quarta-feira, 10 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17340: Dossiê LAMETA - Movimento Luso-Americano para a Autodeterminação de Timor-Leste - Parte I: Um documento para a história, um livro do nosso camarada da diáspora, João Crisóstomo (Nova Iorque)... A documenrtação original vai ser entregue dentro de dias em Dili... Uma cópia é entregue hoje, pessoalmente, ao Presidente da República Portuguesa


Capa do livro de João Crisóstomo - LAMETA - Movimento Luso-Americano para a Autodeterminação de Timor-Leste, edição de autor, Nova Iorque, 2017, 162 pp.


Dedicatória autografada ao Luís Graça e à Maria Alice Carneiro. O autor, que está  no nosso país até amanhã, antes de regressar a casa, em Nova Iorque, e partir depois para Dili, andou numa roda vida, deixando mais de 7 dezenas de cópias do seu livro a amigos e personalidades portuguesas. A edição do livro foi inteiramente custeada por si.(*)


Nota biográfica do autor






[Excertos das primeira páginas do livro: pp. 7-9]


1. O nosso amigo, camarada e grã-tabanqueiro João Crisóstomo está de passagem por Portugal juntamente com a esposa e nossa querida amiga Vilma, tendo participado no encontro da sua Companhia, a CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67), que se realizou nas Caldas da Rainha, em 29 de abril último (. falhando por isso , e com muita pena, o XII Encontro Nacional da Tabanca Grande). (*)

Português da diáspora, ex-combatente da guerra colonial, com nacionalidade americana, regressa amanhã a Nova Iorque, onde reside desde 1975 (vd. nota biográfica acima). Mas, entretanto, vai ter oportunidade, esta tarde, de ser recebido no Palácio de Belém, em audiência privada, cumprimentar o "presidente de todos os portugueses" e de  "todas as comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo" e de lhe mostrar o dossiê original sobre o LAMETA  que, a pedido do Primeiro Ministro de Timor Leste, vai agora deixar, dentro de dias, em Dili no 15º aniversário da independência.

Foi o primeiro ministro timorense, a par de outras pessoas amigas e personalidades da sua vasta rede de relações, quem lhe fez ver e sentir a necessidade de transformar esse dossiê num livro-álbum para que "o papel das comunidades portuguesas dos Estados Unidos no processo da independência de Timor Leste", ao longo de seis anos,  também não caísse na vala comum do esquecimento, como acontece muitas vezes, no nosso país, com as coisas em que se metem os portugueses cá dentro e lá fora.

O João vai-se agora separar  desse dossiê, e doutros artefactos entre os quais um grande painel “Timor 1975” (4,50 X 1,20 metros) , da autoria do artista luso-americano Fernando Silva, usado frequentemente em frente às Nações Unidas, em Nova Iorque e que, pelo telefone,  o dirigente do LAMETA fez questão de oferecer a Xanana quando este saiu da prisão.

Além de mostrar o dossiê original e deixar uma cópia na Presidência da República, o nosso camarada e amigo João Crisóstomo vai, por certo, também oferecer um exemplar autografado do seu livro ao Presidente da República.

Temos uma cópia em pdf desse "book" com a autorização do autor para reproduzir, no nosso blogue, os documentos ou partes do livro que acharmos de maior interesse para os nossos leitores. É o que começamos a fazer, a partir de hoje, reproduzindo alguns excertos.

Com a independência de Timor fecha-se um ciclo de 500 anos da nossa história e abre-se outro... O João Crisóstomo, o António Rodrigues e outros mordomos de elite dos mordomos portugueses de Nova Iorque, ao serviço da elite nova-iorquina, que criaram e animaram este movimento (LAMETA), também fazem parte dessa história... Tenhamos para com eles e a restante comunidade luso-americana um palavra de reconhecimento, apreço e agradecimento. Nós, aqui, também fizemos algumas ações valiosas em defesa do direito dos nossos amigos timorense à autodeterminação. Enfim, é bom não deixar apagar-se a memória, seja em Timor, ou seja noutras partes da comunidade lusófona, da Guiné-Bissau a Macau, de Cabo Verde a Angola...

Fica aqui também um desafio aos nossos investigadores: a personalidade do João Crisóstomo (um homem determinado e persistente a quem o antigo Cardeal Patriarca de Lisboa, Dom José Policarpo, chamava, quando ainda bispo, com toda a graça e propriedade, o "berbequim"!)  e a história deste processo de "lobbying" da nossa comunidade luso-americana, deviam ser objeto, na nossa academia, de um "case study" em ciência política!...

Principais capítulos do livro, de 162 pp:

1. Como tudo começou: criação da LAMETA e primeiros passos (pp. 17-29)
2. Novos aliados para Timor: D. Renato Martino, Elie  Wiesel e outros (pp. 31-43)
3. Um referendo para Timor-Leste (pp. 45-57)
4. Nações Unidas (pp. 59- 64)
5. Os meios de comunicação social (pp. 65- 70)
6. Congresso, Casa Branca, petições (pp. 71-78)
7. Portugal (pp. 79-94)
8. Jornadas de informação e outros acontecimentos públicos (pp. 95-104)
9. O filme "Death of a Nation" (pp. 105-109)
10.  Padrinhos para Timor (pp. 111-123)
11. Casos de um longo percurso e  4 contentores com ajuda (pp. 125-136)
12. Figuras inspiradoras (pp. 137- 147)
13.  E, agora, a LAMETA (pp. 149-153)
14. Alguns documentos que falam das iniciativas pró-Timor das comunidades luso-americanas ou noticiam os primeiros passos da nação por que elas lutaram (pp. 155-160)



Lourinhã > 30 de abril de 2017 > O João Crisóstomo e o Luís Graça... Infelizmente, à Vilma, por indisposição nesse dia,  não pôde vir à "capital dos dinossauros"... O João teve a gentileza de nos oferecer, a  mim e à Alice, um exemplar do seu livro, autografado.
Foto (e legenda): © Luís Graça  (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 15 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17246: (De)Caras (71): João Crisóstomo acaba de publicar, em Nova Iorque, o livro "LAMETA: o desconhecido contributo das comunidades luso-americanas para a independência de Timor-Leste"...Vem a Portugal, para umas férias, no próximo dia 20, 5ª feira.

(**) Vd. poste de 3 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17102: Convívios (781): Encontro do 50.º aniversário do regresso da CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): Caldas da Rainha, 29 de abril de 2017. Prazo de inscrição: 13 de abril (Maria Helena Carvalho, filha do Pereira do Enxalé)

Guiné 61/74 - P17339: Os nossos seres, saberes e lazeres (211): São Miguel: vai para cinquenta anos, deu-se-me o achamento (1) (Mário Beja Santos)




1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 10 de Fevereiro de 2017:

Queridos amigos,
Aqui vivi de Outubro de 1967 a Março de 1968, e prontamente me enfeiticei pelas hidrângeas, a bagacina, a marginal de Ponta Delgada.
No regresso da Guiné, aqui se fez escala e presenciei um dos episódios mais emocionantes que me foi dado viver: o porto pejado de mulheres de preto que esperavam filhos, maridos ou irmãos, uma cantata que a todos pôs a chorar.
Por aqui cirando de vez em quando, razões profissionais não faltaram, cresceram amizades e não escondo o frenesim em regressar a estas paisagens de verde, aos cones vulcânicos, passear na Lagoa das Furnas, avistar a Lagoa do Fogo, são cenários que se entremeiam no meu coração.
Aqui fica uma viagem de saudade, o princípio da festa do cinquentenário.

Um abraço do
Mário


São Miguel: vai para cinquenta anos, deu-se-me o achamento (1)

Beja Santos

Cheguei a Ponta Delgada a bordo do "Carvalho Araújo", que me levou seis meses depois de regresso a Lisboa, o mesmo "Carvalho Araújo" que me trouxe de Bissau em Agosto de 1970. Anoitecera, todos os outros aspirantes a oficial miliciano tinham destino certo, eram da terra. Desembarquei e um amigo do meu cunhado, Eugénio Sales da Câmara, estava à minha espera e levou-me para os Arrifes, dormi no quarto do oficial de dia, com uma bruma que chegava aos cobertores. Ao primeiro toque do corneteiro, levantei-me, preparei-me e procurei desesperadamente comer. É nisto que olho para os montes circundantes, oiço o badalo das vacas, o seu mugido intermitente, um céu plúmbeo por onde esvoaçam nuvens dá a paleta de tons esverdeados que se tornarão inesquecíveis, pela vida fora. Assim começou o meu feitiço açoriano, estávamos em Outubro de 1967. Decidi comemorar com pompa e circunstância, mesmo antes de tempo, precisava desesperadamente de ver as azálias, os metrosíderos, as criptomérias, pisar a bagacina, respirar o enxofre das caldeiras.
Primeiro dia, degustação da terra, aceitei a sugestão do meu amigo Mário Reis, partimos de Ponta Delgada para o porto da Lagoa, almoço com boca negra grelhado, batata cozida e legumes, repasto delicioso, não tivesse dele partido a sugestão atirava-me à albacora ou aos filetes de abrótea. E começava o nosso passeio pela costa Sul, Livramento, São Roque, Relva, Feteiras, Candelária, Ginetes, aproveita-se o céu limpo para ver o miradouro do Escalvado, paragem no alto da Ferraria, as imagens desfolham-se.



Quem não sabe é como quem não vê, na primeira imagem temos uma caldeira seca, não sei se foi há milhões de anos quando por aqui rebentaram vulcões, uns ficaram adormecidos, expelem fumarolas, desfazem-se em lamas sulfúreas, outros secaram. É este o caso, não mete medo e dá pasto. Temos depois o farol da Ferraria, olha-se lá para baixo, para a imensidão do oceano que se atira em cachão sobre as rodas aqui as ondas são bravíssimas, volto a câmara para o outro lado, lá ao fundo estão os Mosteiros, para lá caminharemos, os seus ilhéus atraem turistas e poetas.




O Duque de Viseu, Administrador da Ordem de Cristo, conhecido por Infante D. Henrique, que andou à espadeirada em Ceuta, sonhava em chegar a outras terras para lá do mar, montou um projeto que envolvia expedições oceânicas. Quando aqui se chegou, um outro seu irmão, de nome D. Pedro, o das sete partidas, pediu-lhe para que o nome da ilha fosse S. Miguel, seu patrono. E assim nasceu a fama desta ilha de lagoas, de ventos ciclónicos, onde se pescou baleia, onde combateram liberais contra miguelistas, onde se planta chá e há estufas de ananases e onde quem parte vive em saudade, basta pensar em Natália Correia que se despediu deste mundo com os seus prodigiosos Sonetos Românticos, daqui se partiu e parte muito para Califórnias e Canadás, é a terra do visionário Antero de Quental, de Hintze Ribeiro, do derradeiro poeta do Orpheu, Armando Cortes Rodrigues, e ficamos por aqui. Estamos nos Mosteiros, o maior porto da costa Norte está em Rabo de Peixe, vou evitar palavras, acredito piamente que as imagens falem por si. João de Melo, que nasceu não muito longe daqui, na Achadinha, chama a S. Miguel uma doce melancolia: Aquilo que se avista lá de cima é como um tombadilho gigantesco, todo verde e quase plano (…) A palavra melancolia vê-se também no próprio espanto que em nós estranha e não explica o verde-azul-amarelo da terramar, corpo lânguido e feminino da paisagem, trecho da costa norte fendido ao meio pela Ponta do Cintrão, baixa, e até maneirinha, à esquerda; alta e muito recortada para as bandas de Porto Formoso. Os tons esmeralda da pradaria e das matas de incenso e criptoméria parecem a um tempo colidir e complementar-se entre si; ao longe e em baixo, a brancura das casas – que se perfilam ao longo das ruazitas desertas, tortuosas, com as suas barrinhas de basalto em volta das portas e janelas – resplandece-se acima dos verdes múltiplos da terra como numa marcação a giz dessa cor.




Continuou a jornada para os lados da Bretanha, Remédios, Santa Bárbara e perto das Capelas chegou o negrume da noite, regresso a Ponta Delgada. Mário Reis vai levar-me na manhã seguinte até ao Vale das Furnas, um lugar mágico, asseguro-vos. E assim foi, com as novas estradas vai-se rapidamente a outros pontos da costa Norte, caso do miradouro de Santa Iria, ali perto deu-se a batalha da Ladeira Velha, lê-se a lápide explicativa que é omissa na crueldade com se trataram os vencidos, atirando-os para o abismo. E assim se chega a um local por onde, há perto de 50 anos, passei de revés, o Hotel Terra Nostra, tem um jardim magnífico e um polo de atração irrecusável, a piscina onde a temperatura ronda os 40 graus. Pode ser que a ilha tenha muita melancolia, mas eu tenho a alma em júbilo.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 3 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17314: Os nossos seres, saberes e lazeres (210): Tavira fenícia, árabe, portuguesa; a cidade e a água (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17338: Parabéns a você (1251): Fernando Valente (Magro), ex-Cap Mil Art do BENG 447 (Guiné, 1970/72) e Henrique Matos, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52 (Guiné, 1966/68)


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Nota do editor

Último poste da série de 5 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17319: Parabéns a você (1250): Joaquim Gomes Soares, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 2317 (Guiné, 1968/69)

terça-feira, 9 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17337: Agenda cultural (560): Apresentação da coleção "Recordações da Pesca do Bacalhau" (5 vols., Âncora Editora; autor: comandante Valdemar Aveiro, capitão Aveiro, uma lenda viva da epopeia da Terra Nova): Escola Superior Náutica Infante D. Henrique, Paço de Arcos, Oeiras, 17 de maio, 4ª feira, 15h00




1. Convite da Escola Superior Náutica Infante D, Henrique e Âncora Editora, que nos chega através de um amigo comum,  o arquiteto José António Paradela, natural de Ílhavo e apaixonado pelas coisa do mar e da pesca:


No próximo dia 17 de maio, pelas 15 horas, será apresentado na sala 0.27 a coleção de livros "Recordações da Pesca do Bacalhau" da autoria do Cte. Valdemar Aveiro. 

A apresentação das obras será efetuada pelo Sr. Cte de Mar e Guerra Augusto Alves Salgado[, doutor em História dos Descobrimentos, professor na Escola Naval].


2. Sobre o autor, Valdemar Aveiro, o mítico capitão Aveiro [. foto à esquerda, cortesia da Âncora Editora]

(i) nasceu em dezembro de 1934, em Ílhavo, no seio de uma família de pescadores;

(ii) terminada a instrução primária, começou a trabalhar como aprendiz de barbeiro, passados 10 meses empregou-se numa oficina de serralharia civil e, mais tarde, na construção civil;

(iii) aos 15 anos concorreu à Escola Profissional de Pesca, ganhou uma bolsa de estudo que lhe deu acesso ao liceu e, posteriormente, à Escola Náutica, onde concluiu o Curso de Pilotagem;

(iv) embarcou como moço a bordo do lugre-motor Viriato para fazer uma viagem à pesca do bacalhau no sentido de suportar as despesas da sua formação;

(v) em 1957 embarcou como praticante de piloto no navio Santa Mafalda, da Empresa de Pesca de Aveiro, sendo promovido no ano seguinte a piloto, a bordo do mesmo navio, e em 1960 passou a oficial imediato do navio Santa Joana;

(vi) emigrou para o Canadá, em Abril de 1964, na persecução de se licenciar em Medicina, um sonho que não logrou cumprir, tendo regressado a Portugal no ano seguinte;

(vii) em 1966 embarcou no navio São Gonçalo e no ano seguinte passou para um navio moderno, Santa Isabel, comandado pelo capitão David Calão;

(viii) assumiu, em 1970, o comando do mais velho arrastão português, Santa Joana, e, dois anos depois, foi convidado para comandar o navio Coimbra, então em construção nos Estaleiros de S. Jacinto, tendo-se retirado por doença em 1988;

(ix) depois de recuperado, foi convidado a colaborar com a administração da Empresa de Pescas S. Jacinto, SA, sendo, desde 1991, membro do seu conselho de administração.

Livros publicados na Âncora Editora:

80 Graus Norte - Recordações da Pesca do Bacalhau

Ecos do Grande Norte – Recordações da Pesca do Bacalhau

Histórias Desconhecidas dos Grandes Trabalhadores do Mar - Recordações da Pesca do Bacalhau

Nómadas do Oceano - Recordações da Pesca do Bacalhau

Fonte: Âncora Editora

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Nota do editor: 

Guiné 61/74 - P17336: Tabanca Grande (435): Manuel José Janes, ex-1º cabo "O Violas", CCAÇ 1427 (Cabedu, 1965/67): poeta, cantor, dono da "Tasca do Reguengos", Monte da Caparica, Almada... É o nosso novo grã-tabanqueiro, nº 743 (Jorge Araújo)


Foto nº 1 > Guiné > Região de Tombali > Cabedu > CCAÇ 1427 (1965/67) > Vista aérea do aquartelamento e pista de aviação


Foto nº 2 > Guiné > Região de Tombali > Cabedu > CCAÇ 1427 (1965/67) > Parte do contingente da CCAÇ 1427 (1965/1967) onde se vê o camarada Manuel Janes “O Violas” no interior do círculo com uma das suas companheiras inseparáveis (a viola).


Crachá da CCAÇ 1427 (Cabedú, 1965/67) > "Saudade e orgulho dos caídos na luta"

Fotos (e legendas): © Manuel José Janes / Jorge Araújo (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Texto enviado, em 13/4/2017, pelo nosso colaborador permanente Jorge Araújo (ex-Fur Mil Op Esp,  CART 3494/BART 3873, Xime Mansambo, 1971/74), residente em Almada





1. INTRODUÇÃO

O encontro/convívio de ex-combatentes no CTIGuiné realizado no passado dia 25 de março, no Monte da Caparica, Município de Almada, em que participaram camaradas de várias Unidades que aí cumpriram a sua missão em diferentes épocas e locais, permitiu partilhar memórias únicas pois só os próprios a sabem contar como ninguém.

O destaque dessa reunião vai, no entanto, para o camarada Manuel José Janes, também conhecido por 1.º Cabo “O Violas”, alcunha pela qual passou a ser conhecido desde o início pelos seus pares, tendo por companheiras inseparáveis: uma G3 e a sua viola.

Para recordar aquela que foi a sua apresentação, recupero alguns factos narrados no P17206 (*):
 
“Quando o almoço decorria com uma natural tranquilidade, eis que se aproxima de nós um indivíduo trauteando alguns versos do seu fadário vivido durante a Guerra do Ultramar, em estilo musical de fado. 


"Era, nem mais nem menos, o proprietário do restaurante, também ele ex-combatente na Guiné, pertencente ao contingente da CCAÇ 1427, Unidade que esteve sediada em Cabedú, na região de Tombali, no Sul, nos anos de 1965/1967”.(*)



O Manuel José Janes, "O Violas"



O Manuel José Janes, hoje, natural de Reguengos de Monsaraz, é proprietário e gerente do restaurante "Tasca dos Reguengos",  Monte da Caparica, Almada.



2. O CAMARADA MANUEL JANES, “O VIOLAS”, 1.º CABO DA CCAÇ 1427 (CABEDU, 1965/67)

Procurando saber mais histórias da sua missão em Cabedú e da sua Unidade (CCAÇ 1427 - 1965/1967), para além das que nos contou durante aquele encontro, e obter uma foto desse tempo para lhe permitir sentar-se à sombra do fraterno poilão da nossa «Tabanca Grande» (**), encontrei-me com o camarada Manuel Janes na passada semana.

Durante a nossa cavaqueira de cerca de três horas, com uma ordem de trabalhos completamente arbitrária, mas sem descurarmos o tema base do nosso encontro – “memórias da Guiné” –, a determinada altura divulguei-lhe aquele que para ele seria um segredo: o de ter tido notícias do camarada Manuel Caldeira Coelho [fur mil trms da CCAÇ 1589 (Nova Lamego e Madina do Boé - 1966/1968)], conterrâneo de Reguengos de Monsaraz e seu grande amigo, que nos idos anos de 1964 haviam fundado um trio vocal.

Recebendo a notícia (segredo) com grande satisfação, fez questão de o contactar enviando-lhe uma mensagem SMS de agradecimento.

Na sequência da primeira narrativa [P17206], na qual faço referência ao nome e à pessoa do Manuel José Janes,  “O Violas”, o camarada Manuel Coelho (a quem agradeci sensibilizado) respondeu-nos, através de correio interno, o seguinte:

“Caros editores, ao ler o poste 17206 do dia 4 [de março], de autoria do camarada Jorge Araújo, não podia deixar de dar uma 'achega' referente às capacidades do Manuel José Janes como cantor e autor.

Somos da mesma terra (Reguengos de Monsaraz) e fundámos um trio vocal em 1964 para nos divertirmos a actuar a nível regional. Temos uma gravação feita num gravador de bobinas emprestado, não sei se poderá ser incluído neste testemunho.

Com uma voz linda de se ouvir em qualquer apresentação, não quis o destino que seguisse carreira artística.

Fomos cada um para seu lado no serviço militar e entretanto a 2.ª Região Militar [Tomar] reuniu vários artistas amadores ou não, para espectáculos em vários locais designadamente na Guarda onde houve festa pela reabertura do quartel do BC 7.

Lá chamaram a ele e a mim e foi um êxito que nos fez repetir no Coliseu de Lisboa e a gravar este espectáculo na RTP,  transmitido em 15/7/1965 e apresentado por Carlos Cruz.

Ocasionalmente encontrámo-nos em Bissau de férias. O que ele me contava de Cabedú e de Catió era tremendo, acho que alguém poderá convencê-lo a descrever essas histórias passadas com a CCAÇ 1427. Eu poderei contactá-lo para isso.

Resumindo: uma voz fabulosa, uma escrita em verso não aproveitada e um destino não como artista mas como industrial de hotelaria.

Perdeu a vida artística mas ganharam os amigos e clientes da sua casa que sempre o ouvem lá cantar e conviver" (
Manuel Coelho).
 

Aqui chegado, e para concluir este apontamento, resta-me apresentar algumas (poucas) imagens de Cabedú [fotos acima], prometendo voltar logo que o camarada Manuel Janes localize o seu baú, uma vez que mudou de residência recentemente. 

Daremos conta, ainda, da «Marcha de Cabedú», da CCAÇ 1427, com letra e música da sua autoria.

Comprometeu-se, finalmente, a dar-me conta da data do lançamento do seu livro de poesia que, segundo me confidenciou, está para breve.
 

Letra da «Marcha de Cabedú», da CCAÇ 1427 
da autoria de Manuel José Janes, “O Violas”



 "Comida típica alentejana, nomeadamente: migas de espargos com rojões, pézinhos de coentrada, sopa de cação, pataniscas de bacalhau com arroz de feijão...entre outros deliciosos pratos!!!  Temos também pratos de caça, nomeadamente: arroz de pombo bravo, coelho à caçador e arroz de lebre! Por vezes tem que ser por encomenda."

Rua General Humberto Delgado 13B | Monte de Caparica, Almada 2825-016, Portugal
+351 21 295 0299. 
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segunda-feira, 8 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17335: Agenda cultural (559): Apresentação do livro "25 de Novembro - Reflexões", coordenação do Coronel Manuel Barão da Cunha, dia 11 de Maio de 2017, pelas 15 horas, na Messe Militar do Porto, sita na Praça da Batalha



 


O nosso camarada Manuel Barão da Cunha, Coronel de Cav Ref, que foi CMDT da CCAV 704 / BCAV 705, Guiné, 1964/66, dá-nos notícia da apresentação de mais uma tertúlia Fim do Império, a levar a efeito na próxima quinta-feira, 11 de Maio de 2017, na Messe Militar do Porto.




17.º CICLO DE TERTÚLIAS, PORTO

174.ª TERTÚLIA

11 DE MAIO DE 2017 - 15 HORAS

MESSE MILITAR DO PORTO



Organização da Liga dos Combatentes, Núcleo do Porto, presidido pelo Coronel Comando José Manuel da Glória Belchior, coadjuvado pelo Capitão Delgado; em articulação com o coordenador do Programa; na Messe Militar, na Praça da Batalha, apresentação do 25.º livro Fim do Império, "25 de Novembro - Reflexões", coordenação do Coronel e Dr. Manuel Barão da Cunha.
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17330: Agenda cultural (558): Sessão de lançamento do livro de Graça Fernandes, “Aparições em Fátima – 1917”, hoje. dia 8, 2ªf, às 17:30, na Sociedade de Geografia de Lisboa. Um dos apresentadores é o cor inf ref e escritor Manuel Bernardo

Guiné 61/74 - P17334: XII Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 29 de Abril de 2017 (19): Por mim, manteria o sítio, o hotel, e a relação qualidade/preço, melhoraria a refeição principal e, sobretudo, agarraria com unhas e dentes esta oportunidade (histórica, única) de convívio anual entre nós, amigos e camaradas (António Duarte, Lisboa)


1. Mensagem do António [João Fernandes] Duarte, ex- fur mil at art, CART 3493 / BART 3873, e CCAÇ 12, Mansambo, Bambadinca e Xime, 1971/74; economista, bancário reformado, formador com larga experiência em Portugal e Angola na área das operações bancárias. Esteve na CCAÇ 12, de novembro de 1972 a março de 1974, em rendição individual. Vive em Lisboa.[Foto à esquerda]


Data: 3 de maio de 2017 às 22:47

Assunto: Convívio da Tabanca Grande

Boa noite Camaradas

Gostaria de dar duas palavrinhas sobre o tema que o Mexia Alves lançou, sobre a qualidade do convívio.(*)


Localização


Sobre a localização penso que dificilmente seria melhor. Bons acessos e no meio do país.

Espaço

O espaço é excelente, com zonas de lazer agradáveis e espaçosas e ainda com a possibilidade de se ficar no hotel, com preço para amigos...

Restauração

Sobre a refeição, diria que as entradas do almoço foram excelentes,
talvez retirasse os carapaus que, por serem grandotes, não eram fáceis de digerir, o resto tudo muito bom (a dobrada estava cinco estrelas).

Ao lanche acrescentaria um pouco mais de fruta, reduzindo alguns doces e se possível introduziria leitão. Quanto ao marisco calculo que encarecerá a refeição, mesmo sendo gambas, o mais vulgar nestes eventos. Vocês verão com o hotel.

A refeição principal não estava brilhante, no entanto haverá por certo espaço para melhorar, alterando o prato talvez para bacalhau à lagareiro, que podia vir às lascas para tornar a refeição mais económica e prático o serviço ou outro a pensar, mas com possibilidade de quem não gostar, o que devem ser poucos, terem uma alternativa (bifinhos, por exemplo) a assinalar no momento da reserva. 

Para sobremesa mantinha o doce e como segunda alternativa uma salada de frutas (também a referir no momento da reserva esta segunda opção).

Preço

Quanto ao preço será de manter. Fiquei com a perceção que poderia ter havido camaradas que não foram, por serem sensíveis ao custo. Mas
parece complicado descer o preço e a qualidade tem de ser paga.

Data

A este propósito também o facto de o dia se integrar em 3 dias de férias poderia ter levado gente a optar por ir a banhos de mar.


Comissão organizadora

Em síntese, e na minha modesta opinião, manteria a equipa, obviamente se assim cada um dos camaradas o entender. Por outro lado em equipa vencedora não se ....

Quanto ao lugar, definitivamente gosto e parece difícil arranjar melhor.

Por último diria que a refeição ficará em segundo lugar, quando se compara com a oportunidade de convívio, esse sim muito importante e objetivo principal do evento.

Abraços e obrigado pelo vosso trabalho.  

António Duarte
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Guiné 61/74 - P17333: XII Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 29 de Abril de 2017 (18): os manos Agnelo e Zeca Macedo, os únicos representantes da Marinha e da diáspora...


Foto nº 1 >  O Zeca Macedo, com a dupla nacionalidade americana e cabo-verdiana....É a segunda vez que   vem oa nosso Encontro Nacional. 

O Zeca Macedo, ex-2º tenente fuzileiro especial, DFE 21 (Cacheu e Bolama, 1973/74), nasceu na Praia, Santiago, Cabo Verde, em 1951; vive nos Estados Unidos, onde é advogado; é membro da nossa Tabanca Grande desde 13/2/2008). Foi uma alegria voltar a vê-lo connosco, a ele, à esposa,  ao irmão e à cunhada, no nosso XII Encontro Nacional.



Fotop nº 2 > Goreti, a esposa do Zeca Macedo.


Foto nº 3 > O Zeca e a Goreti


Foto nº 5 > Agnelo Macedo e Delfina (Lisboa)... Agnelo Macedo é capitão de mar e guerra, na reserva, de seu nome completo Agnelo António Caldeira Marques Monteiro de Macedo, antigo diretor do Centro de Apoio Social de Lisboa do Instituto de Ação Social das Forças Armadas (2013-2016)


Foto nº 5 > Delfina Macedo


Leiria, Monte Real > Palace Hotel Monte Real > XII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 29 de abril de 2017

Fotos: © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Foram os únicos representantes da Marinha... e da diáspora (EUA), o Zeca e o Agnelo Macedo.

Em 2016, quando nos encontrámos pela primeira vez, em Monte Real, em 2016, demo-conta, eu e o Zeca Macedo, de que já nos conhecíamos de "outra incarnação": em, 1971, o Zeca Macedo, que tinha saído da Escola Naval e aguardava a entrada em outubro na Escola de Fuzileiros Navais, trabalhou nas férias grandes no parque de campismo da Praia da Areia Branca, Lourinhã. Tinha na altura também uma prima na Lourinhã. a trabalhar na Câmara Municipal.  E penso que também foi nessa altura, tinha eu regressado da Guiné em março de 1971, que estivemos juntos ele, e outros cadetes da Escola Naval (Rafael Sardinha Mendes Calado, meu amigo, capitão de mar e guerra de administração naval, reformado;  Agostinho Ramos da Silva, vive-almirante de classe de marinha, e outros cedetes, na altura, de que já não me lembro o nome)...

Em 2017, eu e o Zeca Macedo voltámos, muito brevemente,  ao passado. Com a dupla nacionalidade, cabo-verdiana e americana, conhece e é amigo de diversos combatentes e dirigentes do PAIGC contra os quais combateu no TO da Guiné. Seria o caso, por exemplo, do antigo presidente da República de Cabo Verde, Pedro Pires. Mas não gostam de falar do passado, o que se entende... já que a guerra colonial / guerra de libertação foi uma fractura muito grande na nação cabo-verdiana...E ainda há feridas por sarar...

Foi bom também o Zeca Macedo ter trazido, além da simpatiquíssima esposa Goreti, outro casal, o mano Agnelo e a cunhada Delfina. Os quatro bisaram, e esperamos tê-los cá de novo, para o ano, no nosso XIII Encontro Nacional, a realizar-se em Monte Real, na 1ª quinzena de abril de 2018 (a confirmar).

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Guiné 61/74 - P17332: Convívios (797): XXIV Encontro do pessoal do BCAÇ 2912 (Galomaro, 1970/72), dia 3 de Junho de 2017, em Coruche (António Tavares)

1. Mensagem do nosso camarada António Tavares (ex-Fur Mil SAM da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), datada de 22 de Abril de 2017:

Caro amigo,
Agradeço a publicação na Tabanca Grande do nosso Convívio.

Abraço do
António Tavares




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Nota do editor

Último poste da série de 7 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17328: Convívios (796): XXXI Encontro do pessoal da Magnífica Tabanca da Linha, dia 18 de Maio de 2017, em Carcavelos (Manuel Resende)

Guiné 61/74 - P17331: Notas de leitura (954): Ruy Cinatti e uma viagem a Bolama, 1935, em “O Mundo Português”, revista de cultura e propaganda, arte e literatura coloniais, o seu número 24, de Dezembro de 1935 (Mário Beja Santos)


Guiné > Bolama > Agosto de 1935 > A chegada do vapor "Moçambique", com os participantes do 1.º Cruzeiro de Férias às Colónias, entre os quais se contaria Ruy Cinatti (1915-1986), engenheiro agrónomo, poeta, antropólogo que iria mais tarde estabelecer uma relação especial com Timor.

Fonte: O Mundo Português, Vol II, nºs 21-22, Setembro-Outubro de 1935 (Exemplar  pessoal de Mário Beja Santos; digitalização e  edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné).


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 10 de Fevereiro de 2016:

Queridos amigos,
Entre chuviscos intermitentes, aquele sábado de manhã na Feira da Ladra permitiu-me adquirir esta preciosidade, ao longo dos anos em que entabulei grande amizade com o Ruy Cinatti, este nunca me fizera referência à sua visita à Guiné e muito menos mencionara existir texto de tal viagem. A sua grande recordação fora a Ilha do Príncipe, deu-lhe fulgor para escrever uma pequena gema literária, o conto "Ossobó".
É bom recordar que este antropólogo e poeta tinha 20 anos quando escreveu estas recordações de viagem.

Um abraço do
Mário


Ruy Cinatti e uma viagem a Bolama, 1935

Beja Santos

O 1º Cruzeiro de Férias às Colónias, coordenado por Marcello Caetano, constituiu uma novidade pelo modo como se pretendia atrair a juventude aos conhecimentos das parcelas do império. Guardaram-se vários testemunhos dessa viagem em que o regime procedera a uma rigorosa seleção de universitários de elevada craveira.
Um dos escolhidos foi Ruy Cinatti (1915-1986) que se irá afirmar como grande poeta, etnólogo, antropólogo e defensor da causa timorense. Tive o privilégio de receber alguns dons da sua amizade benfazeja. Conheci-o quando era membro da direção do jornal “Encontro”, a publicação da JUC – Juventude Universitária Católica, em 1966, fui pedir-lhe um poema, ofereceu-nos “O cego”, o primeiro dos seus “Sete septetos”, livro que viria a ser premiado com o Prémio Nacional de Poesia.
O meu livro “A Viagem do Tangomau”, arranca com um encontro em sua casa, convidar-me para jantar na véspera de eu partir para Mafra, para frequentar a recruta. Leu-me poemas de safra recente, que virão a ser publicados a título póstumo. E na correspondência que com ele troquei na Guiné, deu-me sábios conselhos, foi um lenitivo para a minha alma, daí o ter tratado sempre por “Dear father”.

Encontrei em “O Mundo Português”, revista de cultura e propaganda, arte e literatura coloniais, o seu número 24, de Dezembro de 1935, o seu texto “A Mocidade Académica e o 1º Cruzeiro de Férias às Colónias”. Chamou-me à atenção, na chegada a S. Vicente, a descrição crua que nos faz da vida dolorosa do cabo-verdiano:

“A vegetação em S. Vicente está reduzida a pequenos oásis de verdura – as ribeiras – regiões sobrejacentes aos leitos de ribeiras subterrâneas, onde se desenvolvem plantas dos climas quentes, e a pequenas extensões de vegetação arbórea cuja ramaria, passada certa altura, se estende, se inclina horizontalmente, se prostra ante a fúria niveladora do vento do deserto, que sibila, que ecoa doidamente nos recôncavos da rocha.
O resto são campos de calhaus partidos, triturados, onde a vida vegetal é impossível, porque as águas que nas épocas de chuva se despenham em torrentes pelas encostas arrastam o pouco húmus que se tenha depositado ou os materiais terrosos provenientes da desagregação da rocha.
Todos estes aspetos, geológico, climático, ausência de vegetação na maior parte das ilhas, motivada ou pela falta de chuvas ou pelo seu desperdício quando cai, conduzem à grande tragédia do arquipélago – a fome.
Em 1924, só em S. Tiago morreram à fome 20 mil pessoas. No Fogo, o colmo é arrancado das casas indígenas para ser cozido e servir assim de alimento. As crioulas levavam os filhos já mortos ao colo, iludindo os administradores, para receberem maior ração”.

E conclui:
“Foram S. Vicente e depois o Príncipe, as ilhas que, no desfilar tumultuante de visões sucessivas, mais indelével recordação deixaram no meu espírito”. 

E assim chegaram à Guiné, registará a sua viagem a Bolama:
“O mar muda de cor. Já não é azul ultramarino nem azul-cobalto. As águas são barrentas, com reflexos esverdeados provenientes dos aluviões arrastados pelo Geba e outros rios. A ondulação é mínima, apenas provocada pelo deslocamento do navio.
Atravessámos o dédalo das ilhas Bijagós, cobertas de intensa vegetação verde-amarelada, que me dá uma sensação muito diferente do que eu supunha vir a encontrar.
Costas baixas, em praia, abundantes em recortes e braços de mar, prolongando-se a perder de vista, a ponto de se julgar que a vegetação nasce das águas.
Era já tarde e o sol velado pela fímbria das nuvens caminhava para o ocaso. Não bulia uma folha. Estava tudo parado, tudo embebido num banho morno.
Caminhava ao longo de uma rua de Bolama, com os muros e as casas cobertas de musgo, onde o branco da cal há muito tempo dera lugar ao cinzento esverdeado da terra e das plantas. Andava e não via ninguém. Tudo estava deserto. Só ouvia o ecoar das minhas passadas no cimento do passeio.
Envolvia-me um silêncio sepulcral. Invadia-me um aniquilamento absoluto. Qualquer coisa me amolecia, tornava mais vagaroso o andar. Com a face, com o corpo a escorrer suor, bebi grandes golos de água do cantil; quanto mais bebia mais a sede me torturava.
De repente, em poucos minutos, o céu tapou-se de nuvens; uma ligeiria brisa baloiçou a folhagem dos poilões; começou a chover torrencialmente e a água, rejeitada pela terra saciada de humidade, corria em regatos para as margens lodosas do mar. Ali, refrescando a alma, refrescando o corpo com a deliciosa chuva a escorrer-me pelos cabelos e pela face, reagi.
Com outra alma, caminhei com energia, embebendo-me na paisagem tropical verde cinzenta. Nas margens do rio, onde o lodo borbulhava, o mangal de folhagem miúda muito cerrada estendia-se indefinidamente numa estreita faixa, com as raízes brutescas saindo da água.
Com o mesmo imprevisto com que tinha aparecido, as nuvens foram-se, e de novo o sol inundou a terra. Atravessei a cidade; segui por uma estrada onde, dentre o verde brilhante das bananeiras, das árvores de fruta-pão e dos poilões, surgiam as tabancas cor de argila.
Em volta, em porções de terreno sem área nem contorno definido, estendem-se as plantações de mancarra cultivada pelos negros. Grupos de indígenas, diferentes na aparência física e no vestuário, seguiam ao longo da estrada e estacionavam à porta das tabancas.
Uns, quase nus, com as costas tatuadas em relevo, com folhas de palmeira-leque e um grande cutelo nas mãos. Outros, vestidos com grandes camisas grandes que quase chegam ao chão, com o peitilho bordado e um alfange pendente a tiracolo. Mulheres, ora de tanga, ora envoltas em grandes panos, caminhavam com os filhos às costas e com grandes cabaças sobre o lenço amarelo enrolado em volta da cabeça.
Entrei numa tabanca de Fulas. Casas retangulares e circulares, o telhado de colmo estendendo-se para fora das paredes a servir de alpendre ou galeria. Sentados em volta os homens conversam, as mulheres entram e saem. As crianças brincam indiferentes ao que em volta se passa.
Lá ao longe, mas dentro da tabanca, o barulho de muita gente junta a falar atraiu-me. Fui lá.
Formando uma roda, homens e mulheres olhavam, gesticulando, o começo de um batuque. O tambor começou a suar e logo um negro despindo a camisa branca, descalçando as chinelas vermelhas, saltou para o meio, os músculos salientes a brilhar, exibindo o corpo atlético de um deus grego queimado pelo sol.
Começou a andar em volta, olhando a multidão que o cercava, saracoteando o corpo, batendo ritmicamente os pés, em flexões que iam aumentando com rapidez. Dirigiu-se às raparigas que em monte o olhavam embevecidas, num conjunto de cores em que o vermelho e o amarelo predominam.
Cantava a mesma frase com intervalos em que o som fica suspenso no ar e continuava cada vez mais excitado, na sua movimentada dança, dando saltos mortais.
De vez em quando chegava-se ao pé do tocador de tambor, dobrava-se, batendo com os dedos no chão e levantava-se me seguida bem alto, apontando para alguns dos que ali estavam. Era o desafio para a luta.
Ninguém veio. Mais alguns saltaram para o centro e com as mesmas atitudes desafiaram outros. Ninguém veio. Tudo se parecia temer. Em volta, homens e mulheres procuravam animar, batendo compassadamente as palmas, acompanhamento o canto intermitente dos lutadores. Nada conseguiram. Em breve começaram a dispersar. O sol já tinha desaparecido lançando apenas no horizonte um pálido clarão, que mais fazia realçar a beleza eternas das palmeiras.
Em redor os homens, sentados à porta das cubatas, lavavam os pés, preparando-se para a oração muçulmana”.

Ruy Cinatti escreve este texto com 20 anos. Chamou-me à atenção a dedicatória que ele apõe:
“Para o muito caro José Vaz Pinto, esta recordação do nosso cruzeiro de maravilha com a amizade de Ruy Cinatti Vaz Monteiro Gomes”.

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Nota do editor

Último poste da série de 5 de Maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17321: Notas de leitura (953): "Buruntuma - Algum Dia Serás Grande - Guiné-Gabú - 1961-63", por Jorge Ferreira (Mário Beja Santos)