Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez , algures no sector de Bendanda, no triângulo Iemberém, Cadique e Cananime, na margem direita do Rio Cacine > Simpósio Internacional de Guiledje > Domingo, de manhã, 2 de Março de 2008 > Visita guiada e animada por antigos guerrilheiros e população local, ao Acampamento (Baraca) Osvaldo Vieira, outro dos momentos altos da nossa viagem à pátria de Cabral (1)...
Vídeo (2' 50''): © Luís Graça (2008). Direitos reservados. Alojado em: You Tube >Nhabijoes
O Pepito, nosso anfitrião, aqui servindo de tradutor (do crioulo para o português)... Concentraram-se, neste antigo acampamento do exército do PAIGC, algumas centenas de pessoas, entre comitiva (partctpantes do Simpósio Internacional de Guileje) e população local...
Um antigo comandante (2) faz de cicerone... Com um brilhozinho nos olhos, fala das 3 fases da organização político-militar do PAIGG... Insiste em afirmar, perante os convidados estrangeiros, que aqui nunca se lutou com o povo português, mas sim contra o colonialismo de Salazar e de Caetano...
Um grupo de jovens, rapazes e raparigas, que cantaram o Hino da Guiné-Bissau no início da cerimónia (1)...
À entrada para o acampamento Osvaldo Vieira, junto a poucos quilómetros de Imberém, a sul... Na foto, a Alice com o antigo guerrilheiro Dauda Cassamá, sob o olhar do catalão Josep Sánchez Cervelló, professor universitário em Tarragona, especialista em história sobre o 25 de Abril e a descolonização portuguesa...
Osvaldo Máximo Vieira (1938-1974): Lápida funerária, na Fortaleza da Amura onde repousam os seus restos mortais, bem como de Pansau Na Isna, Titina Silá e Domingos Ramos, entre outros dirigentes do PAIGC, mortos em combate, além de Amílcar Cabral cuja memória ainda aqui, no Cantanhez, é venerada...
Osvaldo Vieira, de origem cabo-verdiana. foi dos que morreu justamente na recta final, a um mês do fim das hostilidades... O aeroporto internacional de Bissau ostenta o seu nome... Os antigos guerrilheiros do Cantanhez também quiseram dar a esta barraca (acampamento temporário) o seu nome... Segundo me dirá o Manecas, outro lendário combatente do PAIGC, o Osvaldo nunca terá andado muito pelo sul... Fico na dúvida se o nosso homem esteve realmente aqui, neste sítio... Mas, para o caso, também não interessa. Os seus antigos camaradas tentaram, de maneira didáctica, simples, autêntica, reconstruir as condições em que se vivia e lutava durante os difíceis tempos da luta de libertação... Não sei se alguma vez foi identificado, atacado e destruído pelas NT... Sabe-se que, desde 1966 até finais de 1972/princípios de 1973, as NT não ousaram penetrar, a pé, no Cantanhez. No final do consulado de Spínola, vai haver uma grande contra-ofensiva contra este santuário do PAIGC.
Um dos antigos combatentes da liberdade da pátria explica, em crioulo (com tradução para português, feita pelo Pepito) como é que os guerrilheiros do PAIGC se apoiavam em (e articulavam com) a população local...
Um grupo de antigos guerrilheiros encenaram a sua actuação no tempo da guerra... Ei-los aqui vestidos de caqui e gorro, e empenhando imitações de madeira da famigerada Kalashnikov... Pertenciam ao Exército, já na 3ª fase da luta...
Nalguns casos recorreu-se mesmo a restos de armas que ficaram por ali, como por exemplo o cano do temível LGFog RGP-7....
O grande terror dos guerrilheiros e da população do Cantanhez não eram os pára-quedistas, ou o helicanhão, mas sim os Fiat, os aviões a jacto da Força Aérea Portuguesa... O aparecimento dos mísseis terra-ar Strella vieram dar outra confiança e ânimo aos homens do PAIGC...
As mulheres da população local tiveram um papel fundamental do apoio de retaguarda: eram elas que iam à pesca buscar o mafé para os homens da guerrilha; eram elas que recolhiam a malga de arroz com que cada família contribuía, diariamente, para a alimentação dos guerrilheiros; eram elas que espiavam os movimentos suspeitos da PIDE, dos seus agentes, dos colaboraccionistas, do exército, etc.
Um grupo de mulheres, camufladas com folhas de arbustos, mostrando como se deviam agachar e esconder quando no céu se ouvia o baralho de aeronaves...
Os tempos hoje são outros... As populações do Cantanhez, e nomeadamente as que apoiaram abertamente a luta de libertação (os nalus e os balantas), parecem assumir o seu passado, com orgulho, com dignidade, sem arrogância....
Um antigo comandante da guerrilha conduziu-nos, a mim, ao Nuno Rubim e a esposa, ao longo de uma das linhas de fuga que partiam do centro do acampamento, em plena floresta do Cantanhez, até ao tarrafe... Fortemente apoiados pelos nalus e pelos balantas, o PAIGC movia-se como peixe dentro de água nesta floresta-galeria, um emaralhado de lianas e vegetação perene, com árvores de alto porte, centenárias, uma amostra ainda riquíssima do que resta das florestas primárias do planeta...
Paisagem de tarrafe...na maré vazia.
(Continua)
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Notas de L.G.:
(1) Vd. os últimos postes desta série:
31 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2704: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral (29/2 a 7/3/2008) (Luís Graça) (12): Que o Nhinte-Camatchol te proteja, Guiné-Bissau
29 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2695: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral (29/2 a 7/3/2008) (11): Iemberém, uma luz ao fundo do túnel (I)
(2) Vd. poste de 24 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2478: Guileje: Simpósio Internacional (1 a 7 de Março de 2008) (9): Inimigos de ontem, amigos de hoje
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