ref



Tínhamos acabado o treino operacional e a CCAÇ 2314 estava em condições de rumar até Jabadá para assumir a sua área de responsabilidade.

O furriel Fernando Almeida, responsável da logística, deslocara-se para aquele aquartelamento a fim de preparar a ida da companhia.

Enquanto isso, a companhia iria participar numa operação para instalar uma força que iria construir o aquartelamento na região da península de Bissássema, situada na margem sul do rio Geba em frente de Bissau.

Muito se tem dito sobre a "História de Bissássema". Cada uma tem um fundo de verdade no relato desse fatídico mês e consoante a vivência de cada um nessa ocorrência.

A história da Unidade da CCAÇ 2314 refere que “a península de Bissássema se situava na região de Quinara, do lado oposto à cidade de Bissau, tendo o rio Geba de permeio, era uma região essencialmente rica em arroz, cultivado nas extensas bolanhas que a rodeavam e onde o PAIGC se movimentava com facilidade, controlava e recebia apoio logístico da população e onde exercia intensa ação psicológica.

"Face à sua situação estratégica, tendo em conta aquela, tornava-se necessário ocupar a região de modo a evitar possíveis flagelações a Bissau e, por isso, subtrair ao PAIGC o controlo da região, evitando o recrutamento de meios humanos e, também, o reabastecimento de alimentos das suas bases naquele regulado. Era portanto, necessário instalar, assim, uma força naquela região e a consequente construção de um aquartelamento.”


O início de Bissássema ocorreu nos dias 31 de janeiro e 1 de fevereiro 
[de 1968 ], ao se ter realizado naquela região uma operação com a finalidade de instalar essa força. A operação coube à CCAÇ 2314 em conjunto com a CART 1743, reforçadas com elementos da CCS do Bart 1914.

Decorreu aparentemente, sem incidentes significativos e, no local, foi deixada a força comandada pelo alferes mil Rosa, da CART 1743, com o seu pelotão de europeus e mais 2 pelotões de milícias para guarnecer e controlar a região, um de Tite e o outro de Jabadá.

No regresso a Tite, no dia 1 de fevereiro, a CCAÇ 2314 teve o primeiro contato com guerrilheiros do PAIGC e sofreu os dois primeiros feridos, na região de Brandãozinho [carta de de São João ]

Pensou-se que ocupar Bissássema não seria assim tão fácil. Tratava-se de uma tabanca de onde as forças do PAIGC tinham desaparecido sem deixar rasto, mas, na madrugada do dia 3 de fevereiro, desencadeou um forte ataque a Bissássema.

Meia hora depois, o tiroteio parecia ter acabado. Foi esperança de pouca dura, pois logo a seguir, começou um novo ataque. Poucas horas depois, soube-se que a força do PAIGC entrou no dispositivo de defesa, lançando granadas e semeando o pânico.

Em consequência da forte flagelação, o PAIGC expulsou as forças existentes e fez como prisioneiros o alferes António Rosa e mais dois militares   
1º cabo cripto Geraldino Marques Contino e soldado Victor Manuel Jesus Capítulo, todos da CArt 1743].

Os restantes militares puseram-se em debandada para salvar a vida. Na retirada ficaram desaparecidos um furriel e um sargento e este, mais tarde, foi encontrado morto no rio Geba.

Nessa noite, estava em Tite o Conjunto [Académico ] João Paulo.

Diz a História da CCaç 2314:

“Depois do ataque IN, em 03Fev68, às 00h00, a Bissássema, as posições das NT que se encontravam naquela tabanca ficaram desguarnecidas. Encontrando-se esta CCAÇ em Tite, recebeu ordem para se deslocar para Bissássema a fim de socorrer as NT que se encontravam nessa tabanca.

"Á chegada a Bissássema, verificou-se que o IN já havia retirado, apenas se encontravam na tabanca um pequeno número de elementos da população. Foi dada ordem a esta Companhia para guarnecer Bissássema a fim de proteger a população.”

Eram três da manhã. Face às informações sobre o ataque referido, um “pelotão de voluntários”, cujos elementos mais tarde iriam constituir o grupo “Os Brutos”, incluindo um pelotão de nativos, “Os Boinas Verdes”, avançaram de imediato para Bissássema para se inteirarem da situação e, principalmente, em reforço das forças ali estacionadas.

Entretanto, o resto do efetivo da CCAÇ 2314 preparou-se para se dirigir também para aquela região, tendo encontrado a força inicial posicionada nas imediações da tabanca, que aguardava o resto da companhia.

Constata-se que a enorme tabanca estava praticamente abandonada, sem militares, sem forças do PAIGC e sem população. Contudo no percurso foram sabendo do que tinha acontecido e, pelo que ia observando, era evidente que a situação era extremamente grave e imprevisível.

Face à situação, foram distribuídos setores de defesa aos pelotões e ordenado que rapidamente fossem construídos abrigos e campos de tiro. Mas isto não acabou por aqui, o PAICG não queria perder aquela posição estratégica e a todo custo desenvolveu ações no sentido de recuperar a tabanca.

Assim, na noite do dia 4 e, após 4 horas, na madrugada do dia 5 de fevereiro, desencadeou ações com armas de fogo com a finalidade de experimentar e recolher informação sob o posicionamento dos militares ali instalados em abrigos e valas construídos apressadamente.

E 10 minutos antes da meia-noite do mesmo dia 5 de fevereiro, desencadearem uma forte flagelação, que apenas durou cerca de 25 minutos por, ao pretenderem tomar de assaltos as nossas posições, sofreram consequências drásticas (baixas), o que os levou a retirar.

Mas no dia 9 de fevereiro, pela 1 da manhã, regressaram com muito mais efetivos e melhor armamento, talvez comandados por 'Nino Vieira', com a vontade de novo tomar de assalto, capturar e desalojar as posições defensivas da CCAÇ 2314.

Conseguiram abrir uma brecha no dispositivo de defesa em consequência de terem sido feridos 4 elementos de um abrigo, e penetrado no interior do dispositivo de defesa.

Mas a forte reação das NT obrigou as forças do PAIGC a retirar com pesadas baixas, deixadas no local, abandonando grande quantidade de material de guerra e, apressadamente, transportaram grande quantidade de feridos que sofreram no ataque.

Finalmente, passados cerca de 15 dias, no dia 25 de fevereiro, o PAIGC voltou a desencadear mais uma ação violenta de flagelação, agora com menor efetivo e armamento, tendo retirado, novamente, com várias baixas.

Em face do falhanço na efetivação da instalação de um aquartelamento e tendo em consideração os resultados que se registaram no início, foi decidido abandonar a tabanca de Bissássema.

No dia 10 de março de 1968, procedeceu-se à recolha de arroz, e ao reordenamento das populações para seguirem para a região a norte de Tite. Por isso, foram destruídas todas as moranças das tabancas, bem como os próprios abrigos que tínhamos construído para a defesa de Bissássema. Nunca mais lá voltámos. (...)


Fonte - João Manuel Pais Trabulho > Página do Facebook CCAÇ 2314 - Agis Quod Agis. (Com a devida vénia...)

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(Seleção, revisão / fixação de texto, negritos, parênteses retos, links, título: LG)


(Continua)

sexta-feira, 23 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26838: Notas de leitura (1799): José Gomes Barbosa 'versus' Jorge Frederico Vellez Caroço no Boletim Oficial de 1 de julho de 1922 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Setembro de 2024:

Queridos amigos,
Permitam-me uma confissão. Há uns bons meses, dirigi-me à bibliotecária da Biblioteca da Sociedade de Geografia, agradecendo-lhe todas as amabilidades de que tenho sido alvo ao longo destes anos, indesmentíveis ajudas em encontrar documentação com realce para as minhas investigações, e confessei-lhe que ia mudar de ramo, fazer outras coisas. Olhando-me com firmeza, disse-me prontamente que não aceitava tal resposta, que eu devia pensar seriamente que havia uma pesquisa à minha espera: primeiro, consultar o Boletim Oficial de Cabo Verde e da Guiné, até à separação das duas colónias; e, segundo, percorrer por inteiro o Boletim Oficial da Província da Guiné, estas publicações, observou, trazem-me por vezes surpresas que não constam nos artigos.
O que de facto aconteceu quando, lateralmente na sequência cronológica me pus num rasto do autor da única História da Guiné, João Barreto, veio de Margão para Lisboa, aqui terá permanecido ano e meio, seguiu depois para Cabo Verde, em plena Primeira Guerra Mundial, andou por Santiago e Ilha do Fogo, irá aparecer na Guiné em 1919, primeiro em Cacheu, depois em Bafatá, mais adiante em Bolama, onde foi alvo de grande reconhecimento pelo seu trabalho como tenente médico de Saúde Pública. Ao folhear o Boletim Oficial de 1 de julho de 1922, encontrei este naco de prosa que muito nos dá que pensar.

Um abraço do
Mário



José Gomes Barbosa versus Jorge Frederico Vellez Caroço

Mário Beja Santos

Depois de ter escrito um livrinho sobre um afamado epidemiologista goês, muito louvado em Bolama na década de 1920, de nome João Barreto, decidi-me consultar por todo este período o Boletim Oficial da Província da Guiné, o que faço com bastante entusiamos na Biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa. Estes boletins têm maioritariamente informações sobre chegadas e partidas de funcionários, promoções e exonerações, relatórios de saúde pública, taxas alfandegárias, predomina o formalismo e a rotina. Só raramente uma notícia assombrosa, um soco no estômago, algo que nos ajuda a entender melhor a mentalidade num certo tempo e num certo lugar. No Boletim Official n.º 26, de 1 de julho de 1922, chamou-me a atenção o processo disciplinar instaurado contra o professor oficial José Gomes Barbosa. Não posso resistir de publicá-lo na íntegra, ocupa as páginas 300 e 301 do referido Boletim:

“Tendo o primeiro oficial, interino, da Secretaria do Governo, José Lourenço da Conceição Leitão, instaurado, por ordem superior, um processo disciplinar contra o professor José Gomes Barbosa, foram a este enviados os seguintes requisitos:

1.º Por que sendo funcionário público, proferiu na loja do sr. João Marques de Carvalho, comerciante estabelecido nesta praça, palavras que demonstram bem o seu nenhum respeito pela pátria portuguesa?

2.º Como professor, devia ser o primeiro a reprimir campanhas de descrédito contra a pátria portuguesa. Por que foi que na loja referida perfilhou as palavras escritas por René Maram?

3.º Por que na mesma loja disse que estávamos sendo governados por mer… e quanto o dono da loja lhe disse que fosse ao palácio dizê-lo a Sua Ex.ª o Governador, por que respondeu que não era quem o dizia, mas sim o René Maram no seu livro?

Assina o instrutor do processo disciplinar, Conceição Leitão

O arguido respondeu nos seguintes termos:

Resposta ao 1.º quesito: Não houve nas palavras proferidas pelo signatário nenhuma falta de respeito para com a pátria portuguesa, que ama e venera, mais que sua própria mãe, como mãe que é de todos os portugueses. O signatário preza-se de ser tão bom português como os melhores, nascidos em Portugal, na metrópole. Houve unicamente uma troca de palavras entre o signatário e alguns dos presentes, e no decorrer da conversação saíram aquelas desgraçadas palavras, que lastima e se arrepende de ter proferido.

Resposta ao 2.º quesito: Como professor, e como português, nunca fez campanhas de descrédito contra a pátria portuguesa. Mormente agora, que é um acontecimento mundial de travessia de Portugal às terras de Santa Cruz, feita por dois heróis, dois portugueses, enfim, os Exmos. Srs. Sacadura Cabral e Gago Coutinho, que tão alto elevou o nome português, o nome de todos nós.
Não perfilhou as palavras escritas por René Maram antes talvez as tivesse proferido com azedume, porque branco, conquanto natural de Cabo Verde, e portugueses acima de tudo, também se sentia magoado.

Resposta ao 3.º requisito: De nenhum ato de Sua Ex.ª o Governador tem o signatário conhecimento que o levasse a proferir semelhante frase, referindo-se ao mesmo Exm.º Senhor. Tem o mais profundo respeito por Sua Ex.ª, como homem e Governador. Não se lembra de ter referido semelhante frase com referência a Sua Ex.ª o Governador. A conversação que deu origem às frases que me atribuíram e que confessei ter proferido, teve lugar não na loja de comércio do sr. João Marques de Carvalho, mas sim num anexo do mesmo estabelecimento.

É quanto me cumpre dizer em resposta aos quesitos enviados. Bolama, 24 de junho de 1922, José Gomes Barbosa professor oficial.

Sua Ex.ª o Governador da Província deu por último o seguinte despacho:

“Vistos os presentes autos, mostra-se que o professor oficial da escola primária do sexo masculino, em Bolama, José Gomes Barbosa, esquecendo que deve a si mesmo, ao nome português que usa e muito especialmente à nobre missão do Governador que lhe está confiada, proferiu, em público, num estabelecimento desta cidade, umas frases insultuosas para os europeus, para o Governador da Província e, inclusivamente, chegou a renegar a sua própria nacionalidade, dizendo que não era português mas sim cabo-verdiano; e,

Considerando que este professor, pela sua ilustração, exerce uma certa influência entre os seus conterrâneos e que a sua propaganda contra os europeus aqui residentes pode trazer consequências graves;

Considerando, que a fraseologia empregada pelo professor Barbosa, além de imprópria para um indivíduo da sua categoria social, é deprimente e vexatória para a sua raça, admitindo que a pureza do seu sangue seja de uma incontestável autenticidade – o que queremos acreditar porque o sr. Barbosa o afirma?

Considerando ainda, que dando o professor Barbosa circulação a uma manifestação de ódio do preto contra o branco, com imagens e frases que a par de uma grosseria e baixeza de sentimentos, denotam uma crassa imbecilidade e asinina estupidez, está, não somente acirrando ódios e malquerenças do cabo-verdiano contra os metropolitanos, mas, inclusivamente, incitando o preto contra o branco, o que é inadmissível e perigoso; mas,

Atendendo a que o professor José Gomes Barbosa, por completo se retrata das informações que fez e na sua resposta aos quesitos dá cabais satisfações a todos nós, portugueses:
Determino que este funcionário seja repreendido com repreensão averbada no seu registo disciplinar, publicando-se este despacho no Boletim Oficial da Colónia, com a resposta que ele dá aos quesitos que lhe foram propostos, para que tenha toda a publicidade a reparação, visto que público foi o agrado. Cumpra-se e publique-se, Jorge Frederico Vellez Caroço.”


Governador da Guiné Jorge Frederico Velez Caroço
Bolama no tempo do Governador Velez Caroço e do professor oficial José Gomes Barbosa
Nunca encontrei comunicação publicitária como esta, a Loja Nova de António Machado era realmente irresistível
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Nota do editor

Último post da série de 19 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26817: Notas de leitura (1798): "Pára-quedistas em Combate 1961-1975", por Nuno Mira Vaz; Fronteira do Caos Editores, 2019 (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P26837: Convívios (1030): Crispins & Crisóstomos + Amigos & Camaradas da Guiné, Convento do Varatojo, Torres Vedras, domingo, 25 de maio 10h00 (João e Vilma Crisóstomo, Nova Iorque)


Torres Vedras > Mosteiro de Santo António do Varatojo > Claustro > "O Mosteiro de Santo António do Varatojo foi fundado por D. Afonso V em 1470, como cumprimento de uma promessa que o monarca havia feito a Santo António, pedindo auxílio para as campanhas do Norte de África. O rei compraria a quinta que posteriormente constituiu a cerca do mosteiro, oferecendo-a à comunidade de franciscano deslocados do Convento de São Francisco de Alenquer para habitarem o novo cenóbio. Em 1474 as obras estavam quase terminadas, pelo que em Outubro desse ano os frades inauguraram o espaço. (...). Classificiado como MN. Monumento Nacional em 1910" 

(Fonte: Património Cultural | DGPC)

Foto: Cortesia da RHLT - Rota Histórica das Linhas de Torres


1. O João e a Vilma estão em Portugal, depois de uma estadia na Eslovénia, em mais extamente em Brestanica, terra da Vilma. 

Regressam a Nova Iorque no dia 3 de junho. Mas até lá ainda querem estar com os "primos" Crisóstomos e Crispins, no dia 25 deste mês, domingo. 

Marcaram encontro no convento de Santo  António do Varatojo, no concelho de Torres Vedras (*):

(...) Depois da Missa das 10.30 AM  de domingo,  dia 25 de maio, reunimo-nos no claustro para  um abraçø.  Era para ser mesmo só um abraçø , sem nada mais. Mas  do Varatojo mesmo ofereceram-me: se quisermos, que podem pôr lá  uma ou duas  mesas para um refresco etc…

 Por isso vou aproveitar: eu vou lá pôr um “alguidar” de salada de fruta , uns biscoitos e um refresco qualquer . E se alguém quiser trazer algo "para compartilhar” …


Estou a pensar  pôr no recinto de  entrada  (onde tem a campainha) uma  mesa para “recolha” , para o caso de alguém querer trazer alguma coisa não ter de o levar para dentro da Igreja….  

Isso não impede que quem quiser "mais e melhor" pode ir almoçar aos restaurantes por ali perto" (...)

 2. O convívio é aberto aos "amigos e camaradas da Guiné" (**), como já tem acontecido noutros anos, e nomeadamente o último, em 2018 (***) . Eis a última mensagem, de ontem  que o João me mandou:

Data - quinta, 22/05/2025, 06:47

(...) Fui ontem (quarta feira ) ao Convento de Varatojo para acertar “logísticas” uma vez que vai lá estar também um outro grupo no mesmo dia 25. Vai haver muita gente, mas ”arranjei tudo” …e está tudo tudo certo.

Importante:

A maneira mais fácil para entrar/chegar ao Convento (e também para estacionar) é entrar pelo portão grande ( que vai estar aberto a partir das 09.30 AM) por onde se tem de passar (único acesso para carros) ao chegar ao Convento.

Desse estacionamento há acesso fácil para o claustro e Igreja. Desta maneira evita-se o uso dum conjunto de escadas (muitos degraus e difíceis) a quem quiser entrar pela porta principal no lado da frente.

Permito-me sugerir que cheguem cedo. A Missa é às 10.30 AM , mas vai haver muita afluência: para estacionar e para se conseguir um "lugar sentado” é mesmo preciso chegar cedo, se possível antes das 10.00 AM.

Vou tentar ligar( já tentei…) mas o meu telefone mostra sempre as chamadas como provenientes da Cochichina (Polónia, Chipre, Inglaterra…) e as pessoas não apanham…

Aguardo com antecipação...
Um grande abraçø, João.



3. Como chegar ao Convento do Varatojo ?

Ver aqui no Google Maps
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 10 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26669: Tabanca da Diáspora Lusófona (32): Encontros em 25 de maio (Convento do Varatojo, Torres Vedras) e 29 (Tabanca da Linha, Algés) (João Crisóstomo, régulo)

(***) Vd. poste de 24 de setembro de 2018> Guiné 61/74 - P19039: Convívios (875): Paradas Party, do João Crisóstomo: 16 de setembro de 2018... Foi bonita a festa, pá!

Guiné 61/74 - P26836: Tabanca da Diáspora Lusófona (34): João Crisóstomo reconhecido, pela "Tribuna Portuguesa / Portuguese Tribune", da Califórnia, como "Personalidade do Ano 2024"... Outras nomeações: a Sousa Mendes Foundation foi a "Associação do Ano 2024" , e a inauguração do Museu Aristides de Sousa Mendes, em Carregal do Sal, o "Evento Cultural do Ano 2024".




Recortes de imprensa >  "Tribuna Portuguesa",  de 15 janeiro de 2025 > Editorial, por Miguel V. Ávila, pág, 2. (Reproduzido com a devida vénia...)


1. Pelo muito que fez (e continua a fazer) pela causa da reabilitação da memória de Aristides Sousa Mendes e a consagração do "Dia da Consciência" mas também pelo aumento da visibilidade, mediática, social e cultural,  da comunidade luso-americana, o nosso amigo e camarada, régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona, a viver em Nova Iorque, foi considerado  "Personalidade do Ano de 2024" pelo prestigiado jornal, bilingue, "Tribuna Portuguesa" / "Portuguese Tribune", que se publica na Califórnia, desde 1979.(Quinzenal, independente, é o único jornal  que se publica hoje, em português, na costa oeste dos EUA; foi fundado em setembro de 1979 pelo açoriano João P. Brum. )

(...) "Em 2004, este jornal iniciou o reconhecimento anual dos “Melhores do Ano”. Depois dos primeiros anos serem uma simples lista com poucas categorias que ocupavam apenas uma página, a atual lista já ocupa agora cinco páginas desta edição. Como um jornal comunitário, tentamos o nosso melhor para dar a conhecer os eventos comunitários, novas caras e talentos, para assim – juntos – valorizarmos a nossa 'prata da casa' ".

No editorial da edição de 15 de janeiro de 2025, Miguel V. Ávila destaca três personalidades do ano de 2024, um dos quais o nosso João Crisóstomo (vd. recorte acima). A iniciativa tem já 2 décadas.

(...) Não posso deixar de realçar as três “Personalidades do Ano”:

Tony Goulart, o reconhecido líder comunitário, continua a deixar um legado da “experiência luso-americana” por terras da Califórnia. Logo depois de escrever e publicar um importante livro sobre as filarmónicas portuguesas e os 125 anos da sua presença na Califórnia, coordenou a publicação do livro que faltava – Nossa Senhora da Assunção da autoria de Maria Cunha Carty. 

Lembro-me que nos anos 1990s, as comunidades portuguesas da Califórnia viviam sob as sombras das comunidades da Costa Leste; havia a sensação que seríamos inferiores e que a distância nos faria quase invisíveis para com o nosso país de origem. 

A liderança de Tony Goulart e de outros líderes comunitários muito mudaram essa perspetiva e agora as nossas comunidades luso-californianas são reconhecidas como exemplos na Diáspora portuguesa.

Ana Vargas-Smith tem desempenhado um papel importante no desenvolvimento do auto-estima da cidade de Santa Clara. Reconheceu que uma antiga tradição de 50 anos – o Desfile dos Campeões – tinha cessado durante 24 anos e que havia uma lacuna nos habitantes daquela cidade e que a antiga baixa da cidade merecia ser revitalizada. Colocou mãos à obra, criou uma associação sem fins lucrativos e lá reiniciou essa tradição que tinha sido criada por um luso-americano – Ed Cunha – para reconhecer os combatentes da Segunda Guerra Mundial quando regressaram à sua cidade em 1945.

Ana coordena as angariações de fundos e o desfile que agora conta também com um festival de rua. E a Ana tem a certeza que a comunidade portuguesa e associações portuguesas de Santa Clara desfilam... porque não podemos ser uma comunidade invisivel na sociedade americana." (...)

2. Já na edição de 1 de agosto de 2024, fora dado grande destaque à inauguração do Museu Aristides Sousa Mendes, sendo depois considerado, na edição de 15 de janeiro de 2025, como o "acontecimento cultural do ano", enquanto a Sousa Mendes Foundation  foi a "Associação do Ano 2024" .

Reproduz-se a seguir o belíssimo editorial do Miguel Ávila sobre "o museu que faltava para que a memória não falhe", a propósito da inauguração do Museu Aristides de Sousa Mendes, na sua terra natal, Cabanas de Viriatos, Carregal do Sal, no passado dia 19 de julho de 2024. 

O evento foi na altura também noticiado por nós (*). E na ocasião o nosso amigo e camarada João Crisóstomo leu uma mensagem expressamente escrita pelo Papa Francisco associando-se à homenagem ao Cônsul de Bordéus, Aristides Sousa Mendes (1885-1954), que coincidia também com o seu 139º aniversário natalício.




João Crisóstomo lendo uma mensagem do Papa Francisco


O Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa


Família de Sousa Mendes e famílias de refugiados que beneficiaram dos vistas passados pelo Cônsul de Bordéus


Recortes de imprensa > Tribuna Portuguesa, 1 de agosto de 2024 > Editorial, por Miguel V. Ávila, pág, 2. Fotos: pág. 19 (Conteúdos reproduzidos com a devida vénia..)


3. Excerto de mensagem do João Crisóstomo, com data de sábado, 12/04/2025, 08:33, dirigida aos filhos, Cristina e John, e com conhecimento ao nosso editor LG e a um amigo comum. o Rui Chamusco, também ele membro da nossa Tabanca Grande:


(...) Recebi , enviada por e- mail, uma mensagem dum bom amigo e proeminente português na Califórnia, Miguel Ávila, que entre outros lugares de destaque ocupa o de editor do prestigioso jornal bilingue “Portuguese Tribune”/ “Tribuna Portuguesa” e é também membro da "Sousa Mendes US Foundation”, e vice-Presidente do “ Comité Dia da Consciência”.

E porque vocês são meus filhos (e aos outros dois se fossem meus irmãos eu não lhes poderia querer mais ou melhor, sem intuitos de ridículas presunções), partilho o que me enviou que não podia ser mais gratificante:

Primeiro um artigo que escrevi e enviei em novembro passado sobre o problema das armas nucleares. Pensei que não o tinham considerado relevante para ser incluído no jornal, mas afinal não só foi publicado como verifico que dele fizeram "artigo de opinião” (*)

E o segundo a "reportagem da inauguração do museu que deu origem às nomeações para Melhores do Ano 2024.” 

Em ambos os casos a minha colaboração e contributo não foram insignificantes pois que me valeram a distinção de "Homem do ano 2024." (...)

 4. A Tabanca Grande associa-se, com regozijo, ao reconhecimento público feito pela "Tribuna Portuguesa" ao nosso amigo e camarada, "régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona"  (**) que, depois de amanhã,  dia 25, vai estar no Convento de Varatojo, Torres Vedras, a partir das 10h00, num convívio com a família, os Crispins e os Crisóstomos, bem como com os amigos e camaradas da Guiné.  Convívio para o qual estamos todos convidados: é só aparecer: A missa é às 10h30, a que se seguirá um convívio no claustro do convento do séc. XV. O padre Vitor Melícias estará presente.

Quinta feira, dia 29, o João estará também no 61º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha, a partir das 12h30, em Algés, no restaurante Caravela de Ouro.

Guiné 61/74 - P26835: Humor de caserna (199): O meu grande "bubu" azul!... Que pena não mo terem deixado levar, vestido, no avião da TAP, de regresso a casa !... (Jorge Cabral, 1943-2021)






Foto nº 1


Foto nº 2



Foto nº 3


Legendas:

Fotos nºs 1 e 2 > Lisboa > Belém > 10 de junho de 2016 > O ex-alf mil art  Jorge Almeida Cabral, antigo cmdt do Pel Caç Nat 63 (Fá Mandinga e Missirá, 1969/71) com uma jovem militar da Marinha (foto nº 1);  e com Maldu Jaló, natural de Catió, e que era do tempo do Mário Fitas, tendo feito  parte da milícia do João Bacar Jaló (foto nº 2, aqui mais a esposa) (Fotos do Mário Fitas, ex-fur mil inf OR / Ranger, CCAÇ 763, "Os Lassas", Cufar, 1965/67).

Fotos (e legendas): © Mário Fitas (2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Foto nº 3 Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > Jovem fula ou mandinga vestido o seu grand boubou, e protegendo-se da canícula por intermédio do seu inseparável chapéu automático (dois luxos que chegavam à tabancas do interior, graças ao comércio dos djilas do tchon francês e ao patacon da guerra).

Arquivo pessoal de Humberto Reis (ex-fur mil OE/ Ranger,  CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71).
 
Foto (e legenda): © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Capa do livro de Jorge Cabral, "Estórias Cabralianas", vol I. 
Lisboa: Ed José Almendra, 2020, 144 pp.  Tinha um II volume, praticamente pronto para ser publicado. A morte surpreendeu-o. A "estória" que reproduzimos não vem no livro... Foi publicada no blogue há 19 anos atrás. Merece ser conhecida dos nossos "periquitos".


1. Um dia o "alfero Cabral", o Jorge Cabral (Lisboa, 1943 - Cascais, 2021), sonhou que podia ser Cabral entre os Cabrais,  fula entre os fulas, mandinga entre os mandingas, guinéu entre os guinéus, homem entre os homens... e até louco entre os loucos!

Foi de tudo um pouco, o mais paisano dos militares que eu conheci na Guiné. Filho de militar e aluno  do Colégio Militar, disse-me em vida que "todos nós tinhamos direito a um pouco de loucura e de humanidade", o que implicava pôrmo-nos na pele do outro; e ele fazia isso como ninguém... 

Morreu cedo demais, aos 78 anos. Lembrá-lo aqui, no blogue que ele tanto amava, é um dever dos seus amigos e camaradas da Guiné.




Má chegada, pior partida... com o meu grande "bubu" azul e sempre com ameaça de porrada...

por  Jorge Cabral (1943-2021)



Com destino à Guerra, viajei no 
Alfredo da Silva, quase um cacilheiro, durante doze dias. Em primeira classe, sete oficiais e uma dona puta em pré-reforma habitavam um ambiente de opereta, jantando de gravata, com a estafada dama na mesa do comando. Depois havia a valsa… Cheirava a mofo, a decadência, ao fim do Império…

Cheguei à noite, sentindo logo a África, no calor, na cor, na humidade. A bordo subiram militares, e o putativo marido da senhora, cuja profissão nunca descobri. 

Um sargento gago carimbou-me a guia de marcha e assinalou:

− Pel Caç Nat 63. 

Bem lhe perguntei o significado da sigla e para onde ia, mas não sabia ou não quis dizer.

Desembarcado, apanhei uma boleia num camião militar carregado de batatas, que me deixou no "Biafra", depósito de alferes em trânsito por Bissau.

Talvez para impressionarem o periquito, todos se mostraram totalmente apanhados. Quanto ao meu destino foram animadores

 É,  pá, vais para um pelotão de nharros. É só embrulhar. Estás lixado.

Apresentado no Quartel-General, ordenaram-me a partida para o Xime. Tinha que tomar um barco no dia seguinte, às tantas horas.

 Regressado ao "Biafra", aconselharam-me a não ir:

 − Recusa-te. Os barcos são sempre atacados.
 
Confiante na experiência dos velhinhos, falhei o embarque tendo voltado ao QG. Aí um capitão barrigudo passou-me a um major nervoso, que me remeteu para um tenente-coronel que, quase apoplético, me descompôs:

 
− Começa mal! Está a pedir uma porrada. As ordens são para cumprir. Desapareça da minha vista!

Desapareci, e o certo é que fui de avião para Bafatá.

Muitos dias, muitos meses, mais de dois anos passaram e eu continuei no mato. (As cunhas funcionavam na perfeição. Chegados a Bissau, em rendição individual, podiam ser encaixados, sem grande escândalo, em qualquer Repartição.) 

Tinha porém de ser rendido, e a solução foi encontrada a nível de Batalhão, substituindo-me por um alferes da Companhia de Mansambo.

Entretanto o meu Pelotão foi para a ponte do rio Undunduma e a Missirá voltou o Pel Caç Nat 52, tendo eu permanecido mais três semanas e entrado ainda numa operação, na qual morreram dois soldados africanos que, indo a fumar o mesmo cigarro, accionaram uma mina antipessoal reforçada.

Finalmente, e após uns dias em Bambadinca, embarquei no Xime com destino a Bissau. Recusara à chegada, mas afinal regressava de barco… e ao "Biafra". Agora eu era o velhinho e o apanhado.

No dia da partida, eu que cismara aparecer em Lisboa vestido com o bubu azul, bordado a ouro, que comprara a um djila senegalês em Missirá, resolvera mandar encurtar a vestimenta a um costureiro de rua. Enquanto esperava, passou por mim um furriel conhecido, que me alertou: o voo havia sido antecipado. 

À pressa, pego no fato, meto-me num táxi e vou para Bissalanca (toda a minha bagagem, fotografias, o meu diário, os versos que escrevi, ficaram no "Biafra").

Chegado ao aeroporto enverguei o meu traje, causando o espanto e o riso dos passageiros, militares. Eis que sou cercado por um coronel e dois majores, os quais em coro me determinam:

– Não pode ir assim, é uma vergonha, lembre-se que é um oficial....E blá, blá, blá…

Tento contestar:

− Se um fula pode embarcar com um fato europeu, porque não posso eu ir vestido à fula?

Nada feito, se persistir não vou e levarei uma porrada. Obrigado a obedecer, lá entro no avião, no qual segue também o coronel, o que impediu de me fardar a bordo.

Teimoso,  porém, mal chego a Lisboa, envergo o grand boubou e é com ele vestido que abraço a família. 

Franze o sobrolho o meu pai que me diz que o Carnaval ainda não chegara, que tivesse juízo e não o fizesse passar vergonhas… Quanto à minha mãe, chorava, talvez de alegria, mas muito mais de tristeza. Coitado do filho…enlouquecera!

Num destes dias vou de novo vestir o meu grand boubou. Pode ser que tenha conquistado o direito a um pouco de loucura. Talvez


(Revisão / fixação de tecto, título: LG)
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Nota do editor:

Último poste da série > 11 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26677: Humor de caserna (198): Carlos Fabião, um oficial duplamente superior, grandalhão e brincalhão (António Novais, ex-fur mil trms, Cmd Agr 2951, Cmd Agr 2952 e Combis, Mansoa e Bissau, 1968/70)

quinta-feira, 22 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26834: Agenda cultural (885): Dia de África e Tarde Multicultural - Encontro de Culturas, que vai decorrer no próximo dia 24 de Maio, entre as 11h00 e as 18h00, na Livraria Municipal Verney - Oeiras, conforme o programa

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Nota do editor

Último post da série de 17 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26812: Agenda cultural (884): "Livros a Oeste, Festival do Leitor", 13ª edição: "Chegados Aqui Para Onde Vamos?" - Conversa com os escritores Miguel Szymanski, Júlio de Almeida (o antigo comandante do MPLA, "Juju") e Luís Reis Torgal... Sábado, 17 de maio, às 17:00

Guiné 61/74 - P26833: Tabanca Grande (574): José Manuel Loureiro Cochofel, ex-Fur Mil Inf - Minas e Armadilhas, da CCAÇ 1551 / BCAÇ 1888 (Bambadinca, Fá Mandinga, Xitole e Saltinho, 1966/68), que se senta à sombra do nosso poilão no lugar 904

1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano José Manuel Loureiro Cochofel, ex-Fur Mil Inf - Minas e Armadilhas, da CCAÇ 1551 / BCAÇ 1888 (Bambadinca, Fá Mandinga, Xitole e Saltinho, 1966/68), com data de 21 de Maio de 2025, com a sua apresentação à tertúlia do nosso Blgue:

Sou o José Manuel Loureiro Cochofel, nascido em 11/12/1945, em Ribeira de Pena e actualmente tenho residência em Grijó, Vila Nova de Gaia.
Estou na situação de aposentado depois de uma vida ligada à Gestão de Pessoas.

Ingressei no Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria em 1965 no CSM em Tavira, concluindo a instrução em 30/10/1965. De seguida ingressei na Escola Prática de Engenharia em Tancos onde tive oportunidade de frequentar e concluir em 11/12/1965 o Curso de Minas e Armadilhas.
Passei depois a integrar o Regimento de Infantaria I, na Amadora.
No final desse ano de 1965 fui destacado para dar formação a uma companhia em Chaves.
Concluída essa etapa fui destacado para Santa Margarida e integrar a CCAÇ 1551, do BCAÇ 1888, que veria a ser destacada para a Guiné (Bissau).

De 20/4/1966 a 22/01/1968, estive na Guiné como Furriel Miliciano de Minas e Armadilhas, SPM 3358, CCAÇ 1551 / BCAÇ 1888, passando por vários locais (Bambadinca, Fá, Xitole, Ponte dos Fulas, Saltinho, etc.).

Envio algumas fotos

Cumprimentos
José Cochofel


O Soldado Instruendo do CSM (CISMI) José Manuel Cochofel
BI do Fur Mil Inf MA José Manuel Cochofel
Fotos tiradas durante a viagem para a Guiné, a bordo do N/M Uíge
A caminho de Bambadinca
Xitole > Fur Mil José Manuel Cochofel
Almoço com camaradas do Pelotão
Alferes e Furriéis do Pelotão do Fur Mil José Manuel Cochofel
Fur Mil José Manuel Cochofel em Bissau com camaradas
Ex-Fur Mil José Manuel Cochofel na actualidade

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2. Comentário do editor CV:

Caro José Manuel Cochofel, sê bem-vindo à nossa Tabanca Grande, tertúlia de antigos combatentes e amigos da Guiné. Temos para ti o lugar 904 à sombra do nosso poilão. Muito obrigado por te juntares a nós.

Tanto do BCAÇ 1888 como da tua CCAÇ 1551, não temos registos dignos de nota, talvez por, da tua Companhia, termos na tertúlia só o camarada José Moreira de Castro Neves, que foi Furriel de Armas Pesadas. Talvez tenhas contacto com ele uma vez que é um nortenho de Valongo. 

Terás de assumir a responsabilidade de fazeres, aqui no Blogue, a história da 1551, que afinal é parte da tua própria memória enquanto combatente. É da nossa responsabilidade deixar algo aos vindouros, contado por cada um de nós, os que lá estivemos, antes que o faça alguém que nunca pisou aquela terra vermelha, cor natural, mas tanbém da cor do nosso sangue ali derramado. 

Ficamos ao teu dispor para qualquer dúvida. No fim deste teu poste verás alguns marcadores que te levarão directamente aos postes onde é contado algo sobre, por exemplo, BCAÇ 1888; CCAÇ 1551; Bambadinca, etc. É só explorares. Também se clicares, lá em cima, no nome das localidades por onde andaste, abres as Cartas respectivas, podendo assim revisitares as tabancas e as picadas que jamais esqueceste.

Termino, deixando-te um abraço em nome da tertúlia e dos editores, que ficam na expectativa de novas notícias tuas.

CV
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Nota do editor

Último post da série de 7 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26774: Tabanca Grande (573): António Augusto Arteiro Cardoso, ex-Fur Mil Vagomestre da 2.ª CCAÇ / BCAÇ 4610/73 (Camajabá e Piche, 1974), que se senta à sombra do nosso poilão no lugar 903

Guiné 61/74 - P26832: Facebok...ando (78): Bissássema (cor GNR ref João Manuel Pais Trabulo, ex-alf mil, CCAÇ 2314, Tite e Fulacunda, 1968/69) - Parte I: Fichas de unidade: BCAÇ 2834 e CCAÇ 2314

1. Temos apenas 7 referências à CCAÇ 2314 (e nenhum representante na Tabanca Grande, até agora, mas  o ex-fur mil Joaquim Caldeira já aceitou ser o primeiro, o que muitos nos honra, a todos nós amigos e camaradas da Guiné: vai sentar-se no lugar nº 904, à sombra do nosso poilão).

Por sua vez, há uma página do Facebook CCAÇ 2314 - Age Quod Agis (o lema da companhia que, em latim, quer dizer "faz o que tens a fazer", ou "faz bem o que fazes").

Foi nesta página que li uma série de postagens sobre a história (trágica) de Bissássema, da autoria do cor GNR ref João Manuel Pais Trabulo (que esteve na CCAÇ 2314, como alf mil at inf),

Um poste recente, do nosso camarada Aníbal Silva chamou-nos a atenção para esta CCAÇ 2314 / BCAÇ 2834, a que pertenceu o fur mil Joaquim Caldeira (*). E o Aníbal trouxe-nos o Joaquim, uma grande história de camaradagem e amizade.

2. Para já vamos conhecer as fichas de unidade do BCAÇ 2834 e da CCAÇ 2314:

Ficha de unidade > Batalhão de Caçadores nº 2834

Identificação: BCaç 2834

Unidade Mob: RI 15 - Tomar

Cmdt: TCor Inf Carlos Barroso Hipólito | 2.0 Cmdt: Maj Inf Rui Barbosa Mexia Leitão | OInfOp/ Adj: Maj Inf Albino Simões Teixeira Lino

Cmdts Comp: CCS: Cap SGE António Freitas Novais | Cap Mil Art António Dias Lopes | Cap Inf Eugénio Baptista Neves
CCaç 2312: Cap Mil Inf Júlio Máximo Teixeira Trigo
CCaç 2313: Cap Inf Carlos Alberto Oliveira Penim
CCaç 2314: Cap Inf Joaquim de Jesus das Neves

Divisa: "Juntos Venceremos" - "Para vencer, convencer"

Partida: embarque em 10Jan68; desembarque em 15Jan68 | Regresso: embarque em 23Nov69 

Síntese da atividade operacional

(i) em 16Jan68, rendendo o BArt 1904, assumiu a responsabilidade do sector de
Bissau, com a sede em Bissau e abrangendo os subsectores de Brá, Nhacra e
Quinhámel, comandando e coordenando a actividade das subunidades ali estacionadas, por forma a garantir a segurança e defesa das instalações e populações da área; as suas subunidades foram então atribuídas a outros sectores;

(ii) em 24Jun68, foi substituído no sector de Bissau pelo BCaç 1911 e assumiu
em 25Jun68 a responsabilidade do Sector S2, com sede em Buba e abrangendo
os subsectores de Sangonhá, que viria a ser extinto em 29Ju168, Gadamael,
Cameconde, que desde 28Dez68, passou a subsector de Cacine, Guileje,
Gandembel e Buba, onde rendeu o BArt 1896;

(iii) de 20Ag068 a 07Dez68, a sua zona de acção foi reduzida dos subsectores
de Guileje e Gandembel, que foram atribuídos temporariamente ao COP 2;

(iv) em 15Jan69, a sua sede foi transferida para Aldeia Formosa, onde substituíu
COP1 e sendo então o subsector de Aldeia Formosa, incluído na sua zona de
acção;

(v) em 29Jan69, o subsector de Gandembel foi extinto e em 19Jan69, o
subsector de Buba foi atribuído ao COP 4, então criado;

(vi) em 10Ju169, por transferência da sede do COP 4 para Aldeia Formosa, o batalhão deslocou a sua sede para Gadamael, abrangendo nesta altura os subsectores de Guileje, Cacine e Gadamael;

(vi) desenvolveu intensa actividade operacional de patrulhamento, reconhecimentos, emboscadas e segurança e controlo dos itinerários, bem como operações e acções sobre as linhas de infiltração e bases inimigas, orientada para a desarticulação dos grupos inimigos que procuravam fixar-se na sua zona de acção e ainda para a segurança e protecção dos trabalhos da estrada Buba-Aldeia Formosa;

(vi) dentre o material capturado mais significativo, salienta-se: 2 pistolas-metralhadoras, 1 espingarda, 115 granadas de armas pesadas, 20 cunhetes de munições de armas ligeiras e 92 minas anticarro e antipessoal, destas, parte detectada e levantada nos itinerários;

(vii) em 30Set69, recolheu a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso,
sendo a sua zona de acção integrada no Sector S3, então sob responsabilidade
do BArt 2865.
 
Ficha de unidade > CCAÇ 2314

(i) a CCaç 2314 seguiu em 15Jan68 para Tite, a fim de efectuar a adaptação operacional sob orientação do BArt 1914 e seguidamente reforçar este batalhão,  depois o BCav 2867, como subunidade de intervenção e reserva do sector, tendo realizado patrulhamentos e acções ofensivas nas regiões de Jufá, Bissilão e Nova intra, entre outras e guarnecendo, temporariamente, a povoação de Bissássema, de 03Fev68 a 03Mar68, na sequência de frequentes ataques inimigos;

(ii) em 06Ag068, rendendo a CCaç 1624, assumiu a responsabilidade do subsector de Fulacunda, no mesmo sector, vindo a ser substituída mais tarde na
intervenção pela CArt 2414;

(iii) entretanto, pelotões seus colaboraram ainda em operações efectuadas noutras regiões, ou em reforço temporário de outras guarnições, nomeadamente em Bedanda, Xitole, Nova Sintra e Jabadá e também na organização das autodefesas de Cansonco e Chumael, de princípios de Jan69 a 24Fev69, no sector do BCaç 2852;

(iv) em 30Jun69, por troca com a CCav 2482, voltou a Tite, onde assumiu a
responsabilidade do respectivo subsector;

(v) em 290ut69, iniciou o deslocamento por fracções, para Bissau, sendo substituída em Tite por três pelotões da CCav 2484, até à chegada da CCav 2443, após o que se manteve aguardando o embarque de regresso.
____________

Observações - O BCAÇ 2834 tem História da Unidade (Caixa nº 71 - 2ª Div/4ª Sec, do AHM). As CCaç 2312, CCaç 2313 e CCaç 2314 têm História da Unidade (Caixa n.º 76 - 2ª Div/4ª Sec, do AHM). 

Fonte: Excerto de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, 
pp. 104-106.

3. Desta subunidade fazia parte o hoje cor GNR ref João Manuel Pais Trabulo. 

Natural de Meda, onde nasceu em julho de 1945, foi alf mil at inf da CCAÇ 2314. Enveredou depois pela carreira mitar, primeiro no Exército e depois na GNR, onde se reformou com o posto de coroenl, em 2008. Atualmente, na situação de reforma, vive na cidade de Gouveia, desde 1984. É o Presidente do Núcleo de Meda da Liga dos Combatentes. Tem hoje como centros  de interesse a rádio, a investigação histórica e a fotografia. 

(Fonte: Correio da Guarda, 02.06.21)

Em próximo poste apresentaremos um apontamento do Pais Trabulo sobre "a tragédia de Bissássema", da qual ainda sabemos pouco...

Sobre o o topónimo "Bissássema" temos apenas 14 referências. Os camaradas que lá lutaram, sofreram, morreram e, por fim, venceram (o PAIGC), merecem mais! A começar pelos prisioneiros que o PAIGC fez, em 3 de fevereiro de 1968, todos da CCAÇ 1743, estacionada em Tite, e só libertados na sequência da Op Mar Verde, em 22 de novembro de 1970:

  • António Júlio Rosa, ex-alf mil inf (Mangualde, 1946- Lisboa, 2019);
  • Geraldino Marques Contino, , ex-1º cabo nº 093526/66,
  • Victor Manuel de Jesus Capítulo, ex-sold nº 034660/66, 
(**) Último poste da série >14 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26797: Facebook...ando (77): 24º encontro anual da 26ª CCmds (Brá, 1970/72), na Quinta do Paúl, Ortigosa, Leiria ... Homenagem poética à "Geração Afro" (Angelino Santos Silva)

Guiné 61/74 - P26831: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (29)

Foto 228 > Janeiro de 1972 > Nhacra > João Moreira > Posto retransmissor da Emissora Oficial da Guiné, no terreno ao lado do quartel.
Foto 229 > Janeiro de 1972 > Nhacra > João Moreira > Posto retransmissor da Emissora Oficial Guiné.
Foto 230 > Janeiro de 1972 > Nhacra > João Moreira > Morança em construção.
Foto 231 > Janeiro de 1971 > Quartel de Nhacra > João Moreira num espaldão de morteiro
Foto 232 > Janeiro de 1972 > Nhacra > João Moreira > Estrada de Nhacra para o Cumeré
Foto 233 > Janeiro de 1972 > Nhacra > João Moreira > Heliporto
Foto 234 > Janeiro de 1972 > Quartel de Nhacra > João Moreira
Foto 235 > Janeiro de 1972 > Nhacra > João Moreira > Fonte do Vale

(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 15 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26803: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (28)