quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Guiné 61/74 - P22706: Tabanca dos Emiratos (5): Expo' 2020 Dubai UAE - Parte I: Uma das melhores exposições de sempre, sob o triplo lema da Sustentabilidade, Mobilidade e Oportunidade (Jorge Araújo)


Foto 1 - Expo' 2020 Dubai UAE: os repórteres de serviço...
 




Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/1974); um homem das Arábias... doutorado pela Universidade de León (Espanha) (2009), em Ciências da Actividade Física e do Desporto; professor universitário, no ISMAT (Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes), Portimão, Grupo Lusófona; vive entre entre Almada e Abu Dhabi; autor, entre outras,  da série "(D)o outro lado do combate"; nosso coeditor... Voltou às "Arábais" em agosto de 2021, depois de passar uma parte da pandemia na terrinha natal...Está de momento com menos disponibilidade para o nosso blogue devido a  afazares acedémicos: tem, nomeadamente em mãos dois livros técnicos. Mas arranjou tempo de de ir à Expo' 20020 e dar-nos um "cheirinho" do que lá se passa... Portugal e a lusofonia também lá estão. Aproveitamos para lhe mandar, a ele e à sua Maria,  um cabaz cheio de saudades, miminhos e chicorações em dia de aniversário.


“APONTAMENTOS” DA «EXPO 2020»

(DUBAI - 01OUT2021 / 31MAR2022)

PARTE I






Foto  2 - Símbolo da Expo'2020 à entrada do recinto



1. INTRODUÇÃO

Tal como aconteceu com a esmagadora maioria dos grandes eventos mundiais agendados para o ano de 2020, como foi, por exemplo, o caso dos «Jogos da XXXII Olimpíada – Tóquio’2020», também a «EXPO’2020», no Dubai, Emirados Árabes Unidos, viria a alterar a realização da sua “Exposição Mundial”, inicialmente prevista de 20 de Outubro de 2020 a 10 Abril de 2021, para o período de 1 de Outubro de 2021 a 31 de Março de 2022 (seis meses), devido à pandemia do «COVID-19».

Construída numa área de 438 hectares, a «EXPO’2020» está localizada entre as cidades de Dubai e Abu Dhabi, perto da linha de fronteira sul que liga o Dubai à capital do país (Abu Dhabi). O projecto foi organizado em torno de uma praça central intitulada «Al Wasl», cercada por três grandes espaços temáticos, cada um deles dedicado a um dos subtemas da «Exposição»: “Oportunidade”, “Mobilidade” e “Sustentabilidade”.
O programa da Cerimónia de Abertura da «EXPO’2020», que decorreu na noite do passado dia 30 de Setembro de 2021, 5.ª feira, contou com as apresentações do tenor italiano Andrea Bocelli (“The Prayer”); da cantora e compositora britânica Ellie Goulding (“Anything Could Happen”); da cantora, compositora, atriz e activista beninense Angelique Kidio [Angélique Kpasseloko Hinto Hounsinou Kandjo Manta Zogbin Kidio] e o cantor saudita Mohammed Abdu (a dueto de “If You’re Out There” de John Legend); a cantora, compositora e atriz americana conhecida profissionalmente por Andra Day [Cassandra Monique Batie] (“Rise Up”) e o pianista chinês Lang Lang, entre outros.

A declaração oficial de abertura foi feita pelo Emir do Dubai Sheikh Mohammed bin Rashid Al Maktoum.



Foto 3 – Parte da estrutura que cobre a Praça Central «Al Wasl", 
onde decorreu a cerimónia de abertura. 


Foto 4 – Imagem do interior da Praça Central «Al Wasl»



Foto 5 – Imagem do interior da Praça Central «Al Wasl»


Fotos (e legendas): © Jorge Araújo (2021). Todos os direitos reservados [Edição:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


2. FOTOGALERIA 


Foto 6 – Parte dos mastros de bandeiras dos 192 países representados na “Exposição”, onde se inclui Portugal, Brasil e outros países da CPLP


Foto 7 – Uma das entradas no recinto da “Exposição”.


Foto 8 – No interior; alameda depois da entrada no recinto da “Exposição”


Foto 9 – Pavilhão da Mobilidade, um dos subtemas da “Exposição” 


Foto 10 – Pavilhão de Portugal: fila de ingresso.


Foto 11 – Pavilhão de Portugal


Foto 12 – Pavilhão do Brasil (exterior)


Foto 13 – Pavilhão do Brasil (plano de água no exterior)



Foto 14 – Pavilhão do Brasil (actuação de artista brasileira no exterior)



Foto 15 – Pavilhão de Espanha (entrada) 


Foto 16 – Um dos palcos reservado a espectáculos musicais.

 

Continua…

Termino esperando que este pequeno apontamento de “reportagem” da «EXPO’2020» tenha sido do vosso agrado.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.  

Jorge Araújo.

19Out2021

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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P22705: Historiografia da presença portuguesa em África (289): A história turbulenta da delimitação das fronteiras franco-portuguesas da Guiné (4): "As Colónias Portuguesas", por Ernesto Vasconcelos (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Janeiro de 2021:

Queridos amigos,
Aqui se põe termo à releitura do importante ensaio de Maria Luísa Esteves sobre a delimitação das fronteiras que definiu, com ligeiras alterações posteriores, a superfície atual da Guiné-Bissau. Entendi, para que quem tem curiosidade nesta matéria, selecionar um conjunto de obras que possam trazer alguma iluminação sobre as controvérsias da época e as dificuldades sentidas pelos contemporâneos.

Um abraço do
Mário



A história turbulenta da delimitação das fronteiras franco-portuguesas da Guiné (4)

Mário Beja Santos

E
ncontraram-se três referências que poderão ter utilidade para quem pretenda saber um pouco mais sobre a situação da Guiné na época da delimitação das fronteiras, numa abrangência do século XIX. Em "As Colónias Portuguesas", obra que teve sucessivas edições, Ernesto Vasconcelos, que foi presidente e secretário perpétuo da Sociedade de Geografia de Lisboa escreveu:
“Os trabalhos de balizagem da fronteira só puderam começar em 1900, tendo durado até 1905, em consequência das interrupções forçadas pela quadra das chuvas anuais. No ano de 1906 foi aprovada a balizagem por meio de troca de notas entre Portugal e a França.
A linha de separação de esferas, parte do Cabo Roxo ao norte e segue a meia distância entre os rios Casamansa e Cacheu, até atingir o paralelo de 12º 40’ de Latitude Norte, acompanha este Paralelo até ao Meridiano de 13º 40’ W Greenwich, o qual serve de limite para sul numa extensão de 7500 metros, cortando depois para sueste até ao rio Puira, próximo de Candica, indo por ele ao rio Cocoli, cujo curso acompanha para jusante, até ao seu confluente Cambuco e sobe este rio para chegar ao Djacapi com que se confunde, infletindo para sueste a procurar a origem do Ualeuale. Desce este rio até à sua entrada no Componi, de onde passa para o Cadji que sobe até à sua origem junto ao monte Dongol Teliri. Daqui segue sensivelmente para o Sul, cortando vários cursos de água, até ao rio Binasse próximo do confluente Bibá Mangol, confundindo-se então novamente com o meridiano de 13º 40’ W, até à nascente do pequeno rio Baleona, seguindo por ele e pelo Senta até ao rio Fefine que desce até à confluência do Tara Maca. Deste ponto continua para Oeste, segue o Paravi Niabi, passa no lugar de Vendu Tiaurane e sobe o rio Capjeol para atingir o marco n.º 24, que fica a meia distância entre o rio Corubal e o Cogon, inflete para oessudoeste, conservando-se a igual distância destes dois rios até junto da antiga povoação de Cam Sambeli, onde se inclina para sudoeste, a fim de ficar a meia distância entre o rio Cacine e o Componi, indo terminar na ponta Cajet, ao sul e ao fundo do canal a que dá lugar a ilha Caterak, uma das ilhas Tristão, que perpetuam, como o Rio Nuno, o nome do navegador Nuno Tristão”.


Achei curiosa esta leitura de Ernesto Vasconcelos sobre a fronteira sul, nunca encontrara algo de parecido.
Pede-se também a atenção do leitor interessado para o artigo de Armando Tavares da Silva, "A fixação das fronteiras da Guiné pela Convenção Luso-Francesa de Maio de 1888", publicado no Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, janeiro-dezembro de 2017.

Vejamos agora a comunicação do Capitão Marques Geraldes, parece-me que contextualiza a época próxima da Convenção Luso-Francesa e da delimitação das fronteiras. Narra os antecedentes históricos da presença portuguesa e a chegada dos franceses ao Casamansa em 1837. Procede depois à apresentação dos concelhos da Guiné e que eram: Bolama, Bissau, Cacheu e Bolola. Quanto a Bissau, descreve ao mais ínfimo pormenor a guerra travada com Mussá Moló, em que ele próprio esteve envolvido, era o responsável por Geba. Falando do Conselho de Cacheu, este oficial do Exército expende interessantes considerações sobre Casamansa:
“Entre os Banhuns não se admite escravatura; a sua única ambição consiste em viverem livres e poderem trabalhar o preciso para se sustentarem. Dedicam-se tão somente à criação de gado suíno, mas numa quantidade relativamente pequena, consistindo a sua indústria no fabrico de esteiras. Os homens, no tempo em que a sua presença não é necessária para o cultivo do arroz, saem desde pela manhã e recolhem a maior parte das vezes à noite embriagados. A extração de vinho de palma e a caça são as únicas ocupações em que os Banhuns se empregam. De todo o gentio do Casamansa é este o que menos trabalha e onde mais pobreza se encontra.
Um facto que demonstra o quanto esta gente é suscetível de entrar no grémio da nossa religião é o caso que eles fazem as imagens dos santos, chegam a criar e engordar porcos para os irem vender a troco de um pequeno crucifixo de metal ou qualquer verónica que eles considerem como o melhor talismã entre as balas.
Os Felupes, situados na margem direita e esquerda do Casamansa, constituem tribos independentes entre si, e sendo as suas causas decididas também pelos mais idosos, que entre eles são considerados como grandes e únicos em quem se julgam os predicados indispensáveis para poder resolver qualquer negócio de pequena ou grande monta. O Felupe é de todo o gentio do Casamansa o mais trabalhador, sem ele o comércio seria quase nulo. Os seus campos produzem em abundância o arroz, tanto para consumo particular como para vender feijão, mandioca e batata-doce. Dedicam-se igualmente à criação de gado vacum e suíno e têm a sua indústria de panos que eles tecem tanto para seu uso como para permutarem com os objetos de que carecem”.


Segue-se a descrição detalhada do presídio de Ziguinchor:
“Dos Grumetes da Senegâmbia Portuguesa são estes os mais dóceis, muito amigos da terra que os viu nascer e fiéis respeitadores da autoridade. São quase todos de origem Banhum mesclada com a Felupe, falando o dialeto crioulo”.

E adianta as seguintes observações:
“A França, por sua alta recriação e abusando da nossa boa-fé, introduz-se no Casamansa, a título de proteger os seus concidadãos, e pouco a pouco, aproveitando-se do nosso desleixo, pobreza e mesmo falta de senso político, ou para mais fracamente falar, de tudo isto reunido, faz contratos com os régulos das duas margens, levanta guerras, castiga os que ela intitula de rebeldes, impõe contribuições onerosíssimas aos que a não querem reconhecer como senhora do rio, usando em terra alheia, como se própria fosse, e não tendo dúvida em apresentar contas de despesa e quiçá sacrifícios que Portugal, já a braços com dificuldades sem número, antes prefere ceder a pérola mais rica da Guiné do que satisfazer às loucas exigências da república. Vivi três anos em Ziguinchor e por vezes percorri vários pontos do Casamansa. Não há gentio na Guiné que mais amor mostre pela nação portuguesa do que a que habita as margens deste rio. Desde a sua embocadura até Selho é o dialeto crioulo-português corrompido que se ouve falar, tanto aos Banhuns como Felupes ou Balantas”.

E a sua narrativa sobre o Casamansa finda do seguinte modo:
“Com franqueza o digo: vi-me vexado perante as contínuas representações das tribos gentílicas, e a França, a querer ser verdadeira, não pode negar que os filhos do Casamansa são portugueses de coração e séculos hão de passar sem que o nosso nome se apague da memória desta pobre gente, que ainda hoje pergunta com toda a ingenuidade como é que os brancos proibindo a escravatura vendem uns aos outros tantas tribos independentes entre si? Que precisão tinha Portugal para vender à França aquele rio? Se precisara de dinheiro, porque não impunha contribuições, todos pagariam, gostosos?”

Depois de descrever o concelho de Bolola lança um alerta sobre a delimitação das fronteiras da Guiné:
“Vai o governo mandar à Senegâmbia Portuguesa uma comissão de oficiais para a delimitação das fronteiras daquela colónia. Muito bom seria que se fizesse escolha de pessoal conhecedor das condições do país, da história da província, dos povos que vivem entre os limites que nos são assinalados, de forma que salvássemos deste naufrágio o mais que pedíssemos. Para isso, além de conhecimentos teóricos, conhecimentos práticos das localidades e sobretudo habilidade é o que tanto se requisita. E oxalá que ao mérito dos que devem ser preferidos para tal serviço, se não anteponham considerações meramente pessoais que se têm por escopo beneficiar as condições financeiras dos afilhados”.

Aqui findam as considerações sobre as delimitações das fronteiras da Guiné e talvez valha a pena recordar o que André Alvares de Almada no seu "Tratado Breve dos Rios da Guiné e Cabo Verde (1594)" considerou como espaço físico: “A Guiné começa no rio Sanaga (Senegal) pela parte norte e acaba na Serra Leoa”.


Ernesto de Vasconcelos
Carta da colónia da Guiné, 1933
A fortaleza da Amura fotografada por Henriques de Melo que acompanhou a expedição punitiva de 1908, no Cuor
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Nota do editor

Último poste da série de 3 DE NOVEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22685: Historiografia da presença portuguesa em África (288): A história turbulenta da delimitação das fronteiras franco-portuguesas da Guiné (3): "A questão do Casamansa e a delimitação das fronteiras da Guiné", por Maria Luísa Esteves; edição conjunta do Instituto de Investigação Científica Tropical e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, Lisboa, 1988 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P22704: Blogpoesia (755): Operações e Missões, e dos nomes que lhes davam (3) (Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845)

1. Em mensagem de 4 de Novembro de 2021, o nosso camarada Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, 1968/70) mandou-nos um trabalho em quadras onde refere os nomes das Operações em que o seu Batalhão participou. Continuação. Lembremos a sua mensagem:

Bom dia Carlos
Em primeiro lugar obrigado por me ires aturando.
Hoje, envio mais coisas minhas pois, lembrei-me das Operações e Missões e dos nomes que lhe davam.
Um Abraço para todos, em especial para os Chefes de Tabanca
Albino Silva



OPERAÇÕES E MISSÕES

Batalhão de Caçadores 2845



Como era o Alfange
Ou Arlindo Aliado
Asdrúbal, Abrunheiro
Com lutas por todo o lado.

Albatroz e Andorra
No Abatão sem cansaço
Ardózia, Atómico, Acácia
Arlete naquele abraço.

Foram estas as lutas
Em que nossas companhias
Tendo sempre o inimigo
Combatendo todos os dias.

Estes foram nomes dados
Em tantas operações
Patrulhamentos escoltas
Ainda em outras missões.

E para nunca esquecer
Eu procuro ajudar
Que no fim de muitos anos
Posso tudo recordar.

São recordações que eu
Há cinquenta anos atrás
Na Guiné também lutava
Nos meus tempos de rapaz.

É bem difícil sei bem
Certas coisas recordar
Como zonas de combate
Onde era morrer ou matar.

E nestas operações
Onde muito combatemos
Com baixas que nós causamos
Também um pouco morremos.

A caçar o inimigo
Era bom tenho a certeza
Quando eles nos caçavam
Caía em nós a tristeza.

Em conversas de caserna
As companhias então
Se não fossem todas juntas
Havia sempre um pelotão.

Todos por um, um por todos
Unidade a combater
Unidade com coragem
Unidade até morrer.

As nossas três companhias
Lutaram e defenderam
Na Guiné por Portugal
Houve heróis que morreram.

E cada um que tombava
Sem perder a esperança
Procuravam o inimigo
Logo faziam vingança.

Destemidos Soldados
Companhias sem igual
Defendiam a Nação
Morriam por Portugal

Em combate eram feridos
Em combate desapareciam
Dos nossos bravos Soldados
Alguns também lá morriam.

Quando isto eu escrevo
Pois não consigo esquecer
Aqueles meus Camaradas
Naquela Guiné combater.

São cinquenta anos passados
Para nós é a memoria
Pela Pátria o que demos
É sempre para nós historia.

Uma historia que passou
E para nós sem igual
Choramos, sofremos, lutamos
Mas Honramos Portugal.
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Nota do editor

Poste anterior de 9 de Novembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22701: Blogpoesia (754): Operações e Missões, e dos nomes que lhes davam (2) (Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845)

Guiné 61/74 - P22703: Parabéns a você (2002): Jorge Araújo, ex-Fur Mil Op Especiais da CART 3494/BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 9 de Novembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22700: Parabéns a você (2001): António Sampaio, ex-Alf Mil da CCAÇ 15 e ex-Cap Mil, CMDT da CCAÇ 4942/72 (Mansoa, Barro e Bigene, 1973/74) e João José Alves Martins, ex-Alf Mil Art do BAC-1 (Bissum, Piche, Bedanda, Gadamael e Guileje, 1967/70)

terça-feira, 9 de novembro de 2021

Guiné 61/74 - P22702: A nossa guerra em números (3): mal comidos, mal pagos, mal vestidos...












Havia quem não gastasse dinheiro à tropa em fardamento (e calçado)... Ou poupasse o camuflado quando ia, em trabalho,  num barco turra até Bissau... Ou, mal chegava do mato e tomava um banho de água ferrosa, vestia as jeans e a camisinha Lacoste de contrafacção para fingir que estava a milhares de quilómetros dali... Mas muitos de nós já nem sequer são do tempo da farda amarela... O verde veio em 1964... Mas com o uso e as lavagens as peças da farda camuflada iam mudando de cor...(Não identifico os camaradas, que por certo não me levarão a mal a brincadeira...). 


Fotos de arquivo © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


1. Houve guerras, no passado,  que se perderam porque os combatentes iam mal alimentados, outras por certo não se ganharam porque os homens foram para a frente de batalha mal recrutados, mal pagos, mal agasalhados, em mau estado de saúde, mal medicados, mal municiados, mal preparados, mal aconselhados, mal endoutrinados, mal equipados, mal enquadrados, mal comandados, etc. Ou então levavam guitarras em vez de espingardas, como em Alcácer Quibir...

Há leitores que se interessam por números... E a "nossa guerra" (, qualquer que seja o significado do adjetivo  possessivo "nossa") também tem alguns números que devem merecer a nossa atenção (*).

O facto de se ter desenrolado a milhares quilómetros de casa, no continente africano, nas nossas antigas colónias (ou "províncias ultramarinas") de Angola, Guiné e Moçambique, sendo os transportes de pessoal e os reabastecimentos feitos por via marítima, obrigava as Forças Armadas (e em especial o Exército) a criar reservas logísticas estratégicas, como se pode ler no livro, didático, do ten cor Pedro Marquês de Sousa, "Os números da Guerra de África" (Lisboa, Guerra & Paz Editores, 2021, 379 pp.).

Por exemplo, ao nível do "fardamento e calçado" (, espantoso, não tínhamos até agora este descritor!) era exigida uma certa quantidade de artigos, em "reserva permanente", nos vários  teatros de operações. No caso da Guiné, que é o que nos interessa aqui, eram os seguintes os valores (pág. 293):

  • Botas de lona (pares) > 13000
  • Botas pretas (pares) > 1900
  • Dólman (camuflado) > 2500
  • Calças > 10000
  • Barretes > 5200.

O que é intrigante é que em todos os itens de fardamento e calçado os valores da Guiné  eram muito superiores aos de Angola e Moçambique. Não se percebe a razão da diferença. Talvez o pessoal gastasse mais solas e tecido... Talvez as lavadeiras de Angola e Moçambique fossem mais delicadas a lavar e a passar a ferro a roupa da tropa... Veja-se, por exemplo, o "stock" de botas de lona de Angola (n=3712) e de Moçambique (n=4500), teatros de operações que, de resto, tinham mais militares mobilizados do que na Guiné...

Fiquei a saber (, embora isso não conte em nada para a salvação da minha alma...) que os artigos de fardamento, que nos eram distribuídos,  "desde a recruta até ao fim da comissão em África", representavam um encargo de cerca de 5300$00 / homem (dois mil euros, em valores de hoje). 

Desagregando este valor, 1300 escudos eram imputados à instrução militar (recruta e especialidade) e os restantes 4 mil à comissão em África, mesmo que lá a malta andasse, muitas vezes, de tanga, em tronco nu, de chanatas (ou até descalça), gastando por isso muito mais pele que tecido... (Os soldados da CCAÇ 12, se a gente os deixasse, iam para o mato descalços...).

Já agora, amigos e camaradas, ficam a saber quanto é que ficaram a dever ao "erário público", só pelos artigos de fardamento que receberam na recruta, a valores de 1964 (pág. 294):

  • Uma boina > 23$70;
  • Duas camisas de uniforme nº 2 > 120$60;
  • Duas calças de uniforme nº 2> 172$20;
  • Um blusão > 282$50;
  • Uma calça poliéster > 202$00;
  • Uma gravata verde > 15$00;
  • Um cinto de lona > 23$50;
  • Uma camisola de ginástica >  8$70;
  • Um calção de ginástica > 18$00;
  • Um par de sapatos (desportivos) > 28$40;
  • Um par de botas > 297$00;
  • Uniforme de instrução / farda detrabalho (nº 3): c. 200$00.
Total = 1391$60 (c. 573 euros, a valores de hoje)

Acho baratos demais os sapatos (desportivos) (28$40) por comparação com as botas (297$00): dez vezes menos|... Mas, claro, não eram em pele, deviam ser "sapatilhas", sapatos de ginástica, estou agora a lembrar-me...

Curioso é que a tropa não te pagava a roupa interior: cuecas, camisolas, peúgas, lenços de assoar, lenços de pescoço... E quanto ao blusão, não era de pele, claro, era de flanela... O blusão de couro, esse, custava uma pequena fortuna, no Casão Militar, e era apenas reservado a oficiais e sargentos, tanto quanto me recordo. Estúpido, comprei um que nunca devo ter usado na Guiné, com aqueles maldito calor e humidade, era uma autêntica estufa quente!...

O fardamento (tirando talvez as botas de lona e o camuflado) era completamente inadequado para aquele meio ambiente físico... Por exemplo, não eram distribuídas máscaras para a mosquitagem, à noite,  nem para o pó vermelho que apanhávamos nas colunas auto... (Era um espectácul0, ver a a velhada, de lenços garridos ao pescoço, nas colunas logísticas, ou até mesmo nas operações de segurança às colunas, visíveis a 100 metros, na orla do capim...). 

Cada um  usava a roupa imterior que trazia de casa, dos mais diferentes materiais, formas e feitios, completamente inadequada para aquele clima tropical... Houve até quem trouxesse ceroulas, por causa da... bicharada das bolanhas e do friods noites de dezembro... A boina e o quico eram outro problema... Mas já não falo do tempo da farda amarela... 

Guiné 61/74 - P22701: Blogpoesia (754): Operações e Missões, e dos nomes que lhes davam (2) (Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845)

1. Em mensagem de 4 de Novembro de 2021, o nosso camarada Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, 1968/70) mandou-nos um trabalho em quadras onde refere os nomes das Operações em que o seu Batalhão participou. Segue-se a continuação.Lembremos a sua mensagem:

Bom dia Carlos
Em primeiro lugar obrigado por me ires aturando.
Hoje, envio mais coisas minhas pois, lembrei-me das Operações e Missões e dos nomes que lhe davam.
Um Abraço para todos, em especial para os Chefes de Tabanca
Albino Silva



OPERAÇÕES E MISSÕES

Batalhão de Caçadores 2845


Alpista, Boleu, Brajeiro
Isso Nunca e Acossar
Avestruz, Espertinhos
E sem nome Adoçar.

Eleática e Barrabás
E sem nome nada mais
Alpiarça e Adaga
Mas nunca eram iguais.

Esposende, Abacaxim
Arreleixa, Arrombar
Então nossas companhias
Sempre atentas a atacar.

Omo e Vampirada
Adiça, Adquirir
Descaradamente, Recomeçar
Tiro Firme, Conseguir.

Tudo assim se fazia
Lutar contra o canhão
E tudo assim se cumpria
Adesivo, era missão.

Grande Galo, Será Desta,
Asterioso, Amazona
E com Vampiros Raivosos
Que atacavam na zona.

Adamastor, Almourol
Sempre Fixes e Ardente
Companhias no ataque
E o Batalhão contente.

Aquiles 1.º Capricórnio
Ainda Tarzan Selvagem
Com nossos atiradores
Motivados com coragem.

Marabunda, Escoar
Era a Tourada Franca,
Bate Bate, Cavalo Russo,
Esperar Toiros, Mula Branca.

Era o Caminho das Ostras,
Palanca Branca Tamanha
Olá amigo que pescas
Bom marisco nas bolanhas

Olho à espera estavas
Jogando nossa cartada
Tigre Real que era
Apenas nova emboscada.

Alça Perna, Gola Virado
Falcão Vermelho, Azoinar
Caça Ratos, Azulindo
Azinhaga, Azambuar.

2367, 2367, 2368
Companhias em missão
Excelentes Valorosos
Orgulho do Batalhão.

Azímio, e Azougua
Operações a enfrentar
Azebola, Azedume
Axiferro e Avolumar.

Companhias com, Astúcia
Azebre e Azambuar
Avulso, Arroz Interdito
Assumir e Avocar.

Nos Vampiros Diabólicos
Caçadores de Raio Zangado
Batota Justa ela era
Para o Infante Molhado.

O Açude Imenso era
Prás companhias um susto
Como era, Xadrez Furado
Como era o Bando Justo.

Eram nomes de Missões
Foram tantas com porrada
Como tantas outras havia
Tantos nomes com piada.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 8 DE NOVEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22698: Blogpoesia (753): Operações e Missões, e dos nomes que lhes davam (1) (Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845)

Guiné 61/74 - P22700: Parabéns a você (2001): António Sampaio, ex-Alf Mil da CCAÇ 15 e ex-Cap Mil, CMDT da CCAÇ 4942/72 (Mansoa, Barro e Bigene, 1973/74) e João José Alves Martins, ex-Alf Mil Art do BAC-1 (Bissum, Piche, Bedanda, Gadamael e Guileje, 1967/70)

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Nota do editor

Último poste da série de 6 de Novembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22691: Parabéns a você (2000): Jorge Cabral, ex-Alf Mil Art, CMDT do Pel Caç Nat 63 (Fá Mandinga e Missirá, 1969/71)

Guiné 61/74 - P22699: (De)Caras (182): os dois "ponteiros" de Bambadinca, o velho Brandão (da Ponta Brandão) e o histórico Inácio Semedo, de quem o Amílcar Cabral foi padrinho de casamento - II (e última) Parte


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bambadinca > Bairro Joli > Novembro de 2010 > "
A casa no Bairro Joli, perto de Santa Helena, onde estou a viver. Foi erguida por Inácio Semedo, que pertenceu ao PAIGC,  e que por isso foi obrigado a viver em Angola durante 7 anos. Um dos seus filhos, o Eng.º Fernando Semedo, procura pôr de pé o sonho do seu pai, dar vida ao projecto agro-industrial." (*)

Fotos (e legenda): © Mário Beja Santos  (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Bafatá > Carta de Bambadinca (1955) > Escala 1/50 mil > Posição relativa da Ponta Nova, junto ao Bairro Joli e a Santa Helena, e  Ponta Brandão,  entre Bambadinca e Fá Mandinga. 

 Eram as duas pontas com destilaria de aguardente de cana  que  restavam ao tempo do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72).

Mas, antes da guerra,  havia outras pontas e outras destilarias, em Bambadinca. Explorando a carta de Bambadinca de 1955, encontramos mais pontas para além da Ponta Brandão e da Ponta Nova: por exemplo, Ponta Barbosa, a sudoeste de Fá Mandinga, Ponta Cabarande e Ponta Amaro (acima de Bissaque), mais a norte, na margem esquerda do Rio Geba Estreito... Mas também Ponta Gregório Mendonça, a nordeste de Bambadincazinho, e Ponta Mamadu, a sul...Havia ainda a Ponta Romão, a sul do campo de aviação de Bambadinca... Havia outra Ponta, sem nome, do outro lado do rio, a oeste da Ponta Amaro... Enfim, "manga de pontas", que havia à volta de Bambadinca antes do início da guerra... Quem seriam estes "ponteiros" ? O que lhes aconteceu ? 

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2021).


1. Diz a  história do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), que em Bambadinca restavam só duas destilarias de aguardente de cana (**).  

Uma delas era a da Ponta Brandão (***), sabemos nós de ciência certa. A outra pertencia a outro ponteiro, Inácio Semedo Sénior: foi o próprio filho Inácio Semedo Júnior que mo disse, em 2008. Mas só ontem localizámos na carta de Bambadinca a Ponta Nova, ao reler as crónicas do Mário Beja Santos, que revisitou Bambadinca e os seus arredores em novembro de 2010, crónicas a que deu nome "Operação Tangomau"(*).

A Ponta Nova e a sua destilaria pertenciam à família do Inácio Semedo, um histórico nacionalista, proprietário, de quem o Amílcar Cabral foi padrinho de casamento, 
numa cerimónia que se realizou justamente em Bambadinca,  no início dos anos 50, segundo informação do historiador e nosso saudoso amigo Leopoldo Amado (1960-2021).

Inácio Semedo, agricultor, proprietário, foi um nacionalista da primeira hora, que andou a conspirar com o Amílcar Cabral e outros históricos do PAIGC, e que como tal caiu nas malhas da PIDE. Condenado a dois anos de prisão, acabou por sair da Guiné e ir para Angola, onde viveu 7 anos (, segundo imformação do Beja Santos). 

O velho Semedo era pai do Inácio Semedo Júnior, que aderiu à guerrilha em 1964, tendo combatido no sul, e mais tarde, a seguir à independência, formou-se em engenharia na Hungria, onde se doutorou em ciências. Conheci-o em Lisboa, em 2008, estando afastado da vida política.  Disse-lhe que era uma pena se não escrevesse as suas memórias. Foi embaixador do seu país em Portugal e na Suécia. (****)

Falando, ao telefone, em 15 de outubro de 2008,   com ex-guerrilheiro e quadro do PAIGC, e ex-embaixador aposentado, apurei o seguinte:

(i) na altura, ele estava com 65 anos de idade, devendo  ter nascido, portanto, por volta de 1943;

(ii) era natural de Bambadinca;

(iii) era filho de Inácio Semedo Sénior, um histórico do PAIGC;

(iv) a família tinha propriedades na região; nomeadamente o pai tinha uma destilaria de aguardente de cana, tendo o costume de comprar arroz aos Brandão, de Catió, para alimentar os seus trabalhadores balantas de Bambadinca (possivelmente oriundos de Samba Silate, Nhabijões, Mero, Bairro Joli,  Santa Helena...);

(v) trocava-se, naquele tempo, aguardente por arroz, sendo o arroz do sul, o celeiro da Guiné, o melhor;

(vi) a Guiné era pequena e todo o mundo se conhecia antes da guerra;

(vii) disse-me ainda que estava então, em 2008, a ver se ainda recuperava parte do património da família em Bambadinca...

2. Sobre o Inácio Semedo, sénior, ver aqui a sua evocação pelo embaixador Carlos Frota (que em 2013 era x-embaixador de Portugal nas Coreias, ASEAN e Indonésia, docente da Universidade de S. José, Macau; passou três anos na Guiné-Bissau). (*****)

O Carlos Frota foi visitar o velho Semedo, à sua ponta, no Bairro Joli, nas imediações de Bambadinca, já depois da independênca. Ia acompanhado, dos dois filhos do velho Inácio Semedo, o mais velho, Júlio Semedo, na altura ministro dos negócios estrangeiros e um dos dirigentes históricos do PAIGC, e Inácio Semedo Jr, embaixador em Washington.

" (...) Revisitando a 'minha' Guiné, lembro com saudade muitas pessoas, algumas já desaparecidas,como José Baptista, jovem diplomata do Protocolo do MNE guineense, e passados poucos anos embaixador em Lisboa. (...)

Lembro-me também com respeitosa saudade de Inácio Semedo, sénior, nos seus setenta e muitos anos naquela época que nos recebeu, num domingo, para o almoço, na sua casa de Bambadinca, com a dignidade de um grande senhor que era.

Homem seco, de uma disciplina pessoal e frugalidade extremas, era proprietário agrícola e habituado por isso a exercer autoridade sobre quem estava sobre as suas ordens, fazendo-o de forma quase paternal. E todos lhe retribuíam com afectuoso respeito essa maneira de estar na vida."

Reunimo-nos à mesa, cheia de acepipes mais coloridos e bem cheirosos uns do que outros, com a família alargada, incluindo naturalmente o Júlio, ministro dos Negócios Estrangeiros, e o Inácio Junior, embaixador em Washington. E isto, entre as brincadeiras da criançada e ordens da dona da casa directamente para a cozinha.

Foi uma reunião de família, a qual fomos associados com a informalidade que só os africanos e poucos outros (nos portugueses incluídos) sabem ter.

E falou-se de tudo entre família, desaparecendo, logo à entrada da porta, o meu estatuto de diplomata português, para dar lugar, simplesmente e para meu grande prazer, ao do amigo. Meus filhos foram imediatamente “adoptados” também como os netos mais recentes.

E durante a conversa, ininterrupta, houve referências, naturalmente, à luta do PAIGC pela independência. Mas, dos casos relatados, não transparecia nenhum ódio, nem mesmo animosidade, para com o antigo inimigo.

Havia resignação sofredora, uma como que fatalidade pelo que acontecera, mas transposto “isso” (um “isso” que implicou, infelizmente, milhares de mortos, de ambos os lados) ressurgiram os afectos entre muitos, para além das barreiras da cor da pele e do estatuto social.

Tive aliás o ensejo de testemunhar essa estranha camaradagem entre velhos inimigos quando, como Encarregado de Negócios, fui anfitrião da primeira delegação militar portuguesa que se deslocou à Guiné depois de 1975-76.

Para minha estupefacção, e durante todo um jantar que ofereci a militares portugueses e seus interlocutores guineenses, eles trocaram entre si anedotas de “tugas” e “turras”, acabando tudo em risadas e abraços! Magnífico efeito da paz!

Nós éramos vizinhos do ministro Júlio Semedo. Estivemos na festa de baptizado da sua filha, como vizinhos normais que éramos. A única anormalidade foi que, durante um bailarico improvisado, dançámos numa sala onde havia um militar armado até aos dentes em cada canto, “apenas” porque entre nós estava também…o camarada presidente Nino Vieira…E entre bom vinho português, garrafas de cerveja Cicer (muito gostosa, de fabrico local) e galinha de churrasco, nas várias mesas dispersas pela sala e abundantemente providas, lá via de repente o olho de uma Kalashnikov apontada…a ninguém!

Estranha confraternização, realmente! (...)".


3. A família Brandão, de Catió, também deu pelo menos um militante do PAIGC, que ele, Inácio Semedo Júnior, irá conhecer na luta de guerrilha, no sul. Seria o Brandão Mané, de que já aqui falámos em tempo ? (******)

A família Brandão de Bambadinca  seria também aparentada com os Semedo,  se bem percebi na minha conversa ao telefone com o Inácio Semedo Júnior em 15 de outubro de 2008.

Disse-me ainda que, aos 16/17 anos [por volta de 1959/60,] veio estudar para Portugal, onde fez o liceu. Deve ter aderido ao PAIGC  e/ou saído de Portugal nessa época.  

Em 1964 [, com c. 21 anos,] vamos encontrá-lo, ao Inácio Semedo Jr, na guerrilha, no sul, sob as ordens do comandante Manuel Saturnino da Costa, irmão do Vitorino Costa, morto pela CCAÇ 153, do cap u«inf José Curto, em meados de 1962. 

Garantiu-me que nunca andou na guerrilha, na sua terra natal, Bambadinca, na zona leste. A orientação do PAIGC era, compreensivelmente, pôr os guerrilheiros em regiões diferentes daquelas onde tinham nascido e vivido, e tinham família, vizinhos e amigos.

Mais tarde (não percebi quando, exactamente) o jovem Inácio Semedo foi para a Hungria, onde tirou então o curso de engenharia e  doutorou-se. 

A seguir à independência trabalhou no Ministério das Obras Públicas, cujo titular da pasta era o Arquitecto Alberto Lima Gomes, mais conhecido por Tino, e que viria a morrer, mais tarde, num acidente de caça, actividade de lazer de que era um apaixonado.

Inácio Semedo Jr. vivia, em 2008, em Portugal, retirado da vida pública do seu país. Tinha um filho bancário. Confessou que não conhecia o nosso blogue, por não estar muito familiarizado com a Internet. Tinha endereço de e-mail mas era o filho que o ajudava a gerir a caixa de correio.

Continuava ligado ao seu partido de sempre, o PAIGC. Prometemo-nos voltar a contactar (, o que nunca mais voltou a acontecer, imfelizmente), quando houvesse maior disponibilidade, de parte a parte. Para falarmos da nossa Bambadinca ("hoje tão decadente, tão triste, tão morta"...), do nosso Geba Estreito ("onde já não circulam os barcos que lhe deram vida, cor e movimento"...), enfim, da "nossa Guiné" (onde o Inácio Semedo continuava a ir regularmente...).

Pergnto-me: o que será feito dele ?
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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

10 de dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7417: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (4): 20 de Novembro, de Bambadinca para o Bairro Joli

(...) Tangomau tem paciência. Já cumprimentou meio mundo, como não tem o caderno à mão não fixou nomes que se irão tornar tão comuns como Braima, Madjo, Aliu, Fatu ou Nhalim. Calilo no que resta de uma Renault Express leva-o até ao Bairro Joli, é em casa da família Semedo que se vai aboletar. É melhor ficar por aqui. É que muito há a dizer sobre o Bairro Joli e esta quinta que Inácio Semedo ergueu com tanto amor, muito antes da guerra. O importante é saber que a bola de fogo paira sobre os palmares de Finete quando ele é acolhido no Bairro Joli. E por hoje, ponto final. (...) 


15 de dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7440: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (5): Do Bambadincazinho para Ponta Varela

(...) A partir de Bambadinca, chega-se num ápice ao Bairro Joli, contíguo de Santa Helena. Por aqui andei no passado longínquo em missões pacíficas e em nomadizações hostis. Durante a guerra, comprava-se aqui gado, muito útil para os problemas de intendência de Missirá, os dois cabritos que Jobo Baldé ali assou no Natal de 1968, daqui vieram, seguiram pela bolanha de Finete num Unimog 411 e finaram-se na véspera de Natal, para gáudio de quem combatia e vivia naquele ponto do Cuor. Estes caminhos do Bairro Joli eram espiolhados devido à incontestável conivência de alguma população com os inimigos de Madina/Belel. Era o drama das relações de sangue de quem tinha optado pela luta ou ficado à sombra da bandeira portuguesa.

Em Santa Helena, Fá Balanta e Mero viviam comunidades balantas onde se acoitavam, à sorrelfa, civis e militares do mato, que procuravam informações, compravam tabaco ou sal, abasteciam-se de gado, traziam esteiras e produtos das suas hortas. Atravessavam o Geba estreito entre as bolanhas de Finete e Ponta Nova. Aparecíamos ao amanhecer em missões pouco conciliatórias e às vezes com inquirições duras. A verdade é que a comunicação, mesmo com mortes e feridos de permeio, nunca se interrompeu completamente. Ora é acima de Ponta Nova que eu vou habitar. Aqui se devotou Inácio Semedo a construir casa, destilaria e horta. A casa, basta ver a fotografia, é bem semelhante àquelas que se podiam ver em Malandim, Saliquinhé ou São Belchior, até mesmo no Enxalé, ao tempo. (..)



(****) Vd. postes de:


26 de outubro de  2008  > Guiné 63/74 - P3359: Em busca de ... (46): Inácio Semedo, agricultor de Bambadinca, um histórico do nacionalismo guineense (Pepito)

(...) Luís: Conheço muito bem o Inácio Semedo Jr.. É um bom amigo meu e pessoa por quem tenho muita consideração. Combatente da Libertação da Guiné-Bissau, sempre foi um Homem de Estado, com uma postura digna. (...)

Nada de estranho quando se é filho do já falecido Inácio Semedo, agricultor que, com o meu pai[ Artur Augusto Silva,] (...), fez parte de um grupo que nos idos de 50 pugnou pelo desenvolvimento do associativismo rural na então Guiné Portuguesa.

Quase 40 anos depois, tive a honra de o convidar a presidir às primeiras jornadas sobre o Associativismo Agricola na Guiné-Bissau. Fui a casa dele em Bambadinca para o efeito. Não estava lá, mas antes na sua propriedade agrícola onde o fui encontrar, já muito velhote, numa cadeira de rodas, a orientar os trabalhos. Uma verdadeira lição que nunca esquecerei.

Quando contactares o filho, ficarás rendido à sua simplicidade e maneira de ser. (...)