sábado, 22 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2671: Ser solidário (8): O regresso da expedição humanitária a Bissau (Diário de Coimbra)


Coimbra, Taveiro > 21 de Fevereiro de 2008 > A caravana larga, às 9h da amanhã, a caminho de Bissau, aonde espera chegar a 29, depois de fazer quase 5 mil quilómetros... Esta expedição humanitária irá entregar a diversas escolas e instituições materiais didácticos e desportivos, livros, vestuário, calçado, e bens de primeira necessidade para unidades de saúde (soro, desinfectantes, ligaduras, compressas e medicamentos), que foram recolhidos até 8 de Fevereiro. O volume mais importante deste material já tinha seguido por via marítima, num contentor de 20 toneladas. Ao todo são cerca de dois mil caixotes recolhidos. Luís Graça. 23 Fevereiro 2008.

Missão regressa à Guiné no próximo ano


A expedição humanitária à Guiné-Bissau que partiu há um mês de Coimbra já terminou, devendo os últimos voluntários chegar este fim-de-semana. Gravados na memória trazem os sorrisos de agradecimento de um povo a quem falta quase tudo.
Missão cumprida, pelo menos até à próxima expedição humanitária, já no ano que vem. O grupo de 25 voluntários que partiu de Coimbra a 21 de Fevereiro, levando 21,5 toneladas de donativos (roupa, equipamento médico e material didáctico, etc.) e uma enorme vontade de ajudar Guiné-Bissau, está de regresso.
Fernando Ferreira foi um dos primeiros a regressar – outros só chegarão a casa este fim-de-semana – e contou ao Diário de Coimbra como decorreu a campanha, dos percalços na alfândega aos sorrisos e manifestações de agradecimento de todos a quem levaram ajuda, ainda que pouca para as grande necessidades do país.

A expedição, formada, essencialmente, por membros da Associação Humanitária Memória e Gentes, partiu de Coimbra no dia 21 de Fevereiro. Ao todo, foram 25 voluntários, com cinco jipes e mais dois carros de apoio, viajando por terra, uma vez que a maior parte dos donativos seguiram por mar, num contentor de 40 pés, o dobro do conseguido no ano anterior.
Segundo Fernando Ferreira, por terra, a comitiva foi deixando algum material em escolas e instituições já referenciadas, até chegar a Bissau. Aí, a Casa Emanuel, que acolhe crianças órfãs e filhas de seropositivos, a AD, uma ONG que aloja 400 crianças, e a missão católica de Quinhamel, que presta apoio médico e formação a crianças, foram algumas das instituições beneficiadas.
Temos de entregar o material a quem dele faz o melhor uso, lembra o membro da equipa, justificando a escolha de missões religiosas, de professores e projectos de cooperação com interlocutores portugueses.
A Bissorã, uma povoação do interior, levámos equipamento para uma biblioteca que estava a ser construída e material didáctico para as escolas da zona.

Fernando Ferreira recorda os acessos difíceis e as grandes carências da população. No que se refere a equipamento médico (cadeiras de rodas, canadianas, medicamentos, etc.) além da missão da Associação Saúde em Português (parceira da expedição) em Bafatá, foram apoiadas três associações de ex--combatentes.
Houve inclusive alguns reencontros, já que muitos tinham combatido ao lado de Portugal na guerra, adianta Fernando Ferreira, salientando, todavia, o abandono a que estão hoje votados por parte das entidades oficiais.

Travão da burocracia

O contentor com o material oferecido por empresas (Ambar e Babu, por exemplo), pelo Governo Civil de Coimbra e ainda com os donativos recolhidos durante dois meses e meio em Coimbra e no Norte do país - verificados, peça por peça, para que seguissem apenas coisas úteis e com mínimo de qualidade - chegaria a Bissau no dia 2 Março, mas só a 12 o grupo conseguiu retirá-lo da alfândega.


Mais do que os responsáveis políticos ou os superiores hierárquicos dos serviços, Fernando Ferreira aponta os níveis intermédios, que burocratizam ao máximo os procedimentos.
Há sempre que ajeitar algum dinheiro, para desbloquear as coisas, diz, lembrando outras passagens em zonas de controlo e verificação de documentos, com esperas que atingiam as sete horas.
O material do contentor foi descarregado em território da Cooperação Portuguesa, encarregando-se as diversas instituições de o ir buscar, mas outro material destinado a escolas foi distribuído pelos próprios voluntários da expedição.

Os sorrisos e até as lágrimas de agradecimento dos que receberam o nosso apoio pagam o esforço e o sacrifício da viagem – nomeadamente financeiro, uma vez que cada voluntário vai às suas expensas e que todos os valores recebidos são convertidos em material para levar, resume Fernando Ferreira.
Enquanto mostra ao Diário de Coimbra algumas das imagens registadas durante a expedição humanitária, o voluntário não deixa de manifestar o seu descontentamento, pelo facto de existir ainda – e sempre - uma imensidão de necessidades.

Sentimo-nos impotentes, desabafa. Ainda assim, foram colmatadas algumas, pequenas, carências e colocados sorrisos nos rostos de tantas pessoas. O voluntário destaca as crianças. Queremos divulgar a língua portuguesa, mas queremos sobretudo ajudar a inverter um ciclo, apoiar o ensino e criar nas crianças objectivos de vida e de construção de um futuro, explica, considerando que o Estado português deveria permitir a ida de mais professores para a Guiné-Bissau.
Porque não 150, como em Timor, em vez dos cerca de 30 que lá estão, questiona.
De um passeio a uma associação

Tudo começou com um passeio informal, um regresso de ex-combatentes da Guerra do Ultramar à Guiné-Bissau, há cinco anos atrás. Segundo Fernando Ferreira, regressados a Taveiro, os ex-combatentes relataram as grandes diferenças entre o que os portugueses por lá deixaram e o que agora existia, o abandono, as grandes carências, a ausência de lusofonia.


Decidiram voltar daí a dois anos, levando medicamentos, material escolar e outros donativos à população de Saltinho, nas margens do Rio Corubal. Mas, quando lá chegámos era pouco. Seguiu-se então nova viagem, já no ano passado, com um apoio mais amplo e organizado, um contentor com cerca de 20 pés, novamente composto por material escolar e didáctico, roupa e equipamento médico.
Fernando Ferreira recorda os costumeiros problemas na alfândega e as três noites passadas no porto de Bissau, até conseguir retirar o contentor.

Este ano, o grupo de voluntários – de Coimbra e de outras regiões do Norte e Centro do país – partiu a 21 de Fevereiro e esteve um mês na Guiné-Bissau. Em mente estão já outras missões aquele país, mas não só.
A Associação Humanitária Memória e Gentes, entretanto criada, veio oficializar a actividade solidária do grupo, permitindo uma organização capaz de intervir em diversas situações de carência e catástrofe, diz Fernando Ferreira, presidente do Conselho Fiscal.
A Associação foi criada em Novembro do ano passado, como parceira especializada da Liga dos Combatentes.
José Moreira é o presidente da Direcção e Maló de Abreu o presidente da Assembleia-geral.
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Nota de vb: Transcrição do texto da notícia do Diário de Coimbra. Com a vénia devida.

ver artigos de
16 de Março de 2008 Guiné 63/74 - P2648: Notícias da Associação Humanitária Memórias e Gente (Rui Fernandes/Carlos Marques dos Santos)

23 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2576: Ser solidário (7): Vinte e tal amigos e camaradas, do Porto e de Coimbra, a caminho de Bissau (Luís Graça / A. Marques Lopes)

21 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2567: Ser solidário (6): Pimentel, Álvaro Basto e Xico Allen: Juntos a caminho de Bissau, na rota do Porto-Dakar (A. Marques Lopes)

17 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2548: Ser Solidário (5): Ainda a Expedição à Guiné-Bissau (Carlos M. Santos)

13 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2531: Ser solidário (4): Coimbra encaixotou o maior contentor de apoio humanitário à Guiné-Bissau

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