sábado, 22 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2672: De Guidaje para Bissau, trinta e cinco anos depois (Diário de Coimbra / Carlos Marques dos Santos)

Os restos mortais dos nossos Camaradas enterrados em Guidage

Enviado pelo Carlos Marques dos Santos


Diário de Coimbra, edição de 22 de Março de 2008.
Antropóloga de Coimbra chefiou exumação de restos mortais de militares portugueses

A antropóloga forense Eugénia Cunha, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, coordenou a missão técnica que terça-feira exumou os restos mortais de dez militares portugueses enterrados há trinta e cinco anos em Guidaje, na Guiné-Bissau, na sequência de violentos confrontos.

Na quarta-feira e depois de duas semanas de trabalho, chegaram a Bissau os restos mortais de dez antigos militares numa operação financiada pela Liga de Combatentes de Portugal no âmbito do programa Conservação de Memórias, que prevê sepultar com dignidade antigos combatentes portugueses sepultados fora do país.
Na Guiné-Bissau, mais de setecentos ex-militares portugueses estão sepultados pelo território, tendo a operação em Guidage a primeira fase desta operação de recolha e identificação de restos mortais de antigos combatentes no país.
A iniciativa que colocou no terreno quatro antropólogos, um geofísico e uma arqueóloga (irmã de um dos soldados exumados) conta com o apoio do Ministério da Defesa, da Universidade de Coimbra e do Instituto Nacional de Medicina Legal. Os resultados dos exames efectuados para ajudar a identificar os antigos combatentes serão conhecidos dentro de um mês.
A antropóloga Eugénia Cunha, conhecida também por ter pedido em 2006 para levantar o túmulo do Rei D. Afonso Henriques para fins científicos, explicou que o próximo passo, depois de exumados os restos mortais dos antigos militares, passa por uma “análise antropológica laboratorial e a realização dos relatórios e possível identificação das ossadas”. “Da parte antropológica dentro de um mês podemos ter resultados, da parte da genética é mais demorado”, sublinhou.
Questionada sobre a relativa rapidez com que decorreu o processo, em duas semanas, Eugénia Cunha comentou que “cada caso é um caso”, observando no entanto que a operação não foi rápida. “Conseguimos conjugar na mesma equipa competências diversas da geofísica, da antropologia e da arqueologia e tivemos uma equipa da missão que foi para o terreno uma semana antes e que preparou tudo, ou seja, em termos logísticos nós não nos preocupámos com nada”, explicou.
Sobre o processo de exumação de restos mortais, a antropóloga da Universidade de Coimbra referiu que decorre em três fases, sendo que a primeira é a detecção dos restos humanos, feita pelo geofísico com um radar, que aponta um local. “Depois entra a parte da arqueologia que consegue encontrar os limites das sepulturas e depois de delimitadas e definidas as áreas onde as pessoas estão enterradas, o antropólogo faz a escavação, que pode ser mais ou menos difícil, dependendo do tipo de solo, do terreno, humidade, temperatura, estado de conservação do corpo”, disse.
Sobre as dificuldades encontradas no terreno, Eugénia Cunha afirmou que foram “muitas, a começar pelo clima da Guiné-Bissau”. “Facilidades não houve nenhumas. Encontrámos foi uma equipa de missão que nos conseguiu proporcionar o melhor que conseguiram mas, obviamente, foi bastante complicado”, concluiu.
Os dez antigos militares portugueses serão sepultados no cemitério de Bissau. O vice-presidente da Liga dos Combatentes anunciou entretanto que a exumação de restos mortais de ex-combatentes portugueses na Guiné-Bissau vai continuar e que a próxima missão será na localidade de Farim, onde estão sepultados vinte e um militares.
Questionado sobre a eventual trasladação de corpos para Portugal, o general Lopes Camilo explicou que o que está “definido politicamente, e com que a Liga concorda, é que devemos recuperar e manter com dignidade os locais onde se encontram sepultados os combatentes que tombaram no estrangeiro”.
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Notas: A nossa homenagem a quem teve a ideia e a quem a está a pôr em prática.

Sublinhados da responsabilidade de vb. Sobre este assunto ver artigos de
1 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2600: Os Mortos de Guidaje nas Notícias Lusófonas. Rui Fernandes.

28 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P919: Vamos trasladar os restos mortais dos nossos camaradas, enterrados em Guidage, em Maio de 1973 (Manuel Rebocho)

25 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1212: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (1): A morte do Lourenço, do Victoriano e do Peixoto
9 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1260: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (2): o dia mais triste da minha vida

2 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1488: Vídeos (1): Reportagem da RTP sobre os talhões e cemitérios militares no Ultramar (Jorge Santos)

28 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1468: Mortos que o Império teceu e não contabilizou (A. Marques Lopes)

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