quinta-feira, 17 de novembro de 2005

Guiné 63/74 - P275: A verdade sobre a Op Tridente (Ilha do Como, 1964) (Carlos Fortunato / Mário Dias)

1. Texto do Carlos Fortunato [ex-furriel miliciano, de transmissões, da CCAÇ 13, 1969/71, aquartelado em Bissorã, entre outros sítios]:

Mário:

Bem vindo à nossa tertúlia, penso que poderás dar um contributo importante.

Tendo tu participado na Operação Tridente [Ilha do Como, Janeiro-Março de 1964], gostaria de te colocar uma questão: o que se passou efectivamente com esta operação, referida como de reocupação da ilha do Como?

A operação não é do meu tempo, pois estive na Guiné de 1969 a 1971 [na CCAÇ 13], e na maior parte do tempo na região do Oio, mas era uma referência para o PAIGC. Para alguns como o Héliio Felgas foi um passeio, mas para o PAIGC foi a morte de centenas dos nossos soldados, e a derrota, o que nos obrigou a retirar mais tarde.

A ilha do Como continua hoje em dia a ser uma referência, pois assisti em Bissau, em 1986, a uma peça de teatro,em que os alunos de uma escola primária cantavam a derrota dos tugas na ilha do Como, ao mesmo tempo que simulavam um ataque. A ilha sempre foi um simbolo para o PAIGC, sendo referida no primeiro livro de instrução primária do PAIGC.

Um abraço
Carlos Fortunato
(CCAÇ 13, 1969/71)

Webmaster da página sobre Os Leões Negros


2. Resposta do Mário [Dias]:

Caro Fortunato:

Gostosamente respondo às tuas dúvidas sobre a Op Tridente.

Antecedentes:

A ilha do Como, situada a sudoeste da Guiné, junto a Catió, era, de facto, pertença do PAIGC. Aí não existia qualquer tipo de ocupação administrativa.

Além das tabancas de Curcô, Cauane, Cachil e algumas palhotas dispersas, a única coisa que lá havia eram instalações do comerciante e produtor de arroz Manuel Pinho Brandão que explorava as bolanhas e praticamente era o dono e senhor da ilha.

Devido à sua localização, próxima da Guiné-Conacri, e por não existir lá qualquer autoridade que o impedisse, o PAIGC, inteligentemente, ocupou a ilha para dela fazer o seu santuário e território conquistado.

Pelo acima exposto, o Comandante-Chefe só tinha uma solução: a conquista da ilha.

Operação Tridente:

Resumidamente, esta operação não foi um passeio, como diz o Hélio Felgas (que nem sequer lá esteve) nem a derrota para os portugueses que refere o PAIGC. É natural que o PAIGC se refira a esta operação como um êxito para si, dentro da propaganda que tão habilmente soube utilizar, mas não foi. Não mataram centenas de soldados, como dizem. Eles, sim. Tiveram muitas baixas e nós conseguimos, de facto, conquistar a ilha.

Para que tudo fique melhor esclarecido, vou preparar um trabalho com algumas fotos e mais pormenores sobre este assunto e que, a seu tempo, enviarei para o blogue.
Está prometido.

Um abraço.
Mário Dias
(ex-comando, 1963/66)

1 comentário:

Colaço disse...

Camarada Carlos Fortunato
Eu desembarquei na Ilha do Como, para a mata do Cachil no dia 23/01/1964 e saí de lá no dia 27/11/64. Não vou falar da sede,da fome,dos tiros,das morteiradas,das bazoucadas,dos feridos,e mortos.
Mas o que me pareceu a operação tridente,é aquele combate de boxe.
Em que no primeira parte, o adversário vai ao tapete mas acaba sempre por se levantar e prosseguir o combate.
Mas na segunda parte enfia uma série de ganchos à esquerda e à direita no adversário e vence por pontos.
É verdade que o tenente coronel Fernando Cavaleiro atravessou na manhã de 21/03/64 a mata do Cassacá desde Cauane até ao Cachil.Mas também é verdade que do Cachil para Cauane durante a operação tridente nenhuma das nossas forças conseguiu passar e no Cachil durante a operação estiveram por vários dias o destacamento de Fuzileiros do tenente Ribeiro Pacheco do tenente Alpoin Calvão Alem das tropas do chamado arre macho a C.C.557.
Para esclarecimento mais preciso ler P2970.
Por alguma razão a posição foi extinta, a companhia de C.1620 foi a ultima residente entre 20/03/68 a
11/08/68. Um alfa bravo
Colaço